05-05-2018, 07:28 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 06-05-2018, 10:09 AM por Smith.)
Só gostaria de ressaltar, antes que venham com conversa fiada pro meu lado, algo sobre minha história pessoal que já contei aqui algumas vezes, pra que possam entender certas coisas.
Eu nasci num buraco de cidade. Uma cidade de interiorzão, desses mais pro lado de roça, e tal, 16 mil hab. A casa que eu moro é herança da minha avó paterna, meu pai não comprou a casa. Meu pai teve problemas com alcoolismo, chegou a ser policial militar nos anos 60, mas largou tudo por causa da doença alcóolica, ficou batendo cabeça, morando em várias cidades, até que em 1974 voltou pra cá onde moro e conseguiu um emprego numa empresa estatal que atende aqui na cidade (os mais espertos vão saber que empresa é ). Como ele era concursado (na época era mais fácil entrar, mais vagas e menos concorrência), não poderia ser demitido, mesmo continuando doente no vício. Minha mãe é da capital, cresceu e trabalhou lá, chegou a noivar com um cara que foi assassinado por bandidos que o assaltaram, minha mãe ficou traumatizada com isso e pra esquecer esse acontecimento veio passar um tempo aqui pra melhorar as ideias. Daí ela e meu pai se conheceram.
Meu pai, ainda no submundo do álcool, insistiu pra ficar com ela, daí ela só aceitou ficar com ele se ele largasse a cachaça. Ele aceitou e entrou pro grupo dos Alcoólicos Anônimos. Permanece sóbrio até hoje, não bebe mais há quase 30 anos (esse é um exemplo de como uma mulher decente pode ajudar a vida de um homem, algo que gente como Búfalos e Padilhas jamais aceitarão). Então se casaram. Minha mãe ainda teve que assumir todos os filhos que meu pai teve em seu antigo casamento (5 filhos) pois a ex-mulher do meu pai não tinha condições de criar e sofria com a mesma doença, a diferença é que essa entorna a lata até hoje.
Minha mãe estudava nessa época, teve que largar os estudos. Era ela e meu pai pra criar 5 filhos (que não eram da minha mãe). Portanto minha mãe não podia trabalhar fora. Era meu pai pra dar conta de tudo. Dessa vez pelo menos as coisas começaram a andar, pois ele já tinha entrado no trilho depois de ter largado a cachaça.
Pra lascar ainda mais, eu nasci. No ano seguinte veio meu irmão. Éramos 7 filhos no total até então. Um homem pra sustentar essa PORRADA de gente mais a minha mãe que não podia sair pra trabalhar. Isso já era anos 90, meu pai já tava na casa dos 50 de idade, minha mãe era jovem ainda, 20 e poucos.
Minha infância foi boa, minha mãe lutou pra me dar tudo que eu e meu irmão mais novo poderíamos ter, claro que sob o orçamento do meu pai. Meu pai não gostava (e não gosta) de dar coisas que ele considera cara pros filhos, quem insistia pra conseguir era minha mãe. Meu pai teve algumas sequelas dos tempos de pinguço e ficou com as ideias meio fracas, não ligava pro desenvolvimento de nenhum dos filhos, pra ele só servíamos pra fazer favores pra ele, como se fôssemos mordomos ou empregados, não se importava se estávamos estudando, se iámos à escola, se tínhamos roupas pra vestir, ele só ia pro trabalho, voltava e ficava assistindo TV mandando a gente fazer as coisas pra ele. Eu tinha uns 5 anos nessa época e já daí que surgiu a minha característica pessoal que é a de não aceitar ordem dos outros, detesto que me dêem ordens, talvez por isso que vivem me dizendo pra trabalhar como autônomo, que eu tenho perfil pra isso e tal. Mas foi ao me incomodar com isso que já comecei a ter problemas com meu pai em relação a isso, afinal sou o único que não gosta muito de ficar me submetendo às ordens dele, DEIXANDO CLARO QUE COM MINHA MÃE JÁ É DIFERENTE. Como era ela quem cuidava mais de mim, me dava porrada quando eu fazia merda e essas coisas, eu tinha mais temor e mais respeito por ela, apesar que deveria respeitar meu pai à altura também, já que ele quem garantiu meu sustento. O foda é que minha mãe batalhava pra me cuidar, meu pai não tava nem aí, por isso que eu nunca consegui respeitá-lo da mesma forma. No dia que reprovei no colégio e teria que repetir o ano se não passasse na prova de recuperação minha mãe virou o cão chupando manga, meu pai nem ligou (estudei, fiz a prova e passei, evitando a reprovação).
No resumo, minha infância foi boa, tive brinquedos, mochilas de carrinho e lancheira térmica (era o top da época), tudo com dinheiro do meu pai, mas também porque minha mãe brigou pra que eu e meu irmão tivéssemos essas coisas. Aliás, meu primeiro videogame, um Super Nintendo, foi ganhado de presente em 1999. O chefe do meu pai deu o videogame que era do filho dele pra gente, no natal. Foi a partir dessa época que comecei a gostar MUITO de videogame, antes só conhecia aqueles de fliperama e nem ligava muito.
Meus meio-irmãos mais velhos sempre tiveram ressentimento por não terem tido essas coisas, devido a outro cenário no qual foram criados, sob os "cuidados" de outra mãe e até mesmo "outro" pai.
Os anos 2000 chegaram, meus irmãos mais velhos já estavam chegando à fase adulta, se casando, saindo de casa e indo morar em outros lugares, então as coisas começaram a desapertar pro meu pai. A economia do Brasil estava boa, começou a "era Lula" que na verdade foi a "era China" e meu pai teve condição de fazer várias reformas na nossa casa, comprou um PS1 pra gente (depois de muita insistência, apesar de tudo), porém MESMO ASSIM as velhas manias continuavam. Os filhos só serviam pra fazer favores, não iria dar nada se não insistíssemos, era concursado, ganhava bem, mas era mão fechada, tudo tinha que economizar, não podia gastar dinheiro com nada.
-Ué Smith, pelo que eu tô lendo seu pai na verdade é muito sábio, sabe poupar dinheiro, ao invés de esbanjar.
Mas não é isso. Se fosse, até tudo bem, eu estaria falando merda. Mas o problema é que ele era tão fissurado nesse negócio que acabava fazendo a famosa 'economia burra'. Se precisasse comprar alguma coisa, ele comprava do mais barato que tivesse, da pior qualidade, só pra não ter que pagar mais caro. Só que daí não durava muito e ele tinha que comprar de novo. Numa dessas reformas que ele mandou fazer em nossa casa, ele teve que comprar TRÊS portas de madeira pro mesmo vão, porque as duas primeiras que ele comprou eram vagabundas e deram defeito. Minha mãe meteu a real nele e ele colocou uma que presta que tá lá até hoje. Meu pai sempre foi assim. Sempre comprou do pior pra depois ter que comprar de novo e de novo, tendo a ilusão de que está economizando dinheiro com isso. Ainda vem outro defeito que eu xingo ele até hoje por isso e ele continua fazendo mas não aprende, não aceita que está errado, não acredita em mim (outro defeito dele, não confia no que os próprios filhos falam pra ele, prefere confiar em pessoas de fora da família) que é a de parcelar TUDO que ele compra no cartão de crédito. Se ele comprar uma BALA, quer parcelar. Ele faz compras no supermercado umas 3 ou 4 vezes no mesmo mês e mesmo assim quer parcelar todas as compras que faz. Na cabeça dele, ele está economizando ao fazer isso, mas vive reclamando que a fatura do cartão está vindo muito alta, que ele não vai ter dinheiro pra pagar, vive entrando no vermelho na conta bancária e tal.
Enquanto isso, minha mãe continuava e continua sendo dona de casa, sob o sustento dele.
Vivendo nesse cenário, comecei a desenvolver uma característica que tenho até hoje que é a de não gostar de pedir dinheiro ou pedir pra comprar nada. Já estava de saco cheio de precisar das coisas e meu pai sempre negar, sempre gerir mal o dinheiro e ficar apertado. Ele é aposentado hoje em dia, gastou todo o dinheiro da aposentadoria pagando festa de casamento pros meus dois meio-irmãos mais velhos e agora só recebe o salário normal de aposentado, e mesmo assim não consegue pagar as contas direito. Desse jeito, não dava, eu tinha que trabalhar.
Não pensava em faculdade, em curso, em nada. Só queria trabalhar pra não depender financeiramente mais do meu pai pra nada, não precisar pedir dinheiro a ele nem nada. Minha mãe não trabalhava fora, não poderia pedir pra ela também.
