24-10-2012, 07:50 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 24-10-2012, 08:02 PM por Spirit.)
A conveniência das segundas chances
De Marc Rudov, 28/05/2010; Tradução: Spirit
Um vestido na vitrine
Se você não conseguir da primeira vez, tente, tente de novo. Este é o lema de todo grande empreendedor, investidor, inventor, cientista, atleta e performista. Depois de 10 mil tentativas frustradas de tornar sua lâmpada incandescente viável comercialmente, Thomas Edison finalmente recebeu a patente para ela, em 1880. Logo antes de seu triunfo, ele proferiu esta frase famosa: "Eu não malogrei. Eu só encontrei 10 mil maneiras que não funcionavam."
Persistência, a disposição para aproveitar repetidas chances, gera frutos quando se trata de realizações pessoais. Infelizmente, ele não funciona em relacionamentos românticos - como aprendemos através de decepções e ruína financeira. Ainda assim, muitas pessoas ignoram estas lições dolorosas, continuando a dar segundas chances àqueles que as magoam e as enganam. Altruísmo ilimitado?
Você já ouviu seus amigos admitirem, no dia de seus casamentos, em pleno altar, saber que estavam entrando em casamentos ruins - em nome das segundas chances. Meus clientes dão as seguintes razões de terem feito isto, que aliás são típicas: culpa pelo planejamento exaustivo e pelo dinheiro gasto; medo de magoar convidados do chá de casa; e pavor de desvalorizar seus pais, sua parceira e eles mesmos. Eles se sentem irreversivelmente comprometidos a se unir com futuras ex-esposas doentias e transgressoras.
Em 29 de fevereiro de 2010, Tiger Woods desabafou uma embaraçosa mea culpa, em plena TV para todo o mundo, assumindo toda a responsabilidade por ter traído sua mulher na época, Elin Nordegren. De acordo com reportagens publicadas em todos os cantos, ela estava planejando se divorciar dele - e tomar $500 mi. Mas depois de Woods entrar em "reabilitação" e demonstrar arrependimento para as massas, Elin deu a ele uma segunda chance. Agora, seus amigos tagarelam na mídia que os dois vivem sob o mesmo teto mas em cantos separados da casa. Este casamento acabou, independentemente do vestido da segunda chance estar na vitrine.
Poluição psicológica
No dia da confissão de Woods, Eu fiz uma enquete com leitores casados e divorciados sobre infidelidade para coletar suas razões de terem optado, no presente ou no passado, a continuarem com suas esposas infiéis. As quatro escolhas eram: medo de perder riqueza, filhos, crença em segundas chances e indiferença à infidelidade.
Mulheres, que representaram mais um menos 1/8 dos respondentes, escolheram "segundas chances" como a maior razão (38,5%) e "crianças" como a segunda maior razão (25%). Os homens, que representaram 7/8 dos meus respondentes, escolheram em ordem inversa: "crianças" (37,7%) e "segundas chances (27,5%). O interessante foi ver "perder riqueza" (empatado em 23%) como a 3ª razão para homens e mulheres.
Estes resultados fazem sentido para mim, mesmo que a pesquisa não seja científica. As mulheres tem muito mais dificuldade do que homens em assumir seus próprios erros e pedirem desculpas. Como eu já escrevi em "Chasing Pavlovian Sex", você jamais irá ouvir de uma mulher que dormiu no sofá, ou comprou flores e joias para seu marido como pedido de desculpas. Dar uma segunda chance é uma desculpa para mascarar os erros do casamento e chutar o pesadelo do divórcio para longe.
O certo é que: dar uma segunda chance não tem nada a ver com o ofensor e tudo a ver com o ofendido. Não se trata de altruísmo ou compaixão pelo transgressor. Não, tem tudo a ver com conveniência, limpar a cara. Simplesmente, uma pessoa não quer admitir - a ela mesma ou a seus amigos, à sua família, a seus colegas - que errou, que ele foi estúpido o bastante para levar, de propósito, desarmonia e problemas à sua vida e seu lar. A segunda chance é uma poluição psicológica.
Pior, a conveniência - a urgência de tapar o sol com a peneira*** à luz de uma má decisão, cresce exponencialmente à medida que os filhos chegam sob a nuvem matrimonial. Crianças represam animosidades, expõe, discórdias, e fazem com que o divórcio inevitável seja ainda mais humilhante, prolongado e caro. Na medida que o tempo passa, a segunda chance se torna uma amarra a mais em um casamento tóxico.
Bomba-relógio
A grande pergunta é, por que é que um desonrado mentiroso, traidor, ladrão, fofoqueiro e conivente teria uma segunda chance em primeiro lugar? Uma segunda chance para quê - repetir os mesmos atos repugnantes? Não faz nenhum sentido. Pau que nasce torto, dizem por aí, nunca se endireita*.
