13-05-2020, 04:12 PM
As vezes a filosofia da Real vai se introjetando no indivíduo não por estudo, leitura, etc, mas sim pelo empirismo e pela experiência. Com o passar dos anos e com a cancha que se adquire das muitas cabeçada que damos ao longo do caminho, você acaba aprendendo conceitos que nem mesmo imaginava que pudessem ser os norteadores principiológicos de outras pessoas mundo afora. Essa é basicamente a minha relação com a Real: aprendi muitos dos conceitos que aqui são discutidos pela experiência.
Agora, especificamente sobre esse tópico sobre amizade, que li integralmente, e, principalmente lendo o relato do nobre confrade Remy LeBeau (pagina 7), vejo e reconheço que, na minha vivência, aqueles que eu por muitos anos considerei amigos quase conseguiram me destruir enquanto pessoa e trouxeram muito, mas muito prejuízo mesmo.
Eu sempre tive uma condição financeira mediana e meus pais primaram por me fornecer uma educação que entendiam ser de boa qualidade. Por isso, sempre estudei em escola particular e meus colegas sempre foram pessoas com algum dinheiro e com pais com alguma influência na sociedade. Em resumo, um bando de “boyzinhos” de cidade do interior.
Ao longo de toda minha jornada nesse maldito período escolar (se a terra é o inferno, o colégio é a casa do capeta), sempre fui o idiota, o alvo de piadas, o dono dos apelidos cretinos da turma.
Mesmo que eu tivesse algum poder de barganha (e até tinha minhas fãs na época, como vim a tomar conhecimento anos após), esse tipo de comportamento do grupo foi minando a minha confiança de tal forma e me apagando enquanto pessoa, que acabei virando um fantasma, um morto-vivo que não possuía capacidade de se defender e nem de se reerguer das pancadas que tomava.
O ápice desse processo destrutivo foi quando tinha meus 14-15 anos e tive de fazer tratamento psicológico, pois estava entrando em um quadro depressivo e apresentando algumas tendências suicidas bem evidentes e que felizmente foram percebidas por meus pais.
Chegar do colégio, não almoçar e ir para o banheiro deixar a água das lagrimas e do chuveiro tentar lavar a dor de ter que frequentar aquele inferno mais uma vez até pode parecer frescura, mas fazia bastante sentido na época. Para um adolescente bobalhão, onde a vida se resumia ao mundo minúsculo e ridículo da escola, é muito triste ser deixado de lado no time de futebol da sala de aula...
Acontece que, vivendo nesse universo insosso, aprendi a jogar o jogo dos mentecaptos e, com isso, a ter algum sucesso nas únicas coisas que eram importantes à época: beber, pagar de fodão para outros grupelhos da cidade e, nas horas de folga, até “pegar” mulher.
E fazer isso foi ficando fácil: era só vestir uma máscara de esnobe, sacanear os que considerava estar em uma posição mais baixa nessa pirâmide social, gastar um dinheiro em bebida hiperinflacionada de baladas toscas e curtir os louros de ter se tornado um pulha igual àqueles teus colegas, que você passou a chamar de “amigos”.
Nesse ponto, você começa a ser chamado por essas pessoas que nunca tiveram nenhuma consideração por ti de “parceiro”, de “meu bruxo”, dentre outros. E como você é idiota, você bota bebida na mesa dessa turma em baladas toscas, você dá carona para os sanguessugas encherem a cara, as pervas começam a ficar mais perto dessas mesas e, FINALMENTE você virou um “cara legal” aos olhos da sociedade adolescente hipócrita, mas continua se sentindo vazio.
Se antes você era só um idiota, agora você passou a ser um grande idiota, pois afinal gasta em baladas para aparentar algo que você não é para pessoas que não se importam, se veste igual a todos os outros para parecer “cool”, leva boxe na cara por rixas de pseudo amigos e, mesmo se sentindo vazio, prefere gastar teu tempo com futilidades do que direcionar a vida para as coisas e para as pessoas que realmente importam.
