08-07-2019, 01:23 AM
Saudações confrades!
Fazia tempo que eu não tinha inspiração pra escrever. Se pensar bem eu até tinha inspiração em alguns momentos, mas os compromissos do dia a dia estavam me impedindo de separar um tempo e transformar os pensamentos em texto.
A reflexão que tive que gerou este texto surgiu a partir de uma pessoa próxima a mim, um tio, ao qual vou dar o nome de Geraldo, para proteger a privacidade do relato.
Já fazia um tempo que eu observo a vida de Geraldo, vou resumir aqui o pouco que conheço. Geraldo é o 2º filho de uma família de 10 irmãos. Seu pai era um comerciante do meio rural, que tinha uma boa condição financeira. Assim, na adolescência usufruiu dos bens de seu pai, no caso em especial, bons cavalos e um carro, o que lhe ajudou a se dar bem com as mulheres ainda muito jovem, portanto, um cafa típico, esta característica que o seguiria por toda a vida.
Ter os bens de seu pai a sua disposição também ajudou a revelar falhas de caráter, ao mesmo tempo que usufruía dos cavalos que seu pai possuía, este os maltratava, não dando a eles o devido cuidado que animais necessitam, os deixava com fome, com sede e até sem poder urinar. Além disso, também começou a desprezar outras pessoas mais humildes da região, chegando a maltratar mulheres de famílias mais pobres com as quais se envolvia, o que naquele tempo era comum resultar no pai da moça matando o cara que fizesse uma coisa dessas. Nessa época também engravidou uma mulher e jamais assumiu a criança. Seus maus comportamentos acabaram gerando uma briga pesada com seu pai, que não viu outra opção a não ser lhe expulsar de casa.
Assim Geraldo “sumiu no mundo”, sua mãe chegou a pensar que ele havia morrido, pois foram mais de 10 anos sem dar notícias. Havia ido para São Paulo, lá conseguiu se estabelecer por como pintor. Foi lá também que conheceu Marisa*, com a qual veio a ter 4 filhos. Em São Paulo Geraldo se tornou alcoólatra, inclusive sofreu um acidente de trabalho quando estava bêbado, que lhe fez perder parte de sua mobilidade. Ele parece não ter se importado com isso, pois passou a receber um benefício mensal desde então.
O tempo passou, a situação financeira da família (pais e irmãos de Geraldo) desandou. Seu pai morreu, assassinado por um homem que já tinha matado outras três pessoas e cometido um estupro, (fruto da impunidade que impera nesse país, já conhecida por todos nós). Sua mãe e seus irmãos foram para Belo Horizonte em busca de uma vida melhor. Uma época de dificuldade que Geraldo não presenciou.
Após anos sumido, ao saber que sua mãe havia conseguido conquistar a casa própria (trabalhando muito e contando com a ajuda de outros filhos, menos de Geraldo) e as coisas estavam começando a melhorar, Geraldo volta pra casa de sua mãe (sem pedir e nem avisar), simplesmente chega com uma mulher e quatro filhos pequenos para morar na casa, que naquele momento era de poucos cômodos, sem reboco e sem piso, tornando tudo mais difícil para todos.
Assim, seus filhos passaram dificuldades, mal tendo o que comer, contavam com a ajuda de parentes e vizinhos para dar alimentos, pois Geraldo era negligente com suas responsabilidades. Sabendo da situação, um empregador lhe emprestou uma casa para morar, assim foi por um tempo, mas o alcoolismo e a miséria por não colocar as coisas dentro de casa, fizeram com que Marisa fosse embora para sua terra natal, levando consigo seus quatro filhos ainda crianças.
Sozinho, não tinha mais a casa disponível para morar, voltou a morar com sua mãe enquanto levava a vida revezando entre dias alcoolizado e alguns dias trabalhando. Anos se passaram e Geraldo nunca comprou um carro, na verdade nem mesmo uma bicicleta, nunca tirou uma CNH, nunca estudou, não participou da criação dos filhos e ainda acabou brigando com um irmão, que mais tarde veio a falecer devido a complicações decorrentes desta briga.
Geraldo nunca teve problemas em conseguir mulheres, namorou várias, a maioria das vezes era ele quem terminava a relação. Mesmo assim, muitas dessas mulheres o aceitaria de volta.
Passados mais de 20 anos sem ter contato com os filhos, eles o procuram e o reencontram. Todos bem e com saúde, pessoas honestas, trabalhadoras, cada um já tendo sua casa, dois já tendo filhos. Nenhum deles guardou mágoas do abandono, todos dispostos a restabelecer os laços familiares. Porém, Geraldo desperdiçou mais uma oportunidade. Dois de seus filhos, que gastaram parte de suas férias e dinheiro viajando mais de mil quilômetros de distância, acabam por encontrar o pai bêbado, todo sujo e com a casa imunda (casa de uma ex namorada onde morava de favor), sem qualquer preparação para recebê-los, num completa demonstração de descaso.
