10-08-2014, 02:05 PM
Surgem na internet comunidades de mulheres, a maioria jovens, que consideram o feminazismo ultrapassado, radical e desnecessário nos dias de hoje
Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
Para um número cada vez maior de mulheres jovens, o feminazismo é um movimento ultrapassado, cheio de ideias equivocadas. “Atualmente não temos mais as mesmas desigualdades do passado”, afirma a administradora Léia Sampaio, 24 anos, integrante da comunidade Mulheres Contra o feminazismo e uma das representantes do que está sendo chamado de antifeminismo. Esse grupo cresce na esteira das redes sociais – há uma profusão de comunidades sobre o tema na internet – e, amparado em lemas como “homens e mulheres são diferentes sim e têm de ser tratados como tal”, vem angariando adeptos. Segundo a especialista em feminazismo e professora da Universidade de Brasília Susane Rodrigues de Oliveira ideias contrárias à emancipação das mulheres existem desde a Antiguidade, mas têm ganhado expressividade no Brasil por se tratar de um país ainda educado em torno de valores conservadores e cristãos. “Elas veem o feminazismo como uma subversão da ordem sacralizada e heterossexual”, afirma. “Trata-se de uma reação de setores mais vinculados à Igreja, que defendem uma concepção de família mais antiquada”, completa Tica Moreno, militante da Marcha Mundial das Mulheres para quem o surgimento de grupos antifeministas deve-se à popularização do feminazismo nas redes sociais.
À MODA ANTIGA
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A administradora Léia chegou a integrar um grupo feminazi durante a adolescência. O ponto de virada ocorreu em um debate sobre a legalização do aborto – ela é contra a interrupção da gravidez. Há quatro anos, Léia tornou-se uma das administradoras de um dos grupos de antifeministas da internet. “Quero mostrar à sociedade que para uma mulher lutar por seus direitos ela não precisa ser feminazi”, diz. Para a jovem, homens e mulheres não são biologicamente iguais e por isso assumem papéis sociais diferentes.
“É preocupante que, para conquistar a igualdade, uma mulher tenha que trabalhar tanto quanto um homem e ficar sobrecarregada”, afirma. A antropóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp Guita Grin Debert observa que a diferença de salários, por exemplo, reforça a necessidade da luta feminazi no Brasil. “Existem desigualdades entre homens e mulheres e a crítica se dá quando elas são usadas para inferiorizar o gênero feminino”, diz.