18-09-2013, 04:45 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 18-09-2013, 04:46 PM por Búfalo.)
Por SUZANNE DALEY e NICHOLAS KULISH
13 de Agosto de 2013
À primeira vista, Sonnenberg, no centro da Alemanha, com suas fileiras de casas construídas quando era um próspero polo de produção de brinquedos parece ser organizada e rica. Entretanto, Heiko Voigt, vice-prefeito da cidade, aponta para dezenas de casas vazias, que ele duvida que sejam vendidas algum dia.
À primeira vista, Sonnenberg, no centro da Alemanha, com suas fileiras de casas construídas quando era um próspero polo de produção de brinquedos parece ser organizada e rica. Entretanto, Heiko Voigt, vice-prefeito da cidade, aponta para dezenas de casas vazias, que ele duvida que sejam vendidas algum dia.
“Tentamos manter a boa aparência da cidade”, afirmou o vice-prefeito.
Talvez não haja nenhum local como o interior da Alemanha para se observar a queda drástica da natalidade na Europa nas últimas décadas, um problema que traz implicações sombrias para e economia do continente. Em algumas áreas, há terrenos baldios, janelas fechadas e temores em relação a sistemas de esgoto vazios demais para funcionar corretamente. A mão de obra envelhece a passos largos, e as linhas de montagem estão sendo repensadas para minimizar a necessidade de abaixar e levantar peso.
Em seu censo mais recente, a Alemanha descobriu que tinha perdido 1,5 milhão de habitantes. Até 2060, especialistas afirmam que o país pode encolher mais 19%, chegando a cerca de 66 milhões de habitantes.
Demógrafos afirmam que um futuro similar espera por outros países europeus, e a questão se torna mais complexa a cada dia, à medida que os problemas aparentemente intermináveis da economia europeia aceleram esse declínio. Porém, afetados por bancos falidos e orçamentos cada vez menores, poucos países têm condições de fazer algo a respeito.
Contudo, a Alemanha é uma ilha de prosperidade e está gastando muito dinheiro para encontrar formas de fugir das previsões assustadoras e tem as condições necessárias para mostrar o caminho para o restante do continente. Todavia, mesmo depois de gastar US$ 245 bilhões ao ano com subsídios para as famílias, até o momento a Alemanha só mostrou como a tarefa é difícil. Isso se deve em parte por que a solução reside na reconstrução de valores, costumes e atitudes em um país que tem dificuldades históricas para aceitar imigrantes e onde mães que trabalham ainda são chamadas de "mães-corvo", a versão negligente da "mãe-coruja".
Especialistas afirmam que, se a Alemanha deseja evitar a falta da mão de obra, terá de encontrar formas de manter os mais velhos em seus empregos, depois de décadas praticamente os forçando a se aposentarem, e terá de atrair imigrantes e fazê-los se sentirem bem vindos o bastante para que queiram viver no país. Além disso, mais mulheres precisam entrar no mercado de trabalho, sem deixar de ter mais filhos, uma mudança difícil para um país que sempre viu as donas de casa como heroínas.
Alguns especialistas temem que a Alemanha já tenha perdido o momento de lidar com o problema, mas outros acreditam que isso é um exagero. Em todo caso, essa questão recebe muita atenção na Alemanha neste momento.
Famílias grandes saíram de moda na antiga Alemanha Ocidental nos anos 1970, quando o país ia bem e as taxas de natalidade caíram para cerca de 1,4 filho por mulher e ficaram mais ou menos por aí: muito abaixo da média de 2,1 filhos necessários para manter estável a população de um país. Outras nações acompanharam essa tendência, embora não todas. Há um centro de fertilidade na Europa que vai da França à Inglaterra, passando pelos países escandinavos, algo que ocorre com a vinda de imigrantes e com uma série de serviços sociais de apoio a mulheres trabalhadoras.
Aumentar os níveis de fertilidade na Alemanha não é nada fácil. Os críticos afirmam que o país conseguiu muito pouco ao dar dinheiro para as famílias, em um sistema de benefícios e reduções de impostos, que incluem mesadas para crianças e donas de casa, além de reduções de impostos para casais.
Demógrafos afirmam que o investimento seria muito melhor se fosse dedicado a mulheres que tentam equilibrar a carreira e a casa, expandindo creches e programas de estudos após a escola. Eles afirmam que dados recentes mostram que o crescimento da fertilidade se torna mais provável com esse tipo de ação.
