04-03-2016, 01:01 AM
A civilização moderna (e ainda a pós) é a primeira na história do mundo a não ter centro, propósito ou transcendência para justificar a própria existência. Os romanos tinham a glória de Roma como propósito; os mongóis tinham o reino divino de Gengis Khan; os islâmicos, a aplicação da Sharia; etc. Qualquer povo, com sanha imperialista ou não, é uma sociedade articulada como representação de uma ordem transcendente. Mas os modernos, não. O existencialismo, então, tornou-se a posição permanente inescapável. A única ligação do homem moderno com o mundo é o absurdo. Ele não pode sequer apreciar a beleza. Albert Camus escreveu: "No fundo de toda beleza jaz algo de desumano, e essas colinas, a doçura do céu, esses desenhos de árvores, eis que no mesmo instante perdem o sentido ilusório com que os revestimos, agora mais longínquos que um paraíso perdido." O homem moderno também não tem história; é divorciado do passado e do futuro. Não há nada para "continuar". A rotina é vista como absurda, mecânica, cujo laço ininteligível é desmascarado diante da (suposta) verdadeira percepção da absurdidade do mundo. Assim, um rico existencialista, por exemplo, como observou Rushdoony, não trabalha para a próxima geração: no fim das contas, ele preencherá seu propósito existencial com a compra de 10 ou 20 carros de luxo. Lendo "O Mito de Sísifo", tive a impressão de estar entrando na mente de alguém que caminha para a depressão. Mas pior do que isso, não existe mais um "eu" para o existencialista. O homem é um "mero ator de si mesmo", uma existência sem essência, incapaz de conhecer-se, um "estranho" no mundo. E Camus reconhece a justiça - no sentido moral, alhures - de uma sentença: "o homem é sempre vítima de suas verdades." O Ocidente também. A "morte de Deus" é também a morte de uma civilização. Ela será inescapavelmente dominada por outra civilização que lhe dê um sentido e uma justificativa para existir. Creio que foi o Francis Schaeffer quem disse que os existencialistas são tão honestos que parecem cristãos infiltrados no meio do ateísmo.
"Cercar-se de coisas macias não é vida, é morte."