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Fórum do Búfalo Seja bem vindo! Boteco do Búfalo Crônicas do velho Gonçalves.
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Crônicas do velho Gonçalves.
Offline Velho Gonçalves
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#1
02-02-2020, 07:40 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 08-02-2020, 11:48 PM por Spectro.)
Sou muito fã dos filmes no estilo found footage (Bruxa de Blair, REC, atividade paranormal, etc.). Então, eu pensei: “Como faço para escrever um conto no estilo semelhante; ou seja, sendo a história contada pela perspectiva da vítima, como se fosse uma câmera gravando os últimos acontecimentos?”. A solução foi desenvolver uma técnica na qual eu conto a história através da última conversa de uma pessoa, encontrada em seu computador, Skype, whatsap ou diário.
 
Peço licença aos moderadores do fórum vou deixar os links de algumas histórias sobrenaturais que eu escrevi:
 
Título: Caixa Preta
Sinopse: Ao voltar sozinha de uma viagem à praia, Karina envolveu-se em um acidente de trânsito, para o qual ela não prestou socorro. Ao chegar em casa, porém, recebeu mensagens por Skype de uma pessoa desconhecida! Depois do fato, Karina sumiu e nunca mais foi encontrada, viva ou morta. (A história é contada através de uma conversa por Skype, encontrada no computador de Karina).
Link:
https://www.recantodasletras.com.br/cont...or/4491487
 

Título:
A chácara dos escorpiões
Sinopse: Dois trabalhadores de uma empresa de dedetização foram contratados para eliminar uma praga (escorpiões) que assolava uma chácara inabitada, na região de Parelheiros, em São Paulo. No entanto, em uma das noites de trabalho, a Polícia atendeu a um chamado de socorro, solicitado pela esposa de um dos trabalhadores. (A história é contada através das conversas de whatsapp, entre a vítima e sua esposa.
Link:
https://www.recantodasletras.com.br/cont...or/5323707
 

Título:
O Desejo do cadáver
Sinopse: Em 1892, Edgar era um dos engenheiros responsáveis pela construção do Viaduto do Chá, em São Paulo. Porém, a notícia da morte de seu filho fez com que ele tivesse que interromper os trabalhos e voltasse correndo para sua família. Ao chegar em casa, porém, ele se depara com uma situação assustadora! (História narrada em 3° pessoal)
Link:
https://www.recantodasletras.com.br/cont...or/4999396 

Título:
Nunca vou te perdoar
Sinopse: Três funcionários da empresa Vale do Rio Doce, técnicos de mineração, ficaram presos em uma caverna subterrânea, na Serra do Gandarela, em Minas Gerais. Os dias se passam e o resgate não chega. A luta pela sobrevivência faz com que os três trabalhadores tenham que suportar um problema que jamais poderia ser imaginado! (História é contada através da leitura do diário de um dos funcionários).
Link:
https://www.recantodasletras.com.br/cont...or/4826157
 
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  • Bruno Padilha, Master_DW, Wild
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Offline Velho Gonçalves
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#2
06-02-2020, 11:25 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 08-02-2020, 11:44 PM por Spectro.)
CRÔNICAS DE UM HOMEM SOLTEIRO
 
O filho da puta!
 
Lembro que a noite estava no começo apenas. Fazia muito calor e eu jogava vídeo game (Resident Evil), quando fui infectado por uma violenta ideia que veio de repente: ir ao puteiro sozinho!  Então, como eu sabia que, mais tarde, eu acabaria por beber cerca de duas ou três cervejas lá na “Residência das garotas más”, usei o aplicativo. Se eu for beber eu não dirijo, mesmo que o destino seja o puteiro. Como diria o louco do Nietzsche: “aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como”.
 
Na recepção do meu prédio, verifiquei que o motorista do aplicativo era uma donzela com cabelos de ouro (é assim que me refiro às loiras; nunca as chamo de mulheres com cu rosa!). Mas, lógico que eu cancelei a corrida! Não teria coragem de entrar no veículo e me reportar à moça dizendo: “dirija-me ao puteiro, por favor”. Reconheço a minha hipocrisia. Antes de cancelar, não deixei de gargalhar sozinho pensando: “se eu não cancelasse, naquela noite duas mulheres me proveriam serviços: a primeira seria minha motorista; a última, minha puta. No fim das contas, com vergonha rejeitei a honesta... para que sem vergonha eu pudesse abraçar aquela que não presta”. Contrates da vida!
 