“Se você prestar atenção aos números, descobre que um aumento da igualdade de gênero corresponde a um aumento nas taxas de natalidade”, afirmou Reiner Klingholz, do Instituto Berlinense de População de Desenvolvimento.
Porém, desfazer anos de subsídios a famílias tradicionais é difícil. “Mexer nisso seria suicídio político”, disse Michaela Kreyenfeld, do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, em Rostock, Alemanha.
Enquanto isso, as mães que tentam trabalhar no país enfrentam obstáculos que desencorajam famílias numerosas. Embora a Alemanha tenha criado uma lei que garanta creches para todas as crianças com mais de um ano — comparada à lei anterior, que garantia creches apenas para as crianças maiores de três anos —, especialistas afirmam que ainda faltam locais com preço razoável. Além disso, muitas escolas fecham à tarde e há poucos programas extracurriculares.
Melanie Vogel, 39 anos, que vive em Bonn, descobriu que tentar mesclar trabalho e maternidade era uma experiência tão solitária, desanimadora e cara que decidiu ter apenas um filho. Nenhuma de suas amigas trabalhava em tempo integral e a sogra deixou claro que desaprovava a decisão, assim como os clientes da feira de profissões que coordena com o marido.
“Antes do meu filho nascer, eu era Melanie, uma mulher de negócios”, afirmou Vogel. “Mas desde que meu filho nasceu, eu me tornei apenas uma mãe.”
Muitas mães trabalhadoras acabam exercendo "miniprofissões" mal pagas — com jornadas de 17 horas semanais por pouco mais de US$ 600 ao mês. Mais de quatro milhões de trabalhadoras alemãs, ou cerca de um quarto da mão de obra nacional, tinham empregos desse tipo.
Outra forma de se adaptar ao declínio da população é levar os trabalhadores mais velhos a retardarem a aposentadoria. O governo alemão está aumentando a idade mínima para a aposentadoria no país, passando de 65 para 67 anos, e as empresas estão se adaptando rapidamente. A parcela de pessoas com idade entre 55 e 64 anos empregadas passou de 38,9%, em 2002, a 61,5%, em 2012.
A Volkswagen reprojetou as linhas de montagem para facilitar movimentos de abaixar e levantar que causavam estresse excessivo nos corpos dos funcionários. Há cerca de três anos, a empresa começou a utilizar assentos reclináveis que dão sustentação às costas até mesmo quando o trabalhador opera em locais de difícil acesso nos automóveis que estão montando, e a instalação de elementos pesados, como rodas, para-choques foi completamente automatizada.
Outras empresas oferecem horário flexível para atrair trabalhadores mais velhos. Hans Driescher, um físico formado na antiga Alemanha Oriental, tem 74 anos e ainda trabalhando no Centro Aeroespacial Alemão quase uma década depois de ter atingido a idade de aposentadoria compulsória. Ele começou trabalhando 55 horas por mês, mas agora reduziu para 24. Ele passa o verão em seu jardim e trabalha no resto do ano.
Com uma taxa de desemprego significativa em muitos países do sul e do leste europeu, a Alemanha tem boas chances de aumentar a fonte de trabalhadores ao buscar os melhores nos países vizinhos, algo que já está sendo feito.
Ainda assim, com centenas de vagas especializadas abertas, alguns executivos creem que a Alemanha deveria mudar as leis de imigração e aceitar credenciais estrangeiras para competir por trabalhadores com outros países cuja mão de obra está envelhecendo.
A experiência alemã com a integração de trabalhadores estrangeiros, especialmente com a ampla minoria turca do país, mostrou-se complicada e muitas autoridades do governo e líderes comerciais examinam a cultura alemã para fazer o que for necessário para que ela se torne mais hospitaleira.
No entanto, ainda não se sabe se eles serão bem-sucedidos. Um estudo recente revelou que mais da metade dos gregos e espanhóis que vieram para a Alemanha deixou o país em menos de um ano. Muitos recém-chegados são jovens, altamente qualificados e buscam oportunidades no mercado global. Porém, se tiverem oportunidade, muitos deles provavelmente voltarão para casa. A imigração em geral se tornou mais temporária e a movimentação entre os países europeus ficou especialmente fácil.
“Acredito que a resposta que buscamos está fora da Europa”, disse o Dr. Klingholz.
Chris Cottrell contribuiu reportando de Berlim.