Aos 12 ou 13 anos de idade, não me lembro a idade exata, meu irmão mais novo começou a vender chup-chup na rua (que vocês conhecem como "sacolé", "geladinho", etc) e começou a vender pra caralho, pois era uma época festiva na cidade e tinha muita gente de outros lugares na rua e fazia muito calor. Me motivei a fazer o mesmo, minha mãe arrumou uma caixa de isopor pra mim, encheu de geladinhos e saí pra rua pra vender. Foi minha primeira experiência profissional. Pense na VERGONHA que senti ao fazer isso. Estava sem jeito, saí junto com meu irmão e estava sem coragem de sair de perto dele e andar pelo meu próprio rumo, fui vendo as pessoas que conhecia na rua, as menininhas vadias que gostava na época e morrendo de vergonha, meus colegas e conhecidos, todos fingindo que não me viam pois não queriam comprar nada, eu todo sem graça oferecendo o gelado pra eles e eles recusando, daí fui andando mais sozinho e tudo mais, conseguia vender alguns, pouca coisa, não era como meu irmão, que desenrolava fácil. Uma mulher chegou a comprar de mim, mas como eu não estava conseguindo vender nada, estava sem dinheiro trocado e não tinha como voltar o troco pra ela, acabei dando o geladinho de graça pra ela e disse que depois pegava o dinheiro trocado com ela (peguei porra nenhuma, nunca mais vi essa mulher, mas porque não procurei também). Num dado momento eu me sentia tão desconfortável que já estava voltando pra casa, meu pai e meu irmão mais velho me viram, fiquei sem graça e dei meia volta pra tentar vender de novo, esse meu irmão até me zoou depois por isso. No fim, eu continuei a não vender nada, acho que não lucrei nem 1 real e desisti. Sair vendendo na rua não era pra mim, eu sentia muita vergonha, ainda mais no meio de tanta gente que eu já conhecia. Acho que na época eu não aceitava que teria que ser mais humilde e reconhecer que eu não era ninguém e que não faria diferença. O ego e a soberba nos atrapalha muito nessas horas.
Em 2008, aos 16 anos veio a segunda oportunidade, meu irmão caçula trabalhava numa lan house (ele SEMPRE conseguia desenrolar melhor as coisas do que eu, pois a habilidade social dele sempre foi melhor que a minha), ganhava 20% do que vendesse no dia, se em um dia a lan house tivesse lucrado 100 reais, 20 eram dele, porém em dias que desse 10 reais, só pegava 2. Então ele foi juntando, juntando, juntando, e nessa época nós queríamos MUITO um Playstation 2, já estávamos cansados do velho PS1 e do Super Nintendo, jogávamos em um PC da Positivo que sei lá como meu pai comprou pra nós (se bem que era a época da alta das commodities também, o que facilitava a vida de todo mundo), daí meu irmão juntou, juntou e foi lá e comprou um PS2. Eu fiquei abismado. Vi que seria uma boa tentar entrar na lan house também. Conversei com meu irmão e ele pediu ao chefe dele que me chamasse pra trabalhar lá, o que foi rapidamente atendido, na outra semana eu já estava trabalhando lá. Lembrando que até então eu já era louco pra trabalhar, tinha alguns colegas e amigos da minha idade que já haviam arrumado seus empregos, uns trabalhavam em locadoras de videogame, outros ajudando em oficina de carro, outros em loja de produtos rurais e coisas assim. Tinha até quem trabalhasse de servente de pedreiro, isso com 15 anos mesmo. Eu era louco pra conseguir alguma dessas coisas, meu pai até pediu pra uma mulher lá me colocar de ajudante no cartório da qual ela era dona, apesar que ela cagou e andou pra gente e nunca me chamou. Eu queria ter dinheiro, mas não queria pedir ao meu pai, como sempre. Jogava futebol no time da cidade e nunca tive uma chuteira, meu pai nunca havia me dado uma, daí tinha que jogar com tênis mesmo, na grama. Uma vez um colega meu até me vendeu uma chuteira, por 10 reais, que MINHA MÃE tirou do bolso dela e pagou (como sempre, minha mãe apoiando que tivéssemos as coisas, ao contrário do meu velho).
Esse lance da chuteira é até engraçado, que eu sempre quis uma chuteira branca (que era o top da época, não existiam essas chuteiras multicor de hoje em dia) daí peguei essa chuteira que minha mãe havia comprado pra mim e pintei com o corretivo da escola. Óbvio que não deu certo e minha mãe me xingou por isso, afinal era ela quem comprava o material escolar que a gente usava no colégio.
Mas então, comecei a trabalhar na lan house, no começo era das 19hs às 00hs às sextas e sábados. Nessa época o Orkut e MSN estavam bombando, fora os joguinhos onlines que a turma da época era viciada, na minha cidade pouquíssima gente tinha internet em casa e a internet que tinha na cidade era ruim pra caramba ainda. Pra assistir vídeo no YouTube tinha que pausar o vídeo e esperar carregar pra depois assistir. Era uma época muito rudimentar nessa questão. Porém não era empecilho, já que era a única coisa que tínhamos, e nisso a lan house ficava L O T A D A de gente, era MUITA gente usando MSN, Orkut, jogo online, trabalho escolar, etc, etc o que significava mais dinheiro pra mim. No começo era foda porque eu não era acostumado a usar computador ainda e boiava na maioria das coisas, não sabia onde ficavam as teclas do teclado do PC, demorava pra digitar as coisas, os nomes dos clientes, etc, eu era muito cabaço na informática na época e mesmo assim trabalhava na área. Tinha uns moleques badernistas que eu tinha que botar pra correr, como tinha muita gente tinha muita bagunça também, e eu tinha que dar conta disso tudo.
Então comecei a juntar dinheiro pra comprar a minha tão desejada chuteira branca, achei uma da adidas na internet e resolvi que iria comprá-la, porém ainda não tinha dinheiro e estava juntando. Passei a trabalhar mais dias, trabalhava nas manhãs e noites de domingo também. Era sexta, sábado e domingo trabalhando. Dava uns 10, 12 reais por dia. Ou seja, iria demorar muito pra eu poder comprar a chuteira que na época valia R$150,00. A moça que trabalhava de dia quem fazia meu pagamento, conferia o estoque e o dinheiro arrecadado, muitas vezes uma coisa não batia com a outra, faltava dinheiro ou faltava produto no estoque (toddynho, doritos, essas coisas assim), e acabava sendo descontado no meu pagamento que já era pouco na época. Se eu pegasse 20 reais, só receberia uns 8, as vezes até nem pegava nada. Nessa parte, era por vacilo meu, eu ainda não tinha o senso de responsabilidade tão bem lapidado quanto tenho hoje e não registrava no sistema o que vendia, as vezes eu mesmo consumia os produtos e esquecia de pagar, de registrar, essas coisas assim. Aí acabei revoltado por não conseguir o dinheiro da chuteira e fiz algo da qual me arrependo até hoje de ter feito, como era eu quem fechava o estabelecimento, e era na zero hora, não havia ninguém no local, daí eu acabei abrindo a caixa onde guardam o dinheiro (dessas de supermercado) e peguei o dinheiro que haviam descontado do meu pagamento (acho que foi uns 20 reais). Com o passar dos dias desconfiaram de alguma coisa e trancaram essa caixa, só a funcionária do dia poderia abrí-la, nós que trabalhávamos a noites não (a lan house tinha uns 4 funcionários na época, 1 do dia e 3 da noite). Me arrependo dessa atitude, pois era questão de responsabilidade minha e não de "maldade" dos donos da lan house e coisa assim.
Finalmente comprei a chuteira. Fiquei todo pimpão com ela e pá. Vida que segue. O que ganhava depois era só pra comprar algum DVD pirata de PS2, algumas roupas, coisas assim. Nada que fosse muito caro, que não passasse de 100 reais, pois era difícil eu juntar isso num mês, ainda mais com os descontos no meu pagamento por incompetência minha (que na época não sabia reconhecer). Daí já passei a trabalhar todas as noites da semana, de domingo a domingo, pra mim não era ruim, trabalhar em lan house, apesar de ser pouco lucrativo era extremamente divertido, foi o melhor emprego que já tive, apesar de ter o pior pagamento. Só achava ruim não poder ir às festas e coisas que gente da minha idade na época gostava de fazer, mas era justo nas épocas de festas que eu ganhava mais dinheiro, então tava tranquilo. Cheguei a fazer uma cirurgia no fim do ano, e mesmo de atestado fui trabalhar, pois eu gostava do serviço.
No ano seguinte, 2009, comecei a estudar à noite e daí só podia trabalhar na lan house nos finais de semana. Como os descontos continuavam, minha chefe vivia me cobrando por isso, que eu estava pagando pra trabalhar e tal, enchi o saco e larguei o serviço. Foram 1 ano e 1 mês nesse trabalho. Hoje eu até gostaria de voltar a trabalhar lá, porém hoje em dia, com smartphones, todo mundo tem internet em casa, ninguém mais joga nada online, e tal, o sucesso que a lan house fazia morreu, hoje ela vive vazia, e só fica aberta em dias úteis das 08 às 18hs. Só daria pra voltar se fosse com salário, por comissão, como era na época, fica inviável. Minha chefe lamentou o fato de eu ter saído, gostava de mim. Chegou a me chamar de volta um ano depois, mas na época eu fui burro e não aceitei.
