19-06-2013, 09:04 PM
Minha interpretação dos fatos recentes.
Os movimentos de rua e exercício direto da cidadania abafou a esquerdinha extremista que os tentou dominar no início das manifestações. O pretexto inicial – redução do valor das passagens de transporte coletivo – deixou de ser relevante. Só importou como deflagrador desse movimento de massa, cujas queixas são muito mais amplas – e infelizmente menos definidas e mais difíceis de atender, diante da complexidade dos problemas a enfrentar: corrupção, falta de representatividade no sistema eleitoral brasileiro, sistema de saúde universal mas péssimo, sistema educacional falido etc. Tudo indica que o povo não vai abandonar as ruas, embora tenha conseguido pequenas concessões quanto ao objetivo imediato de não permitir aumentos abusivos nos preços dos transportes coletivos urbanos.
Mas esses problemas já existiam. São doenças crônicas. Por que o povo só resolveu mostrar sua força massiva – com tudo de bom e de ruim que há nessa manifestação de força – agora? Na verdade, tanto os políticos quanto os analistas profissionais estão perdidos a respeito disso. O que vou ensaiar, portanto, é apenas um rascunho apresentado com humildade. Algumas reflexões iniciais, expostas no calor dos fatos e, dessa forma, sujeitas à revisão e ao juízo da História.
Toda uma geração acostumada a um relativo bem-estar irritou-se com o excesso de incompetência e corrupção. Vamos aos precedentes.
Com as reformas a partir dos anos 1990, o Brasil iniciou uma modesta abertura de sua economia aos mercados mundiais. Estabilizou sua moeda. Iniciou programas de redistribuição de renda que criaram um mercado interno digno desse nome. Com isso, integrou no mercado consumidor pessoas que antes estiveram fora dele. Do ponto de vista político, foram os primeiros anos pós-Constituição de 1988 que, com todos os defeitos que inegavelmente tem, foi o símbolo de um processo de redemocratização.
Posteriormente, um partido de centro-esquerda (porque não existe direita organizada no Brasil) cedeu espaço a um partido de esquerda. Ao chegar ao poder, esse partido de esquerda manteve, inicialmente, políticas econômicas anteriores. Na verdade ele quis apropriar-se dos resultados razoáveis dessas políticas e iniciar um esquema de perpetuação no poder (mensalão). Deu certo até certo ponto, mas o esquema tornou-se público. Inebriada com o poder e com uma popularidade que parecia invencível, essa esquerda resolveu abandonar os postulados anteriores e aplicar, até certo ponto – porque faltou coragem de ir muito longe – suas próprias ideias estúpidas.
Vou destacar algumas dessas ideias estúpidas. Essa esquerda abandonou a defesa da estabilidade de moeda. Permitiu a volta da inflação. Destruiu a pequena inserção do Brasil no comércio internacional e a posição superavitária do balanço de pagamentos. Também arruinou a ideia de universalidade da lei, preferindo dar privilégios e sinecuras para os “movimentos sociais” (lobbies) organizados.
Essas ideias são muito abstratas para o povão. Mas o povo, embora não entenda tais ideias, sente o resultado prático delas: viu seu poder aquisitivo, seu conforto e sua inserção recentemente adquirida esfarelar-se. Então começou a se irritar – e muito. E tem motivos de sobra, já que o sistema de representação político já era, há muito tempo, senil e doente.
Agora levem em conta os jovens. Aqueles que eram crianças nos bons tempos e se acostumaram com o seu relativo conforto – baseado em moeda artificialmente forte, importações perdulárias e gastos públicos excessivos – não entendem por que, ao atingir a idade adulta, devem voltar ao mundo frugal de que seus pais e avós se queixavam. Então eles foram às ruas. E agora estão chamando seus pais e avós para se juntar a eles.
O ponto fraco do movimento de protesto resultante está na falta de foco. Na ausência de líderes com pautas claras. Então pode acontecer de tudo. De tão perdido, esse movimento pode simplesmente morrer de cansaço mais para frente (não agora). Ou pode ser capitalizado por algum líder populista. Ou apesar de tudo isso pode levar a alguma mudança efetiva. Quem viver, verá.
