26-11-2016, 11:14 AM
Heitor e Aquiles: Dois caminhos para a masculinidade
Para os gregos antigos, a Ilíada de Homero foi uma espécie de Bíblia da andreia (masculinidade, especificamente a coragem masculina). Diz-se que Alexandre, o Grande, tinha uma edição especial do poema épico (preparada por seu tutor, Aristóteles), a qual ele guardava debaixo de seu travesseiro durante suas conquistas, e que ele lia constantemente. Para Alexandre, Aquiles era a encarnação da andreia, e, então, o jovem rei havia moldado sua vida de acordo com ele.
Quando ele começou a conquista da Ásia, Alexandre fez um desvio para prestar homenagens no túmulo de Aquiles. Sempre que ele passava por conflitos de dúvidas internas, ele rezava para a deusa-mãe de Aquiles, Tétis, para que ela o confortasse. Quando seu melhor amigo e general, Hefestião, foi morto em combate, Alexandre lamentou profundamente, assim como Aquiles havia lamentado pela morte de seu melhor amigo, Pátroclo.
Muitos homens jovens, desde Alexandre, encontraram inspiração em Aquiles, o guerreiro forte e veloz. Isso deu-se porque Aquiles incorpora um ideal que eles, em suas entranhas, desejam vividamente: coragem destemida e maestria física. Ainda assim, enquanto Aquiles pode ser a materialização perfeita da andreia e enquanto ele recebe toda a atenção e adulação, há outro personagem que também exemplificava a masculinidade na Ilíada, e que, atualmente, fornece um guia melhor sobre como a maioria dos homens podem alcançá-la.
Nada poderia parar Aquiles em batalha. Ele não temia ninguém, nem mesmo o rei Agamenon, o líder eleito das hostes gregas em Troia. Aquiles era rápido, ágil e forte. Ele fez com que façanhas heroicas parecessem coisa fácil. Seu thumos, ou seu espírito, ardia como fogo, tanto que chegava ao ponto de consumi-lo no campo de batalha. A reputação de Aquiles por conta de sua andreia foi tão grande que os troianos se encolhiam de medo quando viram Pátroclo correndo pelo campo de batalha, vestindo a armadura do amigo, fazendo com que pensassem que ele mesmo era o lendário guerreiro.
Aquiles também era um homem muito belo. Homero o descreveu como “formoso”. Talvez tenha sido por isso que escolheram Brad Pitt para interpretar o papel de Aquiles a adaptação cinematográfica da Ilíada. Obviamente, Aquiles tinha alguns defeitos. Um deles era sua fúria incontrolável, seu senso exagerado de honra e um calcanhar vulnerável, coisas que causaram sua queda. Mas esse foi o preço a se pagar para que ele imortalizasse sua andreia perfeita, assegurando um legado do qual as pessoas, até a atualidade, pudessem falar, especialmente sobre sua excelência e sua coragem na batalha.
Além disso, fazer de Aquiles um exemplo é uma dificuldade significativa para meros mortais como nós, pois Aquiles não foi um simples mortal. Sua mãe foi uma deusa, fazendo dele um guerreiro semi-deus. Aquiles não tinha de trabalhar sua andreia. Não havia condições de ele não ser bravo, viril e belo: ele foi construído pra ser assim, isso estava em seu DNA divino. Aquiles já havia saído do ventre como um homem. Sua andreia só foi uma parte de seu ser.
Então, enquanto que a andreia de Aquiles pode certamente servir como um ideal, sua vida não é muito útil em termos de que a maioria dos homens possam seguir, a menos, é claro, que sua mãe se pareça como uma deusa imortal olímpica. Contudo, há um personagem da Ilíada que fornece um modelo útil para que os homens possam alcançar a andreia, e que foi o inimigo mortal de Aquiles: o príncipe troiano Heitor.