Depois de ter sido burro e não ter aceitado voltar pra lan house, foi passando o ano de 2010 e eu procurando serviço pra não depender do meu pai, já estava com 18 anos, já tinha terminado o ensino médio e precisava dar jeito na vida. Como esperado, meu pai já havia dito que não tinha condições de pagar faculdade pra mim e pro meu irmão. Agora, era por nossa conta. Eu não sabia o que queria fazer da vida, não sabia o que queria cursar, só queria arrumar algum emprego qualquer pra ganhar meu dinheiro mesmo. Porém, como disse lá no início do relato, eu moro num buraco de cidade, numa roça, e achar emprego aqui é muito difícil. No fim, acabei arrumando serviço num posto de gasolina, por meio salário, sem contrato, sem carteira assinada, sem porra nenhuma. Nem com uniforme eu trabalhava. Trabalhava no período da manhã e no finalzinho da tarde até à noite. Essa foi uma época terrível, o emprego era ruim, eu detestava trabalhar nesse posto, não entendia nada de carro (e ainda não entendo), não GOSTO de carros, não sou fã dessas coisas como a maioria das pessoas são, etc, era o único que trabalhava com roupa normal, sem uniforme, cabaço na área, e pra piorar estava passando um INFERNO com minha BM na época pelo motivo que contei no tópico "De frente com Barão" na entrevista que ele fez comigo. O inferno era tanto que eu cheguei a abandonar o serviço no meio do dia e ia embora pra casa ficar deitado, por causa do sofrimento e da depressão na qual estava. Acabei descobrindo a Real nesse interim, em novembro de 2010, depois de ter ficado com uma outra menina que estava me dando mole nessa época que eu peguei só por raiva da BM mesmo...
No meio desse mês de novembro, a dona do posto me dispensou, fiquei só um mês e meio e peguei meio salário + meio-meio salário, o que na época deu R$375,00, dinheiro que durou pra CARALHO, pois eu não gastava com nada, como dinheiro sempre foi dificuldade pra mim, nunca fui de ficar esbanjando.
Chegou 2011, continuei procurando emprego, já estava aqui no fórum, abriu um concurso pros Correios, eu fiz, sem estudar, sem nada. Foi o primeiro concurso que fiz na vida (e único, até hoje). Reprovei. Meu irmão mais novo, que já tinha o costume de estudar (e estudava MUITO mesmo, enquanto eu ficava perdendo tempo com minha BM, tsc...) também fez, passou e foi chamado.
Não preocupava em estudar, não tinha cabeça pra isso. Meu negócio era dinheiro, dinheiro, dinheiro. Sair da dependência do meu pai.
Mas como na minha cidade eu não conseguia nada, uns parentes conseguiram um emprego pra mim em uma outra cidade, no Vale do Aço, aqui em Minas. Era uma empresa que mexia com sistemas de segurança (dessas que mexem com câmera, alarme, cerca elétrica, etc). Foi daí que me mudei pela primeira vez, e comecei a morar sozinho, aos 19 anos de idade. Foi meu primeiro emprego de carteira assinada. Aí que eu comecei a crescer como gente e tomar as maldades da vida. A empresa que eu trabalhava era uma MERDA, o pagamento era pior ainda, mal conseguia pagar minhas contas, meu pai ainda ajudava com alguma coisa. O salário na época era 600 reais, com os descontos, caía pra uns 540, por aí. Não irei detalhar tanto essa fase de minha vida, pois já contei um pouco sobre ela no meu tópico "Diário de vida do Smith perdedor" onde detalhei como era essa empresa e o que eu passava lá. O Navarre, usuário aqui do fórum, vendo o que eu estava relatando, e sentindo pena por mim, me convidou a ir morar nos Estados Unidos e melhorar finalmente de vida, mas como eu não tinha dinheiro, nem conhecimento de nada e, principalmente, MEDO, recusei. Não é que recusei diretamente, só deixei pra lá. Aí acabei conhecendo um cara que entrou nessa empresa onde eu trabalhava que havia morado na Inglaterra e estava me contando como era morar lá, como as coisas eram melhores, baratas, etc. Eu fiquei mais puto ainda. Quando eu pensei em fazer amizade com ele pra ver se ele poderia me ajudar a ir pra algum desses lugares (já que havia perdido a oportunidade com o Navarre), acabei sendo demitido da empresa, no dia 01 de maio de 2012. Foram 9 meses de serviço.
Peguei o dinheiro da demissão e um colega meu me disse que se eu tirasse carteira de moto ele me chamaria pra ir trabalhar com ele em uma outra empresa de motoqueiro segurança. Voltei pra minha cidade natal (daí abri o tópico aqui no fórum chamado "Férias do Smith!!", onde eu relato algumas coisas que fiz nessa época), tirei a carteira, aprendi a andar de moto, e quando iria avisá-lo, um dos meus irmãos mais velho me convidou pra ir trabalhar com ele em Belo Horizonte.
Como eu sempre quis morar na capital, por questões pessoais, acabei optando por ir pra lá. Nunca mais entrei em contato com esse meu colega aí da moto. Daí quando me mudei pra lá, abri o tópico aqui no fórum entitulado "Um búfalo rural chegando na cidade grande" onde relatei como foi meu início lá. A empresa que me contratou era boa, muito boa mesmo, a melhor onde já trabalhei até hoje, porém o serviço era muito ruim, muito pesado, até hoje tenho sequelas e dores no corpo por causa do serviço que fazia lá. Meu salário foi aumentando rapidamente, a empresa por ser boa nos proporcionava crescimento dentro da mesma, tive algumas promoções, melhoras de salário, e tudo mais. A merda é que eu estava morando em capital, e morando no Brasil, ou seja, apesar de estar ganhando mais do que um salário mínimo, minha qualidade de vida não era grandes coisas, meu custo de vida era muito alto e passei por grandes dificuldades por causa disso antes do meu salário ter aumentado.
Foi aí, em 2013, que eu me toquei de que no Brasil não vale a pena ser empregado dos outros e queria abrir algum negócio próprio pra além de sair do serviço pesado, poder finalmente ter um dinheiro decente pra viver. Fiquei motivado com o famoso relato do John Reese no qual ele relatou como superou a pobreza na infância e se tornou empreendedor lucrativo na fase adulta, e foi aí que entrei em contato com ele pra ver se ele podia me ajudar em alguma coisa, mas como esse sujeito jamais foi homem na vida, acabou fazendo molecagem e deu no que todo mundo já sabe: é só um retardado ególatra querendo atenção.
O tempo foi passando, 2014 passou, sem grandes novidades, eu só trabalhava mesmo. Estava estável no emprego, comprando certas coisas, superando certas dificuldades. Trabalhava o dia todo, perdia tempo no trânsito infernal da capital e chegava tarde em casa muito cansado. Cansado de serviço e cansado do trânsito. Não sei qual dos dois cansava mais. Não tinha energia pra nada, e a pouca energia que me sobrava, saía pra rua pra comer mulher, ou ficava em casa jogando videogame ou assistindo seriado. Eram as poucas horas de lazer que eu tinha e como estava cansado e estressado, era só o que eu conseguia fazer pra desestressar. Nos fins de semana, eu saía pra comer mais e mais mulher. 2014 foi o ano em que fui mais mulherengo na vida, não é algo de se orgulhar, mas me rendeu MUITAS histórias pra contar. Desenvolvimento pessoal pra mim nessa época não existia, eu não tinha força pra estudar, sequer SONHAVA em fazer musculação já que trabalhava no pesado e vivia cansado, e só tinha cérebro pra lazer nos poucos momentos que tinha livre.
Chegou 2015 e eu enchi o saco dessa porra e comecei a estudar sobre empreendedorismo, o que poderia fazer pra ganhar algum dinheiro a mais, trabalhar por conta própria, etc, ainda mais com a crise no Brasil estourando pra tudo que era lado, e acabei conhecendo o trading esportivo, que divulguei aqui pra galera depois. Como não tinha dinheiro pra investir na época e estava guardando o que tinha pra ir ao Rock In Rio 2015 (aventura que tenho vontade de relatar aqui quando puder), deixei quieto. Pensei em vender as férias no ano seguinte pra poder fazer o investimento.
