10-10-2011, 04:25 PM
Dilema dos herbÃvoros
Japão entra em pânico com a ascensão dos "garotos come-grama", que evitam o sexo, não gastam dinheiro, e preferem fazer caminhadas.
Ryoma Igarashi gosta de dirigir longas distâncias pelas montanhas, tirando fotos de templos budistas e explorando bairros antigos. Ele acabou de começar jardinagem e cria ervas em um canteiro no apartamento. Até recemente, Igarashi, um japonês de 27 anos apresentador de televisão, seria considerado efeminado, até mesmo gay. Há muito tempo, espera-se que os japoneses vivam como personagens do seriado Mad Men, cantando as secretárias, bebendo com os amigos e ostentando relógios e carros.
Hoje, Igarashi tem uma nova identidade (e muita companhia de outros jovens), como um dos âsoushoku danshiâ - tradução literal de "garoto come-grama". Definidos assim por sua falta de de interesse sexual e preferência por uma vida mais quieta e menos competitiva, os japoneses âherbÃvorosâ estão provocando um debate nacional sobre como a estagnação econômica desde os anos 90 alterou o comportamento dos homens.
Jornais, revistas e TV têm se fixado nos herbÃvoros. âTeriam os homens se tornado fracos?â era o tema de um talk show recentemente. âHerbÃvoros não são tão ruinsâ, foi o tÃtulo de uma coluna no site japonês NB Online.
Nestes tempos de bromance e metrossexuais, por que toda essa confusão? A resposta curta: os "comedores de grama" são um problema alarmante porque estão no centro dos dois maiores desafios da sociedade japonesa: a baixa taxa de natalidade e o consumo anêmico. Os HerbÃvoros representam uma rebelião silenciosa contra muitos dos valores masculinos e materialistas associados à bolha econômica japonesa dos anos 1980.
A Shakers Media, uma empresa de consultoria subsidiária da Dentsu, a maior agência de publicidade do paÃs, estima que 60% dos homens em torno dos 20 anos, e pelo menos 42% dos homens com idade entre 23-34 consideram-se herbÃvoros. A Partner Agency, uma agência japonesa de encontros, descobriu em uma pesquisa que 61% dos homens solteiros na faixa dos 30 anos se identificaram como herbÃvoros. Dos 1.000 homens solteiros na faixa dos 20 e 30 anos ouvidos pela LifeNet, uma empresa de seguros de vida japonês, 75% se descreveram como comedores-de-grama.
As empresas japonesas estão preocupadas que os meninos herbÃvoros não são consumidores de status como seus pais o foram. Eles preferem arrumar a casa. Segundo pesquisa da Shakers Media, eles são mais propensos a passar o tempo sozinhos ou com amigos próximos, mais propensos a comprar coisas para decorar suas casas e pequenos luxos, ao invés de itens mais caros. Eles preferem passar as férias no próprio Japão, ao invés de se aventurar no exterior. Eles estão muitas vezes morando perto de suas mães e têm amigas mulheres, mas não tem pressa nenhuma para casar-se, de acordo com Maki Fukasawa, editor e colunista japonês que cunhou o termo "Herb" no NB on-line em 2006.
A fobia aos relacionamentos dos Herbs não é a única coisa que está preocupando as mulheres japonesas. Ao contrário de gerações anteriores de homens japoneses, eles preferem não dar o primeiro passo, gostam de dividir a conta e eles não são particularmente motivados por sexo. "Eu passei a noite na casa de um cara e nada aconteceu - nós apenas fomos dormir!" reclamou uma mulher em um programa de TV dedicado aos Herbs. "à como se estivesse faltando alguma coisa neles", disse Yoko Yatsu, uma dona de casa de 34 anos de idade em uma entrevista. "Se eles fossem normais, estariam mais interessados ââem mulheres. Eles tinham de querer, pelo menos, falar com mulheres."
Shigeru Sakai, da Shakers Media, sugere que os Herbs não procuram as mulheres porque eles se expressam muito mal. Ele atribui essa baixa capacidade de comunicação deles ao fato de que muitos cresceram sem irmãos em famÃlias onde ambos os pais trabalhavam. "Eles tinham TVs, aparelhos de som e videogames em seus quartos, então tornou-se comum para eles se fecharem em seus quartos ao chegar em casa e comunicar-se menos com as suas famÃlias, o que os deixou com baixa capacidade de comunicação", escreveu ele em um e-mail. O Japão jamais precisou tanto que seus homens fizessem sexo como agora. As baixas taxas de natalidade, combinadas com a falta de imigração, tem causado o encolhia população do paÃs a encolher a cada ano desde 2005.
