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Fórum do Búfalo Desenvolvimento Pessoal Outros Mitos Africanos - Coletânea
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Mitos Africanos - Coletânea
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#1
30-10-2015, 02:36 PM
INTRODUÇÃO

As Mitologias de todo mundo são fontes de sabedoria e instrução dos Homens, há tempos imemoriais. Sejam transmitidas pelos poetas, escribas ou apenas de boca em boca, elas atravessaram as eras.

Dediquei um período para selecionar algumas histórias da Mitologia Africana, referência de conhecimento até hoje, para os praticantes das Religiões Afro-Brasileiras.

Para eles, são mais do que mitos, algo expresso pelo nome que as chamam, Itan (histórias), posto que é sacrilégio, duvidar que são relatos de quando os Deuses caminharam entre nós.

Será uma sequência de postagens mais curtas, do que os Trabalhos de Hércules (que ainda serão concluídos), mas espero que sejam de proveito a todos. Serão publicados três Itan por vez, até se completarem doze.

Dedico essa sequência, a todos os Iniciados e Sacerdotes, que preservaram tais histórias, e aos Realistas seguidores desse Caminho. Que os Orixás possam zelar pelos que a eles dedicam seus dias, pelo bem de todos nós.
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#2
30-10-2015, 04:31 PM
Orumilá, divindade que recebeu do Orun (o Céu) o primeiro Oráculo, Ifá, tinha se tornado muito solicitado. Desde que passou a possuir o único meio de se consultar o Destino, muitas pessoas passaram a segui-lo e buscar sua companhia.

Teve ele, então, dúvida sobre se os que o cercavam, eram realmente seus amigos, sejam eles homens ou Deuses. Após consultar Ifá, ele deu instruções a sua esposa, sobre como ele tiraria essa dúvida.

No dia seguinte, a esposa de Orumilá, anunciou a morte de seu marido, na aldeia onde vivia. Após receber as condolências, retornou à sua casa. Pouco tempo depois, ela recebeu uma visita.

Um dos amigos de Orumilá, veio dizer o quanto sofria pela morte dele, mas veio avisar que na última vez que falou com o Deus da Adivinhação, ele prometeu dar Ifá como um presente, quando morresse.

A esposa de Orumilá, disse então ao amigo, que lamentava muito, mas não tinha encontrado em lugar algum, quando o marido morreu, a bolsa onde Ifá estava guardado. Então, não poderia cumprir sua Última Vontade.

Esse amigo, muito decepcionado, então, partiu. E como ele, veio outro. E outro. E outro. Todos contando que de uma forma ou outra, queriam ficar com Ifá. E todos saindo frustrados.

Perto do fim do dia, chegou Bara (também chamado de Exu), Mensageiro dos Deuses, conhecido por seus muitos recursos, e famoso por sua capacidade de enganar e manipular, quando julgava necessário.

Bara disse para a esposa de Orumilá, que sentia pela morte de seu amigo, mas que com certeza, ela sofria mais do que todos, agora que teria que viver sozinha.

A esposa, então, perguntou ao Mensageiro, se seu marido tinha lhe dito algo, antes de morrer. Bara disse que não. Perguntou se Orumilá tinha lhe deixado algum presente. Bara disse, que nenhum.
Perguntou se ele tinha certeza. Bara disse que tinha.

Orumilá, então, saiu de trás da sua casa, tendo ouvido tudo, e instruído o que sua mulher fez e disse, falando a Bara, que ele sim, era seu único amigo, pois era o único que nunca se aproximou dele, por interesse.

Foi assim que Orumilá, encontrou a Amizade, no lugar onde menos esperava.

Nota: Bara equivale a Mercúrio/Hermes na Mitologia Greco-Romana, e a Loki, na Mitologia Nórdica, entre outros.
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#3
30-10-2015, 04:31 PM
Os Deuses estavam agitados. Uma jovem dentre eles, Obá, estava prestes a lhes roubar a supremacia.

Ela, que tinha a força das águas revoltas, tinha nascido bruta, e desprovida da natural graça que as outras Deusas tinham. Por isso, se dedicou exclusivamente ao combate, até que desafiou qualquer Deus a lhe dominar, numa luta de mãos nuas.

