12-10-2015, 02:15 PM
![[Imagem: NS_Aparecida.png]](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8a/NS_Aparecida.png)
Muito se fala em Dia das Crianças, em dar presente de Dia das Crianças, colocar no perfil, foto de criança nas redes sociais, etc. Mas pouco se fala que hoje comemoramos a solenidade da Nossa Senhor da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil.
Em outubro de 1717, o Conde de Assumar, governador recém-nomeado da Capitania de São Paulo e Minas Gerais (que depois seria desmembrada em duas, por sugestão dele mesmo), tendo resolvido inspecionar pessoalmente as famosas minas de ouro do Brasil, após haver tomado posse em São Paulo, seguia para a região das minas, pela chamada Estrada Real, que atravessava o vale do Rio Paraíba. À sua frente, iam alguns mensageiros para avisar as Câmaras das poucas vilas existentes, a fim de que pudessem prestar as devidas homenagens ao representante do Rei.
O governador pretendia hospedar-se na vila de Guaratinguetá, com toda a sua comitiva, à espera de suas bagagens que deixara no Porto de Parati. A Câmara Municipal guaratinguetaense, então, notificou os pescadores da vila para apresentarem todo o peixe que pudesse haver, para o Governador. Grande quantidade de pescado deveria ser salgada para quando estivessem viajando pelo descampado das Minas Gerais até Vila Rica (atual Ouro Preto). Pretendia-se também mostrar ao Conde os recursos do vilarejo.
Os pescadores, por experiência, sabiam que a época não era boa para pesca, mas tomaram seus barcos e lançaram-se no Rio Paraíba, à cata de peixe. Durante toda a noite, lançaram as redes nas águas do rio, mas nada conseguiram. Desiludidos, quase todos os pescadores abandonaram a pescaria, por volta da meia-noite. Só permaneceu um barco, com Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Filipe Pedroso, cunhado de Domingos e tio de João.
Os três pescadores foram rio acima, até o porto de Itaguaçu. Foi uma longa distância percorrida, mas não pegaram um só peixe. Já rompia o amanhecer e estavam quase desistindo. Na altura do porto de Itaguaçu, onde a curva do Rio Paraíba desenha um M, João Alves, numa última tentativa, jogou mais uma vez sua rede, e sentiu algo pesado ao puxar as primeiras malhas. Surpreendeu-se ao puxá-la e encontrar uma imagem da Mãe do Redentor, a Virgem Maria, sem a cabeça, com uma lua debaixo de seus pés (Apoc 12,1) e anjos esculpidos em redor.
João envolveu a imagem na sua camisa e colocou-a num canto do barco. Remando um pouco mais adiante, decidiu lançar novamente a rede em busca dos peixes. Ao puxar a rede, vem com ela o que estava faltando: a cabeça da imagem. A segunda peça encontrada, depois de limpa, foi também envolvida na camisa de João Alves. Era uma imagem da Virgem da Imaculada Conceição, negra, feita de terracota (argila cozida), com 37 centímetros de comprimento e pesando um pouco mais de quatro quilos. Os pescadores, admirados, tiram o chapéu e fazem o sinal-da-cruz. Depois de rezarem, colocam-na com muito respeito no fundo do barco, e voltam a arremessar suas redes e, para a surpresa daqueles homens, os peixes surgiram em tanta abundância, que o barco quase afundou com o peso.
Os pescadores alegraram-se muito com o ocorrido e foram levar o pescado à Câmara, mas primeiro passaram pela casa de Filipe Pedroso, no Morro dos Coqueiros, onde deixaram a imagem. Puseram-na dentro de um baú, enrolada em panos, separada uma parte da outra. Silvana da Rocha Alves, irmã de Filipe, mulher de Domingos e mãe de João Alves. uniu a cabeça da Virgem ao corpo com cera de mandaçaia. Na realidade, as duas partes só ficaram perfeitamente soldadas em 1946, quando um especialista as uniu com um pino de ouro e completou o acabamento externo.
A devoção à Nossa Senhora Aparecida começou com o gesto dos pescadores, recebendo a milagrosa imagem na sua casa. Foi como o Apóstolo João, que tomou Maria ao pé da cruz e a levou para morar consigo (cf. Jo 19,27).
Durante quinze anos, a imagem da Virgem foi conservada por Filipe Pedroso e sua família, em sua casa, onde se reuniam vizinhos e parentes para rezar o terço. Domingos e João Alves faleceram antes de 1726. Anos depois, Filipe Pedroso, o último sobrevivente da milagrosa pescaria, fixou residência no porto de Itaguaçu. Dessa maneira, a imagem voltava, por assim dizer, ao local de origem, onde fora retirada das águas do Paraíba.
Ainda em vida, Filipe confiou a guarda da imagem a seu filho Atanásio Pedroso. Atanásio fez para a Virgem um altar e um oratório de madeira. Até então a imagem ficava dentro do baú, e só era tirada de lá nas horas das rezas, quando era posta sobre uma mesa. Aos sábados, Atanásio chamava os parentes e amigos e com eles rezava o terço e entoava cânticos. Aquele foi o primeiro trono da Virgem Aparecida, onde ela começou a irradiar o seu amor e carinho para todos que com fé e esperança procuram encontrar Deus através de sua maternal proteção. O número de devotos começou a aumentar, alguns sentiram-se favorecidos por graças e até por milagres, que apregoavam. A fama da Virgem Aparecida foi crescendo e a notícia dos prodígios chegou aos ouvidos do pároco da igreja matriz de Guaratinguetá, Padre José Alves Vilela, que mandou seu sacristão, João Potiguara, assistir as rezas e observar. Baseado nas informações deste, e tendo ouvido outras pessoas, resolveu o vigário construir uma capelinha de pau-a-pique, ao lado da casa de Atanásio. Em face da grande afluência de devotos, logo essa capelinha ficou pequena. Era preciso construir outra maior.
Em maio de 1743, o Padre Vilela pediu ao senhor Bispo Dom Frei João da Cruz autorização para construir uma capela maior, com espaço suficiente para receber o grande número de fiéis que acorriam de maneira admirável, para rezar diante da Senhora Aparecida. A solicitação foi concedida e a construção foi terminada dois anos após a autorização diocesana, sendo aberta à visitação pública em 26 de Julho de 1745 (festa de Santa Ana, mãe da Virgem e avó do Messias), dia em que foi celebrada a primeira Missa. Era uma bonita igreja feita de taipa, no Morro dos Coqueiros, local alto e agradável. Além da igreja, com altares entalhados de madeira, havia a sacristia, a sala dos milagres e uma sala de reuniões.
O Padre Francisco da Silveira, que escreveu a crônica de uma missão realizada em Aparecida em 1748, qualificou a imagem da Virgem Aparecida como "famosa pelos muitos milagres realizados". E acrescentava que numerosos eram os peregrinos que vinham de longas distâncias para agradecer os favores recebidos.
http://www.veritatis.com.br/antigo/9228-...-do-brasil