01-04-2015, 05:51 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 05-04-2015, 06:38 PM por Rider.)
ENTENDENDO A IDEOLOGIA DO ISIS
DISCLAIMER: face ao desentendimento que aconteceu quando coloquei o primeiro texto sobre geopolítica, onde a BBC falava sobre o passado de Putin na Alemanha Oriental, já esclareço desde já que não apoio nem defendo nenhum dos grupos que irei apresentar nessa série. Não sou esquerdista, nem putinha do Putin [heh] muito menos defendo que a "salvação" está com a China, Índia, UE, Rússia ou o Islã. Somente apresento essa série de textos porque acredito que a Real está muito, mas muito concentrada em problemas pessoais e regionais, esquecendo-se dos grandes temas que realmente podem mudar nossa Realidade, de uma hora pra outra.
Se algum texto parece laudatório ou elogioso, é porque o autor original assim o escreveu.
Lembrem-se: quem não conhece a História está fadado a repeti-la, e quem não estuda a História do seu tempo está fadado a ser vítima dela.
Chega de frescura. Vamos ao texto duma vez.
- traduzido do ROK
No dia 29 de junho de 2014, o grupo conhecido mundialmente como ISIS – Islamic State of Iraq and Syria, atualmente preferindo ser chamado de IS – Islamic State – sob a liderança do seu Emir Abu Bakr Al Baghdadi, declarou um califado nessa parte do Oriente Médio.
O evento recebeu um monte de cobertura da mídia na época, mesmo que os comentaristas não entendessem o quão monumental a declaração do Califado era. IMO, esse Califado representa simplesmente a maior ameaça às entidades geopolíticas do mundo.
Mesmo que o ISIS tenha recebido atenção permanente da mídia devido às execuções regulares e ao modo extremamente violento com que implementam sua versão ultra-ortodoxa da Lei Islâmica, toda essa cobertura têm sido muito emocional e superficial, com pouca análise profunda sobre o que realmente está acontecendo.
Eu acredito que não faz diferença nenhuma responder com ultraje e críticas ao que o grupo está fazendo. Isso porque a maioria das pessoas já deve ter percebido que uma organização como o ISIS é altamente motivada contra princípios e valores que o resto do mundo acredita e defende; esse tipo de cobertura midiática não gera discussão inteligente que permita às pessoas entenderem a gravidade e perigo que eles representam.
Na verdade, o que deve ser feito é que todo mundo, ou pelo menos, a classe política, comece a entender a ideologia produzida pelo grupo. Isso pode gerar uma resposta que seja melhor sucedida, e, principalmente, menos custosa tanto em sangue quanto em dinheiro.
RAÍZES HISTÓRICAS
Analisemos alguns elementos chave da História do Islã.
No ano de 632, o profeta do Islã, Muhammad (em PT-BR Maomé) morreu, deixando um Estado que dominava praticamente toda a Península Árabe. Ele foi sucedido por um dos seus companheiros, Abu Bakr, que estabeleceu o primeiro Califado Islâmico, e depois seguido por três sucessores como chefes de Estado. Esses califas foram conhecidos como os Califas Rashidun, um termo árabe que significa “os bem-conduzidos”.
O período do Rashidun foi marcado por um expansionismo constante, que levou tanto o Bizâncio quanto o Império Sassânida a derrotas humilhantes, sendo eles as superpotências da época. Esse período também testemunhou a criação de um sistema de leis e administração Islâmico e, para muitos muçulmanos, esse período foi único verdadeiro califado Islâmico da História.
O PILAR IDEOLÓGICO
A Lei de Allah não pode ser votada. Dar às pessoas ou não o direito de aplicar a Sharia reflete um problema fundamental no entendimento do Tawheed.
Atualmente, um movimento Islâmico que olha para o Período Rashidun como a Era Dourada do Islã é conhecido como Salafismo ou Salafiyyah. Os salafistas pregam a versão mais ortodoxa possível do Islã. O seu nome vem da palavra “salafi” que signifca “ancestral”; eles se chamam assim porque dizem seguir as primeiras três gerações de muçulmanos, que são chamados de Salaf.
É seu credo que um verdadeiro muçulmano deve ser guiado em todos os aspectos da sua vida pelo Corão e pela Sunnah (as práticas e ensinamentos de Maomé). Por isso, eles tentam emular os Salaf porque eles acreditam que eles foram os que mais perto chegaram da perfeição em viver o Corão e a Sunnah.
É interessante ver que o Salafismo é a versão oficial do Islamismo seguido por quase todas as monarquias do Golfo – países que supostamente são aliados dos EUA. Eles compartilham essa variedade do Islamismo com outro povo, os Salafi-Jihadis.
O Mais conhecido exemplo de Salafi-Jihadi é a Al-Qaeda, que têm sido por anos a maior ameaça terrorista aos EUA e seus aliados. A Al-Qaeda e suas 'franquias' e aliados como a Al Shabab, o Emirado do Cáucaso, Ansar Al Sharia etc. Não veem os governos e monarquias do Golfo como verdadeiros Salafis, chamando-os pejorativamente de “Sheikistas” ou “Murjistas” (murjiah = aqueles que atrasam a implementação da Fé).
Os Salafis em geral, e os Salafi Jihadis em particular, não acreditam que a maioria da população do mundo que se declara muçulmana seja muçulmana de verdade. Eles acreditam que os verdadeiros muçulmanos são uma minoria dentro do Islã [novamente a teoria de Pareto se apresentando pra nós... só falta eles dizerem que são somente 20% os verdadeiros muçulmanos ] – devido à sua percepção de que essas pessoas abandonaram o caminho do Tawid (monoteísmo) e na verdade são praticamente politeístas. Esses supostos 'muçulmanos faz-de-conta' são tratados com o maior desprezo, principalmente os xiitas, que são vistos como o pior de todos.
Esse é o motivo porque quase toda semana, nos países islâmicos, centenas de civis morrem e dezenas são mutilados em atentados executados por grupos de Salafi Jihadi. Essa também é a razão pelo qual você vai ter dificuldades de encontrar xiitas nos territórios da ISIS, mesmo que você consiga encontrar cristãos; o ISIS é possivelmente o grupo mais anti-xiita do mundo no momento.
OBJETIVO: DOMINAÇÃO MUNDIAL
Devido a essa ideologia, o ISIS deseja trazer de volta o que é considerado a Era de Ouro do Islã, seja através de meios pacíficos ou belicosos. Apesar do grupo ter se separado da Al Qaeda e de outros grupos devido a diferenças sobre a hora correta de declarar o Califado, ele ainda continua sendo uma força formidável que tem suportado o ataque de vários inimigos.
Não existe nem sombra de ideias como democracia e igualdade sob a doutrina Salfi-Jihadi. A interpretação literal do Corão e da Sunnah não abre espaço para essas ideias, mas sim, o objetivo de colocar todo e qualquer pedaço de terra sob autoridade do Califado, e, assim, estabelecer o domínio de Allah por todo o mundo.
Esse entendimento nos leva à somente uma conclusão: o califado estabelecido pelo ISIS continuará lutando com firmeza pétrea para destruir toda e qualquer outra entidade geopolítica da face da Terra.
Eles não podem ser apaziguados. Eles não irão parar até serem decisivamente vencidos e dizimados, ou até que o mundo inteiro seja conquistado.