01-04-2019, 02:15 AM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 01-04-2019, 02:30 AM por Fusion.)
Confrade @Wild, indo direto aos questionamentos levantados no seu tópico, eis minha pequena contribuição:
Até onde devemos lutar para defender as nossas ideias? É melhor viver sempre em pele de cordeiro ou há algum momento que devemos nos impor para que sejamos respeitados?
Acho sempre ponderável ter jogo de cintura. Isso não necessariamente faz com que fiquemos "em cima do muro". Considerando que somos seres constantemente mutáveis, o viver "sempre" em pele de cordeiro ou de qualquer outro jeito pode ser comprometedor. Relembro que nossa espécie não é destacada pela força, mas pela capacidade de adaptação ao meio em que vive.
Mas sim, acho que devemos nos impor para que sejamos respeitados sempre, desde que, claro, vejamos que o desrespeito para conosco esteja evidenciado. Isso tudo sem esquecer também que manter uma preocupação em respeitar o próximo é igualmente importante.
Ou seja, qual o limite, a linha ou limiar entre ficar quieto, fugir de uma discussão e permanecer e enfrentar para defender nossos ideais?
Talvez o limite seja conhecer os próprios limites, sejam fisiológicos, psicológicos, intelectuais ou ideológicos. Exemplificando cada um desses (mas sem querer limitar):
LIMITES FISIOLÓGICOS
Discussões (principalmente as que ferem nosso ego ou ideais <há diferença entre esses dois?>) tendem sempre a causar efeitos no nosso corpo, como aumento o aumento da pressão sanguínea, por exemplo (pode ser um mecanismo de defesa, como se você estivesse se preparando para um conflito). Sabendo disso, você com histórico de problemas cardíacos ou vasculares, ou que simplesmente sabe que vai ficar com dor de cabeça depois, acha que deve entrar em uma discussão com alguém (ou "alguéns") sobre algo que certamente deixará você agitado? Pode ser perigoso, até.
LIMITES PSICOLÓGICOS
Você consegue debater determinado assunto sem se exaltar ou falar coisas que você não gostaria exatamente que fossem ditas? Acho que @Spectro consegue falar com mais propriedade do que eu, dado que ele é Psiquiatra, mas existe uma espécie de janela durante o período de estresse que não é legal falarmos ou fazermos algo enquanto estamos nela. Agora imagine certas discussões em família ou mesmo no ambiente de trabalho, um lugar que você vai passar o resto da tarde ali, sentado, sem conseguir fugir quando quiser. E mais, será que você não vai ficar maquinando depois sobre o assunto debatido quando a outra pessoa parece nem se importar mais? Vai perder horas de sono? Então, acho que é bom você entender sobre os próprios limites psicológicos para averiguar se vale a pena.
LIMITES INTELECTUAIS
Escolaridade não é sinônimo de sabedoria. Citarei logo um exemplo extremo: um senhor muito pobre, analfabeto, que vive em algum lugar muito remoto de qualquer lugar do mundo, pode ter uma carga de sabedoria sobre a vida muito mais valiosa do que um homem de 35 anos cheio de diplomas e argumentos na ponta da língua. Obviamente não estou inferindo que quem estuda não pode desenvolver sabedoria, nem nada disso... o ponto em questão é: você é capaz de argumentar contra alguém, mesmo sabendo que as ideias daquela pessoa são absurdas ao seu ver? A disparidade de conhecimento é grande? Caso não, talvez seja bom repensar também.
IDEOLÓGICOS
Até onde você realmente acredita no que você acha que acredita? Será que você realmente quer se manter naquela linha de raciocínio e atitude? Qual a relação entre o que está nos seus ideais e no seu peito? Se durante um discurso a outra pessoa conseguir balançar suas crenças, você tem a humildade de admitir que ficou ao menos pensativo? Ou não? Há quem, mesmo na contradição, não dê o braço a torcer (pelo menos não no momento) por questões de orgulho (e envolve a questão do respeito também). Quais os seus limites?
