12-02-2015, 06:18 AM
Medos masculinos e mulheres obsoletas
Contra um mundo melhor
Ensaios do afeto
Luiz Felipe Pondé
Este ensaio é uma breve reflexão do ponto de vista masculino acerca de algumas questões que afetam a relação entre homens e mulheres no momento contemporâneo. E, portanto, tudo começa com o chamado advento da emancipação feminina e o medo que ela causa nos homens que gostam de mulheres.
Não gosto do termo "emancipação", mas, como ele é de uso corrente, farei uso dele aqui.
"Emancipação", para mim, define-se em três etapas:
Partir de problemas reais. Por exemplo, submissão de algumas mulheres a maridos insuportáveis por falta de grana para mandá-los para o inferno ou impossibilidade de mulheres herdarem patrimônios, como era prática comum no passado.
Solucionar esses problemas de modo eficaz. Por exemplo, divórcio, profissionalização definitiva das mulheres, nova legislação para proteção dos direitos das mulheres.
Negar sistematicamente os efeitos colaterais indesejados causados pelas soluções dadas (item 2) aos problemas reais (item 1). Por exemplo, mulheres independentes financeiramente, mas sozinhas e desesperadas que se iludem dizendo "pelo menos hoje eu posso transar livremente com meninos de 20 anos sem dar satisfação para ninguém", mães solteiras e disfuncionais cotidianamente, repressão sistemática pela mídia ou intelectuais engajadas de qualquer discussão séria acerca desses efeitos colaterais indesejados, acusando-os de mera propaganda machista.
Interessa-me principalmente aqui o item três, principalmente naquilo que afeta diretamente os homens, que é quase tudo, porque, quando se é heterossexual, se é necessariamente dependente do que afeta "o outro", isto é, o sexo oposto. Experiência estranha ao homossexual que não ama o outro (hetero) sexo, mas sim o mesmo (homo) sexo. Os outros dois itens já me cansaram, seja pela verdade deles, seja pelo sono que me causam.
Sim, os homens estão de saco cheio das mulheres emancipadas. Mas não podemos transar com nossas avós, nem queremos. Há coisas a aprender com a emancipação das mulheres. Mas, para começar a aprendê-las, é necessário que possamos falar do assunto, e raramente falamos disso, até porque nossas mulheres têm o hábito de falar em nosso lugar mesmo quando dizem que querem nos ouvir. A capacidade feminina de enterrar qualquer conversa num sem-fim de detalhes é atávica.
Alguns darwinistas remetem essa capacidade feminina infinita para falar ao fato de que nossas ancestrais viviam coletando com suas crias e amigas e, enquanto isso, conversavam. Já nossos ancestrais, ocupados com a caça e o risco implícito na caça, precisavam ser silenciosos e focados na presa, logo, os que falavam demais eram mmalsucedidos e por isso sumiram na poeira dos inadaptados. Já para as fêmeas, a conversa era parte do cotidiano saudável, e, por isso, as silenciosas não tiveram sucesso, porque eram isoladas e antipáticas.
Por razões evolucionistas ou não, os homens são "travados", falam pouco e temem a intimidade consigo mesmos. Falta-lhes a "cultura da subjetividade", normalmente farta nas mulheres. Isso dificulta as coisas nos tempos de crise de identidade masculina, como a que vivemos.
O escritor americano Philip Roth, em seu maravilhoso Animal agonizante, diz que existem vantagens na emancipação feminina, mas dificilmente os melhores entre nós percebem. Essas vantagens têm a ver com a superação da eterna e falsa fragilidade feminina, arma mortal usada contra os homens que querem "cuidar" das suas amadas. Temos vergonha de ser fracos e não atendê-las em suas demandas. E essa vergonha é utilizada dia a dia, sem nenhuma cerimônia, pela quase totalidade das mulheres. Dizem que existem mulheres que não fazem uso desse "recurso", mas eu nunca conheci uma delas. Na troca de pneus, no enfrentamento de brigas, nas dificuldades financeiras, nos fracassos em geral, se repete o uso desse "recurso".
Segundo Roth, uma vez libertas das garras de uma sociedade que as impediria de crescer, as mulheres não mais poderiam se esconder atrás da fragilidade como destino feminino, mas sim alçariam altos voos por si mesmas e, assim, realizariam sua força até então reprimida. E aí entra a vantagem: os homens poderiam abandoná-las a sua sorte de solitárias livres quando se cansassem delas sem sentir culpa por suas misérias de mulheres abandonadas. Desse modo, estaríamos todos livres e solitários.
CONTINUA ...