Acontece que ser um grande idiota é uma coisa e ser burro é outra coisa. Podia me enquadrar no primeiro conceito, mas não no segundo. Além disso, eu tinha uma educação rígida e regrada pelos meus pais. Então, enquanto fazia todas essas macaquices para parecer legal aos olhos dos “amigos” e das vadias, também estava estudando e estagiando, ganhando meu dinheiro, aprendendo coisas novas e conhecendo pessoas diferentes, com ideias diferentes e com visões bem mais amplas do que aquelas com as quais eu convivia.
Invariavelmente, como inclusive já foi dito nesta discussão, quem convive com pessoas mais vividas, mais estudadas, mais experientes e mais sábias vai absorvendo conceitos e visões de mundo novas e, quando vê, já está totalmente mudado.
Me formei, realizei alguns sonhos, conheci lugares (tudo sem foto no fakebook porque não preciso me afirmar para os outros) e foi aí que passei a perceber o tamanho da mediocridade do mundo em que estava vivendo e a me afastar desses “amigos”. Foi um processo natural, sem ruptura ou pontos finais. Simplesmente deixei de atender a alguns convites e os convites foram cessando, até chegar aos dias de hoje, onde o convívio, nas raras vezes que nos esbarramos em algum lugar, se resume a um “e aí cara”.
Passei, finalmente, a perceber o quanto verdadeira foi uma frase que uma piranha com a qual eu estava ficando lá pelos meus 18 anos dissera na época e me ofendeu: “para os seus amigos tu é um viado”.
Apesar de não valer nada, a rameira tinha conseguido perceber em uma noite de balada o quanto deploráveis eram aquelas pessoas pelas quais eu estava perdendo meu tempo e meu dinheiro, coisa que demorei muitos anos para notar.
Agora, vendo essa fase da minha vida à uma distância de mais ou menos dez anos, posso me dar ao luxo de dar alguma risada quando reparo que muitas daquelas pessoas, agora senhores com mais de trinta anos, ainda mantém o mesmo patético comportamento que tinhamos à época, onde vivíamos por aparência e não percebíamos o quando frívolos éramos e perceber claramente que amigos mesmo, na acepção nobre do termo, eu tive poucos, tão poucos que podem ser contados duas vezes com os dedos de uma mão.
Agora, especificamente sobre esse tópico sobre amizade, que li integralmente, e, principalmente lendo o relato do nobre confrade Remy LeBeau (pagina 7), vejo e reconheço que, na minha vivência, aqueles que eu por muitos anos considerei amigos quase conseguiram me destruir enquanto pessoa e trouxeram muito, mas muito prejuízo mesmo.
Eu sempre tive uma condição financeira mediana e meus pais primaram por me fornecer uma educação que entendiam ser de boa qualidade. Por isso, sempre estudei em escola particular e meus colegas sempre foram pessoas com algum dinheiro e com pais com alguma influência na sociedade. Em resumo, um bando de “boyzinhos” de cidade do interior.
Ao longo de toda minha jornada nesse maldito período escolar (se a terra é o inferno, o colégio é a casa do capeta), sempre fui o idiota, o alvo de piadas, o dono dos apelidos cretinos da turma.
Mesmo que eu tivesse algum poder de barganha (e até tinha minhas fãs na época, como vim a tomar conhecimento anos após), esse tipo de comportamento do grupo foi minando a minha confiança de tal forma e me apagando enquanto pessoa, que acabei virando um fantasma, um morto-vivo que não possuía capacidade de se defender e nem de se reerguer das pancadas que tomava.
O ápice desse processo destrutivo foi quando tinha meus 14-15 anos e tive de fazer tratamento psicológico, pois estava entrando em um quadro depressivo e apresentando algumas tendências suicidas bem evidentes e que felizmente foram percebidas por meus pais.