Veio 2016, e pra minha surpresa (e alívio) fui demitido. A crise chegou à empresa onde eu estava e não deu pra mim, fui cortado. Peguei um bom dinheiro, mas o suficiente apenas pra me manter alguns meses. Nem as férias que eu tava planejando vender consegui, recebi elas na demissão mesmo. Na mesma semana, fui chamado pra ir trabalhar numa vidraçariazinha perto do bairro onde eu morava, dava pra ir a pé. Mas o lugar era tão ruim pra trabalhar, tão avacalhado, e eu estava tão cansado de ficar nesses tipos de emprego, que fiquei um dia só e vazei. Aproveitei que tinha um dinheiro guardado, mais o seguro desemprego e fui descansar. Aí comecei no tal do trading esportivo, e divulguei aqui no fórum e zoando o John Reese ao mesmo tempo por isso. Comecei a ganhar um bom dinheiro, e tinha dinheiro pra me manter enquanto não vivia disso, tinha o objetivo de tirar uns 4 a 5 mil por mês nesse ramo, mas iria levar alguns anos pra isso, e daí eu percebi que era necessário conseguir outro emprego até lá, pois o seguro desemprego iria acabar logo e o resto do dinheiro usei pra comprar algumas coisas que me faltavam e ainda aproveitei pra finalmente acabar com minha calvície (favor ler meu tópico chamado "relato de um ex-careca"). Foi a oportunidade que tive de fazer essas coisas, então não poderia bobear.
O vacilo, e arrependimento de ter feito isso, é que eu ainda morava sozinho, na capital, e desempregado, ou seja, ainda tinha custos de vida. Teria sido mais sábio se eu tivesse voltado pra casa dos meus pais enquanto tinha dinheiro, assim que saí de onde trabalhava. Mas como eu apostei que as coisas dariam certo e que eu arrumaria outro emprego logo, persisti.
Quando meu dinheiro começou a dar sinais de esgotamento, meu seguro estava na última parcela, e eu começando a me preocupar, fui chamado por um amigo a trabalhar numa empresa na qual ele era encarregado de produção, me prometendo um contrato, sem CLT, me pagando R$1400,00. Era menos do que eu recebia no último emprego, porém seria o suficiente pra eu continuar vivendo na capital e mantendo meu custo de vida. Cheguei lá todo feliz, e quando achei que iria me dar bem, o dono da empresa me chamou no RH e me disse que eu iria trabalhar sob CLT mesmo pegando R$945,00 apenas. Seria terrível. Com esse salário, não poderia sequer arcar com minha sobrevivência na capital. Perguntei se ele aumentaria o salário depois do período de experiência, ele disse que sim, mas nos dias seguintes vi que era mentira, que não teria como ele fazer isso. A empresa que trabalhava era horrível, não tinha recurso de nada, não havia benefício de nada, trabalhávamos com instalação de vidros e alumínio, mas a empresa não nos estruturava pra isso, nos davam ferramentas usadas, em mau estado, furadeiras que não funcionavam direito, essas coisas, TODOS OS DIAS eu ouvia funcionário reclamar, que estava insatisfeito com salário, que o serviço era ruim, etc, aquilo foi só me desanimando, quando certo dia eu voltava de um serviço que fizemos em algum lugar onde não me lembro agora e, dentro do carro no meio do trânsito, o meu colega que dirigia o carro me questionou:
"Cara, na boa, o que você está fazendo aqui? Você é solteiro, não tem filho, tem seu pai ainda, tem sua mãe... Por que você não larga esse sofrimento aqui e vai morar com seus pais?"
Eu disse que era por questões de falta de emprego na minha cidade natal que me fizeram sair de casa... Mas a verdade é que sem estudo, sem qualificação, vivendo no Brasil, sob crise, não estava chegando a lugar algum. Como estava trabalhando nem tempo pro trading esportivo eu tinha mais, e não me dedicava direito, meu dinheiro investido não subia... Acabei percebendo a matrix na qual estava e comecei a refletir... Quando alguns dias mais tarde, olhei meu extrato bancário e vi que haviam me sobrado apenas 400 e poucos reais. Desesperei. Vi que não daria pra arcar com mais nada e que se continuasse na capital, iria entrar no vermelho. Teria que voltar pro interior. Pensei "se for pra ganhar um salário mínimo, que seja no interior então, onde o custo de vida é baixo". Expliquei a situação pro meu chefe, ele compreendeu, e pedi demissão pela primeira vez na vida. Peguei o dinheiro dos dias trabalhados, e pesquisei serviços de mudança, pois teria que levar meus móveis e pertences pro interior. Todo mundo pedindo 2 mil reais, 2500 reais, acabei achando um que cobrou 1500. Acabei tendo que retirar o dinheiro que estava investido no trading pra poder pagar a mudança. Então em novembro de 2016 eu voltei pra casa dos meus pais.
Precisando mais uma vez de emprego, em época de crise, ninguém consegue nada em lugar algum, em interiorzão pior ainda, minha cabeça burra ainda insistia em preocupar com dinheiro, ao invés de estudar pra algum concurso público, que talvez seja minha única saída pra mudar de vida, ano passado até cheguei a fazer um curso de atendente de farmácia que teve aqui na cidade, porém o curso foi fraquíssimo, acredito que a empresa que forneceu o curso é picareta e inventou o curso só pra ganhar dinheiro mesmo, pois a única coisa que fazíamos no curso é ouvir a professora lendo uma apostila que nos deram, coisa que poderíamos fazer em casa mesmo, e que mesmo assim não daria qualificação prática pra nada.
Passei a entender que a única saída seria concurso, já não tinha mais dinheiro nenhum, não comprava nada pra mim, não podia comprar nem um pacote de biscoito, até cheguei a me inscrever num concurso público que teve ano passado, mas quando comecei a estudar para o mesmo, fui chamado pra trabalhar na empresa onde trabalho atualmente.
Hoje meu salário ainda é uma merda, mas pelo menos não tenho mais custo de vida. O porém da coisa toda é que a empresa onde trabalho agora (um frigorífico), por se localizar em zona rural e por lidar com gente de lugar assim (gente muito simples, ingênua), acaba explorando, abusando muito, forçando-nos a trabalharmos além do horário, saio de casa de madrugada e volto à noite, não recebo as horas extras que sou obrigado a fazer todos os dias, o serviço é muito puxado e estressante, é praticamente uma escravidão. Como eles sabem que tá todo mundo sem opção hoje em dia, deitam e rolam e não podemos fazer nada. Estou a um triz de pedir demissão daquela bosta e ir estudar finalmente.
Vejo vocês ancaps aí que sonham com iniciativa privada dominando, mas esquecem que estão no Brasil, e portanto convivem com a cultura do Brasil. Como vêem pelo meu relato eu SEMPRE ME FODI trabalhando na área privada, a vida não é tão bela assim pra quem não tem qualificação e só trabalha normal, sem diplomas. Mas é um claro exemplo de como um diploma, um curso superior, uma qualificação ou uma boa indicação fazem falta. Não adianta só reduzir estado, e ir pra lojinha trabalhar achando que vai ser dar bem.
Como viram, meu problema foi sempre precisar de dinheiro, e nunca ter tido papai e mamãe pra bancar minha formação acadêmica, minha formação profissional. Os empregos nos quais me meti SEMPRE me tomaram o tempo de investir em outras coisas, de fazer alguma faculdade, etc, isso porque quando morava em cidade grande, o que ganhava só arcava com minha sobrevivência e agora que não preciso mais pagar pra sobreviver não tenho tempo pra fazer faculdade, além da minha cidade nem ter (o Spectro conhece minha cidade, ele sabe como é).
Tudo poderia ter sido menos difícil se meus pais tivessem nos criado em cidade grande, ou se meu pai quisesse investir nos filhos e coisa assim. Meu irmão mais novo só se salvou porque passou em concurso e hoje vive bem, todos meus outros irmãos se meteram em sub-empregos e estão assim até hoje, uma das minhas irmãs morreu (muita cachaça nas ideias), a outra não faz nada da vida, vive de bolsa-família, um dos meus irmãos está afastado do serviço por envolvimento com drogas e depressão e está tentando se aposentar (com apenas 38 anos de idade), eu e os outros dois estamos trabalhando em empreguinho limitado, a diferença é que eu sou o único que não tem cria pra sustentar e poderia largar essa vida.
E assim estou, revoltado com essas coisas, me toquei que se continuar nesse ritmo, no futuro estarei como o "Smith do futuro" aí disse. Daí lá na frente, quando estiver velho e cansado, sem porra nenhuma, sem nem uma bicicleta velha, vou falar aquela típica frase que todo velho pobre fala "aaah como eu gostaria de ter estudado quando era jovem..."
Foi por isso que abri esse tópico. Eu PRECISO mudar o caminho da minha vida e o único jeito que enxergo é esse. Se utilizar meu tempo livre pra futilidades e lazer, já era, será pobreza pro resto da vida. É por isso que a partir de hoje estou abdicando de várias coisas que fazia antes que travavam meu desenvolvimento pessoal. Estou quaaaase largando a merda do meu emprego, mas como eu disse, já deu uma briga do caralho aqui em casa. Eu não aguento depender do meu pai, mas também não aguento trabalhar igual burro pra não ter nada no fim das contas.
