08-01-2013, 03:27 PM
Por Murray N. Rothbard
Este ensaio do Rothbard foi inicialmente publicado em Julho de 1990
No início do século XX, o movimento progressista — à época, liderado pela esquerda americana — entrou em cena pregando o fascinante e sedutor evangelho da Libertação da Culpa. Os indivíduos, proclamavam audaciosamente os progressistas, estavam reprimidos, inibidos e repletos de um massacrante sentimento de culpa pelo simples fato de estarem constantemente cedendo aos seus desejos e impulsos naturais. A função autoproclamada dos progressistas era a de efetuar uma jubilosa remoção de todo e qualquer sentimento de culpa, sentimento esse que havia sido forçadamente incutido nas pessoas pela 'opressora moral religiosa', por padres e pastores.
O hedonismo, a entrega irreprimível aos desejos e o fim de toda e qualquer sensação de culpa passaram a ser o comportamento preconizado. Colocando em uma típica e repugnante frase da Revolução Sexual da década de 1960, "Se algo se move, acaricie e demonstre afeto". O sexo, por fim, é "apenas um gole d'água", algo natural e inofensivo.
No entanto, essa era da inocência e da ausência de culpa propugnada pelos progressistas durou, pelo que me lembro, aproximadamente seis meses. Logo depois, as coisas se inverteram totalmente. Hoje, toda a cultura progressista é caracterizada por um maciço sentimento de culpa coletiva. Aquele cidadão que não rezar pela cartilha politicamente correta e não professar (nem que seja apenas da boca para fora) uma longa lista de culpabilidades solenemente declaradas é automaticamente rotulado de 'reacionário' e será naturalmente tido como um pária em sua vida pública.
O sentimento de culpa é hoje onipresente, a tudo permeia e está difuso em todas as culturas e classes sociais. E o que é ainda mais irônico: tudo isso foi imposto a nós pelos mesmos patifes que outrora prometiam uma fácil e irrestrita libertação de toda e qualquer sensação de culpa. Um breve resumo dos sentimentos que um indivíduo tem a obrigação de ter: sentimento de culpa por séculos de escravidão, sentimento de culpa pela opressão e estupro de mulheres, sentimento de culpa pelo Holocausto, sentimento de culpa pela existência de aleijados, de cegos, de anões e de deficientes mentais, sentimento de culpa por matar e comer animais, sentimento de culpa por estar gordo, sentimento de culpa por fumar, sentimento de culpa por não reciclar o lixo, sentimento de culpa por se locomover de carro e gerar poluição, sentimento de culpa por haver pessoas negras com renda menor que a sua, sentimento de culpa por estar "violando a santidade da Terra" e por aí vai.
Observe que esta culpa jamais é confinada a indivíduos específicos — por exemplo, aqueles que realmente escravizaram ou assassinaram ou estupraram pessoas. A eficácia em se induzir culpabilidade nas pessoas advém justamente do fato de que a culpa não é específica, mas sim coletiva, podendo ser expandida e ampliada por todo o planeta e, aparentemente, ao longo de várias épocas, de modo incessante.
Antigamente, desprezávamos os nazistas por causa da sua doutrina de coletivização da culpa (a qual eles impuseram a judeus e ciganos); hoje, abraçamos esse mesmo conceito nazista como se ele fosse uma característica vital do nosso sistema ético. Confinar a culpa apenas a criminosos específicos seria uma atitude que não geraria o efeito desejado justamente porque não caberia na nossa vigente doutrina do "vitimismo credenciado".
Alguns grupos já adquiriram o status de "vítimas oficiais" — são aqueles que têm direito a tudo, principalmente ao bolso dos outros cidadãos, os quais, justamente por não estarem no grupo oficial das vítimas, estão consequentemente no grupo dos criminosos, e são os "vitimadores oficiais", normalmente homens brancos, heterossexuais e bem-sucedidos.