Chegar do colégio, não almoçar e ir para o banheiro deixar a água das lagrimas e do chuveiro tentar lavar a dor de ter que frequentar aquele inferno mais uma vez até pode parecer frescura, mas fazia bastante sentido na época. Para um adolescente bobalhão, onde a vida se resumia ao mundo minúsculo e ridículo da escola, é muito triste ser deixado de lado no time de futebol da sala de aula...
Acontece que, vivendo nesse universo insosso, aprendi a jogar o jogo dos mentecaptos e, com isso, a ter algum sucesso nas únicas coisas que eram importantes à época: beber, pagar de fodão para outros grupelhos da cidade e, nas horas de folga, até “pegar” mulher.
E fazer isso foi ficando fácil: era só vestir uma máscara de esnobe, sacanear os que considerava estar em uma posição mais baixa nessa pirâmide social, gastar um dinheiro em bebida hiperinflacionada de baladas toscas e curtir os louros de ter se tornado um pulha igual àqueles teus colegas, que você passou a chamar de “amigos”.
Nesse ponto, você começa a ser chamado por essas pessoas que nunca tiveram nenhuma consideração por ti de “parceiro”, de “meu bruxo”, dentre outros. E como você é idiota, você bota bebida na mesa dessa turma em baladas toscas, você dá carona para os sanguessugas encherem a cara, as pervas começam a ficar mais perto dessas mesas e, FINALMENTE você virou um “cara legal” aos olhos da sociedade adolescente hipócrita, mas continua se sentindo vazio.
Se antes você era só um idiota, agora você passou a ser um grande idiota, pois afinal gasta em baladas para aparentar algo que você não é para pessoas que não se importam, se veste igual a todos os outros para parecer “cool”, leva boxe na cara por rixas de pseudo amigos e, mesmo se sentindo vazio, prefere gastar teu tempo com futilidades do que direcionar a vida para as coisas e para as pessoas que realmente importam.
Acontece que ser um grande idiota é uma coisa e ser burro é outra coisa. Podia me enquadrar no primeiro conceito, mas não no segundo. Além disso, eu tinha uma educação rígida e regrada pelos meus pais. Então, enquanto fazia todas essas macaquices para parecer legal aos olhos dos “amigos” e das vadias, também estava estudando e estagiando, ganhando meu dinheiro, aprendendo coisas novas e conhecendo pessoas diferentes, com ideias diferentes e com visões bem mais amplas do que aquelas com as quais eu convivia.
Invariavelmente, como inclusive já foi dito nesta discussão, quem convive com pessoas mais vividas, mais estudadas, mais experientes e mais sábias vai absorvendo conceitos e visões de mundo novas e, quando vê, já está totalmente mudado.
Me formei, realizei alguns sonhos, conheci lugares (tudo sem foto no fakebook porque não preciso me afirmar para os outros) e foi aí que passei a perceber o tamanho da mediocridade do mundo em que estava vivendo e a me afastar desses “amigos”. Foi um processo natural, sem ruptura ou pontos finais. Simplesmente deixei de atender a alguns convites e os convites foram cessando, até chegar aos dias de hoje, onde o convívio, nas raras vezes que nos esbarramos em algum lugar, se resume a um “e aí cara”.
Passei, finalmente, a perceber o quanto verdadeira foi uma frase que uma piranha com a qual eu estava ficando lá pelos meus 18 anos dissera na época e me ofendeu: “para os seus amigos tu é um viado”.
Apesar de não valer nada, a rameira tinha conseguido perceber em uma noite de balada o quanto deploráveis eram aquelas pessoas pelas quais eu estava perdendo meu tempo e meu dinheiro, coisa que demorei muitos anos para notar.
Agora, vendo essa fase da minha vida à uma distância de mais ou menos dez anos, posso me dar ao luxo de dar alguma risada quando reparo que muitas daquelas pessoas, agora senhores com mais de trinta anos, ainda mantém o mesmo patético comportamento que tinhamos à época, onde vivíamos por aparência e não percebíamos o quando frívolos éramos e perceber claramente que amigos mesmo, na acepção nobre do termo, eu tive poucos, tão poucos que podem ser contados duas vezes com os dedos de uma mão.