Durante nove longos anos, Heitor liderou a defesa da cidade de Troia contra o assalto dos gregos. Ele foi um guerreiro endurecido pela batalha e, assim como Aquiles, teve uma reputação por sua andreia. Mas Heitor era diferente de Aquiles. Ere era 100% mortal. Diferente de Aquiles, que já havia nascido com suaandreia, Heitor teve de conquistar a sua.
Ele até mesmo admitiu isso, naquilo que é, talvez, uma das cenas mais tocantes da literatura ocidental. Heitor, cansado da batalha e coberto de poeira e sangue, logo depois de ter evitado um ataque grego às forças troianas, retorna para a proteção das muralhas de Troia para descansar. Ali ele encontra sua amada e fiel esposa, Andrómaca, que implora para que ele não volte para a batalha, temendo que, ao retornar para a casa numa próxima vez, ele seja carregado em seu escudo[1], ao invés de voltar carregando-o.
Heitor, ainda em suas armaduras, confessa à sua esposa que ele compartilha do mesmo medo que ela. Algo anti-Aquileano! Aquiles, provavelmente, teria respondido com uma gargalhada, um orgulho ou uma retórica paternalista, dizendo que sua esposa não deveria incomodar sua cabecinha doce com essas coisas. Mas Heitor era humano e possuía certa humildade sobre sua habilidade e sua bravura.
Assim ele refletiu com Andrómaca:
“Tudo isso também pesa em minha mente, querida mulher. Mas eu morreria de vergonha ao encarar homens e mulheres de Troia arrastando suas longas vestes se eu abandonasse a batalha agora, como um covarde. Meu espírito não me incita nessa direção. Aprendi tudo isso demasiadamente bem. Erguer-se bravamente, sempre lutar nas linhas de frente com os soldados troianos, ganhando a grande glória de meu pai, glória para mim mesmo”
Heitor diz que ele teve de aprender a como ser bravo e lutar. Ele experimenta a coragem não como uma ausência de medo, mas sim como a habilidade exercitada de sentir o medo e, então, decidir seguir em frente, apesar de tudo. A palavra grega para “aprender” é didaskein, e o professor de língua inglesa, David Mikics, sabidamente apontou que o termo disdakein nunca foi usado em outro lugar além da Ilíada, para descrever o aprendizado em relação à bravura e à virilidade. O termo só aparece nesse trecho. Homero estava claramente erigindo um contraste entre Heitor e seu rival instintivamente feroz, Aquiles.
A quintessência da masculinidade é o destemor, a prontidão para defender o próprio orgulho e o de sua família.” – Julian Pitt-Rivers
A quintessência da masculinidade é o destemor, a prontidão para defender o próprio orgulho e o de sua família.” – Julian Pitt-Rivers
Enquanto que Aquiles havia nascido viril, Heitor teve de aprender a ser viril. Ele teve de aprendera como ser feroz e forte, o que sugere que essa não era sua natureza. Ao invés disso, Heitor provavelmente foi, por natureza, um bom rapaz. Não, não o bom rapaz insuportavelmente bonzinho: estou falando sobre bondade em termos de ser genuinamente gentil, compassivo e de ter consideração pelos demais. Há evidências dessa caracterização na Ilíada: por exemplo, enquanto que outros culpavam Helena e se ressentiam com ela por conta do começo da guerra de Troia, Heitor não seguiu esse caminho: mostrou bondade para com ela.
Além do mais, depois da admissão de Heitor diante de sua esposa, de que ele teve de aprender sua andreia, seu jovem filho, Astyanáx, viu o pai em sua armadura ensanguentada e, não reconhecendo-o, começou a gritar. Sorrindo, Heitor retirou o capacete, tomou o filho nos braços e o ergueu, do mesmo modo como você vê os pais de hoje fazerem. Heitor era um bom homem. Um esposo dedicado e um pai amável.
Mas ele compreendia que a bondade deve ser amparada pela força. Heitor reconhece, como Theodore Roosevelt reconheceu um milênio depois, que “a menos que mantenhamos as virtudes bárbaras, ganhar as virtudes civilizadas será te pouca serventia“.
