23-09-2020, 08:22 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 23-09-2020, 08:32 PM por Velho Gonçalves.)
A princípio, meu comentário pode soar deslocado do tópico. Mas, no cabo, fará sentido... Ressalto que vou tentar escrever com a mente aberta e em cima do muro... como se eu fosse um animal assistindo o comportamento do ser humano à distância, livre de qualquer tipo de viés político, religioso e cultural... E, ainda por cima, sem medo de ofender qualquer máxima já tida como verdadeira, obrigatória e correta. Vamos ao exercício...
Ultimamente, estou tendo um pensamento que, por questões de constrangimento, costumo compartilhar apenas com meus mais chegados: o de que estamos atravessando um relevante momento de mudanças nesse nosso atual formato de sociedade. Se olharmos ao passado, vamos conseguir perceber que todas as civilizações deixaram seus vestígios; porém, tais vestígios não prestam contas de que estas civilizações tiveram “conexão” saudável entre si. Ou seja: é como se todas elas tivessem tido início, meio e fim. E... um fim abrupto!
Não vale a pena voltar tanto, vamos pegar a partir da idade antiga (império Romano); com sua queda, veio a idade média. Em seguida, com a expansão da utilização de armas de fogo, chegamos à idade moderna e, por fim, com a disseminação da luz elétrica chegamos a atual idade contemporânea na qual vivemos. Ou seja, aqui resumimos, em 4 palavras, mais de dois mil anos de história – 4 períodos: 1 - idade antiga; 2 - idade média; 3 - idade moderna; e 4 - idade contemporânea. Cada uma dessas 4 idades é extremamente diferente uma da outra, correto? Concordam? Continuando... o que há no meio, então... entre cada uma delas? A composição deste elo não seria, por acaso, o declínio da civilização anterior, e o renascimento da próxima?
Então, eu me pego perguntando se não seria o caso de que todas essas atuais tendências de mudanças, e de revoluções, propagadas por todos os tipos e gêneros de pessoas... seriam na verdade início da febre que vai causar o término desta nossa idade histórica - a idade contemporânea? Como vimos, não houve remendo histórico – ou ponte conciliável – entre uma idade histórica e a próxima; foi como se um “facão” tivesse sido passado e fatiado o tempo em pedaços, sendo cada um muito diferente do outro, como já falei. (em um, temos armaduras; em outro, castelos; no seguinte, armas de fogo; neste atual, energia elétrica e internet... qual será, então, a grande novidade do próximo?)
Não há como fazer corte sem causar trauma. Consequentemente, o desmantelamento daquilo que uma vez chamamos de moral, e de bons costumes familiares, pode ser compreendido como sendo o sangue escorrendo da ferida que está se abrindo com a ruptura desta nossa atual idade histórica... ruptura esta que irá nos separar do próximo pedaço de bloco histórico, que será mais evoluído: assim como a idade antiga (romanos) está separada da idade medieval, que é mais evoluída que a anterior; ou não? Se por analogia nós somos os romanos, então, como será o aspecto dos medievais que logo mais virão? Ou não virão? Nós somos os últimos? A capacidade do homem – moral e intelectual - nessa atual idade histórica está no seu ápice? Eu acho que não... Assim como ela nunca esteve, em nenhuma outra idade histórica anterior à nossa.
Por que é natural do ser humano falar mal dos tempos atuais nos quais vive, em detrimento da suposta qualidade que havia nos tempos anteriores, cerca de 20 anos atrás, na vida dele? Ora, não é por acaso que todos estão reclamando que as músicas – por exemplo – da década de 90 eram melhores do que as atuais. Essa percepção, porém, cabe apenas aos olhos e ouvidos daqueles que, com idade madura, apreciaram as músicas dos anos 90. Então, ver uma nova geração contemplando músicas diferentes significa enterrar aquilo que nos fora bom em outrora... Ou seja, a nostalgia é, na verdade, o início dos espasmos de morte que acometem todos os indivíduos. Por que não existem jovens reclamando da saudade de tempos passados?