Merda, deu um livro essa porra.
FIM
Eu nasci num buraco de cidade. Uma cidade de interiorzão, desses mais pro lado de roça, e tal, 16 mil hab. A casa que eu moro é herança da minha avó paterna, meu pai não comprou a casa. Meu pai teve problemas com alcoolismo, chegou a ser policial militar nos anos 60, mas largou tudo por causa da doença alcóolica, ficou batendo cabeça, morando em várias cidades, até que em 1974 voltou pra cá onde moro e conseguiu um emprego numa empresa estatal que atende aqui na cidade (os mais espertos vão saber que empresa é ). Como ele era concursado (na época era mais fácil entrar, mais vagas e menos concorrência), não poderia ser demitido, mesmo continuando doente no vício. Minha mãe é da capital, cresceu e trabalhou lá, chegou a noivar com um cara que foi assassinado por bandidos que o assaltaram, minha mãe ficou traumatizada com isso e pra esquecer esse acontecimento veio passar um tempo aqui pra melhorar as ideias. Daí ela e meu pai se conheceram.
Meu pai, ainda no submundo do álcool, insistiu pra ficar com ela, daí ela só aceitou ficar com ele se ele largasse a cachaça. Ele aceitou e entrou pro grupo dos Alcoólicos Anônimos. Permanece sóbrio até hoje, não bebe mais há quase 30 anos (esse é um exemplo de como uma mulher decente pode ajudar a vida de um homem, algo que gente como Búfalos e Padilhas jamais aceitarão). Então se casaram. Minha mãe ainda teve que assumir todos os filhos que meu pai teve em seu antigo casamento (5 filhos) pois a ex-mulher do meu pai não tinha condições de criar e sofria com a mesma doença, a diferença é que essa entorna a lata até hoje.
Minha mãe estudava nessa época, teve que largar os estudos. Era ela e meu pai pra criar 5 filhos (que não eram da minha mãe). Portanto minha mãe não podia trabalhar fora. Era meu pai pra dar conta de tudo. Dessa vez pelo menos as coisas começaram a andar, pois ele já tinha entrado no trilho depois de ter largado a cachaça.
Pra lascar ainda mais, eu nasci. No ano seguinte veio meu irmão. Éramos 7 filhos no total até então. Um homem pra sustentar essa PORRADA de gente mais a minha mãe que não podia sair pra trabalhar. Isso já era anos 90, meu pai já tava na casa dos 50 de idade, minha mãe era jovem ainda, 20 e poucos.
Minha infância foi boa, minha mãe lutou pra me dar tudo que eu e meu irmão mais novo poderíamos ter, claro que sob o orçamento do meu pai. Meu pai não gostava (e não gosta) de dar coisas que ele considera cara pros filhos, quem insistia pra conseguir era minha mãe. Meu pai teve algumas sequelas dos tempos de pinguço e ficou com as ideias meio fracas, não ligava pro desenvolvimento de nenhum dos filhos, pra ele só servíamos pra fazer favores pra ele, como se fôssemos mordomos ou empregados, não se importava se estávamos estudando, se iámos à escola, se tínhamos roupas pra vestir, ele só ia pro trabalho, voltava e ficava assistindo TV mandando a gente fazer as coisas pra ele. Eu tinha uns 5 anos nessa época e já daí que surgiu a minha característica pessoal que é a de não aceitar ordem dos outros, detesto que me dêem ordens, talvez por isso que vivem me dizendo pra trabalhar como autônomo, que eu tenho perfil pra isso e tal. Mas foi ao me incomodar com isso que já comecei a ter problemas com meu pai em relação a isso, afinal sou o único que não gosta muito de ficar me submetendo às ordens dele, DEIXANDO CLARO QUE COM MINHA MÃE JÁ É DIFERENTE. Como era ela quem cuidava mais de mim, me dava porrada quando eu fazia merda e essas coisas, eu tinha mais temor e mais respeito por ela, apesar que deveria respeitar meu pai à altura também, já que ele quem garantiu meu sustento. O foda é que minha mãe batalhava pra me cuidar, meu pai não tava nem aí, por isso que eu nunca consegui respeitá-lo da mesma forma. No dia que reprovei no colégio e teria que repetir o ano se não passasse na prova de recuperação minha mãe virou o cão chupando manga, meu pai nem ligou (estudei, fiz a prova e passei, evitando a reprovação).
No resumo, minha infância foi boa, tive brinquedos, mochilas de carrinho e lancheira térmica (era o top da época), tudo com dinheiro do meu pai, mas também porque minha mãe brigou pra que eu e meu irmão tivéssemos essas coisas. Aliás, meu primeiro videogame, um Super Nintendo, foi ganhado de presente em 1999. O chefe do meu pai deu o videogame que era do filho dele pra gente, no natal. Foi a partir dessa época que comecei a gostar MUITO de videogame, antes só conhecia aqueles de fliperama e nem ligava muito.
Meus meio-irmãos mais velhos sempre tiveram ressentimento por não terem tido essas coisas, devido a outro cenário no qual foram criados, sob os "cuidados" de outra mãe e até mesmo "outro" pai.
Os anos 2000 chegaram, meus irmãos mais velhos já estavam chegando à fase adulta, se casando, saindo de casa e indo morar em outros lugares, então as coisas começaram a desapertar pro meu pai. A economia do Brasil estava boa, começou a "era Lula" que na verdade foi a "era China" e meu pai teve condição de fazer várias reformas na nossa casa, comprou um PS1 pra gente (depois de muita insistência, apesar de tudo), porém MESMO ASSIM as velhas manias continuavam. Os filhos só serviam pra fazer favores, não iria dar nada se não insistíssemos, era concursado, ganhava bem, mas era mão fechada, tudo tinha que economizar, não podia gastar dinheiro com nada.
-Ué Smith, pelo que eu tô lendo seu pai na verdade é muito sábio, sabe poupar dinheiro, ao invés de esbanjar.
Mas não é isso. Se fosse, até tudo bem, eu estaria falando merda. Mas o problema é que ele era tão fissurado nesse negócio que acabava fazendo a famosa 'economia burra'. Se precisasse comprar alguma coisa, ele comprava do mais barato que tivesse, da pior qualidade, só pra não ter que pagar mais caro. Só que daí não durava muito e ele tinha que comprar de novo. Numa dessas reformas que ele mandou fazer em nossa casa, ele teve que comprar TRÊS portas de madeira pro mesmo vão, porque as duas primeiras que ele comprou eram vagabundas e deram defeito. Minha mãe meteu a real nele e ele colocou uma que presta que tá lá até hoje. Meu pai sempre foi assim. Sempre comprou do pior pra depois ter que comprar de novo e de novo, tendo a ilusão de que está economizando dinheiro com isso. Ainda vem outro defeito que eu xingo ele até hoje por isso e ele continua fazendo mas não aprende, não aceita que está errado, não acredita em mim (outro defeito dele, não confia no que os próprios filhos falam pra ele, prefere confiar em pessoas de fora da família) que é a de parcelar TUDO que ele compra no cartão de crédito. Se ele comprar uma BALA, quer parcelar. Ele faz compras no supermercado umas 3 ou 4 vezes no mesmo mês e mesmo assim quer parcelar todas as compras que faz. Na cabeça dele, ele está economizando ao fazer isso, mas vive reclamando que a fatura do cartão está vindo muito alta, que ele não vai ter dinheiro pra pagar, vive entrando no vermelho na conta bancária e tal.
Enquanto isso, minha mãe continuava e continua sendo dona de casa, sob o sustento dele.
Vivendo nesse cenário, comecei a desenvolver uma característica que tenho até hoje que é a de não gostar de pedir dinheiro ou pedir pra comprar nada. Já estava de saco cheio de precisar das coisas e meu pai sempre negar, sempre gerir mal o dinheiro e ficar apertado. Ele é aposentado hoje em dia, gastou todo o dinheiro da aposentadoria pagando festa de casamento pros meus dois meio-irmãos mais velhos e agora só recebe o salário normal de aposentado, e mesmo assim não consegue pagar as contas direito. Desse jeito, não dava, eu tinha que trabalhar.
Não pensava em faculdade, em curso, em nada. Só queria trabalhar pra não depender financeiramente mais do meu pai pra nada, não precisar pedir dinheiro a ele nem nada. Minha mãe não trabalhava fora, não poderia pedir pra ela também.
