24-10-2015, 07:50 PM
Hoje sai a nota do Enem, a provinha que servia pra ver mais ou menos como está o nível das escolas e que agora quer ser o vestibular único de todas as faculdades, inclusive privadas. Na prática, já é, mas quer sê-lo oficialmente. É um dia de muita ansiedade, já que existe pressão de todos os lados. Geralmente, os pais da pessoa querem que ela passe na FACULDADE, e a pessoa mesmo quer, convencida do fato de que aquela instituição é intrínseca à vida, e que se você quiser SER ALGUÉM, deve passar por lá. Primeiro, discutiremos o télos (o propósito) da faculdade, e depois sobre como elas foram completamente destruídas. Se o texto não te mostrar, o tempo vai: dane-se a sua nota do Enem.
![[Imagem: fabrica-de-diplomas.jpg]](http://1.bp.blogspot.com/-2S8nIB7NlyU/VLU5kfdFo9I/AAAAAAAAiuA/1TAqB5WUHjI/s1600/fabrica-de-diplomas.jpg)
Digamos que você decide abrir uma mercearia. Começa contratando membros da família mesmo. Coloca a filha adolescente no caixa, a mulher de repositora ou de contadora, sei lá, o filho mais novo coloca as compras dos clientes na sacola. Mas então, passado uns anos, sua mercearia cresce, passa mais tempo e cresce mais. Até chegar no patamar do Carrefour, ou do Extra, digamos. Bom, chegando nesse ponto, você precisa contratar pessoas que saibam fazer o que você precisa pra continuar girando as engrenagens da empresa, e expandir ela. Coloque aí contadores, gerentes de marketing, técnicos em TI, etc, etc, etc. Você tem a opção de fazer com que a empresa mesmo ensine as pessoas a fazerem o que você quer. Contratar uma empresa especialista em recrutamento, ver quem tem mais aptidão pra marketing, contratar especialistas em marketing e ensinar os selecionados a fazer o que você precisa deles.
Mas veja: Alguém decide abrir uma instituição de ensino que tem o curso de marketing. Quando a pessoa completa o curso, com as matérias que essa instituição julgou serem necessárias, ela emite um certificado pra pessoa. A pessoa chega na sua empresa e diz "olha eu tenho esse certificado dizendo que sei essas coisas". Claro que cada certificado tem valor diferente. A UniEsquina não terá peso nenhum contra a Mackenzie. Aí fica mais fácil pra você, dono do mercado. Não preciso mais ensinar eu mesmo tudo o que meus empregados precisam saber. Existem instituições que ensinam por mim. O diploma nada mais é do que um certificado com um valor. Esse valor só existe porque garante que você sabe alguma coisa.
O que acontece quando o valor desses diplomas não existe mais? Assim como o dinheiro, viraria apenas um pedaço de papel, e de fato, virou. Você mesmo já deve conhecer muita gente ou saber de muita gente que sai da faculdade e vai trabalhar de repositor no Extra, ou gente que fez, por exemplo, publicidade por 4 anos pagando uma caralhada de dinheiro pra arranjar um estágio ganhando 1.100 por mês e tá nessa há 2 anos já. Fica óbvio perceber que as faculdades e seus diplomas, degradativamente (desculpa o neologismo) vão perdendo seu valor.
Por quê? E por que as pessoas continuam entrando nelas pensando "comigo vai ser diferente"? Vamos tentar descobrir.
Em 1930, no governo provisório do Getúlio Vargas (que veio a ser um ditador que chupava o pau do Mussolini), foi criado o Ministério da educação e da saúde. Era a primeira vez que o estado se colocava como órgão administrador da educação, com normas que serviam de modelo, mas que os estados da federação não eram obrigados a seguir. A partir desse momento, um órgão central definia o télos (o propósito original de algo, o sentido de uma coisa, segundo Aristóteles) de toda instituição de ensino até certo ponto. As faculdades ainda estavam livres, o foco deles era o ensino primário. Mas veja: A partir do momento que um órgão central tem o poder de definir o que é educação, e o que e como deve ser ensinado, uma única concepção de educação será vigente. Digo, se eu quiser educar meu filho com Francês, literatura e aulas de piano, pro estado isso não vale com educação e meu filho não pode ser considerado um cidadão apto a certas coisas. É o estado quem decide, e pau no seu cu. Se você concorda com a concepção de educação do estado, talvez esteja tudo bem pra você. O grande problema começa quando as concepções de educação de diferentes governos divergem, e talvez um dia você não possa concordar.