Notícia original: http://www.nytimes.com/2013/08/14/world/...d=all&_r=0
13 de Agosto de 2013
À primeira vista, Sonnenberg, no centro da Alemanha, com suas fileiras de casas construídas quando era um próspero polo de produção de brinquedos parece ser organizada e rica. Entretanto, Heiko Voigt, vice-prefeito da cidade, aponta para dezenas de casas vazias, que ele duvida que sejam vendidas algum dia.
À primeira vista, Sonnenberg, no centro da Alemanha, com suas fileiras de casas construídas quando era um próspero polo de produção de brinquedos parece ser organizada e rica. Entretanto, Heiko Voigt, vice-prefeito da cidade, aponta para dezenas de casas vazias, que ele duvida que sejam vendidas algum dia.
“Tentamos manter a boa aparência da cidade”, afirmou o vice-prefeito.
Talvez não haja nenhum local como o interior da Alemanha para se observar a queda drástica da natalidade na Europa nas últimas décadas, um problema que traz implicações sombrias para e economia do continente. Em algumas áreas, há terrenos baldios, janelas fechadas e temores em relação a sistemas de esgoto vazios demais para funcionar corretamente. A mão de obra envelhece a passos largos, e as linhas de montagem estão sendo repensadas para minimizar a necessidade de abaixar e levantar peso.
Em seu censo mais recente, a Alemanha descobriu que tinha perdido 1,5 milhão de habitantes. Até 2060, especialistas afirmam que o país pode encolher mais 19%, chegando a cerca de 66 milhões de habitantes.
Demógrafos afirmam que um futuro similar espera por outros países europeus, e a questão se torna mais complexa a cada dia, à medida que os problemas aparentemente intermináveis da economia europeia aceleram esse declínio. Porém, afetados por bancos falidos e orçamentos cada vez menores, poucos países têm condições de fazer algo a respeito.
Contudo, a Alemanha é uma ilha de prosperidade e está gastando muito dinheiro para encontrar formas de fugir das previsões assustadoras e tem as condições necessárias para mostrar o caminho para o restante do continente. Todavia, mesmo depois de gastar US$ 245 bilhões ao ano com subsídios para as famílias, até o momento a Alemanha só mostrou como a tarefa é difícil. Isso se deve em parte por que a solução reside na reconstrução de valores, costumes e atitudes em um país que tem dificuldades históricas para aceitar imigrantes e onde mães que trabalham ainda são chamadas de "mães-corvo", a versão negligente da "mãe-coruja".
Especialistas afirmam que, se a Alemanha deseja evitar a falta da mão de obra, terá de encontrar formas de manter os mais velhos em seus empregos, depois de décadas praticamente os forçando a se aposentarem, e terá de atrair imigrantes e fazê-los se sentirem bem vindos o bastante para que queiram viver no país. Além disso, mais mulheres precisam entrar no mercado de trabalho, sem deixar de ter mais filhos, uma mudança difícil para um país que sempre viu as donas de casa como heroínas.
Alguns especialistas temem que a Alemanha já tenha perdido o momento de lidar com o problema, mas outros acreditam que isso é um exagero. Em todo caso, essa questão recebe muita atenção na Alemanha neste momento.
Famílias grandes saíram de moda na antiga Alemanha Ocidental nos anos 1970, quando o país ia bem e as taxas de natalidade caíram para cerca de 1,4 filho por mulher e ficaram mais ou menos por aí: muito abaixo da média de 2,1 filhos necessários para manter estável a população de um país. Outras nações acompanharam essa tendência, embora não todas. Há um centro de fertilidade na Europa que vai da França à Inglaterra, passando pelos países escandinavos, algo que ocorre com a vinda de imigrantes e com uma série de serviços sociais de apoio a mulheres trabalhadoras.
Aumentar os níveis de fertilidade na Alemanha não é nada fácil. Os críticos afirmam que o país conseguiu muito pouco ao dar dinheiro para as famílias, em um sistema de benefícios e reduções de impostos, que incluem mesadas para crianças e donas de casa, além de reduções de impostos para casais.
Demógrafos afirmam que o investimento seria muito melhor se fosse dedicado a mulheres que tentam equilibrar a carreira e a casa, expandindo creches e programas de estudos após a escola. Eles afirmam que dados recentes mostram que o crescimento da fertilidade se torna mais provável com esse tipo de ação.