Aos 12 ou 13 anos de idade, não me lembro a idade exata, meu irmão mais novo começou a vender chup-chup na rua (que vocês conhecem como "sacolé", "geladinho", etc) e começou a vender pra caralho, pois era uma época festiva na cidade e tinha muita gente de outros lugares na rua e fazia muito calor. Me motivei a fazer o mesmo, minha mãe arrumou uma caixa de isopor pra mim, encheu de geladinhos e saí pra rua pra vender. Foi minha primeira experiência profissional. Pense na VERGONHA que senti ao fazer isso. Estava sem jeito, saí junto com meu irmão e estava sem coragem de sair de perto dele e andar pelo meu próprio rumo, fui vendo as pessoas que conhecia na rua, as menininhas vadias que gostava na época e morrendo de vergonha, meus colegas e conhecidos, todos fingindo que não me viam pois não queriam comprar nada, eu todo sem graça oferecendo o gelado pra eles e eles recusando, daí fui andando mais sozinho e tudo mais, conseguia vender alguns, pouca coisa, não era como meu irmão, que desenrolava fácil. Uma mulher chegou a comprar de mim, mas como eu não estava conseguindo vender nada, estava sem dinheiro trocado e não tinha como voltar o troco pra ela, acabei dando o geladinho de graça pra ela e disse que depois pegava o dinheiro trocado com ela (peguei porra nenhuma, nunca mais vi essa mulher, mas porque não procurei também). Num dado momento eu me sentia tão desconfortável que já estava voltando pra casa, meu pai e meu irmão mais velho me viram, fiquei sem graça e dei meia volta pra tentar vender de novo, esse meu irmão até me zoou depois por isso. No fim, eu continuei a não vender nada, acho que não lucrei nem 1 real e desisti. Sair vendendo na rua não era pra mim, eu sentia muita vergonha, ainda mais no meio de tanta gente que eu já conhecia. Acho que na época eu não aceitava que teria que ser mais humilde e reconhecer que eu não era ninguém e que não faria diferença. O ego e a soberba nos atrapalha muito nessas horas.
Em 2008, aos 16 anos veio a segunda oportunidade, meu irmão caçula trabalhava numa lan house (ele SEMPRE conseguia desenrolar melhor as coisas do que eu, pois a habilidade social dele sempre foi melhor que a minha), ganhava 20% do que vendesse no dia, se em um dia a lan house tivesse lucrado 100 reais, 20 eram dele, porém em dias que desse 10 reais, só pegava 2. Então ele foi juntando, juntando, juntando, e nessa época nós queríamos MUITO um Playstation 2, já estávamos cansados do velho PS1 e do Super Nintendo, jogávamos em um PC da Positivo que sei lá como meu pai comprou pra nós (se bem que era a época da alta das commodities também, o que facilitava a vida de todo mundo), daí meu irmão juntou, juntou e foi lá e comprou um PS2. Eu fiquei abismado. Vi que seria uma boa tentar entrar na lan house também. Conversei com meu irmão e ele pediu ao chefe dele que me chamasse pra trabalhar lá, o que foi rapidamente atendido, na outra semana eu já estava trabalhando lá. Lembrando que até então eu já era louco pra trabalhar, tinha alguns colegas e amigos da minha idade que já haviam arrumado seus empregos, uns trabalhavam em locadoras de videogame, outros ajudando em oficina de carro, outros em loja de produtos rurais e coisas assim. Tinha até quem trabalhasse de servente de pedreiro, isso com 15 anos mesmo. Eu era louco pra conseguir alguma dessas coisas, meu pai até pediu pra uma mulher lá me colocar de ajudante no cartório da qual ela era dona, apesar que ela cagou e andou pra gente e nunca me chamou. Eu queria ter dinheiro, mas não queria pedir ao meu pai, como sempre. Jogava futebol no time da cidade e nunca tive uma chuteira, meu pai nunca havia me dado uma, daí tinha que jogar com tênis mesmo, na grama. Uma vez um colega meu até me vendeu uma chuteira, por 10 reais, que MINHA MÃE tirou do bolso dela e pagou (como sempre, minha mãe apoiando que tivéssemos as coisas, ao contrário do meu velho).
Esse lance da chuteira é até engraçado, que eu sempre quis uma chuteira branca (que era o top da época, não existiam essas chuteiras multicor de hoje em dia) daí peguei essa chuteira que minha mãe havia comprado pra mim e pintei com o corretivo da escola. Óbvio que não deu certo e minha mãe me xingou por isso, afinal era ela quem comprava o material escolar que a gente usava no colégio.
Mas então, comecei a trabalhar na lan house, no começo era das 19hs às 00hs às sextas e sábados. Nessa época o Orkut e MSN estavam bombando, fora os joguinhos onlines que a turma da época era viciada, na minha cidade pouquíssima gente tinha internet em casa e a internet que tinha na cidade era ruim pra caramba ainda. Pra assistir vídeo no YouTube tinha que pausar o vídeo e esperar carregar pra depois assistir. Era uma época muito rudimentar nessa questão. Porém não era empecilho, já que era a única coisa que tínhamos, e nisso a lan house ficava L O T A D A de gente, era MUITA gente usando MSN, Orkut, jogo online, trabalho escolar, etc, etc o que significava mais dinheiro pra mim. No começo era foda porque eu não era acostumado a usar computador ainda e boiava na maioria das coisas, não sabia onde ficavam as teclas do teclado do PC, demorava pra digitar as coisas, os nomes dos clientes, etc, eu era muito cabaço na informática na época e mesmo assim trabalhava na área. Tinha uns moleques badernistas que eu tinha que botar pra correr, como tinha muita gente tinha muita bagunça também, e eu tinha que dar conta disso tudo.
Então comecei a juntar dinheiro pra comprar a minha tão desejada chuteira branca, achei uma da adidas na internet e resolvi que iria comprá-la, porém ainda não tinha dinheiro e estava juntando. Passei a trabalhar mais dias, trabalhava nas manhãs e noites de domingo também. Era sexta, sábado e domingo trabalhando. Dava uns 10, 12 reais por dia. Ou seja, iria demorar muito pra eu poder comprar a chuteira que na época valia R$150,00. A moça que trabalhava de dia quem fazia meu pagamento, conferia o estoque e o dinheiro arrecadado, muitas vezes uma coisa não batia com a outra, faltava dinheiro ou faltava produto no estoque (toddynho, doritos, essas coisas assim), e acabava sendo descontado no meu pagamento que já era pouco na época. Se eu pegasse 20 reais, só receberia uns 8, as vezes até nem pegava nada. Nessa parte, era por vacilo meu, eu ainda não tinha o senso de responsabilidade tão bem lapidado quanto tenho hoje e não registrava no sistema o que vendia, as vezes eu mesmo consumia os produtos e esquecia de pagar, de registrar, essas coisas assim. Aí acabei revoltado por não conseguir o dinheiro da chuteira e fiz algo da qual me arrependo até hoje de ter feito, como era eu quem fechava o estabelecimento, e era na zero hora, não havia ninguém no local, daí eu acabei abrindo a caixa onde guardam o dinheiro (dessas de supermercado) e peguei o dinheiro que haviam descontado do meu pagamento (acho que foi uns 20 reais). Com o passar dos dias desconfiaram de alguma coisa e trancaram essa caixa, só a funcionária do dia poderia abrí-la, nós que trabalhávamos a noites não (a lan house tinha uns 4 funcionários na época, 1 do dia e 3 da noite). Me arrependo dessa atitude, pois era questão de responsabilidade minha e não de "maldade" dos donos da lan house e coisa assim.
Finalmente comprei a chuteira. Fiquei todo pimpão com ela e pá. Vida que segue. O que ganhava depois era só pra comprar algum DVD pirata de PS2, algumas roupas, coisas assim. Nada que fosse muito caro, que não passasse de 100 reais, pois era difícil eu juntar isso num mês, ainda mais com os descontos no meu pagamento por incompetência minha (que na época não sabia reconhecer). Daí já passei a trabalhar todas as noites da semana, de domingo a domingo, pra mim não era ruim, trabalhar em lan house, apesar de ser pouco lucrativo era extremamente divertido, foi o melhor emprego que já tive, apesar de ter o pior pagamento. Só achava ruim não poder ir às festas e coisas que gente da minha idade na época gostava de fazer, mas era justo nas épocas de festas que eu ganhava mais dinheiro, então tava tranquilo. Cheguei a fazer uma cirurgia no fim do ano, e mesmo de atestado fui trabalhar, pois eu gostava do serviço.
No ano seguinte, 2009, comecei a estudar à noite e daí só podia trabalhar na lan house nos finais de semana. Como os descontos continuavam, minha chefe vivia me cobrando por isso, que eu estava pagando pra trabalhar e tal, enchi o saco e larguei o serviço. Foram 1 ano e 1 mês nesse trabalho. Hoje eu até gostaria de voltar a trabalhar lá, porém hoje em dia, com smartphones, todo mundo tem internet em casa, ninguém mais joga nada online, e tal, o sucesso que a lan house fazia morreu, hoje ela vive vazia, e só fica aberta em dias úteis das 08 às 18hs. Só daria pra voltar se fosse com salário, por comissão, como era na época, fica inviável. Minha chefe lamentou o fato de eu ter saído, gostava de mim. Chegou a me chamar de volta um ano depois, mas na época eu fui burro e não aceitei.