Destes vitimadores exige-se que sintam culpa e remorso pelas vítimas, e consequentemente — uma vez que não faz sentido se sentir culpado sem pagar por isso — assumam vários deveres e concedam infindáveis privilégios às vítimas, seja por meio de vagas de trabalho ou em universidades, ou por meio de salários sem nenhuma relação com a produtividade, para negros, mulheres, gays, deficientes, índios, cegos, surdos, mudos etc.
Simplesmente não há maneiras de um determinado indivíduo deixar de ser culpado. E foi isso que nossos libertadores progressistas nos impuseram. Em lugar da 'antiquada' culpa cristã em relação ao sexo, os progressistas criaram uma nova religião da Vitimologia e da Deusa Natureza. E até mesmo o sexo, o último bastião do hedonismo, já deixou de ser visto como algo livre de culpa: com a implacável diatribe feminazi de que "o sexo explora as mulheres", e a furiosa mania do "deve-se usar preservativos em nome do sexo seguro", seria melhor simplesmente abolir todos esses modernismos e voltarmos para a boa e velha culpa cristã. Certamente seria algo mais simples e pacífico.
Grande parte da atual onda politicamente correta não passa de uma demente tentativa de justificar e dar continuidade a um comportamento repugnante ao mesmo tempo em que se tenta substituir o comportamento decente por uma cornucópia de regras formais ditadas por progressistas. O problema é que essas regras formais são o inverso das boas maneiras, pois são usadas como porretes para impor o desejo de alguns poucos sobre todos os outros — e tudo em nome da "sensibilidade".
Mas uma hiper-sensibilidade é uma das maiores barreiras que podem ser impostas ao discurso civilizado e às relações sociais, e servem apenas para fazer com que as relações humanas voluntárias e francas sejam virtualmente impossíveis.
Como em todos os outros aspectos da nossa pútrida cultura, a única maneira de remediar a situação é oferecer resistência e partir para o ataque frontal e total contra esses progressistas de esquerda indutores de culpa. É nesse ataque que jaz a única esperança de reassumirmos o controle de nossas vidas e retomarmos nossa cultura do controle destes tiranos maliciosos.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1496
texto traduzido de http://www.lewrockwell.com/rothbard/rothbard71.html
Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies.
Este ensaio do Rothbard foi inicialmente publicado em Julho de 1990
No início do século XX, o movimento progressista — à época, liderado pela esquerda americana — entrou em cena pregando o fascinante e sedutor evangelho da Libertação da Culpa. Os indivíduos, proclamavam audaciosamente os progressistas, estavam reprimidos, inibidos e repletos de um massacrante sentimento de culpa pelo simples fato de estarem constantemente cedendo aos seus desejos e impulsos naturais. A função autoproclamada dos progressistas era a de efetuar uma jubilosa remoção de todo e qualquer sentimento de culpa, sentimento esse que havia sido forçadamente incutido nas pessoas pela 'opressora moral religiosa', por padres e pastores.
O hedonismo, a entrega irreprimível aos desejos e o fim de toda e qualquer sensação de culpa passaram a ser o comportamento preconizado. Colocando em uma típica e repugnante frase da Revolução Sexual da década de 1960, "Se algo se move, acaricie e demonstre afeto". O sexo, por fim, é "apenas um gole d'água", algo natural e inofensivo.
No entanto, essa era da inocência e da ausência de culpa propugnada pelos progressistas durou, pelo que me lembro, aproximadamente seis meses. Logo depois, as coisas se inverteram totalmente. Hoje, toda a cultura progressista é caracterizada por um maciço sentimento de culpa coletiva. Aquele cidadão que não rezar pela cartilha politicamente correta e não professar (nem que seja apenas da boca para fora) uma longa lista de culpabilidades solenemente declaradas é automaticamente rotulado de 'reacionário' e será naturalmente tido como um pária em sua vida pública.