“Se você prestar atenção aos números, descobre que um aumento da igualdade de gênero corresponde a um aumento nas taxas de natalidade”, afirmou Reiner Klingholz, do Instituto Berlinense de População de Desenvolvimento.
Porém, desfazer anos de subsídios a famílias tradicionais é difícil. “Mexer nisso seria suicídio político”, disse Michaela Kreyenfeld, do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, em Rostock, Alemanha.
Enquanto isso, as mães que tentam trabalhar no país enfrentam obstáculos que desencorajam famílias numerosas. Embora a Alemanha tenha criado uma lei que garanta creches para todas as crianças com mais de um ano — comparada à lei anterior, que garantia creches apenas para as crianças maiores de três anos —, especialistas afirmam que ainda faltam locais com preço razoável. Além disso, muitas escolas fecham à tarde e há poucos programas extracurriculares.
Melanie Vogel, 39 anos, que vive em Bonn, descobriu que tentar mesclar trabalho e maternidade era uma experiência tão solitária, desanimadora e cara que decidiu ter apenas um filho. Nenhuma de suas amigas trabalhava em tempo integral e a sogra deixou claro que desaprovava a decisão, assim como os clientes da feira de profissões que coordena com o marido.
“Antes do meu filho nascer, eu era Melanie, uma mulher de negócios”, afirmou Vogel. “Mas desde que meu filho nasceu, eu me tornei apenas uma mãe.”
Muitas mães trabalhadoras acabam exercendo "miniprofissões" mal pagas — com jornadas de 17 horas semanais por pouco mais de US$ 600 ao mês. Mais de quatro milhões de trabalhadoras alemãs, ou cerca de um quarto da mão de obra nacional, tinham empregos desse tipo.
Outra forma de se adaptar ao declínio da população é levar os trabalhadores mais velhos a retardarem a aposentadoria. O governo alemão está aumentando a idade mínima para a aposentadoria no país, passando de 65 para 67 anos, e as empresas estão se adaptando rapidamente. A parcela de pessoas com idade entre 55 e 64 anos empregadas passou de 38,9%, em 2002, a 61,5%, em 2012.
A Volkswagen reprojetou as linhas de montagem para facilitar movimentos de abaixar e levantar que causavam estresse excessivo nos corpos dos funcionários. Há cerca de três anos, a empresa começou a utilizar assentos reclináveis que dão sustentação às costas até mesmo quando o trabalhador opera em locais de difícil acesso nos automóveis que estão montando, e a instalação de elementos pesados, como rodas, para-choques foi completamente automatizada.
Outras empresas oferecem horário flexível para atrair trabalhadores mais velhos. Hans Driescher, um físico formado na antiga Alemanha Oriental, tem 74 anos e ainda trabalhando no Centro Aeroespacial Alemão quase uma década depois de ter atingido a idade de aposentadoria compulsória. Ele começou trabalhando 55 horas por mês, mas agora reduziu para 24. Ele passa o verão em seu jardim e trabalha no resto do ano.
Com uma taxa de desemprego significativa em muitos países do sul e do leste europeu, a Alemanha tem boas chances de aumentar a fonte de trabalhadores ao buscar os melhores nos países vizinhos, algo que já está sendo feito.
Ainda assim, com centenas de vagas especializadas abertas, alguns executivos creem que a Alemanha deveria mudar as leis de imigração e aceitar credenciais estrangeiras para competir por trabalhadores com outros países cuja mão de obra está envelhecendo.
A experiência alemã com a integração de trabalhadores estrangeiros, especialmente com a ampla minoria turca do país, mostrou-se complicada e muitas autoridades do governo e líderes comerciais examinam a cultura alemã para fazer o que for necessário para que ela se torne mais hospitaleira.
No entanto, ainda não se sabe se eles serão bem-sucedidos. Um estudo recente revelou que mais da metade dos gregos e espanhóis que vieram para a Alemanha deixou o país em menos de um ano. Muitos recém-chegados são jovens, altamente qualificados e buscam oportunidades no mercado global. Porém, se tiverem oportunidade, muitos deles provavelmente voltarão para casa. A imigração em geral se tornou mais temporária e a movimentação entre os países europeus ficou especialmente fácil.
“Acredito que a resposta que buscamos está fora da Europa”, disse o Dr. Klingholz.
Chris Cottrell contribuiu reportando de Berlim.
Notícia original: http://www.nytimes.com/2013/08/14/world/...d=all&_r=0