As evidências da indecência está bem diante de seus olhos. Ainda assim, você finge que não vê - por conveniência. Quando você vê mofo no pão, você dá uma segunda chance a ele para que o mofo suma? Amanhã, o pão terá ainda mais mofo. Durante o divórcio, sua ex-esposa não exibiu nenhum traço ofensivo que não tivesse sido notado durante o namoro, quando você torceu o nariz para dar uma segunda chance a ela - que você sabe bem, terminou por zerar sua conta bancária.
Relutantes, milhares de eleitores veem Barack Obama como um socialista. Como eles demoraram tanto para verem isto? Ele faz tudo o que prometeu fazer em sua campanha: transformações estruturais, redistribuição de renda, e assistência de saúde bancada pelo governo. Os eleitores de Obama estão sempre dando "segundas chances" a ele enquanto o déficit e os impostos aumentam. Por quê? Conveniência. Para que eles mesmos se sintam bem com fato de o terem elegido. Eles confortam o próprio ego sem perdoarem Obama, enquanto o "casamento" com este radical se azeda.
O aumento da síndrome da conveniência é uma condição que se chama "balanceamento da normalidade"**, um estado emocional que faz com que a pessoa ignore sinais de perigo iminente e torcer para que uma situação problemática fique "normal". Um exemplo: esperar ingenuamente que uma esposa histérica ou uma amante com tendências violentas não se torne violenta - ao invés de se livrar desta bomba-relógio.
Permanecer em um relacionamento conturbado não se trata de altruísmo; se trata de conveniência: relutar-se em admitir conscientemente ter escolhido um parceiro amoroso perigoso, falso, sem amor, não confiável.
A palavra final da NoNonsense
Reconheça que dar uma segunda chance a alguém tem a ver com você, não com outra pessoa. Uma segunda chance tem a ver com conveniência, não com altruísmo, e é um erro - um erro caríssimo. Pare de se culpar por prevenir que pessoas perigosas entrem em sua vida, ou por escorraçar as pessoas que já estiverem.
Seus colhões detectam instantaneamente a presença de mentirosos, traidores ou ladrões diante de você - e para dar mandar este vilão embora, não dê a ele uma segunda chance. Siga seus colhões. Segundas chances são caras. Ah, e a custo da conveniência.
LEGENDA
* = "Zebras, as they say, don't change their stripes."
** = Normalcy bias
*** = dig in one's heels
De Marc Rudov, 28/05/2010; Tradução: Spirit
Um vestido na vitrine
Se você não conseguir da primeira vez, tente, tente de novo. Este é o lema de todo grande empreendedor, investidor, inventor, cientista, atleta e performista. Depois de 10 mil tentativas frustradas de tornar sua lâmpada incandescente viável comercialmente, Thomas Edison finalmente recebeu a patente para ela, em 1880. Logo antes de seu triunfo, ele proferiu esta frase famosa: "Eu não malogrei. Eu só encontrei 10 mil maneiras que não funcionavam."
Persistência, a disposição para aproveitar repetidas chances, gera frutos quando se trata de realizações pessoais. Infelizmente, ele não funciona em relacionamentos românticos - como aprendemos através de decepções e ruína financeira. Ainda assim, muitas pessoas ignoram estas lições dolorosas, continuando a dar segundas chances àqueles que as magoam e as enganam. Altruísmo ilimitado?
Você já ouviu seus amigos admitirem, no dia de seus casamentos, em pleno altar, saber que estavam entrando em casamentos ruins - em nome das segundas chances. Meus clientes dão as seguintes razões de terem feito isto, que aliás são típicas: culpa pelo planejamento exaustivo e pelo dinheiro gasto; medo de magoar convidados do chá de casa; e pavor de desvalorizar seus pais, sua parceira e eles mesmos. Eles se sentem irreversivelmente comprometidos a se unir com futuras ex-esposas doentias e transgressoras.
Em 29 de fevereiro de 2010, Tiger Woods desabafou uma embaraçosa mea culpa, em plena TV para todo o mundo, assumindo toda a responsabilidade por ter traído sua mulher na época, Elin Nordegren. De acordo com reportagens publicadas em todos os cantos, ela estava planejando se divorciar dele - e tomar $500 mi. Mas depois de Woods entrar em "reabilitação" e demonstrar arrependimento para as massas, Elin deu a ele uma segunda chance. Agora, seus amigos tagarelam na mídia que os dois vivem sob o mesmo teto mas em cantos separados da casa. Este casamento acabou, independentemente do vestido da segunda chance estar na vitrine.