Vamos pular pra hoje: Pessoas que fazem pedagogia são ensinadas que a escola não deve formar pessoas capazes de absorver seja lá o que elas queiram absorver pra exercer seja lá o que elas queiram exercer, desde medicina até filosofia. O MEC diz que o objetivo das escolas é formar "cidadãos críticos". As escolas têm esse télos agora. O termo "crítica" deriva do termo grego kritike, significando "a arte de discernir", ou seja, o fato de discernir o valor das pessoas ou das coisas. Análise sistemática das condições e consequências de um conceito; significa a teoria, a disciplina ou uma aproximação e uma tentativa de compreender os limites e a validade de um conceito. Veja, o objetivo das escolas é ensinar você a como enxergar o mundo, e distribuir valor entre as coisas. Quando um único órgãos é responsável por definir o que é enxergar o mundo, as pessoas submetidas a esses critérios de ensino passarão a enxergar o mundo de uma maneira só. As palavras, sem que se tome consciência disso, terão um significado e um contexto únicos, e logo, nada será compreendido.
Isso pode ser provado ao vermos que metade dos estudantes que entram na faculdade são analfabetos funcionais. Ou seja, eles sabem ver quais palavras estão ali, mas nenhuma conclusão é gerada em suas cabeças. Só isso já começou a deteriorar o valor das faculdades: Elas ficaram cheias de gente que não consegue interpretar nada com nada. Mas oras, aí elas não terminam o curso, correto? Errado. O MEC precisa autorizar as faculdades a exercerem seus cursos, segundo critérios dela. Seria como um controle indireto da educação de ensino superior. Se você não seguir o télos que o MEC quer, nada de curso. Ao fazer isso, o jeito que as pessoas usam pra passar de bimestre no ensino médio passou a ser o mesmo na faculdade: DECORA TUDO. Nada de aprendizado. Os analfabetos funcionais decoram, e depois da prova, não lembram de mais nada. Os professores facilitam. Vai dizer que não sabe de nenhum caso onde, após a classe inteira tirar uma nota porca, o professor dar outra prova pra recuperar?
Talvez ele faça isso porque ele é legal, mas a verdade é que se não passar determinado número de alunos, e o curso não alcançar certa nota estabelecida pelo (você adivinhou) MEC, já era o curso, e não conheço nenhum professor que queira perder seu emprego. Com isso, analfabetos funcionais chegam até o TCC, ora empurrados pelos professores e pela instituição, ora carregados por alunos que realmente conseguem fazer as coisas sozinhos, já que OS GRUPOS PRECISAM TER 6 PESSOAS (se você achou que essa exigência era simplesmente aleatória e arbitrária, agora sabe o motivo).
Com isso, analfabetos funcionais começaram a se formar de fato, e obter aquele certificado de "eu sei as coisas". A partir do momento que as empresas detectam que quem tem o certificado de "eu sei das coisas" não sabe nada, o diploma perde totalmente o seu valor. Seria como a inflação: Estão entrando diplomas no mercado sem que nada tenha sido produzido. O valor dos diplomas de quem realmente sabe algo se dilui no dos diplomas de quem não sabe nada. O resultado é isso: O diploma ter seu valor, gradativamente, andando pro zero.