Assim, ele passou a vida inteira aprendendo aquilo que não lhe havia sido garantido naturalmente, mas que ele desejava para, assim, viver com andreia. Ele aprendeu a ser bravo, audacioso e forte por meio da observação e da prática. Heitor dedicou a si mesmo para a educação em relação à masculinidade viril.
Eu me identifico com Heitor. Me consider como um “bom rapaz”. Naturalmente, sou inclinado a ser gentil e amigável para com os outros. E, como Heitor, sou um homem familiar. Mas, sendo um andros? Um corajoso, feroz, dirigido pelo thumos [espírito], fisicamente adepto, um homem forte? Isso é algo que eu tive de aprender e que ainda estou aprendendo. Não está na minha natureza.
Se eu apenas seguisse minhas preferências, provavelmente eu só ficaria sentado num sofá, jogando videogame e comendo nachos. Mas, por eu acreditar que o desenvolvimento da andreia é essencial para alcançar a arête [excelência] e o eudemonia [florescimento] enquanto homem, e, por eu valorizar a bondade e desejar que os outros também tenham a chance de buscar a arête, eu me esforço diariamente em desenvolver a força e a coragem para proteger essa possibilidade.
Já me deparei com alguns homens que eram mais parecidos com Aquiles. Eles nasceram com a andreia. Eles eram naturalmente corajosos, fisicamente aptos e confortáveis com a noção de risco, mesmo quando garotos. Quando encontrei esse tipo de homem, fiquei assombrado. Como Aquiles, eles incorporam um ideal de masculinidade viril que eu não posso obter, mas posso respeitar; mesmo que eles sejam um pouco ásperos superficialmente.
Mas, por inspiradores que esses homens possam ser, eles não oferecem insights úteis sobre como desenvolver o mesmo tipo de andreia. Seria como perguntar a Usain Bolt como se tornar o velocista mais rápido. Primeiro passo: seja Usain Bolt. Isso não parece muito útil. Ao invés disso, prefiro olhar para homens que são, por natureza, bondosos como Heitor, mas que tiveram de aprender a como se tornar valentes. Esses caras darão alguns indicadores.
Theodore Roosevelt, Frederick Douglass, Winston Churchill, meu avô e Eric Greitens são apenas alguns desses “cavalheiros bárbaros“, para os quais eu olho e de onde tiro inspiração sobre como ganhar uma educação autodidata sobre a andreia. A maioria dos homens que eu encontrei eram como Heitor. Eles são bons rapazes que têm te trabalhar a própria masculinidade. Pode ser fácil sentir-se inseguro sobre o fato de que você tem de aprender constantemente e reaprender como ser um homem.blog4
Tipos como Aquiles algumas vezes zombam da ideia de tentar aprender ativamente a arte da masculinidade, e demonstram descrença de que outros homens não saibam certas habilidades desde a infância, e que não incorporam certas traços intuitivamente. Mas, tal insegurança é deslocada, e tal criticismo é erroneamente conduzido. Poucos homens saem do ventre materno com pelos no peito, ou simplesmente absorvem as habilidades e os traços de masculinidade do éter. Muitos dos grandes homens através da história tiveram de intencionalmente aprender sobre a masculinidade, incluindo Heitor.
Pelo ser ou pelo aprendizado. Esses são dois caminhos para se adquirir a andreia. Para muitos de nós, aprender é o caminho que devemos seguir. É o caminho no qual estou. O The Art of Manliness é o lugar onde eu compartilho algumas dessas ideias. Eu tomei minha jornada para esse objetivo. E tem sido ótimo encontrar outros Heitores – bons rapazes – ao longo do caminho, rapazes que tomaram a decisão consciente de aprender sobre a masculinidade também.