Depois de ter sido burro e não ter aceitado voltar pra lan house, foi passando o ano de 2010 e eu procurando serviço pra não depender do meu pai, já estava com 18 anos, já tinha terminado o ensino médio e precisava dar jeito na vida. Como esperado, meu pai já havia dito que não tinha condições de pagar faculdade pra mim e pro meu irmão. Agora, era por nossa conta. Eu não sabia o que queria fazer da vida, não sabia o que queria cursar, só queria arrumar algum emprego qualquer pra ganhar meu dinheiro mesmo. Porém, como disse lá no início do relato, eu moro num buraco de cidade, numa roça, e achar emprego aqui é muito difícil. No fim, acabei arrumando serviço num posto de gasolina, por meio salário, sem contrato, sem carteira assinada, sem porra nenhuma. Nem com uniforme eu trabalhava. Trabalhava no período da manhã e no finalzinho da tarde até à noite. Essa foi uma época terrível, o emprego era ruim, eu detestava trabalhar nesse posto, não entendia nada de carro (e ainda não entendo), não GOSTO de carros, não sou fã dessas coisas como a maioria das pessoas são, etc, era o único que trabalhava com roupa normal, sem uniforme, cabaço na área, e pra piorar estava passando um INFERNO com minha BM na época pelo motivo que contei no tópico "De frente com Barão" na entrevista que ele fez comigo. O inferno era tanto que eu cheguei a abandonar o serviço no meio do dia e ia embora pra casa ficar deitado, por causa do sofrimento e da depressão na qual estava. Acabei descobrindo a Real nesse interim, em novembro de 2010, depois de ter ficado com uma outra menina que estava me dando mole nessa época que eu peguei só por raiva da BM mesmo...
No meio desse mês de novembro, a dona do posto me dispensou, fiquei só um mês e meio e peguei meio salário + meio-meio salário, o que na época deu R$375,00, dinheiro que durou pra CARALHO, pois eu não gastava com nada, como dinheiro sempre foi dificuldade pra mim, nunca fui de ficar esbanjando.
Chegou 2011, continuei procurando emprego, já estava aqui no fórum, abriu um concurso pros Correios, eu fiz, sem estudar, sem nada. Foi o primeiro concurso que fiz na vida (e único, até hoje). Reprovei. Meu irmão mais novo, que já tinha o costume de estudar (e estudava MUITO mesmo, enquanto eu ficava perdendo tempo com minha BM, tsc...) também fez, passou e foi chamado.
Não preocupava em estudar, não tinha cabeça pra isso. Meu negócio era dinheiro, dinheiro, dinheiro. Sair da dependência do meu pai.
Mas como na minha cidade eu não conseguia nada, uns parentes conseguiram um emprego pra mim em uma outra cidade, no Vale do Aço, aqui em Minas. Era uma empresa que mexia com sistemas de segurança (dessas que mexem com câmera, alarme, cerca elétrica, etc). Foi daí que me mudei pela primeira vez, e comecei a morar sozinho, aos 19 anos de idade. Foi meu primeiro emprego de carteira assinada. Aí que eu comecei a crescer como gente e tomar as maldades da vida. A empresa que eu trabalhava era uma MERDA, o pagamento era pior ainda, mal conseguia pagar minhas contas, meu pai ainda ajudava com alguma coisa. O salário na época era 600 reais, com os descontos, caía pra uns 540, por aí. Não irei detalhar tanto essa fase de minha vida, pois já contei um pouco sobre ela no meu tópico "Diário de vida do Smith perdedor" onde detalhei como era essa empresa e o que eu passava lá. O Navarre, usuário aqui do fórum, vendo o que eu estava relatando, e sentindo pena por mim, me convidou a ir morar nos Estados Unidos e melhorar finalmente de vida, mas como eu não tinha dinheiro, nem conhecimento de nada e, principalmente, MEDO, recusei. Não é que recusei diretamente, só deixei pra lá. Aí acabei conhecendo um cara que entrou nessa empresa onde eu trabalhava que havia morado na Inglaterra e estava me contando como era morar lá, como as coisas eram melhores, baratas, etc. Eu fiquei mais puto ainda. Quando eu pensei em fazer amizade com ele pra ver se ele poderia me ajudar a ir pra algum desses lugares (já que havia perdido a oportunidade com o Navarre), acabei sendo demitido da empresa, no dia 01 de maio de 2012. Foram 9 meses de serviço.
Peguei o dinheiro da demissão e um colega meu me disse que se eu tirasse carteira de moto ele me chamaria pra ir trabalhar com ele em uma outra empresa de motoqueiro segurança. Voltei pra minha cidade natal (daí abri o tópico aqui no fórum chamado "Férias do Smith!!", onde eu relato algumas coisas que fiz nessa época), tirei a carteira, aprendi a andar de moto, e quando iria avisá-lo, um dos meus irmãos mais velho me convidou pra ir trabalhar com ele em Belo Horizonte.
Como eu sempre quis morar na capital, por questões pessoais, acabei optando por ir pra lá. Nunca mais entrei em contato com esse meu colega aí da moto. Daí quando me mudei pra lá, abri o tópico aqui no fórum entitulado "Um búfalo rural chegando na cidade grande" onde relatei como foi meu início lá. A empresa que me contratou era boa, muito boa mesmo, a melhor onde já trabalhei até hoje, porém o serviço era muito ruim, muito pesado, até hoje tenho sequelas e dores no corpo por causa do serviço que fazia lá. Meu salário foi aumentando rapidamente, a empresa por ser boa nos proporcionava crescimento dentro da mesma, tive algumas promoções, melhoras de salário, e tudo mais. A merda é que eu estava morando em capital, e morando no Brasil, ou seja, apesar de estar ganhando mais do que um salário mínimo, minha qualidade de vida não era grandes coisas, meu custo de vida era muito alto e passei por grandes dificuldades por causa disso antes do meu salário ter aumentado.
Foi aí, em 2013, que eu me toquei de que no Brasil não vale a pena ser empregado dos outros e queria abrir algum negócio próprio pra além de sair do serviço pesado, poder finalmente ter um dinheiro decente pra viver. Fiquei motivado com o famoso relato do John Reese no qual ele relatou como superou a pobreza na infância e se tornou empreendedor lucrativo na fase adulta, e foi aí que entrei em contato com ele pra ver se ele podia me ajudar em alguma coisa, mas como esse sujeito jamais foi homem na vida, acabou fazendo molecagem e deu no que todo mundo já sabe: é só um retardado ególatra querendo atenção.
O tempo foi passando, 2014 passou, sem grandes novidades, eu só trabalhava mesmo. Estava estável no emprego, comprando certas coisas, superando certas dificuldades. Trabalhava o dia todo, perdia tempo no trânsito infernal da capital e chegava tarde em casa muito cansado. Cansado de serviço e cansado do trânsito. Não sei qual dos dois cansava mais. Não tinha energia pra nada, e a pouca energia que me sobrava, saía pra rua pra comer mulher, ou ficava em casa jogando videogame ou assistindo seriado. Eram as poucas horas de lazer que eu tinha e como estava cansado e estressado, era só o que eu conseguia fazer pra desestressar. Nos fins de semana, eu saía pra comer mais e mais mulher. 2014 foi o ano em que fui mais mulherengo na vida, não é algo de se orgulhar, mas me rendeu MUITAS histórias pra contar. Desenvolvimento pessoal pra mim nessa época não existia, eu não tinha força pra estudar, sequer SONHAVA em fazer musculação já que trabalhava no pesado e vivia cansado, e só tinha cérebro pra lazer nos poucos momentos que tinha livre.
Chegou 2015 e eu enchi o saco dessa porra e comecei a estudar sobre empreendedorismo, o que poderia fazer pra ganhar algum dinheiro a mais, trabalhar por conta própria, etc, ainda mais com a crise no Brasil estourando pra tudo que era lado, e acabei conhecendo o trading esportivo, que divulguei aqui pra galera depois. Como não tinha dinheiro pra investir na época e estava guardando o que tinha pra ir ao Rock In Rio 2015 (aventura que tenho vontade de relatar aqui quando puder), deixei quieto. Pensei em vender as férias no ano seguinte pra poder fazer o investimento.