O segundo motorista disponível no aplicativo era um homem gordo e triste, o que não era um problema para mim. Aliás, não necessariamente! Pois havia um segundo constrangimento que – sem fundamento – amargou minhas tripas: o de ir ao puteiro sozinho! Este, porém, era bem mais fácil de ser remediado: simplesmente inventei que meus amigos lá me aguardavam! Como um bom cara de pau que sou, logo forjei uma ligação, antes de descer do carro: “Fala Pedrão, estou chegando cara. Onde vocês estão? No balcão lá atrás? Firmeza!”. Encerro a ligação, porém, sentindo mais vergonha do que se tivesse assumido a solidão daquela odisseia!
 
Vá se foder você também! Afinal de contas, porra, assim como qualquer outro homem em sã consciência, trabalhador, eu não queria transmitir a má impressão de que eu era um maníaco esquisito, ou um tarado estuprador. A matemática da ocasião era simples, vejam só: noite de sábado; sou um homem solteiro; o 13º salário havia caído; e eu queria sair para comer um cu... rosa, preto ou azul, não tem problema... sendo de mulher, para mim não tem dilema!
 
Na recepção, o escroto e seboso do segurança passou o detector de metal na minha cintura – não sem incomodar minhas bolas - e perguntou se eu já conhecia a casa. Exercitando a minha luta diária para ser cada vez mais descolado, acabei falando de forma descalibrada que naquele lugar eu já mijava de porta aberta! O segurança não esboçou reação. A recepcionista, porém, achou muita graça da piada, muita! Encantado com o riso sincero da menina, pensei comigo mesmo: “ali no puteiro, estaria eu cometendo um assédio caso eu perguntasse quanto aquela recepcionista cobraria por uma hora comigo?”. Com certeza seria!  
 
Ao entrar, me deparo com duas garotas dormindo no sofá, parecendo estarem mortas; outras quatro gostosas em pé, junto de dois malandros horríveis. Em um outro sofá, jazia um homem, mais gordo e mais triste do que o motorista. Para completar o inferno, três velhos com bigodes amarelos bebiam whisky numa mesa de centro. Estes últimos contemplavam o show de uma morena peituda. Ignorei todos e, tentando transparecer naturalidade, fui ao balcão portando na cara a mesma expressão que eu uso quando entro em uma farmácia para comprar dipirona.
 
Peço uma cerveja ao garçom e me aproximo do palco para ver aquela Deusa: a morena peituda que saciava a imaginação dos velhos! A menina, com a experiência e a dedicação de uma doutora, subia e descia no Pole Dance, sem medo nem vergonha! Foi possível até sentir o cheiro do perfume e do suor que escorria pelo corpo perfeito dela! Fixei meus olhos naquela bunda dura e grudenta de purpurina, nas coxas grossas e no lindo rosto. Uma autêntica diaba sem chifres! Mas não deixei de reparar, também, uma notável cicatriz de cirurgia cesariana, cuja marca não pode ser coberta pela calcinha branca.
 
Naquela hora, o meu miserável princípio de ereção foi derrotado pelo seguinte pensamento: “quem será que - nesse exato momento - está tomando conta do filho da puta?”.
 

E a madrugada estava apenas no começo, ao som de Blues sujo...

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Offline Spectro
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#3
08-02-2020, 11:43 PM
Este tópico é dedicado ao maior escritor da real na atualidade... O grande velho Gonçalves. Portador de uma inteligência única, uma sabedoria de preto velho, e uma cordialidade raríssima... Se deliciem com os textos dele.
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  • Velho Gonçalves
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Offline Bruno Padilha
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#4
09-02-2020, 09:00 AM
Os contos de terror/suspense são muito bons. É um gênero que eu até gosto, mas a mídia podre fica forçando manginismo e relacionamentinhos em TODO filme ou série, aí fica chato de assistir. Exceção é a série Dark, também, com só 10 episódios não deu nem tempo de encherem o saco.

