UM CUBO É SÓ UM CUBO?

[Monarca]

Aquele que contempla a Realidade assume a incapacidade de vivê-la, porque vendo-a, não consegue enxergá-la; e, por ver um cubo sempre como um cubo, admite ser impossível passá-lo por um buraco cujo diâmetro é igual a sua aresta. Incapaz de enxergar o cilindro existente dentro dele, se vê sem respostas, e busca soluções no impraticável, vivendo uma verdade teórica, que serve de anestesia ao tormento causado por suas próprias dúvidas. Vendo, não enxerga; escutando, não ouve e nem compreende. E passa a viver explicando coisas simples através de explicações complexas, por complexar o que na verdade é simples. E, como se estivesse andando sobre uma circunferência, contempla cada um dos infinitos pontos pelo qual passa, sem notar que já havia passado por eles, e que, no começo do trajeto, já havia chegado ao final.

[Gilgamesh]

Isso seria a recusa em aprender com o já vivido, a incapacidade de aprender com os erros vividos ou presenciados?A falta de memória evolutiva? Uma rosa é uma rosa é uma rosa ?

[Czar]

Interessante.

Poderia explanar mais sobre o assunto?

[Monarca]

Estou sem tempo agora, mas a metáfora é uma alusão ao fato de sermos seres muito mais propícios à contemplação da realidade, do que a vivência (ou a inserção) nela. O cubo é o que contemplamos, é o que vemos. Ele está na realidade. Porém, toda a dimensão do cubo - a sua superfície, o seu interior - é a própria realidade. Daí que ver o cubo é notar o que existe, mas enxergar, aqui entendido como "entendê-lo", "ver além da superfície", "ver o que se esconde por trás" é estar dentro da própria existência. Como contemplador, você vê o cubo de fora do cubo - como se ela não tivesse um "interior"; mas vivendo a realidade, você está dentro dele.

Quem contempla a realidade nunca vai conseguir vivê-la, porque a realidade apresenta problemas de origem real, não de origem contemplativa. Dai a ideia do problema de "colocar o cubo em um buraco com diâmetro igual a aresta do cubo". Para quem vê de fora, é impraticável, porque ele sempre vai ver o cubo como um cubo. No entanto, para quem está dentro, o cubo pode assumir diversas formas: uma pirâmide, um cilindro, etc. Daí, passar o cubo pelo buraco deixa de ser impossível, porque podemos passar as suas partes.

Depois desenvolvo mais sobre o assunto. Mas a fim de evitar o "para que serve isso?", já adianto que é algo muito mais filosófico do que prático. Digamos que essa é uma pequena explicação do fragmento "Aquele que contempla a Realidade assume a incapacidade de vivê-la, porque vendo-a, não consegue enxergá-la; e, por ver um cubo sempre como um cubo, admite ser impossível passá-lo por um buraco cujo diâmetro é igual a sua aresta. Incapaz de enxergar o cilindro existente dentro dele, se vê sem respostas", que faz parte da metáfora geral.

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