Talvez os esforços do governo Japonês para tornar os ambientes de trabalho mais igualitários, tenham plantado as sementes para germinassem os comedores de grama, diz Fukasawa. Na esteira da Lei de Oportunidades Iguais de Emprego, de 1985, as mulheres assumiram uma maior responsabilidade no trabalho e o equilÃbrio de poder entre os sexos começou a mudar. Embora existam barreiras significativas à progressão na carreira para as mulheres, uma nova geração de executivas que poderiam trabalhar quase tão duro quanto seus colegas homens surgiu. A lascÃvia no ambiente de trabalho, que era socialmente aceitável, estigmatizou-se como Séku Hara, ou assédio sexual.
Mas foi o estouro da bolha econômica japonesa no inÃcio de 1990, juntamente com essa mudança no cenário social, que tornou insustentável o velho modelo de masculinidade japonesa. Antes da bolha, as empresas japonesas ofereciam empregos para a vida toda. Um empregado sabia exatamente o que viria no seu próximo contracheque, e isso os deixava mais confiantes para comprar um colar de diamantes ou um caro jantar francês para sua namorada. Agora, quase 40% dos trabalhadores japoneses estão em empregos avulsos com muito menos segurança no emprego.
"Quando a economia estava boa, os homens tinham apenas uma opção de vida: juntar-se a uma grande empresa depois de terem se graduado na faculdade, casar-se, comprar um carro e regularmente substituÃ-lo por um novo", diz Fukasawa. "Os homens de hoje simplesmente não podem mais viver aquele estereótipo vida feliz."
Yoto Hosho, que abandonou a faculdade dos 22 anos de idade, considera a si mesmo e a maioria dos seus amigos como Herbs, acredita que o termo descreve um grupo de homens que não desejam viver de acordo com as expectativas sociais tradicionais, em seus relacionamentos com as mulheres, seus empregos ou qualquer outra coisa. "Não nos importamos com o que as pessoas pensam sobre o jeito como vivemos", diz ele.
Muitos dos amigos Hosho gastam tanto tempo em jogos de computador, que preferem a companhia das cyber-mulheres do que das mulheres reais. E a Internet, diz ele, ajudou a tornar estilos de vida alternativos mais aceitáveis. Hosho acredita que a linha que divide os homens e mulheres da sua geração estão borradas. Ele aponta para a popularidade do "boy love" ou "Yaoi", um gênero de romances e mangás, escritos por mulheres sobre relacionamentos amorosos entre homens, que gerou sua própria linha de vÃdeos, jogos de computador, revistas e cafés onde as mulheres se vestem como homens.
Fukasawa afirma que, apesar alguns Herbs serem gays, muitos não são. Também não são metrossexuais. Ao invés disso, este comportamento reflete uma rejeição tanto à definição tradicional da masculinidade japonesa, quanto ao que ela chama de "comércio dos relacionamentos", onde os homens precisam ser machos e adquirir produtos para ganhar a afeição de uma mulher (como no Ocidente). Alguns conceitos, como ir a festas como um casal, nunca se encaixaram facilmente na cultura japonesa, completa. Outros conceitos nem sequer alcançam o idioma, como por exemplo, a expressão "primeiro as damas", que normalmente é dito no Japão em inglês. Durante a bolha econômica japonesa, "os japoneses tiveram que viver de acordo com os padrões ocidentais e padrões japoneses", diz Fukasawa. "Essa tendência seguiu o seu curso."
As mulheres japonesas não estão aceitando os Herbs com indiferença. Em resposta a essa moleza dos herbÃvoros, mulheres "carnÃvoras" tomaram as rédeas com as próprias próprias mãos e estão perseguindo os homens de forma mais agressiva. Também são conhecidas como "caçadoras", estas mulheres poderiam ser vistas como a versão japonesa das Lobas, no Brasil
Apesar de muitas mulheres japonesas discordarem, Fukasawa vê os Herbs como um desenvolvimento positivo para a sociedade japonesa. Ela observa que antes da II Guerra Mundial, herbÃvoros eram mais comuns: escritores como Osamu Dazai e Natsume Soseki teriam sido considerados Herbs. Mas durante o boom económico pós-guerra, os homens tornaram-se cada vez mais machões, cada vez mais ávidos por produtos que marcassem seu progresso econômico pessoal. Os jovens japoneses de hoje estão optando por ter menos o que provar.
Texto traduzido por mim.