O sentimento de culpa é hoje onipresente, a tudo permeia e está difuso em todas as culturas e classes sociais. E o que é ainda mais irônico: tudo isso foi imposto a nós pelos mesmos patifes que outrora prometiam uma fácil e irrestrita libertação de toda e qualquer sensação de culpa. Um breve resumo dos sentimentos que um indivíduo tem a obrigação de ter: sentimento de culpa por séculos de escravidão, sentimento de culpa pela opressão e estupro de mulheres, sentimento de culpa pelo Holocausto, sentimento de culpa pela existência de aleijados, de cegos, de anões e de deficientes mentais, sentimento de culpa por matar e comer animais, sentimento de culpa por estar gordo, sentimento de culpa por fumar, sentimento de culpa por não reciclar o lixo, sentimento de culpa por se locomover de carro e gerar poluição, sentimento de culpa por haver pessoas negras com renda menor que a sua, sentimento de culpa por estar "violando a santidade da Terra" e por aí vai.
Observe que esta culpa jamais é confinada a indivíduos específicos — por exemplo, aqueles que realmente escravizaram ou assassinaram ou estupraram pessoas. A eficácia em se induzir culpabilidade nas pessoas advém justamente do fato de que a culpa não é específica, mas sim coletiva, podendo ser expandida e ampliada por todo o planeta e, aparentemente, ao longo de várias épocas, de modo incessante.
Antigamente, desprezávamos os nazistas por causa da sua doutrina de coletivização da culpa (a qual eles impuseram a judeus e ciganos); hoje, abraçamos esse mesmo conceito nazista como se ele fosse uma característica vital do nosso sistema ético. Confinar a culpa apenas a criminosos específicos seria uma atitude que não geraria o efeito desejado justamente porque não caberia na nossa vigente doutrina do "vitimismo credenciado".
Alguns grupos já adquiriram o status de "vítimas oficiais" — são aqueles que têm direito a tudo, principalmente ao bolso dos outros cidadãos, os quais, justamente por não estarem no grupo oficial das vítimas, estão consequentemente no grupo dos criminosos, e são os "vitimadores oficiais", normalmente homens brancos, heterossexuais e bem-sucedidos.
Destes vitimadores exige-se que sintam culpa e remorso pelas vítimas, e consequentemente — uma vez que não faz sentido se sentir culpado sem pagar por isso — assumam vários deveres e concedam infindáveis privilégios às vítimas, seja por meio de vagas de trabalho ou em universidades, ou por meio de salários sem nenhuma relação com a produtividade, para negros, mulheres, gays, deficientes, índios, cegos, surdos, mudos etc.
Simplesmente não há maneiras de um determinado indivíduo deixar de ser culpado. E foi isso que nossos libertadores progressistas nos impuseram. Em lugar da 'antiquada' culpa cristã em relação ao sexo, os progressistas criaram uma nova religião da Vitimologia e da Deusa Natureza. E até mesmo o sexo, o último bastião do hedonismo, já deixou de ser visto como algo livre de culpa: com a implacável diatribe feminazi de que "o sexo explora as mulheres", e a furiosa mania do "deve-se usar preservativos em nome do sexo seguro", seria melhor simplesmente abolir todos esses modernismos e voltarmos para a boa e velha culpa cristã. Certamente seria algo mais simples e pacífico.
Grande parte da atual onda politicamente correta não passa de uma demente tentativa de justificar e dar continuidade a um comportamento repugnante ao mesmo tempo em que se tenta substituir o comportamento decente por uma cornucópia de regras formais ditadas por progressistas. O problema é que essas regras formais são o inverso das boas maneiras, pois são usadas como porretes para impor o desejo de alguns poucos sobre todos os outros — e tudo em nome da "sensibilidade".
Mas uma hiper-sensibilidade é uma das maiores barreiras que podem ser impostas ao discurso civilizado e às relações sociais, e servem apenas para fazer com que as relações humanas voluntárias e francas sejam virtualmente impossíveis.
Como em todos os outros aspectos da nossa pútrida cultura, a única maneira de remediar a situação é oferecer resistência e partir para o ataque frontal e total contra esses progressistas de esquerda indutores de culpa. É nesse ataque que jaz a única esperança de reassumirmos o controle de nossas vidas e retomarmos nossa cultura do controle destes tiranos maliciosos.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1496
texto traduzido de http://www.lewrockwell.com/rothbard/rothbard71.html
Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies.