28-02-2013, 07:01 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 28-02-2013, 07:13 PM por Mr. T.)
Confrades,
Chega então o momento em que eu Mr.T, relembro e revelo há vocês um pouco mais sobre minha pobre e traumática infância. Um período difícil, tortuoso e frio aonde não existia certezas, diretrizes ou exemplos para seguir. Tudo sempre dependeu da minha força. E o interior humano é insuperáveis senhores - É, de fato: insuperável.
Enfim, como alguns participantes deste fórum, nasci na década de 80 durante o assombroso "overnight" da bolsa de valores brasileira. De forma emergente, muitas famílias fizeram verdadeiras fortunas na época e a minha, não foi uma exceção. Éramos realmente abonados, com direito a 03 carros na garagem e apartamento de luxo e neste meio, veio à luz uma criança retalhada por um defeito genético data vênia conhecido por, lábio Leporino.
*Para os desavisados, Lábio Leporino é o nome dado para a existência de uma fenda ou grande corte no lábio e palato superior ou seja: Lábio, Boca e Nariz não eram de fato, conectados.
E a medicina (ausente na época), não ajudara meus pais a manter o devido controle e um sentimento de culpa e dó, surgira e abatia a todos.
E meu maior inimigo, sempre foi o tempo.
Em casos como o meu,(e na época em que nasci) não havia muito a se fazer até que a criança cresça. É necessário tecido e pele para se operar e isso só é alcançado, com alguns anos. Esperar, Esperar e Esperar era tudo o que eu podia fazer. Lembro-me que enquanto as crianças de minha rua aproveitavam o verão e a infância que lhes foi concedida, pela janela eu observava - ansioso e desejava crescer, logo. E rápido.
Mais até a minha janela, foi retirada de mim.
Meu pai (um péssimo administrador, se assim o posso descrever) realizou uma série de maus investimentos e repentinamente, perdemos tudo.
Minha mãe na época, foi coagida por meu pai a abandonar o emprego para em último fôlego, utilizar do montante de sua rescisão em nossa empresa e novamente, péssimo movimento. - Dinheiro e emprego jogados fora em meio às dívidas, empréstimos e apólices vencidas.
Minha janela, fora retirada de mim.
Estávamos na rua. Literalmente.
Nesta parte, minha memória trabalha como fragmentos de um vidro despedaçado. Mesmo hoje me esforçando, o máximo que consigo coletar são sons, flashes, imagens e vozes.
Em uma passagem, lembro-me que desamparados, e com medo da rua - pedimos abrigo em uma escola pública. Dormíamos de favor em uma sala de aula em colchões improvisados com tatames de educação física e acordávamos a 5 da manhã, para limpar e dar vez aos alunos que logo chegariam.
Em outro momento, lembro-me de minha mãe se embrenhando em uma feira atrás de restos que se acumulavam nas calhas e latrinas. O podre que era jogado fora pelos vendedores, virava a ceia salvadora de cada dia.
E retiraram também, a luz de mim.
Não me lembro de efetivamente aonde e o que fazia durante o dia. Vivia em um ciclo de histórias e ilusões e fechava os olhos para o resto do mundo. E por 02 anos, fui o autor, escritor e roteirista de tudo o que se pode resumir hoje como: Ausência.
E acordei do meu transe no litoral paulista. O ego familiar havia sido vencido e enfim, pedimos ajuda.
Havíamos nos mudado para a rua do meu avô. Solícito, ele havia cedido sua casa e após algum tempo, começávamos a nos reerguer.
Nesse meio tempo, e dentre entrevistas e discussões - voltei ao foco.
Eu precisava de tratamento. E meu pai aqui, foi um exemplo.
Carregava-me nos ombros de cidade em cidade em busca de ajuda médica afim de uma operação. Mas esta não é a Odisseia de Ulisses e aqui, não houve fruto de uma vitória. Por conta da inexistência "gratuita" de um serviço deste cunho em nosso país tupiniquim, meu tratamento foi engavetado junto mais uma vez e sem data para retorno.
Anos depois, a escola.
O recinto do falso moralismo midiático, tudo - impregnado em roupas de marcas e batons vermelhos de despedida. Sua estada aqui é meramente visual, ganharão aqui somente os mais destacados e nada é reservado aos perdedores. Nem mesmo a integridade de suas lancheiras.
E sozinho foi, o meu primeiro dia.
Meu rosto era uma barreira de "integralização" e ausente, acompanhei outros alunos rumo à sala de aula, de mãos dadas com seus pais.
Sapatos brilhando, cabelos tratados, roupas passadas.
E como as pessoas se enganam! Acreditam de forma plena que em nestes rostos angelicais reside à compaixão e a amizade. Pfff... Balela.
- Não há nada mais cruel do que a separação e a indiferença causadas por um grupo de crianças. Gordinhos, Magrelos e Nerds fariam certamente parte do meu comitê de boas vindas. Mas nem entre eles, eu era bem vindo.
Piadas e chacotas doíam mais do que as cicatrizes que eu possuía. Era o "remendo humano dos dentes tortos", ambulante e peregrino em uma sociedade mirim preconceituosa. E por anos, vivi como uma sombra.
Mas nem tudo, é lamento.
"Banido" da vida social, me entreguei aos livros. Grandes companheiros, eles nas mais cinzas das horas. Li compulsivamente tudo o que consegui botar as mãos e aos 15 anos, recebi minha bonificação: Com material necessário e diversas teses sobre o meu problema, resolvi procurar o melhor entre os melhores cirurgiões e enfim, conquistei a oportunidade de expor o meu caso e trabalho a uma clínica.
De mãos dadas com a força e o apoio dos meus pais, chegamos ao consultório - presente até os dias de hoje em uma zona renomada do Rio de Janeiro.
Fui ouvido, fui analisado e fui taxado - em preços mais caros do que uma simples família classe média pode suportar ou até mesmo, sonhar ter.
Lembro-me deste momento, ele foi o marcante em minha trajetória e o culpado por me fazer proclamar hoje que: Tudo na vida, tem uma razão.
Neste dia exato, na hora exata e só por conta do silêncio causado pelo nosso "baque" ao saber o preço da cirurgia, um senhor que caminhava pelo extenso corredor conseguiu me ouvir:
- "Doutor, eu não estou pedindo para sair daqui sendo uma celebridade. Estou pedindo para apenas, ser um cara normal."
O senhor em questão, era o Dr. Ivo Pitanguy.
O grande mestre abriu a porta, me encarou e pediu para eu repetir a frase. E eu assim, o fiz.
Ele, que não mais operava abriu um sorriso e uma exceção. Resolveu cuidar de mim. Resolveu me operar. Cobrou apenas o essencial para o procedimento e deu vez a um ser que a muito buscava a felicidade.
E foi de fato, um renascimento.
O acúmulo de drogas utilizadas ao longo dos anos em minha corrente sanguínea (motivada pelas inúmeras interversões cirúrgicas que sofri ao longo dos anos) reagiu com esta nova sedação e por tal, infelizmente fui vítima de uma parada cardíaca e por alguns minutos, morri na mesa de cirurgia.
E ressussitado fui, minuto após.
E mais um outono se passou, fechei minhas feridas e me recuperei.
O resultado? - Melhor do que o esperado. Era finalmente um cara normal. Paralelamente, prossegui com um tratamento dentário e alguns anos após (já também na academia), finalizei por completo o meu projeto de vida.
Neste meio tempo, meu conhecimento havia rendido um cargo legal em uma multinacional no setor de tecnologia de informação.
E eu nunca parei de estudar. Nunca parei de aprender.
Foi o livro, um culpado.
A força de vontade, meu salvador.
Nunca desista.
Seja você gordo, magro, esquisito ou sem dentes.
Foda-se a opinião pública. Foda-se se não és atraente. Fodam-se aquele que não acreditam em seus sonhos.
Nunca desistam amigos.
Saibam absorver o que há de bom nesta concha de inércia em que vivemos.
E este é o meu conselho à todos os guerreiros da real.
Nunca parem de se aperfeiçoar.
Pois o maior inimigo do homem, é o seu pessimismo.
Seja um vencedor em sua vida. Conquiste grandes vales, desbrave o mundo.
Não há montanha que seja intransponível.
E em uma geração de molengas, vivendo em nossa república coitadista, precisamos de bons exemplos para os próximos.
Vá, veja e VENÇA.
Sempre.
Chega então o momento em que eu Mr.T, relembro e revelo há vocês um pouco mais sobre minha pobre e traumática infância. Um período difícil, tortuoso e frio aonde não existia certezas, diretrizes ou exemplos para seguir. Tudo sempre dependeu da minha força. E o interior humano é insuperáveis senhores - É, de fato: insuperável.
Enfim, como alguns participantes deste fórum, nasci na década de 80 durante o assombroso "overnight" da bolsa de valores brasileira. De forma emergente, muitas famílias fizeram verdadeiras fortunas na época e a minha, não foi uma exceção. Éramos realmente abonados, com direito a 03 carros na garagem e apartamento de luxo e neste meio, veio à luz uma criança retalhada por um defeito genético data vênia conhecido por, lábio Leporino.
*Para os desavisados, Lábio Leporino é o nome dado para a existência de uma fenda ou grande corte no lábio e palato superior ou seja: Lábio, Boca e Nariz não eram de fato, conectados.
E a medicina (ausente na época), não ajudara meus pais a manter o devido controle e um sentimento de culpa e dó, surgira e abatia a todos.
E meu maior inimigo, sempre foi o tempo.
Em casos como o meu,(e na época em que nasci) não havia muito a se fazer até que a criança cresça. É necessário tecido e pele para se operar e isso só é alcançado, com alguns anos. Esperar, Esperar e Esperar era tudo o que eu podia fazer. Lembro-me que enquanto as crianças de minha rua aproveitavam o verão e a infância que lhes foi concedida, pela janela eu observava - ansioso e desejava crescer, logo. E rápido.
Mais até a minha janela, foi retirada de mim.
Meu pai (um péssimo administrador, se assim o posso descrever) realizou uma série de maus investimentos e repentinamente, perdemos tudo.
Minha mãe na época, foi coagida por meu pai a abandonar o emprego para em último fôlego, utilizar do montante de sua rescisão em nossa empresa e novamente, péssimo movimento. - Dinheiro e emprego jogados fora em meio às dívidas, empréstimos e apólices vencidas.
Minha janela, fora retirada de mim.
Estávamos na rua. Literalmente.
Nesta parte, minha memória trabalha como fragmentos de um vidro despedaçado. Mesmo hoje me esforçando, o máximo que consigo coletar são sons, flashes, imagens e vozes.
Em uma passagem, lembro-me que desamparados, e com medo da rua - pedimos abrigo em uma escola pública. Dormíamos de favor em uma sala de aula em colchões improvisados com tatames de educação física e acordávamos a 5 da manhã, para limpar e dar vez aos alunos que logo chegariam.
Em outro momento, lembro-me de minha mãe se embrenhando em uma feira atrás de restos que se acumulavam nas calhas e latrinas. O podre que era jogado fora pelos vendedores, virava a ceia salvadora de cada dia.
E retiraram também, a luz de mim.
Não me lembro de efetivamente aonde e o que fazia durante o dia. Vivia em um ciclo de histórias e ilusões e fechava os olhos para o resto do mundo. E por 02 anos, fui o autor, escritor e roteirista de tudo o que se pode resumir hoje como: Ausência.
E acordei do meu transe no litoral paulista. O ego familiar havia sido vencido e enfim, pedimos ajuda.
Havíamos nos mudado para a rua do meu avô. Solícito, ele havia cedido sua casa e após algum tempo, começávamos a nos reerguer.
Nesse meio tempo, e dentre entrevistas e discussões - voltei ao foco.
Eu precisava de tratamento. E meu pai aqui, foi um exemplo.
Carregava-me nos ombros de cidade em cidade em busca de ajuda médica afim de uma operação. Mas esta não é a Odisseia de Ulisses e aqui, não houve fruto de uma vitória. Por conta da inexistência "gratuita" de um serviço deste cunho em nosso país tupiniquim, meu tratamento foi engavetado junto mais uma vez e sem data para retorno.
Anos depois, a escola.
O recinto do falso moralismo midiático, tudo - impregnado em roupas de marcas e batons vermelhos de despedida. Sua estada aqui é meramente visual, ganharão aqui somente os mais destacados e nada é reservado aos perdedores. Nem mesmo a integridade de suas lancheiras.
E sozinho foi, o meu primeiro dia.
Meu rosto era uma barreira de "integralização" e ausente, acompanhei outros alunos rumo à sala de aula, de mãos dadas com seus pais.
Sapatos brilhando, cabelos tratados, roupas passadas.
E como as pessoas se enganam! Acreditam de forma plena que em nestes rostos angelicais reside à compaixão e a amizade. Pfff... Balela.
- Não há nada mais cruel do que a separação e a indiferença causadas por um grupo de crianças. Gordinhos, Magrelos e Nerds fariam certamente parte do meu comitê de boas vindas. Mas nem entre eles, eu era bem vindo.
Piadas e chacotas doíam mais do que as cicatrizes que eu possuía. Era o "remendo humano dos dentes tortos", ambulante e peregrino em uma sociedade mirim preconceituosa. E por anos, vivi como uma sombra.
Mas nem tudo, é lamento.
"Banido" da vida social, me entreguei aos livros. Grandes companheiros, eles nas mais cinzas das horas. Li compulsivamente tudo o que consegui botar as mãos e aos 15 anos, recebi minha bonificação: Com material necessário e diversas teses sobre o meu problema, resolvi procurar o melhor entre os melhores cirurgiões e enfim, conquistei a oportunidade de expor o meu caso e trabalho a uma clínica.
De mãos dadas com a força e o apoio dos meus pais, chegamos ao consultório - presente até os dias de hoje em uma zona renomada do Rio de Janeiro.
Fui ouvido, fui analisado e fui taxado - em preços mais caros do que uma simples família classe média pode suportar ou até mesmo, sonhar ter.
Lembro-me deste momento, ele foi o marcante em minha trajetória e o culpado por me fazer proclamar hoje que: Tudo na vida, tem uma razão.
Neste dia exato, na hora exata e só por conta do silêncio causado pelo nosso "baque" ao saber o preço da cirurgia, um senhor que caminhava pelo extenso corredor conseguiu me ouvir:
- "Doutor, eu não estou pedindo para sair daqui sendo uma celebridade. Estou pedindo para apenas, ser um cara normal."
O senhor em questão, era o Dr. Ivo Pitanguy.
O grande mestre abriu a porta, me encarou e pediu para eu repetir a frase. E eu assim, o fiz.
Ele, que não mais operava abriu um sorriso e uma exceção. Resolveu cuidar de mim. Resolveu me operar. Cobrou apenas o essencial para o procedimento e deu vez a um ser que a muito buscava a felicidade.
E foi de fato, um renascimento.
O acúmulo de drogas utilizadas ao longo dos anos em minha corrente sanguínea (motivada pelas inúmeras interversões cirúrgicas que sofri ao longo dos anos) reagiu com esta nova sedação e por tal, infelizmente fui vítima de uma parada cardíaca e por alguns minutos, morri na mesa de cirurgia.
E ressussitado fui, minuto após.
E mais um outono se passou, fechei minhas feridas e me recuperei.
O resultado? - Melhor do que o esperado. Era finalmente um cara normal. Paralelamente, prossegui com um tratamento dentário e alguns anos após (já também na academia), finalizei por completo o meu projeto de vida.
Neste meio tempo, meu conhecimento havia rendido um cargo legal em uma multinacional no setor de tecnologia de informação.
E eu nunca parei de estudar. Nunca parei de aprender.
Foi o livro, um culpado.
A força de vontade, meu salvador.
Nunca desista.
Seja você gordo, magro, esquisito ou sem dentes.
Foda-se a opinião pública. Foda-se se não és atraente. Fodam-se aquele que não acreditam em seus sonhos.
Nunca desistam amigos.
Saibam absorver o que há de bom nesta concha de inércia em que vivemos.
E este é o meu conselho à todos os guerreiros da real.
Nunca parem de se aperfeiçoar.
Pois o maior inimigo do homem, é o seu pessimismo.
Seja um vencedor em sua vida. Conquiste grandes vales, desbrave o mundo.
Não há montanha que seja intransponível.
E em uma geração de molengas, vivendo em nossa república coitadista, precisamos de bons exemplos para os próximos.
Vá, veja e VENÇA.
Sempre.