Eu percebo que a maioria das nossas reclamações se referem às alterações comportamentais da sociedade; onde o comportamento de outrora está sendo trocado por um novo, geralmente disseminado por jovens, tanto homens quanto mulheres. A minha preocupação seria tentar entender se essas mudanças se referem de fato à depreciação dos costumes verdadeiramente bons, que levam à evolução... Ou, se essas mudanças representam, na verdade, o curso natural da vida que veio guiando o homem até onde estamos hoje. Está difícil para eu por no papel o que estou pensando... Mas, vamos imaginar como era a vida nos castelos na idade média, e os perigos daquela época... Acredito que, naquele tempo, ocorreram também mudanças sociais relevantes em diversas frentes (familiares, políticas, sexuais, e etc...).
As pessoas daquela época, por acaso, também não se escandalizavam com as “novidades” culturais, e toda sorte de revoluções ideológicas que repentinamente surgiram? Eu acho que sim... Porém, no fim das contas, a vida hoje em dia não é infinitamente melhor, mais segura e mais confortável, do que a daquelas pessoas? Eu também acho que sim! (eu não diria mais feliz, esta é outra seara que não vale a pena ser abordada agora).
Por que será, então, que temos a tendência de questionar as mudanças que estão ocorrendo ao nosso redor? E, mais ainda, por que sempre temos essas mudanças como inapropriadas e depreciativas?
O homem é uma criatura jogada sobre o oceano negro da morte, afundando desde seu nascimento. Os costumes, as crenças, as religiões e “morais”, são a matéria – digamos assim – que mantem o homem flutuando na vida, ao invés de afundar na morte. Eu penso, consequentemente, que as alterações culturais e de costumes que ocorrem ao nosso redor, nos aflige muito porque tais mudanças representam o desmanche daquele “bote” que nos navegou até então. Todos já ouviram falar sobre a forma correta de se resgatar um homem que está se afogando... Para tanto, é necessário dar-lhe um soco, desmaiá-lo e somente então resgatá-lo... caso contrário, este homem desesperado afundaria o resgatador junto também.
Eu me pego questionando, às vezes, se as nossas reclamações sobre as atuais mudanças culturais e comportamentais dos seres humanos, ao nosso redor, não seriam equivalentes às braçadas de desespero de um homem se afogando. Vide a seguinte analogia:
1º A vida é difícil... extremamente difícil;
2º Então, para atravessá-la com tranquilidade, aprendemos costumes, culturas e comportamentos morais, os quais formam um pacote, o qual eu chamo de “Colete salva-vidas”, ou “pacote salva-vidas”, que nos mantém boiando seguros sobre a existência na terra;
3º Então, quando alguém propõem mudanças aos itens que compõem o nosso “pacote salva-vidas”, temos medo! Pois, isto significa que... por algum tempo, durante a “troca do pacote”, poderemos ficar à deriva no mar da vida... O nosso “pacote-salva-vidas” atual já fora testado por nós, inúmeras vezes... Será que o novo será bom o suficiente?
Para fechar o meu pensamento, eu quero poder raciocinar melhor em relação ao seguinte: a tendência unanime – pelo meu ponto de vista – é que 100% dos indivíduos, cujas vestes do “colete salva-vidas da existência” são compreendidas pelos costumes atuais (Morais, religiosos e culturais), irão rechaçar toda sorte de novos costumes que vão aparecer. Esta é minha teoria: daqui a 100 anos, os homens na casa dos 30 vão passar a reclamar dos costumes impostos pelos homens mais jovens, na casa dos 20... e assim suscetivelmente... sem fim. Porém, em contraste, a sociedade daqui a 100 anos não será, porventura, mais evoluída que esta atual? Eu acho que sim! Por que alguém acharia que não?
Como chego em tal conclusão? Chego olhando justamente as alterações que ocorreram em épocas passadas, e comparando tais épocas com a atual. Ora, a vida de qualquer cidadão de classe média e com acesso à internet, hoje em dia, é infinitamente melhor do que a vida de qualquer rei da idade média (sujeito à discussão). Por que a vida, no futuro, então, seria pior que a de hoje em dia?
Eu acho que a negação disto que estou propondo aqui só é viável se o negador comprovar que o nível intelectual e moral da idade contemporânea é o nível mais evoluído que o Homo sapiens sapiens pode atingir: ou seja, não resta mais nada de bom para o homem aprender, nem frentes ásperas de evoluções para serem lixadas e aprimoradas.
Continua...

![[+]](https://legadorealista.com/fdb/images/vienna//collapse_collapsed.png)