E claro que é de interesse da mídia deixar as pessoas irritadas ou tensas, por isso deixam os filmes tão irritantes, com personagens bons que vc torce só se ferrando, em algumas personagens bem chatinhas vivem seu finalzinho feliz. O objetivo da mídia é que as pessoas gerem ondas através de sentimentos como o medo e a raiva, que alimentam os reptilianos.

Porém, muito diferente é apenas apreciar um bom conto de ficção, que tem por objetivo criar um entretenimento saudável para o leitor. Parabéns ao Velho Gonçalves!
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Offline Velho Gonçalves
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#5
09-02-2020, 10:44 PM
(08-02-2020, 11:43 PM)Spectro Escreveu: Este tópico é dedicado ao maior escritor da real na atualidade... O grande velho Gonçalves. Portador de uma inteligência única, uma sabedoria de preto velho, e uma cordialidade raríssima... Se deliciem com os textos dele.
Caralho mano! Muito obrigado viu rsrs
 
Valew pelo espaço... vou postar umas crônicas legais aqui de tempos em tempos... Já estou estalando os dedos rsrs
 
Tks
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Offline Wild
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#6
11-02-2020, 11:48 AM
Aí sim, gostei mesmo! Num é que o véio é escritor mesmo? Muito legal de saber!

Depois de ler tantos relatos e não aparecer mais muitos novos, isso é como um bom refresco de limão nesses dias quentes.

Continue trazendo mais, já tem um leitor assíduo por aqui, hehehe.
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Offline Velho Gonçalves
Búfalo
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#7
17-02-2020, 11:23 PM
Divórcio com cachaça
 
A primeira urina do dia é tão forte que se eu mijasse no tanque do meu carro a ignição explodiria sem engasgo. Isso pelo fato de que os líquidos que bebi nas últimas 24 horas foram todos a base de etanol: cervejas; vinhos; e, para variar, a saliva e o suor da Andreia, que tinham gosto de caipirinha de saque. Aqui, abro parênteses (nessa vida, eu temo duas coisas: a morte; e sofrer com pedra nos rins. A primeira é inevitável; a segunda, seria fácil de evitar caso eu bebesse mais água! Logo, vivo à espera da pontada que cedo ou tarde virá no lado direito).
 
Por obrigação eu aperto a descarga – o cheiro de ureia – e tomo coragem para olhar no espelho. Fico horrorizado com minha própria cara! A calvície está cada vez maior; as olheiras, mais escuras; e as espinhas, mais protuberantes. Sou um homem na casa dos 30 tendo uma puberdade de trás para frente! Escovo os dentes com o resto da pasta (a mesma que uso no trabalho) e saio do banheiro, escutando o som dos meus passos ecoando pelos cômodos vazios. Esse ruído não é novo para mim! A primeira vez que escutei foi quando o corretor nos apresentou o imóvel há três anos. Na ocasião, decidíamos como iriamos mobiliar...
 
Eu não tinha esperança de conciliação. Acho que não queríamos! Fato é que na noite passada transamos, talvez pela última vez, no piso duro da sala, protegidos apenas pelo colchão de casal. A cama propriamente dita (as madeiras e os paus), foram levados por ela, junto com o guarda roupas, o sofá, a geladeira, o fogão e a máquina de lavar roupas. Teve a misericórdia de não pegar o micro-ondas pois o risco de eu emagrecer era alto! Também deixou o tal do colchão, a mesa da cozinha, a estante da sala com a TV de plasma (de plasma!!!), um maço de cigarros, uns trinta reais e meia dúzia de camisas minhas por passar, e que assim vão ficar um bom tempo... pois o ferro também foi pro saco no processo. Não sei a custo de qual milagre ainda me sobram duas bolas e não apenas uma!
 
O motivo da visita - uma semana após ela ir de mudança - foi o ofício de pegar o resto de suas roupas (propósito?), que estavam dentro de uma caixa que ficou estrategicamente aberta. Durante a semana, não me envergonho em confessar, foi difícil resistir à inclinação de sentir o cheiro gostoso do corpo dela, ainda impregnado naquelas camisetinhas. Fui forte! Pelo menos chorar eu me permiti, diversas noites por sinal, com minha mãe ao telefone. Agora, buscar resquícios do fantasma da minha ex-mulher no meio daquelas roupas, isso não.
 