Quatro outras divindades já tinham sido derrotadas pela sua força bruta, quando Ogum, Deus da Guerra e do Ferro, decidiu aceitar o desafio de Obá. Mas diferente do que normalmente ele agia, de forma impulsiva e direta, ele decidiu procurar Ifá, para que o Oráculo lhe assegurasse a vitória. Ele guardou o conselho, preparou o lugar do combate, e desafiou Obá a lhe enfrentar ali.

Obá chegou confiante, disposta a colocar a derrota do Deus da Guerra, entre seus feitos. Ao seus corpos colidirem, ao invés de Ogum simplesmente se opôr a sua força, ele guiou os passos dela, até onde desejava.

Os espectatores viram com assombro, Obá deslizar com seus pés, e cair. Segundo o conselho do Oráculo, Ogum havia espalhado uma massa de milho e quiabo amassado pelo terreno, de forma a deixá-lo escorregadio.

Conforme continuava a se debater, com Ogum segurando o seu corpo, Obá fez uma descoberta fatal. Ela sabia como não ser derrubada. Mas mesmo fora da parte escorregadia, não sabia como se desvencilhar e se levantar novamente, uma vez caída.

Sem ter como se defender, Obá não teve escolha, senão se render a Ogum, e declará-lo vencedor.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Sua admiração por seu adversário foi tão grande, que Obá aceitou ser esposa de Ogum, após a luta. Mas isso, é outra história.

Nota: Ogum equivale a Marte/Ares, assim como acumula as funções de Vulcano/Hefestos, na Mitologia Greco-Romana.
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#4
30-10-2015, 04:32 PM
Nos Primeiros Tempos, Ogum, o Deus da Guerra e do Ferro, vivia dividido entre seu dever de proteger os povos, e manter seu sustento. Ele tinha um irmão, mas ele era jovem e temeroso demais para ocupar quaisquer dessas funções.

Ao retornar de uma campanha movimentada, O Senhor do Ferro encontrou a aldeia onde vivia arrasada. Os inimigos tinham se aproveitado de sua ausência, e lhe atacado o próprio lar. Ao chegar no centro da aldeia, encontrou seu caçula acuado no meio de muitos inimigos, brandindo desengonçado, uma de suas pesadas espadas.

Ogum estava cansado, mas ao ver sua aldeia devastada, e seu irmão ameaçado, a ira lhe renovou as forças, e ele lutou até destruir todos os atacantes.

Depois do combate, Ogum conversou com seu caçula, sobre a necessidade dele aprender a se defender, e de sustentar ao seu povo, pois não poderia estar presente sempre que necessário, pois seu ofício, a Guerra e a Forja, lhe tomavam muito tempo. Mas o irmão estava desanimado. Não tinha a força suficiente para usar uma espada pesada, ou a firmeza de encarar um adversário nos olhos, como Ogum tinha - jamais poderia ser como ele. Ainda sim, concordou em aprender com seu irmão mais velho.

Saindo com Ogum para a floresta, o jovem, aos poucos, viu que tinha razão. Jamais poderia ser como seu irmão mais velho. Mas poderia ser ele mesmo.

Ele não tinha a força de seu irmão, mas suas mãos eram precisas e firmes. Ele não tinha a firmeza de seu irmão, mas podia enxergar muito bem, à distância. Ele não tinha a coragem de seu irmão, mas era muito determinado, e podia seguir as pegadas de uma presa, até descobrir seu esconderijo.

Foi então, que o jovem pediu a seu irmão, para lhe ensinar a usar uma arma que Ogum conhecia bem - como o Senhor da Guerra, todas as armas lhe eram conhecidas - mas de que não gostava muito: um arco. Ela exigia dele apenas, as qualidades que tinha: mãos firmes, boa visão, e determinação para perseguir o objetivo.

Em pouco tempo, Ogum viu que seu jovem irmão, Odé (também chamado de Oxossi), tinha encontrado seu lugar no mundo. Não existia presa que pudesse escapar de sua busca, e seus tiros certeiros abatiam a caça, com um tiro só.

Orgulhoso, Ogum então, tornou Odé responsável pela Caça, pelo sustento dos homens, o Grande Provedor, e ainda sim, capaz de se defender num conflito, desde que mantida sua frieza e concentração. E pode retornar para as batalhas e para a metalurgia, sabendo que todos estariam alimentados e protegidos em sua ausência.