Como se não fosse o bastante, seus filhos ainda lhe convidaram para visitar a cidade onde moram agora. Lá Geraldo descobriu que a mãe de quatro de seus filhos ainda o aceitaria de volta, caso largasse a bebida. Mais uma vez Geraldo vai, se embriaga, perde todo o tempo que poderia fazer uma reaproximação. Com isso dois de seus filhos decidem não procurá-lo mais, com razão. Na verdade teve sorte de não serem todos.
Recentemente Geraldo completou 65 anos, conseguiu um benefício do governo (LOAS) mesmo sem ter contribuído para o INSS tempo suficiente para sequer aposentar por idade. Também recentemente descobrimos que ele também recebia o seguro defeso, mesmo sem nunca na vida ter sido pescador, saiu porque agora o Bolsonaro está combatendo a fraude. Receber benefícios do governo virou uma forma de vida pra ele há muito tempo.
Após a “aposentadoria”, Geraldo só piorou, passou a beber mais, a saúde decaiu mais ainda, agora tem problemas em conter a urina. Voltou a morar com sua mãe, que agora tem quase 90 anos, ao invés de ser cuidada, tem que cuidar e aturar um filho que só dá trabalho. Os maus hábitos de higiene de Geraldo agora pioraram, chega a urinar e defecar no próprio quarto, dando ainda mais trabalho para sua mãe, ao mesmo tempo que não ajuda nada em casa.
Este é um resumo da vida de Geraldo, uma vida sem propósito, parasitou os pais, parentes, o sistema, fugiu as suas responsabilidades, desperdiçou inúmeras oportunidades na vida. Por todos os ângulos que se observa a sua vida, nada fez de relevante para tornar um mundo um lugar melhor.
Geraldo não crê em Deus, acha que a vida acaba aqui, não crê que em algum momento será responsabilizado por tudo o que fez e deixou de fazer, porém, nas vezes que precisou ser levado as pressas ao hospital, por efeitos da embriaguez, o medo da morte em seu rosto era notório.
A conclusão que faço é que nossa vida precisa ter um propósito íntegro, contribuir positivamente de alguma forma para este mundo e ter consciência de prestaremos contas a Deus por nossos atos, pelas responsabilidades que nos foram confiadas. Não fomos criados seres racionais a imagem e semelhança de Deus para simplesmente parasitar este mundo, muito pelo contrário, somos nós quem temos mais capacidade de torná-lo um lugar melhor.
Fé e Honra,
Senna.
*Nome fictício
Fazia tempo que eu não tinha inspiração pra escrever. Se pensar bem eu até tinha inspiração em alguns momentos, mas os compromissos do dia a dia estavam me impedindo de separar um tempo e transformar os pensamentos em texto.
A reflexão que tive que gerou este texto surgiu a partir de uma pessoa próxima a mim, um tio, ao qual vou dar o nome de Geraldo, para proteger a privacidade do relato.
Já fazia um tempo que eu observo a vida de Geraldo, vou resumir aqui o pouco que conheço. Geraldo é o 2º filho de uma família de 10 irmãos. Seu pai era um comerciante do meio rural, que tinha uma boa condição financeira. Assim, na adolescência usufruiu dos bens de seu pai, no caso em especial, bons cavalos e um carro, o que lhe ajudou a se dar bem com as mulheres ainda muito jovem, portanto, um cafa típico, esta característica que o seguiria por toda a vida.
Ter os bens de seu pai a sua disposição também ajudou a revelar falhas de caráter, ao mesmo tempo que usufruía dos cavalos que seu pai possuía, este os maltratava, não dando a eles o devido cuidado que animais necessitam, os deixava com fome, com sede e até sem poder urinar. Além disso, também começou a desprezar outras pessoas mais humildes da região, chegando a maltratar mulheres de famílias mais pobres com as quais se envolvia, o que naquele tempo era comum resultar no pai da moça matando o cara que fizesse uma coisa dessas. Nessa época também engravidou uma mulher e jamais assumiu a criança. Seus maus comportamentos acabaram gerando uma briga pesada com seu pai, que não viu outra opção a não ser lhe expulsar de casa.
Assim Geraldo “sumiu no mundo”, sua mãe chegou a pensar que ele havia morrido, pois foram mais de 10 anos sem dar notícias. Havia ido para São Paulo, lá conseguiu se estabelecer por como pintor. Foi lá também que conheceu Marisa*, com a qual veio a ter 4 filhos. Em São Paulo Geraldo se tornou alcoólatra, inclusive sofreu um acidente de trabalho quando estava bêbado, que lhe fez perder parte de sua mobilidade. Ele parece não ter se importado com isso, pois passou a receber um benefício mensal desde então.
O tempo passou, a situação financeira da família (pais e irmãos de Geraldo) desandou. Seu pai morreu, assassinado por um homem que já tinha matado outras três pessoas e cometido um estupro, (fruto da impunidade que impera nesse país, já conhecida por todos nós). Sua mãe e seus irmãos foram para Belo Horizonte em busca de uma vida melhor. Uma época de dificuldade que Geraldo não presenciou.