"Mas o que eu devo fazer? Não faço faculdade e foda-se?" - Depende muito do caso, e depende muito de você. Faça a faculdade, já que em muitos ramos o diploma é obrigatório (pelo governo. As empresas não querem saber de diploma nenhum, na prática. Elas querem que você saiba o que é necessário a ela). Mas tenha em mente isso: Seu diploma não vai te ajudar em nada. Use a faculdade pra fazer contatos, pesquise o que as empresas querem de você, estude por fora as competências técnicas necessárias, seja o melhor. Porém, cuidado. Em terra de cego, quem tem olho ou vira rei, ou fica louco.
http://www.ovelhasvoadoras.com.br/2015/0...-enem.html
![[Imagem: fabrica-de-diplomas.jpg]](http://1.bp.blogspot.com/-2S8nIB7NlyU/VLU5kfdFo9I/AAAAAAAAiuA/1TAqB5WUHjI/s1600/fabrica-de-diplomas.jpg)
Digamos que você decide abrir uma mercearia. Começa contratando membros da família mesmo. Coloca a filha adolescente no caixa, a mulher de repositora ou de contadora, sei lá, o filho mais novo coloca as compras dos clientes na sacola. Mas então, passado uns anos, sua mercearia cresce, passa mais tempo e cresce mais. Até chegar no patamar do Carrefour, ou do Extra, digamos. Bom, chegando nesse ponto, você precisa contratar pessoas que saibam fazer o que você precisa pra continuar girando as engrenagens da empresa, e expandir ela. Coloque aí contadores, gerentes de marketing, técnicos em TI, etc, etc, etc. Você tem a opção de fazer com que a empresa mesmo ensine as pessoas a fazerem o que você quer. Contratar uma empresa especialista em recrutamento, ver quem tem mais aptidão pra marketing, contratar especialistas em marketing e ensinar os selecionados a fazer o que você precisa deles.
Mas veja: Alguém decide abrir uma instituição de ensino que tem o curso de marketing. Quando a pessoa completa o curso, com as matérias que essa instituição julgou serem necessárias, ela emite um certificado pra pessoa. A pessoa chega na sua empresa e diz "olha eu tenho esse certificado dizendo que sei essas coisas". Claro que cada certificado tem valor diferente. A UniEsquina não terá peso nenhum contra a Mackenzie. Aí fica mais fácil pra você, dono do mercado. Não preciso mais ensinar eu mesmo tudo o que meus empregados precisam saber. Existem instituições que ensinam por mim. O diploma nada mais é do que um certificado com um valor. Esse valor só existe porque garante que você sabe alguma coisa.
O que acontece quando o valor desses diplomas não existe mais? Assim como o dinheiro, viraria apenas um pedaço de papel, e de fato, virou. Você mesmo já deve conhecer muita gente ou saber de muita gente que sai da faculdade e vai trabalhar de repositor no Extra, ou gente que fez, por exemplo, publicidade por 4 anos pagando uma caralhada de dinheiro pra arranjar um estágio ganhando 1.100 por mês e tá nessa há 2 anos já. Fica óbvio perceber que as faculdades e seus diplomas, degradativamente (desculpa o neologismo) vão perdendo seu valor.
Por quê? E por que as pessoas continuam entrando nelas pensando "comigo vai ser diferente"? Vamos tentar descobrir.
Em 1930, no governo provisório do Getúlio Vargas (que veio a ser um ditador que chupava o pau do Mussolini), foi criado o Ministério da educação e da saúde. Era a primeira vez que o estado se colocava como órgão administrador da educação, com normas que serviam de modelo, mas que os estados da federação não eram obrigados a seguir. A partir desse momento, um órgão central definia o télos (o propósito original de algo, o sentido de uma coisa, segundo Aristóteles) de toda instituição de ensino até certo ponto. As faculdades ainda estavam livres, o foco deles era o ensino primário. Mas veja: A partir do momento que um órgão central tem o poder de definir o que é educação, e o que e como deve ser ensinado, uma única concepção de educação será vigente. Digo, se eu quiser educar meu filho com Francês, literatura e aulas de piano, pro estado isso não vale com educação e meu filho não pode ser considerado um cidadão apto a certas coisas. É o estado quem decide, e pau no seu cu. Se você concorda com a concepção de educação do estado, talvez esteja tudo bem pra você. O grande problema começa quando as concepções de educação de diferentes governos divergem, e talvez um dia você não possa concordar.