Odé aprendeu que, quando conhecemos a nós mesmos, não precisamos seguir os passos de outros, somos perfeitamente capazes de encontrar nosso próprio caminho.
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Offline Tiago Sorine
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#5
30-10-2015, 05:39 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 30-10-2015, 05:40 PM por Tiago Sorine.)
Comentários liberados pessoal. Fiquem a vontade.
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Offline cabraman
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#6
30-10-2015, 07:18 PM
Marcado, primeiro preciso me informar mais.
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Offline Gilgamesh
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#7
30-10-2015, 09:38 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 30-10-2015, 10:22 PM por Gilgamesh.)
Parabéns Diomedes. Mitologia africana aqui no Brasil, além de ser negligenciada é estigmatizada . Sou ignorante de mitos que existem aqui no meu país,e não de uma nação européia,geralmente helênica ou nórdica.

O primeiro itan nos ensina a colocar em dúvida as nossas certezas, e o quão é real o relacionamento entre mim e áquilo com o que me relaciono ? Saber é sempre melhor do que não saber.
O segundo , a estimular uma forma de olhar as situações com a criatividade, e sobretudo nos adaptarmos a elas. O que não se vence pela força que ja derrubou tantos, pode se vencer pelo jeito; temos que estar dispostos a mudar e fazer coisas que não são esperadas de nós pra termos resultados diferentes.
O terceiro, pra mim o melhor, você deve lutar e disso você não deve fugir. Mas a sua luta deve usar o que você tem de melhor, Você deve usar suas armas e ,não , as do outro,talvez o que funcione bem para uns, pode não surtir o mesmo resultado comigo. E isso clama por autoconhecimento.

Li e analisei, perdoem me , de uma maneira até bem superficial, mas foi algo bom de se ler. Que venham os outros Itans ,Diomedes.
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Offline DiomedesRJ
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#8
31-10-2015, 04:28 PM
Um dia, o Deus Supremo decidiu distribuir suas dádivas e funções entre as outras divindades, para que todos pudessem ter seu papel a ocupar. Todos, sem grande alvoroço, escolheram suas ocupações.

Mas Omolu, o filho adotivo da Deusa do Mar, não pode estar presente nesse dia, vindo até o Deus Supremo, apenas no dia seguinte. O Todo-Poderoso disse a ele, que apenas uma coisa havia sido deixada, pois ninguém a queria: as doenças.

Tendo ficado então, com aquilo que todos recusaram, Omolu se afastou de todos, procurando eventualmente, apenas a presença de Orumilá, para saber como o Destino, poderia lhe orientar a usar bem seus dons.

Muito tempo depois, os Deuses notaram um grande sofrimento, vindo da Humanidade. Uma grande moléstia havia se espalhado, e estava ceifando a vida de milhares. E seus poderes eram inúteis para fazer cessar tal mal.

Após refletir um tanto, todos entenderam seu erro. Eles desprezaram a Doença, mas esqueceram que apenas quem controla a Doença, possui consigo, a Cura.

Apenas depois de muito tempo, os Deuses descobriram onde Omolu se encontrava, e após lhe pedir perdão, e lhe fazer ofertas, o Senhor da Pestilência fez a moléstia desaparecer e terminou com o sofrimento de todos.

O Panteão Africano inteiro, aprendeu duas lições duras. A primeira, que todo ofício tem seu valor sobre o mundo, não importa o quão degradante e desprezível pareça. E a segunda, mais dura ainda, é que você pode ter tudo, mas sem saúde, não possui nada.
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Offline DiomedesRJ
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#9
31-10-2015, 04:29 PM
Um dia, numa de suas reuniões, uma na qual Oxalá, o Pai-de-Todos, não estava presente, os Deuses conversaram entre si, para definir quem deles era o mais essencial para a Humanidade. E sempre esbarravam na mesma questão.

Tudo o que existia pelo mundo, não podia ser feito sem ferramentas, e todas foram feitas por Ogum, Senhor da Guerra e da Forja. Seus metais, e principalmente o Ferro, foram a base da constituição de toda a Civilização, pelo que tinham compreendido.