Original em: http://www.slate.com/id/2220535
Japão entra em pânico com a ascensão dos "garotos come-grama", que evitam o sexo, não gastam dinheiro, e preferem fazer caminhadas.
Ryoma Igarashi gosta de dirigir longas distâncias pelas montanhas, tirando fotos de templos budistas e explorando bairros antigos. Ele acabou de começar jardinagem e cria ervas em um canteiro no apartamento. Até recemente, Igarashi, um japonês de 27 anos apresentador de televisão, seria considerado efeminado, até mesmo gay. Há muito tempo, espera-se que os japoneses vivam como personagens do seriado Mad Men, cantando as secretárias, bebendo com os amigos e ostentando relógios e carros.
Hoje, Igarashi tem uma nova identidade (e muita companhia de outros jovens), como um dos âsoushoku danshiâ - tradução literal de "garoto come-grama". Definidos assim por sua falta de de interesse sexual e preferência por uma vida mais quieta e menos competitiva, os japoneses âherbÃvorosâ estão provocando um debate nacional sobre como a estagnação econômica desde os anos 90 alterou o comportamento dos homens.
Jornais, revistas e TV têm se fixado nos herbÃvoros. âTeriam os homens se tornado fracos?â era o tema de um talk show recentemente. âHerbÃvoros não são tão ruinsâ, foi o tÃtulo de uma coluna no site japonês NB Online.
Nestes tempos de bromance e metrossexuais, por que toda essa confusão? A resposta curta: os "comedores de grama" são um problema alarmante porque estão no centro dos dois maiores desafios da sociedade japonesa: a baixa taxa de natalidade e o consumo anêmico. Os HerbÃvoros representam uma rebelião silenciosa contra muitos dos valores masculinos e materialistas associados à bolha econômica japonesa dos anos 1980.
A Shakers Media, uma empresa de consultoria subsidiária da Dentsu, a maior agência de publicidade do paÃs, estima que 60% dos homens em torno dos 20 anos, e pelo menos 42% dos homens com idade entre 23-34 consideram-se herbÃvoros. A Partner Agency, uma agência japonesa de encontros, descobriu em uma pesquisa que 61% dos homens solteiros na faixa dos 30 anos se identificaram como herbÃvoros. Dos 1.000 homens solteiros na faixa dos 20 e 30 anos ouvidos pela LifeNet, uma empresa de seguros de vida japonês, 75% se descreveram como comedores-de-grama.
As empresas japonesas estão preocupadas que os meninos herbÃvoros não são consumidores de status como seus pais o foram. Eles preferem arrumar a casa. Segundo pesquisa da Shakers Media, eles são mais propensos a passar o tempo sozinhos ou com amigos próximos, mais propensos a comprar coisas para decorar suas casas e pequenos luxos, ao invés de itens mais caros. Eles preferem passar as férias no próprio Japão, ao invés de se aventurar no exterior. Eles estão muitas vezes morando perto de suas mães e têm amigas mulheres, mas não tem pressa nenhuma para casar-se, de acordo com Maki Fukasawa, editor e colunista japonês que cunhou o termo "Herb" no NB on-line em 2006.
A fobia aos relacionamentos dos Herbs não é a única coisa que está preocupando as mulheres japonesas. Ao contrário de gerações anteriores de homens japoneses, eles preferem não dar o primeiro passo, gostam de dividir a conta e eles não são particularmente motivados por sexo. "Eu passei a noite na casa de um cara e nada aconteceu - nós apenas fomos dormir!" reclamou uma mulher em um programa de TV dedicado aos Herbs. "à como se estivesse faltando alguma coisa neles", disse Yoko Yatsu, uma dona de casa de 34 anos de idade em uma entrevista. "Se eles fossem normais, estariam mais interessados ââem mulheres. Eles tinham de querer, pelo menos, falar com mulheres."
Shigeru Sakai, da Shakers Media, sugere que os Herbs não procuram as mulheres porque eles se expressam muito mal. Ele atribui essa baixa capacidade de comunicação deles ao fato de que muitos cresceram sem irmãos em famÃlias onde ambos os pais trabalhavam. "Eles tinham TVs, aparelhos de som e videogames em seus quartos, então tornou-se comum para eles se fecharem em seus quartos ao chegar em casa e comunicar-se menos com as suas famÃlias, o que os deixou com baixa capacidade de comunicação", escreveu ele em um e-mail. O Japão jamais precisou tanto que seus homens fizessem sexo como agora. As baixas taxas de natalidade, combinadas com a falta de imigração, tem causado o encolhia população do paÃs a encolher a cada ano desde 2005.