Vamos pular pra hoje: Pessoas que fazem pedagogia são ensinadas que a escola não deve formar pessoas capazes de absorver seja lá o que elas queiram absorver pra exercer seja lá o que elas queiram exercer, desde medicina até filosofia. O MEC diz que o objetivo das escolas é formar "cidadãos críticos". As escolas têm esse télos agora. O termo "crítica" deriva do termo grego kritike, significando "a arte de discernir", ou seja, o fato de discernir o valor das pessoas ou das coisas. Análise sistemática das condições e consequências de um conceito; significa a teoria, a disciplina ou uma aproximação e uma tentativa de compreender os limites e a validade de um conceito. Veja, o objetivo das escolas é ensinar você a como enxergar o mundo, e distribuir valor entre as coisas. Quando um único órgãos é responsável por definir o que é enxergar o mundo, as pessoas submetidas a esses critérios de ensino passarão a enxergar o mundo de uma maneira só. As palavras, sem que se tome consciência disso, terão um significado e um contexto únicos, e logo, nada será compreendido.
Isso pode ser provado ao vermos que metade dos estudantes que entram na faculdade são analfabetos funcionais. Ou seja, eles sabem ver quais palavras estão ali, mas nenhuma conclusão é gerada em suas cabeças. Só isso já começou a deteriorar o valor das faculdades: Elas ficaram cheias de gente que não consegue interpretar nada com nada. Mas oras, aí elas não terminam o curso, correto? Errado. O MEC precisa autorizar as faculdades a exercerem seus cursos, segundo critérios dela. Seria como um controle indireto da educação de ensino superior. Se você não seguir o télos que o MEC quer, nada de curso. Ao fazer isso, o jeito que as pessoas usam pra passar de bimestre no ensino médio passou a ser o mesmo na faculdade: DECORA TUDO. Nada de aprendizado. Os analfabetos funcionais decoram, e depois da prova, não lembram de mais nada. Os professores facilitam. Vai dizer que não sabe de nenhum caso onde, após a classe inteira tirar uma nota porca, o professor dar outra prova pra recuperar?
Talvez ele faça isso porque ele é legal, mas a verdade é que se não passar determinado número de alunos, e o curso não alcançar certa nota estabelecida pelo (você adivinhou) MEC, já era o curso, e não conheço nenhum professor que queira perder seu emprego. Com isso, analfabetos funcionais chegam até o TCC, ora empurrados pelos professores e pela instituição, ora carregados por alunos que realmente conseguem fazer as coisas sozinhos, já que OS GRUPOS PRECISAM TER 6 PESSOAS (se você achou que essa exigência era simplesmente aleatória e arbitrária, agora sabe o motivo).
Com isso, analfabetos funcionais começaram a se formar de fato, e obter aquele certificado de "eu sei as coisas". A partir do momento que as empresas detectam que quem tem o certificado de "eu sei das coisas" não sabe nada, o diploma perde totalmente o seu valor. Seria como a inflação: Estão entrando diplomas no mercado sem que nada tenha sido produzido. O valor dos diplomas de quem realmente sabe algo se dilui no dos diplomas de quem não sabe nada. O resultado é isso: O diploma ter seu valor, gradativamente, andando pro zero.
"Mas o que eu devo fazer? Não faço faculdade e foda-se?" - Depende muito do caso, e depende muito de você. Faça a faculdade, já que em muitos ramos o diploma é obrigatório (pelo governo. As empresas não querem saber de diploma nenhum, na prática. Elas querem que você saiba o que é necessário a ela). Mas tenha em mente isso: Seu diploma não vai te ajudar em nada. Use a faculdade pra fazer contatos, pesquise o que as empresas querem de você, estude por fora as competências técnicas necessárias, seja o melhor. Porém, cuidado. Em terra de cego, quem tem olho ou vira rei, ou fica louco.
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