Tradução e notas: Jean A. G. S. Carvalho – Avante
Blog Clube dos Homens
Publicado originalmente em: The Art of Manliness
![[Imagem: hector3-1-640x470.jpg]](http://www.clubedoshomens.blog.br/wp-content/uploads/2016/11/hector3-1-640x470.jpg)
Para os gregos antigos, a Ilíada de Homero foi uma espécie de Bíblia da andreia (masculinidade, especificamente a coragem masculina). Diz-se que Alexandre, o Grande, tinha uma edição especial do poema épico (preparada por seu tutor, Aristóteles), a qual ele guardava debaixo de seu travesseiro durante suas conquistas, e que ele lia constantemente. Para Alexandre, Aquiles era a encarnação da andreia, e, então, o jovem rei havia moldado sua vida de acordo com ele.
Quando ele começou a conquista da Ásia, Alexandre fez um desvio para prestar homenagens no túmulo de Aquiles. Sempre que ele passava por conflitos de dúvidas internas, ele rezava para a deusa-mãe de Aquiles, Tétis, para que ela o confortasse. Quando seu melhor amigo e general, Hefestião, foi morto em combate, Alexandre lamentou profundamente, assim como Aquiles havia lamentado pela morte de seu melhor amigo, Pátroclo.
Muitos homens jovens, desde Alexandre, encontraram inspiração em Aquiles, o guerreiro forte e veloz. Isso deu-se porque Aquiles incorpora um ideal que eles, em suas entranhas, desejam vividamente: coragem destemida e maestria física. Ainda assim, enquanto Aquiles pode ser a materialização perfeita da andreia e enquanto ele recebe toda a atenção e adulação, há outro personagem que também exemplificava a masculinidade na Ilíada, e que, atualmente, fornece um guia melhor sobre como a maioria dos homens podem alcançá-la.
Aquiles: sendo viril
Nada poderia parar Aquiles em batalha. Ele não temia ninguém, nem mesmo o rei Agamenon, o líder eleito das hostes gregas em Troia. Aquiles era rápido, ágil e forte. Ele fez com que façanhas heroicas parecessem coisa fácil. Seu thumos, ou seu espírito, ardia como fogo, tanto que chegava ao ponto de consumi-lo no campo de batalha. A reputação de Aquiles por conta de sua andreia foi tão grande que os troianos se encolhiam de medo quando viram Pátroclo correndo pelo campo de batalha, vestindo a armadura do amigo, fazendo com que pensassem que ele mesmo era o lendário guerreiro.
Aquiles também era um homem muito belo. Homero o descreveu como “formoso”. Talvez tenha sido por isso que escolheram Brad Pitt para interpretar o papel de Aquiles a adaptação cinematográfica da Ilíada. Obviamente, Aquiles tinha alguns defeitos. Um deles era sua fúria incontrolável, seu senso exagerado de honra e um calcanhar vulnerável, coisas que causaram sua queda. Mas esse foi o preço a se pagar para que ele imortalizasse sua andreia perfeita, assegurando um legado do qual as pessoas, até a atualidade, pudessem falar, especialmente sobre sua excelência e sua coragem na batalha.
Além disso, fazer de Aquiles um exemplo é uma dificuldade significativa para meros mortais como nós, pois Aquiles não foi um simples mortal. Sua mãe foi uma deusa, fazendo dele um guerreiro semi-deus. Aquiles não tinha de trabalhar sua andreia. Não havia condições de ele não ser bravo, viril e belo: ele foi construído pra ser assim, isso estava em seu DNA divino. Aquiles já havia saído do ventre como um homem. Sua andreia só foi uma parte de seu ser.
Então, enquanto que a andreia de Aquiles pode certamente servir como um ideal, sua vida não é muito útil em termos de que a maioria dos homens possam seguir, a menos, é claro, que sua mãe se pareça como uma deusa imortal olímpica. Contudo, há um personagem da Ilíada que fornece um modelo útil para que os homens possam alcançar a andreia, e que foi o inimigo mortal de Aquiles: o príncipe troiano Heitor.