A vida amorosa de alguns casais (nem todos) funciona como Danone de criança. Tem começo, meio e fim. No início, o menino puxa o lacre, lambe a tampa metálica e toma com colheradas fartas: tal foi o dia em que o corretor nos apresentou a casa pela primeira vez. Porém, por mais prazeroso que o Danone seja, uma hora ele acaba e o pote tem que ser descartado, mas não sem que os restos sejam lambidos com ponta de dedo. Assim foi o nosso sexo de ontem à noite: nada abundante, mas doce como o de costume.
 
Em contraste, digo que o sentimento de agora é amargo. Não posso filosofar sobre como será a minha próxima parceira, e ao mesmo tempo ignorar a terrível impressão do “próximo” parceiro dela. E isso, considerando que não nos amamos mais... vá vendo só! Mesmo assim, pensar na hipótese dói tanto quanto as pedras nos rins devem doer, mas não tem jeito: logo outro alguém, cedo ou tarde, “beberá da caipirinha de saquê”. Só não garanto que mijará tão forte quanto eu! Por deus, se eu pudesse escolher, preferia encarar a dor nos rins. Fato egoísta e hipócrita. Mas é fato!
 
O término foi amigável, sem rancor nem ranger de dentes. Nos casamos muito cedo em uma ação mal calculada, assim concluímos. A família apoiou e entendeu, a ausência de filhos facilitou o divórcio: melhor agora do que no futuro, pontuou o sogro. Parceiros fomos no início, e parceiros somos no final, com direito a bebidas, abraços e beijos no quintal. E digo que não guardo mágoas. Aliás, apenas uma: o fato dela também ter levado todas as panelas. Conforme ela mesma disse, eu não precisava em razão de nem ovos saber fritar. Filhinha da puta! Café pelo menos eu fazia. O que vou beber agora de manhã para curar a ressaca?
 
Enrolo o colchão como se ele fosse um “Rocambole” daqueles com sabor de chocolate ou doce de leite. Este aqui, porém, tem recheio de lamento, frustração e perca de tempo! Você me foi muito boa; e todos os dias eu rumino a certeza de que também lhe fui muito bom! Mas, para nós dois, o mundo lá fora parecia ser maior do que nosso colchãozinho aqui dentro; não permitindo a construção de colunas fortes... fortes o suficiente para garantir o sustento do peso sobre nossa casa. Insatisfeitos éramos casados, e insatisfeitos somos após a separação... Como diria o mestre Schopenhauer, estamos apenas sentindo na pele, a Eterna Insatisfação.
 
Quando acabo de guardar os restos do que um dia foi uma cama de casal, sou surpreendido com uma mensagem no celular: era ela, alegando que esquecera os sapatos e que, à “nossa antiga casa”, precisava voltar. Com riso e graça – de uma menina que sabe que está aprontando – pergunta de forma sádica sobre meu temor em revê-la outra vez. Digo sem demora que nessa vida, além da morte, só pedras nos rins me botam medo! Volte quantas vezes precisar. Pegue suas coisas e devolva algumas das minhas. Não importa! Só peço que, se aqui for retornar, me avise com antecedência... para que o “Rocambole” eu possa desenrolar.
 
E que venha com sua própria garrafa, dessa vez!

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Offline Spectro
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#8
18-02-2020, 11:49 PM
CARALHO....
VISCERAL....
Enquanto eu lia conseguia não só sentir oque esse fdp sentia como pudia até imaginar a casa dele....

Caralho velho Gonçalves você devia ser recomendado pra academia brasileira de letras.
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Offline Velho Gonçalves
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#9
17-04-2020, 07:04 PM
O Homem com dois paus e quatro bolas
Um recorte das loucas filosofias de boteco
 
Observe o Wagner; acaba de bradar que nenhum outro homem no bar teria condições de ser mais macho do que ele. Porém, concluiu dando conta de que se existisse tal fulano, então, necessariamente este deveria ter dois paus e quatro bolas (???). Perdoem o Wagner! Forças de expressão compõem o arcabouço das características mais marcantes que alguém pode ter! As palavras são extensões da nossa alma, e através delas podemos viajar aos lugares nos quais nossos corpos físicos nunca poderiam chegar. Então, tome aqui uma cadeira e pegue aqui um copo: vamos ouvir essa conversa...
 