Talvez os esforços do governo Japonês para tornar os ambientes de trabalho mais igualitários, tenham plantado as sementes para germinassem os comedores de grama, diz Fukasawa. Na esteira da Lei de Oportunidades Iguais de Emprego, de 1985, as mulheres assumiram uma maior responsabilidade no trabalho e o equilÃbrio de poder entre os sexos começou a mudar. Embora existam barreiras significativas à progressão na carreira para as mulheres, uma nova geração de executivas que poderiam trabalhar quase tão duro quanto seus colegas homens surgiu. A lascÃvia no ambiente de trabalho, que era socialmente aceitável, estigmatizou-se como Séku Hara, ou assédio sexual.
Mas foi o estouro da bolha econômica japonesa no inÃcio de 1990, juntamente com essa mudança no cenário social, que tornou insustentável o velho modelo de masculinidade japonesa. Antes da bolha, as empresas japonesas ofereciam empregos para a vida toda. Um empregado sabia exatamente o que viria no seu próximo contracheque, e isso os deixava mais confiantes para comprar um colar de diamantes ou um caro jantar francês para sua namorada. Agora, quase 40% dos trabalhadores japoneses estão em empregos avulsos com muito menos segurança no emprego.
"Quando a economia estava boa, os homens tinham apenas uma opção de vida: juntar-se a uma grande empresa depois de terem se graduado na faculdade, casar-se, comprar um carro e regularmente substituÃ-lo por um novo", diz Fukasawa. "Os homens de hoje simplesmente não podem mais viver aquele estereótipo vida feliz."
Yoto Hosho, que abandonou a faculdade dos 22 anos de idade, considera a si mesmo e a maioria dos seus amigos como Herbs, acredita que o termo descreve um grupo de homens que não desejam viver de acordo com as expectativas sociais tradicionais, em seus relacionamentos com as mulheres, seus empregos ou qualquer outra coisa. "Não nos importamos com o que as pessoas pensam sobre o jeito como vivemos", diz ele.
Muitos dos amigos Hosho gastam tanto tempo em jogos de computador, que preferem a companhia das cyber-mulheres do que das mulheres reais. E a Internet, diz ele, ajudou a tornar estilos de vida alternativos mais aceitáveis. Hosho acredita que a linha que divide os homens e mulheres da sua geração estão borradas. Ele aponta para a popularidade do "boy love" ou "Yaoi", um gênero de romances e mangás, escritos por mulheres sobre relacionamentos amorosos entre homens, que gerou sua própria linha de vÃdeos, jogos de computador, revistas e cafés onde as mulheres se vestem como homens.
Fukasawa afirma que, apesar alguns Herbs serem gays, muitos não são. Também não são metrossexuais. Ao invés disso, este comportamento reflete uma rejeição tanto à definição tradicional da masculinidade japonesa, quanto ao que ela chama de "comércio dos relacionamentos", onde os homens precisam ser machos e adquirir produtos para ganhar a afeição de uma mulher (como no Ocidente). Alguns conceitos, como ir a festas como um casal, nunca se encaixaram facilmente na cultura japonesa, completa. Outros conceitos nem sequer alcançam o idioma, como por exemplo, a expressão "primeiro as damas", que normalmente é dito no Japão em inglês. Durante a bolha econômica japonesa, "os japoneses tiveram que viver de acordo com os padrões ocidentais e padrões japoneses", diz Fukasawa. "Essa tendência seguiu o seu curso."
As mulheres japonesas não estão aceitando os Herbs com indiferença. Em resposta a essa moleza dos herbÃvoros, mulheres "carnÃvoras" tomaram as rédeas com as próprias próprias mãos e estão perseguindo os homens de forma mais agressiva. Também são conhecidas como "caçadoras", estas mulheres poderiam ser vistas como a versão japonesa das Lobas, no Brasil
Apesar de muitas mulheres japonesas discordarem, Fukasawa vê os Herbs como um desenvolvimento positivo para a sociedade japonesa. Ela observa que antes da II Guerra Mundial, herbÃvoros eram mais comuns: escritores como Osamu Dazai e Natsume Soseki teriam sido considerados Herbs. Mas durante o boom económico pós-guerra, os homens tornaram-se cada vez mais machões, cada vez mais ávidos por produtos que marcassem seu progresso econômico pessoal. Os jovens japoneses de hoje estão optando por ter menos o que provar.
Texto traduzido por mim.
Original em: http://www.slate.com/id/2220535