Heitor: Aprendendo a Masculinidade
Durante nove longos anos, Heitor liderou a defesa da cidade de Troia contra o assalto dos gregos. Ele foi um guerreiro endurecido pela batalha e, assim como Aquiles, teve uma reputação por sua andreia. Mas Heitor era diferente de Aquiles. Ere era 100% mortal. Diferente de Aquiles, que já havia nascido com suaandreia, Heitor teve de conquistar a sua.
Ele até mesmo admitiu isso, naquilo que é, talvez, uma das cenas mais tocantes da literatura ocidental. Heitor, cansado da batalha e coberto de poeira e sangue, logo depois de ter evitado um ataque grego às forças troianas, retorna para a proteção das muralhas de Troia para descansar. Ali ele encontra sua amada e fiel esposa, Andrómaca, que implora para que ele não volte para a batalha, temendo que, ao retornar para a casa numa próxima vez, ele seja carregado em seu escudo[1], ao invés de voltar carregando-o.
Heitor, ainda em suas armaduras, confessa à sua esposa que ele compartilha do mesmo medo que ela. Algo anti-Aquileano! Aquiles, provavelmente, teria respondido com uma gargalhada, um orgulho ou uma retórica paternalista, dizendo que sua esposa não deveria incomodar sua cabecinha doce com essas coisas. Mas Heitor era humano e possuía certa humildade sobre sua habilidade e sua bravura.
Assim ele refletiu com Andrómaca:
“Tudo isso também pesa em minha mente, querida mulher. Mas eu morreria de vergonha ao encarar homens e mulheres de Troia arrastando suas longas vestes se eu abandonasse a batalha agora, como um covarde. Meu espírito não me incita nessa direção. Aprendi tudo isso demasiadamente bem. Erguer-se bravamente, sempre lutar nas linhas de frente com os soldados troianos, ganhando a grande glória de meu pai, glória para mim mesmo”
Heitor diz que ele teve de aprender a como ser bravo e lutar. Ele experimenta a coragem não como uma ausência de medo, mas sim como a habilidade exercitada de sentir o medo e, então, decidir seguir em frente, apesar de tudo. A palavra grega para “aprender” é didaskein, e o professor de língua inglesa, David Mikics, sabidamente apontou que o termo disdakein nunca foi usado em outro lugar além da Ilíada, para descrever o aprendizado em relação à bravura e à virilidade. O termo só aparece nesse trecho. Homero estava claramente erigindo um contraste entre Heitor e seu rival instintivamente feroz, Aquiles.
A quintessência da masculinidade é o destemor, a prontidão para defender o próprio orgulho e o de sua família.” – Julian Pitt-Rivers
A quintessência da masculinidade é o destemor, a prontidão para defender o próprio orgulho e o de sua família.” – Julian Pitt-Rivers
Enquanto que Aquiles havia nascido viril, Heitor teve de aprender a ser viril. Ele teve de aprendera como ser feroz e forte, o que sugere que essa não era sua natureza. Ao invés disso, Heitor provavelmente foi, por natureza, um bom rapaz. Não, não o bom rapaz insuportavelmente bonzinho: estou falando sobre bondade em termos de ser genuinamente gentil, compassivo e de ter consideração pelos demais. Há evidências dessa caracterização na Ilíada: por exemplo, enquanto que outros culpavam Helena e se ressentiam com ela por conta do começo da guerra de Troia, Heitor não seguiu esse caminho: mostrou bondade para com ela.
Além do mais, depois da admissão de Heitor diante de sua esposa, de que ele teve de aprender sua andreia, seu jovem filho, Astyanáx, viu o pai em sua armadura ensanguentada e, não reconhecendo-o, começou a gritar. Sorrindo, Heitor retirou o capacete, tomou o filho nos braços e o ergueu, do mesmo modo como você vê os pais de hoje fazerem. Heitor era um bom homem. Um esposo dedicado e um pai amável.
Mas ele compreendia que a bondade deve ser amparada pela força. Heitor reconhece, como Theodore Roosevelt reconheceu um milênio depois, que “a menos que mantenhamos as virtudes bárbaras, ganhar as virtudes civilizadas será te pouca serventia“.