Milena, no outro lado da mesa, gargalhou com um sorriso gostoso e genuíno! Raro momento: como é bom estar na presença de mulheres sem bloqueios sexuais; curiosamente, fazem alguns homens entrarem em pânico! Agora, vide o Hugo: tão distinto quanto seu próprio nome é! Não por menos, foi ele quem iniciou a análise da anatomia do suposto homem de dois paus e quatro bolas, acabando-se por ficar metaforicamente confuso. “As quatro bolas estariam em dois sacos? Ou ficariam as quatro todas juntas?”. Milena, obviamente, ocupou-se com os dois paus. “Eles gozariam ao mesmo tempo? Poderia um brochar e o outro não?”.
 
Álcool no estômago e no sangue faz as pessoas dizerem as verdades mais inconvenientes, aquelas que se escondem sob as camadas grossas do espírito, tais como: a remela do canto do olho; a folha de alface no dente; a depilação malfeita; a sujeira do nariz e a estria na barriga. Forneça algumas doses de cachaça a um homem e você contemplará, por meio de palavras, o estado de decomposição das coisas que a ele foram ensinadas pelos pais, pela escola ou pela igreja! Quer uma prova? É só olhar o Wagner: após quatro garrafas de cerveja o desgraçado já está impossível! O alvo da palestra passou a ser seu casamento. Está tão esgotado do ofício que, segundo ele, tem a sensação de ler “Bem Vindo à Auschwitz”, na soleira da porta de casa sempre quando retorna do trabalho.
 
Milena (solteira) ficou horrorizada, como qualquer outra pessoa ficaria! Mas, não sem soltar outra gargalhada, ainda mais intensa que aquela ofertada à analogia do homem com dois paus e quatro bolas. Hugo, solidamente casado, teve que gastar todas as suas habilidades para poder contrariar o amigo, e mesmo assim obteve êxito questionável: “que exagero pô, não é tão ruim assim”. Justo! Porém, veja a tréplica do outro: “com certeza não se compara; o casamento é pior! Em Auschwitz os aliados apareceram com a libertação. Eu já estou casado há 7 anos e ninguém, por mais engravatado que seja, pode me libertar por menos de 30% dos meus honorários mensais... só me resta olhar o mundo através do arame farpado”. Forças de expressão. Mais uma vez, perdoem o Wagner. Descontem as quatro garrafas!
 
Hugo coçou o queixo e roeu uma unha; o corpo confessou o que a língua tentou disfarçar. Wagner estava correto! Milena, neutra no assunto, sorria enquanto devorava a porção de calabresa acebolada. Como é voraz a gula feminina!!! O que falta nas mulheres em apetite sexual lhes foi compensado na fome: churros; hot dog; queijos; chocolates; milho de garfo; comida japonesa e mexicana; refrigerantes; balas; chicletes; pão de queijo; pão na chapa, com requeijão na entrada ou na saída; bolachas recheadas; açaí na tigela e no copo; pudim; torta holandesa; e etc. Em matéria de alimentação, elas não têm pudor. Só remediam a quantidade se estiverem na frente de um pretendente (desde que seja bonitão; se for feio, foda-se!); ou de uma amiga mais magra. Caso contrário, se alimentam como cachorras Africanas.
  
“O que houve com o Felipe?”, questionou Wagner, cuidando para não aparentar estar julgando a solteirice da amiga. Aqui, cabe uma ênfase: esta Milena não é uma mulher lá muito bonita; porém, nem de longe ela é feia. Em razão de não ter sido muito cobiçada quando adolescente, hoje em dia tem dificuldade para reconhecer seu “verdadeiro” valor no campo sexual; logo, não tem o domínio da arte de se fazer aparecer. Conhecem esse tipo? Bom... voltando à mesa, vemos a dita cuja xingando e dizendo que, em relação ao tal do Felipe, não havia rolado porra nenhuma de química! As pessoas falam e fazem coisas fortes, até pesadas, pelo simples e puro prazer de confirmar ao mundo que já são emancipadas. Quantos copos de bebidas, e outras drogas, já não foram experimentados em função disso?
 
