13-06-2014, 10:39 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 13-06-2014, 11:45 PM por ohomemquecopia.)
I tre consigli d'onore (Os três conselhos de Honra)
Uma belíssima história difundida entre conexões da máfia, oscilando entre o boato e a realidade, há gerações é contada da seguinte forma:
Durante uma devassa seca causada por um dos mais áridos verões que assolara a província Siciliana, não havia sequer uma plantação que não tivesse murchado e secado seus frutos, nenhuma espiga de milho ou broto de trigo conseguiram suportar a escassez de chuva. O gado padecia junto com as ovelhas, a fome tornara companheira de todas as mesas dos pobres na hora do jantar.
Em um pequeno vilarejo, residia um comum lavrador com sua recém-esposa. Os dois moravam sem conforto ou luxo algum em uma choupana de paredes de madeira e telhado construído com palha dourada e entrelaçada por cordas feitas dos ramos das videiras secas.
Incitado pela fome e desesperado por não suprir com as despesas de casa, observando sua mulher a cada dia perder peso ao caminhar longas distâncias para colher agua suja em um poço local, o pobre lavrador caminhou algumas horas pelas montanhas desde o seu pequeno pedaço de terra até a reluzente cidade na costa da ilha. Seu pai havia trabalhado durantes anos em um vinhedo pertencente a um Capo, o lavrador estava disposto a procurá-lo e pedir ajuda antes que ele e sua mulher padecessem.
Com os negócios na América crescendo e o dinheiro fluindo constantemente, os laços entre a Cosa Nostra americana e siciliana se tornavam cada vez mais fortes. O Capo reconhecendo o filho de seu antigo empregado e observando seu pálido rosto compadeceu-se do lavrador e propôs um acordo, naquela mesma semana, o Capo viajaria para Las Vegas, onde iria morar para controlar de perto o novo cassino da famiglia e se o rapaz viesse junto, receberia uma boa quantia além de ter uma enorme chance de galgar vários degraus na vida financeira. Mesmo ainda jovem, o lavrador aceitou a proposta, mas disse que a Sicilia sempre seria seu verdadeiro lar e que iria para a América até que chegasse o dia em que poderia voltar e dar um bom futuro a sua esposa, quem sabe comprar mais terras, refazer a plantação.
O lavrador voltou para casa, entregou nas mãos de sua esposa uma caixa com um bolo de notas, dinheiro adiantado pelo Capo, e abraçando sua mulher, prometeu que iria para as terras do outro lado do oceano, mas que voltaria assim que pudesse dá-la a vida que realmente merecia e que mesmo distante não a deixaria de amar e não teria outra mulher em seu lugar e que o mesmo fosse feito por ela no tempo em que estivesse longe. E assim pactuaram.
Durante longos vintes anos, o lavrador, tornou-se gerente do Cassino, trabalhava fielmente ao Capo, subiu vários e vários degraus na escada de ossos da famiglia, fizera inúmeras coisas que nunca imaginou e que de certa forma, o obrigou a aprendeu a lidar com a dor de sua consciência. Tornara-se mais do que um homem feito, mas um homem de honra, não era mais o lavrador fraco e caipira de antes. Mesmo tantos anos longe de sua esposa e rodeado de mulheres, dinheiro e poder, ele não quebrou sua promessa e manteve-se longe de qualquer mulher estranha. Rico e poderoso, olhando tudo que conquistou nos ininterruptos anos de trabalho, sentiu a forte vontade de retornar ao seu lar, a Sicilia.
Pediu receosamente ao Capo que lhe permitisse deixar os negócios e voltar para a Sicilia. O velho concedeu o pedido, mas impôs duas opções, o lavrador antes de partir deveria escolher se queria ou receber todo o dinheiro por ele merecido nestes anos de servidão leal ou receber três conselhos.
Abalado e bastante surpreso, o lavrador entendeu a proposta como uma sutil ameaça, quanto a sua deserção da organização, e por receio, escolheu receber os três conselhos. O Capo segurou em seu ombro e disse:
-Durante todos esses anos convivendo neste meio, você aprendeu mais do que poderia aprender em séculos vivendo em sua fazenda, mas existem três lições que ainda não aprendeu. Eu demorei a vida inteira para considerá-las em minha vida e agora, como um pai faz com seu filho, eu as lhe ensinarei: Não confie em ninguém que se ofereça para ajudá-lo quando não requisitar, nunca se intrometa em nada que não for do seu interesse e o mais importante de todos os conselhos, Jamais tome qualquer decisão quando estiver irritado, sem analisar os fatos.
Após aconselhá-lo, o Capo pegou um enorme pedaço de pão que estava no frigobar, foi até seu escritório e voltou com ele embrulhado, entregou nas mãos do lavrador e disse que aquilo era um presente, para comer assim que sentasse a mesa com sua esposa na Sicilia.
(continua)