Todavia, toda discussão depende de QUEM está do outro lado para que ela se torne uma discussão saudável. O que é preciso se ter em mente é: o fato de alguém ter a ilusão de ter "vencido" você em algum debate (debate não é jogo), não necessariamente o que esse alguém acredita e/ou fala é o mais correto ou verdadeiro.
EXEMPLOS:
- Certa vez um terraplanista de Internet (nunca conheci algum pessoalmente, creio) lançou o argumento do helicóptero: que se a Terra girasse, bastava que o helicóptero levantasse voo e ficasse lá aguardando, pra chegar onde queria, já que a Terra se movia sozinha. Tem lógica? Tem... mas não tem sustentação. A lógica deste argumento é construída sobre uma ideia frágil. No entanto, eu não tinha argumentos suficientes de Física e Geografia, que seriam os melhores meios de argumentação. Então procurei um amigo piloto de avião para me explicar um pouco a respeito, para aí sim, eu ter algum argumento mais embasado pra contradizer o que foi falado.
- Eu sou vegetariano, mas não encho o saco de ninguém em relação a comida. Mas alguns parecem que trabalham de fiscais de prato alheio e sempre lançam argumentos como "o homem nasceu pra ser carnívoro, é por isso que temos esses caninos", "precisamos demonstrar nossa dominância na natureza", "isso que tas fazendo é inútil, pois vários animais continuam sendo comidos neste momento", e coisas do tipo. Nesse sentido, sou minoria, e curiosamente as minorias tendem a ser alvos em algum sentido. Faz parte do jogo. Quando vejo que é viável e há uma abertura do outro lado, até argumento. Mas na maioria das vezes, nem ligo mais. Continuo na minha.
Até já ouvi algo sobre as orcas "brincarem" com as focas antes de come-las e que os animais são filhos da puta. Bem, eu não sabia por quê as orcas faziam isso e não pude argumentar nada (entra a questão dos LIMITES INTELECTUAIS). Hoje já sei que elas fazem isso pra matar ou debilitar a refeição antes de pô-la na boca, senão pode ser perigoso, pois focas têm garras e dentes afiados. Viu como o outro lado pode estar errado mesmo tendo lhe "vencido" nos argumentos?
Ou é melhor apenas sempre escapar dos conflitos para poder escapar ileso?
"Sempre" é sempre muito forte. Jogo de cintura e sabedoria pra aprender a viver no seu meio.
Há ideias inalienáveis das quais não podemos abrir mão e defender com nossas próprias vidas, se for preciso?
Rapaz... este inalienável é com sentido de "sempre"? E em qual contexto? Talvez as mais inalienáveis devam ser as que tangem a integridade e respeito a sua vida e a dos que estão em sua volta (que não necessariamente precisa ser gente do seu sangue). Há quem cresceu e vai morrer defendendo a natureza com fulgor e se morrer por isso, vai morrer com sentimento de missão cumprida. Outros defendem que homossexualismo é coisa de satanás (ou doença) e vai morrer assim, com essas ideias. Há quem tenha uma conceito inalienável de honestidade: do 1 real ao 1 milhão, se não for dinheiro honesto, não pega de jeito nenhum, e vai morrer com esse ideal. Alguns podem ter ideias inalienáveis de que os homens são superiores a mulheres (será que Nietzsche morreu assim?). E por aí vai. Bato muito na mesma tecla: é ponderar e ver os limites do respeito a você e ao próximo.
Bem, a cada dia eu aprendo um pouco mais sobre meus limites. É um caminho lento e por vezes tortuoso, mas espero que dê bons frutos a longo prazo como tem dado a curto e médio.
Só fechando uma ideia geral: certo candidato uma vez falou que "as minorias têm de se curvar as maiorias". Pergunto: será? Isso implicaria em um mundo sem espaço para o novo. Pensemos a respeito (sobre o respeito, inclusive).
Tópico bastante interessante, confrade. Parabéns e obrigado pela consideração de me citar.
Até onde devemos lutar para defender as nossas ideias? É melhor viver sempre em pele de cordeiro ou há algum momento que devemos nos impor para que sejamos respeitados?
Acho sempre ponderável ter jogo de cintura. Isso não necessariamente faz com que fiquemos "em cima do muro". Considerando que somos seres constantemente mutáveis, o viver "sempre" em pele de cordeiro ou de qualquer outro jeito pode ser comprometedor. Relembro que nossa espécie não é destacada pela força, mas pela capacidade de adaptação ao meio em que vive.
Mas sim, acho que devemos nos impor para que sejamos respeitados sempre, desde que, claro, vejamos que o desrespeito para conosco esteja evidenciado. Isso tudo sem esquecer também que manter uma preocupação em respeitar o próximo é igualmente importante.
Ou seja, qual o limite, a linha ou limiar entre ficar quieto, fugir de uma discussão e permanecer e enfrentar para defender nossos ideais?
Talvez o limite seja conhecer os próprios limites, sejam fisiológicos, psicológicos, intelectuais ou ideológicos. Exemplificando cada um desses (mas sem querer limitar):
LIMITES FISIOLÓGICOS
Discussões (principalmente as que ferem nosso ego ou ideais <há diferença entre esses dois?>) tendem sempre a causar efeitos no nosso corpo, como aumento o aumento da pressão sanguínea, por exemplo (pode ser um mecanismo de defesa, como se você estivesse se preparando para um conflito). Sabendo disso, você com histórico de problemas cardíacos ou vasculares, ou que simplesmente sabe que vai ficar com dor de cabeça depois, acha que deve entrar em uma discussão com alguém (ou "alguéns") sobre algo que certamente deixará você agitado? Pode ser perigoso, até.
LIMITES PSICOLÓGICOS
Você consegue debater determinado assunto sem se exaltar ou falar coisas que você não gostaria exatamente que fossem ditas? Acho que @Spectro consegue falar com mais propriedade do que eu, dado que ele é Psiquiatra, mas existe uma espécie de janela durante o período de estresse que não é legal falarmos ou fazermos algo enquanto estamos nela. Agora imagine certas discussões em família ou mesmo no ambiente de trabalho, um lugar que você vai passar o resto da tarde ali, sentado, sem conseguir fugir quando quiser. E mais, será que você não vai ficar maquinando depois sobre o assunto debatido quando a outra pessoa parece nem se importar mais? Vai perder horas de sono? Então, acho que é bom você entender sobre os próprios limites psicológicos para averiguar se vale a pena.
LIMITES INTELECTUAIS
Escolaridade não é sinônimo de sabedoria. Citarei logo um exemplo extremo: um senhor muito pobre, analfabeto, que vive em algum lugar muito remoto de qualquer lugar do mundo, pode ter uma carga de sabedoria sobre a vida muito mais valiosa do que um homem de 35 anos cheio de diplomas e argumentos na ponta da língua. Obviamente não estou inferindo que quem estuda não pode desenvolver sabedoria, nem nada disso... o ponto em questão é: você é capaz de argumentar contra alguém, mesmo sabendo que as ideias daquela pessoa são absurdas ao seu ver? A disparidade de conhecimento é grande? Caso não, talvez seja bom repensar também.
IDEOLÓGICOS
Até onde você realmente acredita no que você acha que acredita? Será que você realmente quer se manter naquela linha de raciocínio e atitude? Qual a relação entre o que está nos seus ideais e no seu peito? Se durante um discurso a outra pessoa conseguir balançar suas crenças, você tem a humildade de admitir que ficou ao menos pensativo? Ou não? Há quem, mesmo na contradição, não dê o braço a torcer (pelo menos não no momento) por questões de orgulho (e envolve a questão do respeito também). Quais os seus limites?
Todavia, toda discussão depende de QUEM está do outro lado para que ela se torne uma discussão saudável. O que é preciso se ter em mente é: o fato de alguém ter a ilusão de ter "vencido" você em algum debate (debate não é jogo), não necessariamente o que esse alguém acredita e/ou fala é o mais correto ou verdadeiro.
EXEMPLOS:
- Certa vez um terraplanista de Internet (nunca conheci algum pessoalmente, creio) lançou o argumento do helicóptero: que se a Terra girasse, bastava que o helicóptero levantasse voo e ficasse lá aguardando, pra chegar onde queria, já que a Terra se movia sozinha. Tem lógica? Tem... mas não tem sustentação. A lógica deste argumento é construída sobre uma ideia frágil. No entanto, eu não tinha argumentos suficientes de Física e Geografia, que seriam os melhores meios de argumentação. Então procurei um amigo piloto de avião para me explicar um pouco a respeito, para aí sim, eu ter algum argumento mais embasado pra contradizer o que foi falado.
- Eu sou vegetariano, mas não encho o saco de ninguém em relação a comida. Mas alguns parecem que trabalham de fiscais de prato alheio e sempre lançam argumentos como "o homem nasceu pra ser carnívoro, é por isso que temos esses caninos", "precisamos demonstrar nossa dominância na natureza", "isso que tas fazendo é inútil, pois vários animais continuam sendo comidos neste momento", e coisas do tipo. Nesse sentido, sou minoria, e curiosamente as minorias tendem a ser alvos em algum sentido. Faz parte do jogo. Quando vejo que é viável e há uma abertura do outro lado, até argumento. Mas na maioria das vezes, nem ligo mais. Continuo na minha.
Até já ouvi algo sobre as orcas "brincarem" com as focas antes de come-las e que os animais são filhos da puta. Bem, eu não sabia por quê as orcas faziam isso e não pude argumentar nada (entra a questão dos LIMITES INTELECTUAIS). Hoje já sei que elas fazem isso pra matar ou debilitar a refeição antes de pô-la na boca, senão pode ser perigoso, pois focas têm garras e dentes afiados. Viu como o outro lado pode estar errado mesmo tendo lhe "vencido" nos argumentos?
Ou é melhor apenas sempre escapar dos conflitos para poder escapar ileso?
"Sempre" é sempre muito forte. Jogo de cintura e sabedoria pra aprender a viver no seu meio.
Há ideias inalienáveis das quais não podemos abrir mão e defender com nossas próprias vidas, se for preciso?
Rapaz... este inalienável é com sentido de "sempre"? E em qual contexto? Talvez as mais inalienáveis devam ser as que tangem a integridade e respeito a sua vida e a dos que estão em sua volta (que não necessariamente precisa ser gente do seu sangue). Há quem cresceu e vai morrer defendendo a natureza com fulgor e se morrer por isso, vai morrer com sentimento de missão cumprida. Outros defendem que homossexualismo é coisa de satanás (ou doença) e vai morrer assim, com essas ideias. Há quem tenha uma conceito inalienável de honestidade: do 1 real ao 1 milhão, se não for dinheiro honesto, não pega de jeito nenhum, e vai morrer com esse ideal. Alguns podem ter ideias inalienáveis de que os homens são superiores a mulheres (será que Nietzsche morreu assim?). E por aí vai. Bato muito na mesma tecla: é ponderar e ver os limites do respeito a você e ao próximo.
Bem, a cada dia eu aprendo um pouco mais sobre meus limites. É um caminho lento e por vezes tortuoso, mas espero que dê bons frutos a longo prazo como tem dado a curto e médio.
Só fechando uma ideia geral: certo candidato uma vez falou que "as minorias têm de se curvar as maiorias". Pergunto: será? Isso implicaria em um mundo sem espaço para o novo. Pensemos a respeito (sobre o respeito, inclusive).
Tópico bastante interessante, confrade. Parabéns e obrigado pela consideração de me citar.