Veio 2016, e pra minha surpresa (e alívio) fui demitido. A crise chegou à empresa onde eu estava e não deu pra mim, fui cortado. Peguei um bom dinheiro, mas o suficiente apenas pra me manter alguns meses. Nem as férias que eu tava planejando vender consegui, recebi elas na demissão mesmo. Na mesma semana, fui chamado pra ir trabalhar numa vidraçariazinha perto do bairro onde eu morava, dava pra ir a pé. Mas o lugar era tão ruim pra trabalhar, tão avacalhado, e eu estava tão cansado de ficar nesses tipos de emprego, que fiquei um dia só e vazei. Aproveitei que tinha um dinheiro guardado, mais o seguro desemprego e fui descansar. Aí comecei no tal do trading esportivo, e divulguei aqui no fórum e zoando o John Reese ao mesmo tempo por isso. Comecei a ganhar um bom dinheiro, e tinha dinheiro pra me manter enquanto não vivia disso, tinha o objetivo de tirar uns 4 a 5 mil por mês nesse ramo, mas iria levar alguns anos pra isso, e daí eu percebi que era necessário conseguir outro emprego até lá, pois o seguro desemprego iria acabar logo e o resto do dinheiro usei pra comprar algumas coisas que me faltavam e ainda aproveitei pra finalmente acabar com minha calvície (favor ler meu tópico chamado "relato de um ex-careca"). Foi a oportunidade que tive de fazer essas coisas, então não poderia bobear.
O vacilo, e arrependimento de ter feito isso, é que eu ainda morava sozinho, na capital, e desempregado, ou seja, ainda tinha custos de vida. Teria sido mais sábio se eu tivesse voltado pra casa dos meus pais enquanto tinha dinheiro, assim que saí de onde trabalhava. Mas como eu apostei que as coisas dariam certo e que eu arrumaria outro emprego logo, persisti.
Quando meu dinheiro começou a dar sinais de esgotamento, meu seguro estava na última parcela, e eu começando a me preocupar, fui chamado por um amigo a trabalhar numa empresa na qual ele era encarregado de produção, me prometendo um contrato, sem CLT, me pagando R$1400,00. Era menos do que eu recebia no último emprego, porém seria o suficiente pra eu continuar vivendo na capital e mantendo meu custo de vida. Cheguei lá todo feliz, e quando achei que iria me dar bem, o dono da empresa me chamou no RH e me disse que eu iria trabalhar sob CLT mesmo pegando R$945,00 apenas. Seria terrível. Com esse salário, não poderia sequer arcar com minha sobrevivência na capital. Perguntei se ele aumentaria o salário depois do período de experiência, ele disse que sim, mas nos dias seguintes vi que era mentira, que não teria como ele fazer isso. A empresa que trabalhava era horrível, não tinha recurso de nada, não havia benefício de nada, trabalhávamos com instalação de vidros e alumínio, mas a empresa não nos estruturava pra isso, nos davam ferramentas usadas, em mau estado, furadeiras que não funcionavam direito, essas coisas, TODOS OS DIAS eu ouvia funcionário reclamar, que estava insatisfeito com salário, que o serviço era ruim, etc, aquilo foi só me desanimando, quando certo dia eu voltava de um serviço que fizemos em algum lugar onde não me lembro agora e, dentro do carro no meio do trânsito, o meu colega que dirigia o carro me questionou:
"Cara, na boa, o que você está fazendo aqui? Você é solteiro, não tem filho, tem seu pai ainda, tem sua mãe... Por que você não larga esse sofrimento aqui e vai morar com seus pais?"
Eu disse que era por questões de falta de emprego na minha cidade natal que me fizeram sair de casa... Mas a verdade é que sem estudo, sem qualificação, vivendo no Brasil, sob crise, não estava chegando a lugar algum. Como estava trabalhando nem tempo pro trading esportivo eu tinha mais, e não me dedicava direito, meu dinheiro investido não subia... Acabei percebendo a matrix na qual estava e comecei a refletir... Quando alguns dias mais tarde, olhei meu extrato bancário e vi que haviam me sobrado apenas 400 e poucos reais. Desesperei. Vi que não daria pra arcar com mais nada e que se continuasse na capital, iria entrar no vermelho. Teria que voltar pro interior. Pensei "se for pra ganhar um salário mínimo, que seja no interior então, onde o custo de vida é baixo". Expliquei a situação pro meu chefe, ele compreendeu, e pedi demissão pela primeira vez na vida. Peguei o dinheiro dos dias trabalhados, e pesquisei serviços de mudança, pois teria que levar meus móveis e pertences pro interior. Todo mundo pedindo 2 mil reais, 2500 reais, acabei achando um que cobrou 1500. Acabei tendo que retirar o dinheiro que estava investido no trading pra poder pagar a mudança. Então em novembro de 2016 eu voltei pra casa dos meus pais.
Precisando mais uma vez de emprego, em época de crise, ninguém consegue nada em lugar algum, em interiorzão pior ainda, minha cabeça burra ainda insistia em preocupar com dinheiro, ao invés de estudar pra algum concurso público, que talvez seja minha única saída pra mudar de vida, ano passado até cheguei a fazer um curso de atendente de farmácia que teve aqui na cidade, porém o curso foi fraquíssimo, acredito que a empresa que forneceu o curso é picareta e inventou o curso só pra ganhar dinheiro mesmo, pois a única coisa que fazíamos no curso é ouvir a professora lendo uma apostila que nos deram, coisa que poderíamos fazer em casa mesmo, e que mesmo assim não daria qualificação prática pra nada.
Passei a entender que a única saída seria concurso, já não tinha mais dinheiro nenhum, não comprava nada pra mim, não podia comprar nem um pacote de biscoito, até cheguei a me inscrever num concurso público que teve ano passado, mas quando comecei a estudar para o mesmo, fui chamado pra trabalhar na empresa onde trabalho atualmente.
Hoje meu salário ainda é uma merda, mas pelo menos não tenho mais custo de vida. O porém da coisa toda é que a empresa onde trabalho agora (um frigorífico), por se localizar em zona rural e por lidar com gente de lugar assim (gente muito simples, ingênua), acaba explorando, abusando muito, forçando-nos a trabalharmos além do horário, saio de casa de madrugada e volto à noite, não recebo as horas extras que sou obrigado a fazer todos os dias, o serviço é muito puxado e estressante, é praticamente uma escravidão. Como eles sabem que tá todo mundo sem opção hoje em dia, deitam e rolam e não podemos fazer nada. Estou a um triz de pedir demissão daquela bosta e ir estudar finalmente.
Vejo vocês ancaps aí que sonham com iniciativa privada dominando, mas esquecem que estão no Brasil, e portanto convivem com a cultura do Brasil. Como vêem pelo meu relato eu SEMPRE ME FODI trabalhando na área privada, a vida não é tão bela assim pra quem não tem qualificação e só trabalha normal, sem diplomas. Mas é um claro exemplo de como um diploma, um curso superior, uma qualificação ou uma boa indicação fazem falta. Não adianta só reduzir estado, e ir pra lojinha trabalhar achando que vai ser dar bem.
Como viram, meu problema foi sempre precisar de dinheiro, e nunca ter tido papai e mamãe pra bancar minha formação acadêmica, minha formação profissional. Os empregos nos quais me meti SEMPRE me tomaram o tempo de investir em outras coisas, de fazer alguma faculdade, etc, isso porque quando morava em cidade grande, o que ganhava só arcava com minha sobrevivência e agora que não preciso mais pagar pra sobreviver não tenho tempo pra fazer faculdade, além da minha cidade nem ter (o Spectro conhece minha cidade, ele sabe como é).
Tudo poderia ter sido menos difícil se meus pais tivessem nos criado em cidade grande, ou se meu pai quisesse investir nos filhos e coisa assim. Meu irmão mais novo só se salvou porque passou em concurso e hoje vive bem, todos meus outros irmãos se meteram em sub-empregos e estão assim até hoje, uma das minhas irmãs morreu (muita cachaça nas ideias), a outra não faz nada da vida, vive de bolsa-família, um dos meus irmãos está afastado do serviço por envolvimento com drogas e depressão e está tentando se aposentar (com apenas 38 anos de idade), eu e os outros dois estamos trabalhando em empreguinho limitado, a diferença é que eu sou o único que não tem cria pra sustentar e poderia largar essa vida.
E assim estou, revoltado com essas coisas, me toquei que se continuar nesse ritmo, no futuro estarei como o "Smith do futuro" aí disse. Daí lá na frente, quando estiver velho e cansado, sem porra nenhuma, sem nem uma bicicleta velha, vou falar aquela típica frase que todo velho pobre fala "aaah como eu gostaria de ter estudado quando era jovem..."
Foi por isso que abri esse tópico. Eu PRECISO mudar o caminho da minha vida e o único jeito que enxergo é esse. Se utilizar meu tempo livre pra futilidades e lazer, já era, será pobreza pro resto da vida. É por isso que a partir de hoje estou abdicando de várias coisas que fazia antes que travavam meu desenvolvimento pessoal. Estou quaaaase largando a merda do meu emprego, mas como eu disse, já deu uma briga do caralho aqui em casa. Eu não aguento depender do meu pai, mas também não aguento trabalhar igual burro pra não ter nada no fim das contas.
Merda, deu um livro essa porra.
FIM