Após anos sumido, ao saber que sua mãe havia conseguido conquistar a casa própria (trabalhando muito e contando com a ajuda de outros filhos, menos de Geraldo) e as coisas estavam começando a melhorar, Geraldo volta pra casa de sua mãe (sem pedir e nem avisar), simplesmente chega com uma mulher e quatro filhos pequenos para morar na casa, que naquele momento era de poucos cômodos, sem reboco e sem piso, tornando tudo mais difícil para todos.
Assim, seus filhos passaram dificuldades, mal tendo o que comer, contavam com a ajuda de parentes e vizinhos para dar alimentos, pois Geraldo era negligente com suas responsabilidades. Sabendo da situação, um empregador lhe emprestou uma casa para morar, assim foi por um tempo, mas o alcoolismo e a miséria por não colocar as coisas dentro de casa, fizeram com que Marisa fosse embora para sua terra natal, levando consigo seus quatro filhos ainda crianças.
Sozinho, não tinha mais a casa disponível para morar, voltou a morar com sua mãe enquanto levava a vida revezando entre dias alcoolizado e alguns dias trabalhando. Anos se passaram e Geraldo nunca comprou um carro, na verdade nem mesmo uma bicicleta, nunca tirou uma CNH, nunca estudou, não participou da criação dos filhos e ainda acabou brigando com um irmão, que mais tarde veio a falecer devido a complicações decorrentes desta briga.
Geraldo nunca teve problemas em conseguir mulheres, namorou várias, a maioria das vezes era ele quem terminava a relação. Mesmo assim, muitas dessas mulheres o aceitaria de volta.
Passados mais de 20 anos sem ter contato com os filhos, eles o procuram e o reencontram. Todos bem e com saúde, pessoas honestas, trabalhadoras, cada um já tendo sua casa, dois já tendo filhos. Nenhum deles guardou mágoas do abandono, todos dispostos a restabelecer os laços familiares. Porém, Geraldo desperdiçou mais uma oportunidade. Dois de seus filhos, que gastaram parte de suas férias e dinheiro viajando mais de mil quilômetros de distância, acabam por encontrar o pai bêbado, todo sujo e com a casa imunda (casa de uma ex namorada onde morava de favor), sem qualquer preparação para recebê-los, num completa demonstração de descaso.
Como se não fosse o bastante, seus filhos ainda lhe convidaram para visitar a cidade onde moram agora. Lá Geraldo descobriu que a mãe de quatro de seus filhos ainda o aceitaria de volta, caso largasse a bebida. Mais uma vez Geraldo vai, se embriaga, perde todo o tempo que poderia fazer uma reaproximação. Com isso dois de seus filhos decidem não procurá-lo mais, com razão. Na verdade teve sorte de não serem todos.
Recentemente Geraldo completou 65 anos, conseguiu um benefício do governo (LOAS) mesmo sem ter contribuído para o INSS tempo suficiente para sequer aposentar por idade. Também recentemente descobrimos que ele também recebia o seguro defeso, mesmo sem nunca na vida ter sido pescador, saiu porque agora o Bolsonaro está combatendo a fraude. Receber benefícios do governo virou uma forma de vida pra ele há muito tempo.
Após a “aposentadoria”, Geraldo só piorou, passou a beber mais, a saúde decaiu mais ainda, agora tem problemas em conter a urina. Voltou a morar com sua mãe, que agora tem quase 90 anos, ao invés de ser cuidada, tem que cuidar e aturar um filho que só dá trabalho. Os maus hábitos de higiene de Geraldo agora pioraram, chega a urinar e defecar no próprio quarto, dando ainda mais trabalho para sua mãe, ao mesmo tempo que não ajuda nada em casa.
Este é um resumo da vida de Geraldo, uma vida sem propósito, parasitou os pais, parentes, o sistema, fugiu as suas responsabilidades, desperdiçou inúmeras oportunidades na vida. Por todos os ângulos que se observa a sua vida, nada fez de relevante para tornar um mundo um lugar melhor.
Geraldo não crê em Deus, acha que a vida acaba aqui, não crê que em algum momento será responsabilizado por tudo o que fez e deixou de fazer, porém, nas vezes que precisou ser levado as pressas ao hospital, por efeitos da embriaguez, o medo da morte em seu rosto era notório.
A conclusão que faço é que nossa vida precisa ter um propósito íntegro, contribuir positivamente de alguma forma para este mundo e ter consciência de prestaremos contas a Deus por nossos atos, pelas responsabilidades que nos foram confiadas. Não fomos criados seres racionais a imagem e semelhança de Deus para simplesmente parasitar este mundo, muito pelo contrário, somos nós quem temos mais capacidade de torná-lo um lugar melhor.
Fé e Honra,
Senna.
*Nome fictício
Spoiler:
E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio. - Isaías 4:1