Otaviano.
Os movimentos de rua e exercício direto da cidadania abafou a esquerdinha extremista que os tentou dominar no início das manifestações. O pretexto inicial – redução do valor das passagens de transporte coletivo – deixou de ser relevante. Só importou como deflagrador desse movimento de massa, cujas queixas são muito mais amplas – e infelizmente menos definidas e mais difíceis de atender, diante da complexidade dos problemas a enfrentar: corrupção, falta de representatividade no sistema eleitoral brasileiro, sistema de saúde universal mas péssimo, sistema educacional falido etc. Tudo indica que o povo não vai abandonar as ruas, embora tenha conseguido pequenas concessões quanto ao objetivo imediato de não permitir aumentos abusivos nos preços dos transportes coletivos urbanos.
Mas esses problemas já existiam. São doenças crônicas. Por que o povo só resolveu mostrar sua força massiva – com tudo de bom e de ruim que há nessa manifestação de força – agora? Na verdade, tanto os políticos quanto os analistas profissionais estão perdidos a respeito disso. O que vou ensaiar, portanto, é apenas um rascunho apresentado com humildade. Algumas reflexões iniciais, expostas no calor dos fatos e, dessa forma, sujeitas à revisão e ao juízo da História.
Toda uma geração acostumada a um relativo bem-estar irritou-se com o excesso de incompetência e corrupção. Vamos aos precedentes.
Com as reformas a partir dos anos 1990, o Brasil iniciou uma modesta abertura de sua economia aos mercados mundiais. Estabilizou sua moeda. Iniciou programas de redistribuição de renda que criaram um mercado interno digno desse nome. Com isso, integrou no mercado consumidor pessoas que antes estiveram fora dele. Do ponto de vista político, foram os primeiros anos pós-Constituição de 1988 que, com todos os defeitos que inegavelmente tem, foi o símbolo de um processo de redemocratização.
Posteriormente, um partido de centro-esquerda (porque não existe direita organizada no Brasil) cedeu espaço a um partido de esquerda. Ao chegar ao poder, esse partido de esquerda manteve, inicialmente, políticas econômicas anteriores. Na verdade ele quis apropriar-se dos resultados razoáveis dessas políticas e iniciar um esquema de perpetuação no poder (mensalão). Deu certo até certo ponto, mas o esquema tornou-se público. Inebriada com o poder e com uma popularidade que parecia invencível, essa esquerda resolveu abandonar os postulados anteriores e aplicar, até certo ponto – porque faltou coragem de ir muito longe – suas próprias ideias estúpidas.
Vou destacar algumas dessas ideias estúpidas. Essa esquerda abandonou a defesa da estabilidade de moeda. Permitiu a volta da inflação. Destruiu a pequena inserção do Brasil no comércio internacional e a posição superavitária do balanço de pagamentos. Também arruinou a ideia de universalidade da lei, preferindo dar privilégios e sinecuras para os “movimentos sociais” (lobbies) organizados.
Essas ideias são muito abstratas para o povão. Mas o povo, embora não entenda tais ideias, sente o resultado prático delas: viu seu poder aquisitivo, seu conforto e sua inserção recentemente adquirida esfarelar-se. Então começou a se irritar – e muito. E tem motivos de sobra, já que o sistema de representação político já era, há muito tempo, senil e doente.
Agora levem em conta os jovens. Aqueles que eram crianças nos bons tempos e se acostumaram com o seu relativo conforto – baseado em moeda artificialmente forte, importações perdulárias e gastos públicos excessivos – não entendem por que, ao atingir a idade adulta, devem voltar ao mundo frugal de que seus pais e avós se queixavam. Então eles foram às ruas. E agora estão chamando seus pais e avós para se juntar a eles.
O ponto fraco do movimento de protesto resultante está na falta de foco. Na ausência de líderes com pautas claras. Então pode acontecer de tudo. De tão perdido, esse movimento pode simplesmente morrer de cansaço mais para frente (não agora). Ou pode ser capitalizado por algum líder populista. Ou apesar de tudo isso pode levar a alguma mudança efetiva. Quem viver, verá.
Otaviano.