Poluição psicológica
No dia da confissão de Woods, Eu fiz uma enquete com leitores casados e divorciados sobre infidelidade para coletar suas razões de terem optado, no presente ou no passado, a continuarem com suas esposas infiéis. As quatro escolhas eram: medo de perder riqueza, filhos, crença em segundas chances e indiferença à infidelidade.
Mulheres, que representaram mais um menos 1/8 dos respondentes, escolheram "segundas chances" como a maior razão (38,5%) e "crianças" como a segunda maior razão (25%). Os homens, que representaram 7/8 dos meus respondentes, escolheram em ordem inversa: "crianças" (37,7%) e "segundas chances (27,5%). O interessante foi ver "perder riqueza" (empatado em 23%) como a 3ª razão para homens e mulheres.
Estes resultados fazem sentido para mim, mesmo que a pesquisa não seja científica. As mulheres tem muito mais dificuldade do que homens em assumir seus próprios erros e pedirem desculpas. Como eu já escrevi em "Chasing Pavlovian Sex", você jamais irá ouvir de uma mulher que dormiu no sofá, ou comprou flores e joias para seu marido como pedido de desculpas. Dar uma segunda chance é uma desculpa para mascarar os erros do casamento e chutar o pesadelo do divórcio para longe.
O certo é que: dar uma segunda chance não tem nada a ver com o ofensor e tudo a ver com o ofendido. Não se trata de altruísmo ou compaixão pelo transgressor. Não, tem tudo a ver com conveniência, limpar a cara. Simplesmente, uma pessoa não quer admitir - a ela mesma ou a seus amigos, à sua família, a seus colegas - que errou, que ele foi estúpido o bastante para levar, de propósito, desarmonia e problemas à sua vida e seu lar. A segunda chance é uma poluição psicológica.
Pior, a conveniência - a urgência de tapar o sol com a peneira*** à luz de uma má decisão, cresce exponencialmente à medida que os filhos chegam sob a nuvem matrimonial. Crianças represam animosidades, expõe, discórdias, e fazem com que o divórcio inevitável seja ainda mais humilhante, prolongado e caro. Na medida que o tempo passa, a segunda chance se torna uma amarra a mais em um casamento tóxico.
Bomba-relógio
A grande pergunta é, por que é que um desonrado mentiroso, traidor, ladrão, fofoqueiro e conivente teria uma segunda chance em primeiro lugar? Uma segunda chance para quê - repetir os mesmos atos repugnantes? Não faz nenhum sentido. Pau que nasce torto, dizem por aí, nunca se endireita*.
As evidências da indecência está bem diante de seus olhos. Ainda assim, você finge que não vê - por conveniência. Quando você vê mofo no pão, você dá uma segunda chance a ele para que o mofo suma? Amanhã, o pão terá ainda mais mofo. Durante o divórcio, sua ex-esposa não exibiu nenhum traço ofensivo que não tivesse sido notado durante o namoro, quando você torceu o nariz para dar uma segunda chance a ela - que você sabe bem, terminou por zerar sua conta bancária.
Relutantes, milhares de eleitores veem Barack Obama como um socialista. Como eles demoraram tanto para verem isto? Ele faz tudo o que prometeu fazer em sua campanha: transformações estruturais, redistribuição de renda, e assistência de saúde bancada pelo governo. Os eleitores de Obama estão sempre dando "segundas chances" a ele enquanto o déficit e os impostos aumentam. Por quê? Conveniência. Para que eles mesmos se sintam bem com fato de o terem elegido. Eles confortam o próprio ego sem perdoarem Obama, enquanto o "casamento" com este radical se azeda.
O aumento da síndrome da conveniência é uma condição que se chama "balanceamento da normalidade"**, um estado emocional que faz com que a pessoa ignore sinais de perigo iminente e torcer para que uma situação problemática fique "normal". Um exemplo: esperar ingenuamente que uma esposa histérica ou uma amante com tendências violentas não se torne violenta - ao invés de se livrar desta bomba-relógio.
Permanecer em um relacionamento conturbado não se trata de altruísmo; se trata de conveniência: relutar-se em admitir conscientemente ter escolhido um parceiro amoroso perigoso, falso, sem amor, não confiável.
A palavra final da NoNonsense
Reconheça que dar uma segunda chance a alguém tem a ver com você, não com outra pessoa. Uma segunda chance tem a ver com conveniência, não com altruísmo, e é um erro - um erro caríssimo. Pare de se culpar por prevenir que pessoas perigosas entrem em sua vida, ou por escorraçar as pessoas que já estiverem.
Seus colhões detectam instantaneamente a presença de mentirosos, traidores ou ladrões diante de você - e para dar mandar este vilão embora, não dê a ele uma segunda chance. Siga seus colhões. Segundas chances são caras. Ah, e a custo da conveniência.
LEGENDA
* = "Zebras, as they say, don't change their stripes."
** = Normalcy bias
*** = dig in one's heels