“Ele também era mole, não transava direito”, ela concluiu. Hugo arregalou os olhos! Wagner riu alto como uma Doninha, e soltou um sonoro “CARALHO”, fazendo rir umas raparigas sem homem que estavam amontoadas na mesa ao lado. Alguém já pensou no seguinte; que às vezes costumamos exagerar as nossas reações apenas para estimular a pessoa a soltar um pouco mais daquilo que acabara de falar? Ouvir um desastre faz com que a gente se sinta seguro. Afinal de contas, percebemos que nossa vida não está tão fodida assim. Ver - de camarote - uma tragédia, está no mesmo nível de assistir a um impossível “Jones Vs Spider”. Estou errado? Se Milena, porém, tivesse dito que Felipe fora um ótimo parceiro – e bom comedor - com certeza aquelas raparigas sem homem não teriam rido com o sonoro CARALHO gritado pelo Wagner: se esse fosse o caso, ele não teria achado graça nenhuma. Reconhecer o progresso alheio nos faz ter ciência do nosso atual estado de retrocesso.
 
“Quer dizer que o Felipe não era macho suficiente, precisava ter dois paus e quatro bolas então?”, completou o nosso amigo Doninha! “Que porra de dois paus! Está difícil pra arrumar um homem com pelo menos um que funcione direito!”, respondeu Milena.  Hugo parece estar gostando ainda mais da conversa, tanto que puxou a cadeira para mais perto da mesa. E, pescando mais uma rodela de calabresa, nossa amiga continuou: “vou falar a verdade, sério, não tem nada a ver essa coisa de tamanho que vocês tanto têm medo. Tudo o que a gente quer é um cara que dure, pelo menos, 10 minutos seguidos... É pedir demais?”. Agora, foi a vez do Wagner, curiosamente, roer a unha e coçar o queixo!
 
Se é pedir demais ou não, cabe a você que está lendo ditar a sentença do juízo! Fato é que os nossos dois amigos não gostaram do protesto da cachorra africana. Todos nós temos duas maneiras de julgar o que é certo e o que é errado. A primeira, se refere à constatação das coisas que obviamente se configuram em pecado, ou seja, o que é errado para você também será para mim; a segunda maneira, que eu diria ser a protetiva, está diretamente ligada com a possibilidade de sermos desmascarados e termos nossas fragilidades expostas como tripas de um crucificado: se tal coisa me coloca em risco (agora ou no futuro), não importa o que seja, vou fazer com que ela se “pareça” errada, para que de alguma maneira se afaste de mim! Exemplo: por dedução lógica, quem consegue durar mais de 10 minutos não vai censurar a opinião da Milena.
 
O garçom trouxe a conta, agilmente dividida em três partes iguais. “Bom pessoal, vamos pagar logo porque tenho que voltar pra Auschwitz”, resmungou o inventor da metáfora do homem de dois paus e quatro bolas. Hugo, por sua vez, não disse nada; mas, pelo semblante... as mensagens de sua esposa não deveriam ser agradáveis... afinal de contas, já passara das 22! Milena olhou o celular apenas por espasmo! Fazia mais de duas horas que ela recebera a última mensagem, um vídeo enviado no grupo da família, no qual um Guaxinim roubava a comida do pote de um gato. Fora isso... mais ninguém havia procurado por ela, muito menos o Felipe: este, à essa hora, já deveria estar transando com outra... e com certeza gozando em menos de 10 minutos! O que é lixo para uns, acaba virando o tesouro para outros. No fim das contas, devemos ficar em paz: em relação à nossa sorte, na pior das hipóteses, o destino será carniceiro como um Abutre, e nem os ossos ficarão mal resolvidos!
 
E no fim daquela noite, nenhum dos três transou... por menor que fosse o tempo da foda!
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Offline Spectro
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#10
17-04-2020, 07:27 PM
Caramba sensacional este texto.
Pude sentir o cheiro do buteco e a baixa luz iluminando a mesa do "trisal".
Sensacional como vei gonça conseguiu unir o humor a tragédia humana.
Realmente oque é lixo para uns acaba virando tesouro para outros
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