Assim, ele passou a vida inteira aprendendo aquilo que não lhe havia sido garantido naturalmente, mas que ele desejava para, assim, viver com andreia. Ele aprendeu a ser bravo, audacioso e forte por meio da observação e da prática. Heitor dedicou a si mesmo para a educação em relação à masculinidade viril.
Heitor: um viajante no caminho da masculinidade
Eu me identifico com Heitor. Me consider como um “bom rapaz”. Naturalmente, sou inclinado a ser gentil e amigável para com os outros. E, como Heitor, sou um homem familiar. Mas, sendo um andros? Um corajoso, feroz, dirigido pelo thumos [espírito], fisicamente adepto, um homem forte? Isso é algo que eu tive de aprender e que ainda estou aprendendo. Não está na minha natureza.
Se eu apenas seguisse minhas preferências, provavelmente eu só ficaria sentado num sofá, jogando videogame e comendo nachos. Mas, por eu acreditar que o desenvolvimento da andreia é essencial para alcançar a arête [excelência] e o eudemonia [florescimento] enquanto homem, e, por eu valorizar a bondade e desejar que os outros também tenham a chance de buscar a arête, eu me esforço diariamente em desenvolver a força e a coragem para proteger essa possibilidade.
Já me deparei com alguns homens que eram mais parecidos com Aquiles. Eles nasceram com a andreia. Eles eram naturalmente corajosos, fisicamente aptos e confortáveis com a noção de risco, mesmo quando garotos. Quando encontrei esse tipo de homem, fiquei assombrado. Como Aquiles, eles incorporam um ideal de masculinidade viril que eu não posso obter, mas posso respeitar; mesmo que eles sejam um pouco ásperos superficialmente.
Mas, por inspiradores que esses homens possam ser, eles não oferecem insights úteis sobre como desenvolver o mesmo tipo de andreia. Seria como perguntar a Usain Bolt como se tornar o velocista mais rápido. Primeiro passo: seja Usain Bolt. Isso não parece muito útil. Ao invés disso, prefiro olhar para homens que são, por natureza, bondosos como Heitor, mas que tiveram de aprender a como se tornar valentes. Esses caras darão alguns indicadores.
Theodore Roosevelt, Frederick Douglass, Winston Churchill, meu avô e Eric Greitens são apenas alguns desses “cavalheiros bárbaros“, para os quais eu olho e de onde tiro inspiração sobre como ganhar uma educação autodidata sobre a andreia. A maioria dos homens que eu encontrei eram como Heitor. Eles são bons rapazes que têm te trabalhar a própria masculinidade. Pode ser fácil sentir-se inseguro sobre o fato de que você tem de aprender constantemente e reaprender como ser um homem.blog4
Tipos como Aquiles algumas vezes zombam da ideia de tentar aprender ativamente a arte da masculinidade, e demonstram descrença de que outros homens não saibam certas habilidades desde a infância, e que não incorporam certas traços intuitivamente. Mas, tal insegurança é deslocada, e tal criticismo é erroneamente conduzido. Poucos homens saem do ventre materno com pelos no peito, ou simplesmente absorvem as habilidades e os traços de masculinidade do éter. Muitos dos grandes homens através da história tiveram de intencionalmente aprender sobre a masculinidade, incluindo Heitor.
Pelo ser ou pelo aprendizado. Esses são dois caminhos para se adquirir a andreia. Para muitos de nós, aprender é o caminho que devemos seguir. É o caminho no qual estou. O The Art of Manliness é o lugar onde eu compartilho algumas dessas ideias. Eu tomei minha jornada para esse objetivo. E tem sido ótimo encontrar outros Heitores – bons rapazes – ao longo do caminho, rapazes que tomaram a decisão consciente de aprender sobre a masculinidade também.
Tradução e notas: Jean A. G. S. Carvalho – Avante
Blog Clube dos Homens
Publicado originalmente em: The Art of Manliness