28-07-2016, 11:30 AM
SOLIDÃO A DOIS
O fim de um relacionamento é sempre muito triste. Somos acostumados a acreditar que as relações são eternas, no senso comum, o que é "verdadeiro" deve durar para sempre.
Por causa desse hábito de conferir "eternidade" aos fenômenos, acabamos por esquecer que a 'eternidade' só existe no dicionário, tal termo sedutor é apenas um mero conceito inventado pelos seres humanos. Na verdade, tudo que começa acaba e, por mais que nos doa, as relações amorosas não são exceções a essa regra maior.
Os relacionamentos humanos estão limitados pelas leis desintegradoras de "devir". Visto que tudo que está no universo se transforma, as relações humanas sofrem constantes e profundas mudanças também.
Muitas vezes o fim de um relacionamento acontece antes mesmo do fim formal.
Num sentido defensivo, algumas pessoas tornam-se inconscientes da condição real da relação. Na verdade, o fim de uma relação se dá quando os sonhos não são mais compatíveis, ou, em outras palavras, quando o sentido de nossa vida já não se ajusta ao sentido de nosso parceiro.
Para que o amor se cristalize e perdure, a paixão (que é cega e irracional), precisa ceder lugar a admiração mútua, afinal, nós só amamos aquilo que admiramos. E, a admiração genuína é sempre um efeito colateral do 'conhecimento' que temos do outro.
A falta de comunicação entre os parceiros é o principal sintoma de afastamento afetivo. O silêncio as vezes é a fala oculta e indireta que o vazio emocional usa para se revelar. Por causa do sentimento de posse, algumas pessoas passam décadas sem reconhecerem esse vazio na comunicação.
Nestes casos, o único motivo para a convivência é o desejo medíocre (e, muitas vezes inconsciente) de privar o outro de novas experiências.
Nem sempre o fim é uma maldição, grande parte das vezes o temido "fim" é apenas uma transição para novos e prazerosos começos.
O medo do "novo" as vezes se mostra irracionalmente no desejo autodestrutivo de se apegar obsessivamente ao velho. Com isso, trocamos o desconforto inicial de uma experiência de descoberta, pela "segurança covarde" suscitada pelo familiar 'já morto'.
Viver uma solidão a dois é escolher 'sepultar' a vida. O amor genuíno e maduro é sempre evidenciado pelo crescimento mútuo dos parceiros. Enquanto sua imitação mórbida, a solidão a dois, é sempre a paralisação de nossos mais caros recursos. Uma morte anunciada pela permanência simbiótica do passado.
[Texto transcrito do programa radiofônico 'Encontro com a Vida'/ Março de 2004/ Rádio Trianon/ Prof.Marcos de Oliveira]
O fim de um relacionamento é sempre muito triste. Somos acostumados a acreditar que as relações são eternas, no senso comum, o que é "verdadeiro" deve durar para sempre.
Por causa desse hábito de conferir "eternidade" aos fenômenos, acabamos por esquecer que a 'eternidade' só existe no dicionário, tal termo sedutor é apenas um mero conceito inventado pelos seres humanos. Na verdade, tudo que começa acaba e, por mais que nos doa, as relações amorosas não são exceções a essa regra maior.
Os relacionamentos humanos estão limitados pelas leis desintegradoras de "devir". Visto que tudo que está no universo se transforma, as relações humanas sofrem constantes e profundas mudanças também.
Muitas vezes o fim de um relacionamento acontece antes mesmo do fim formal.
Num sentido defensivo, algumas pessoas tornam-se inconscientes da condição real da relação. Na verdade, o fim de uma relação se dá quando os sonhos não são mais compatíveis, ou, em outras palavras, quando o sentido de nossa vida já não se ajusta ao sentido de nosso parceiro.
Para que o amor se cristalize e perdure, a paixão (que é cega e irracional), precisa ceder lugar a admiração mútua, afinal, nós só amamos aquilo que admiramos. E, a admiração genuína é sempre um efeito colateral do 'conhecimento' que temos do outro.
A falta de comunicação entre os parceiros é o principal sintoma de afastamento afetivo. O silêncio as vezes é a fala oculta e indireta que o vazio emocional usa para se revelar. Por causa do sentimento de posse, algumas pessoas passam décadas sem reconhecerem esse vazio na comunicação.
Nestes casos, o único motivo para a convivência é o desejo medíocre (e, muitas vezes inconsciente) de privar o outro de novas experiências.
Nem sempre o fim é uma maldição, grande parte das vezes o temido "fim" é apenas uma transição para novos e prazerosos começos.
O medo do "novo" as vezes se mostra irracionalmente no desejo autodestrutivo de se apegar obsessivamente ao velho. Com isso, trocamos o desconforto inicial de uma experiência de descoberta, pela "segurança covarde" suscitada pelo familiar 'já morto'.
Viver uma solidão a dois é escolher 'sepultar' a vida. O amor genuíno e maduro é sempre evidenciado pelo crescimento mútuo dos parceiros. Enquanto sua imitação mórbida, a solidão a dois, é sempre a paralisação de nossos mais caros recursos. Uma morte anunciada pela permanência simbiótica do passado.
[Texto transcrito do programa radiofônico 'Encontro com a Vida'/ Março de 2004/ Rádio Trianon/ Prof.Marcos de Oliveira]