Quando todos pareciam concordar com o veredito, uma voz calma, mas firme disse: Eu discordo.

Era Nanã, Deusa das águas paradas e da lama, a mais velha das Deusas do Panteão.

Os Deuses se surpreenderam com a discordância da Anciã, mas ela se mantinha divergindo firmemente de todos os argumentos dos outros, sem contudo dar maiores explicações. Até que sugeriram uma prova, para decidir a questão.

Trouxeram até a reunião, um dos animais separados para o abate e o sacrifício. Questionaram então a Nanã, como ela poderia matar o animal, sem o uso de nenhuma ferramenta de metal.

Ela calmamente caminhou até o animal, segurou sua cabeça... e lhe torceu o pescoço, matando-o.

Como a Anciã dos Deuses, ela já estava na Terra, antes das ferramentas serem criadas, fato que todos haviam esquecido. Como ela demonstrou que aquilo que era essencial para a Humanidade, pertencia a todos, a disputa foi esquecida e ignorada, a partir daí.

São os mais experientes, que nos recordam sobre o fato da tecnologia, só existir por conta da criatividade, nosso desejo de superar as limitações. A forma, a ferramenta que usamos para superá-las, é mero detalhe.
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#10
31-10-2015, 04:30 PM
O jovem Bessen, filho da Deusa Nanã, era um Deus muito ocupado. Ele tinha a função, de levar as águas da Terra, para o Céu, para que a chuva pudesse acontecer. Mas seu trabalho nunca terminava, pois quando ele achava que já tinha levado água suficiente para cima, a chuva vinha, e devolvia a água para a Terra. Ainda sim, era um trabalhador muito cuidadoso, pois ele tinha todo o cuidado de não deixar cair nenhuma gota, de dentro das cabaças que ele usava para recolher a água.

Mas ele se incomodava mais ainda, com o fato de achar a Terra um lugar muito sem cor, e sem graça, mesmo sendo dono de roupas muito coloridas e vibrantes.

Um dia, particularmente incomodado com seu trabalho, ele se distraiu, e deixou algumas das cabaças que ele levava derramarem algumas gotas, poucas, mais vindo de muitos vasilhames, formaram uma fina garoa.

Bessen (também chamado de Oxumarê), achando que seria punido por seu descuido, achou, ao invés disso, a resposta que procurava. No lugar onde passava, se formou um longo Arco, todo colorido e iluminado. Notou então, que as gotas que deixara cair, estavam refletindo a cor de suas roupas para a Terra.

Viu ele então, que passou a acertar em sua função, apenas quando ele aparentemente errou, pois não é o apuro e o acerto que fazem seu trabalho ter excelência, mas sim o amor que você dedica ao que você faz.
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Offline Gilgamesh
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#11
31-10-2015, 09:58 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 31-10-2015, 10:01 PM por Gilgamesh.)
Diomedes , sinceramente, essas são fábulas morais , tão morais quanto às de Esopo. Parabéns e continue. No aguardo das novas partes.
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Offline DiomedesRJ
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#12
01-11-2015, 01:11 PM
Xangô, divindade que presidia a Justiça, e Rei de Oyó, a maior nação iorubá, estava preocupado em sua corte. Seu reino sofria a maior invasão, desde que foi coroado.

Era um exército cruel, que atacava vilarejos, e seus soldados batedores, deixando apenas uma trilha de destruição e corpos mutilados. Seus soldados, que vigiavam as fronteiras, eram devolvidos em pedaços, para suas famílias, conforme os invasores avançavam.

A resposta era clara - ele deveria reunir seu exército, e esmagar os invasores. No entanto, procurando o conselho de Ifá, antes de partir, foi avisado pelo Oráculo, a subir numa montanha, e observar o inimigo, antes de agir.

Assim fazendo, posicionou seus homens sobre um monte pedregoso, enquanto os invasores, muito numerosos, mais do que seus próprios soldados, avançavam. Os guerreiros de Oyó estavam inquietos. Aguardavam a ordem para descer e atacar. Mas Xangô apenas olhava, e olhava, para o inimigo que avançava.

Quando o Rei de Oyó se moveu, não foi uma ordem que ele deu. Ele ergueu sua arma pessoal, o Oxê, um machado feito de pedra, e golpeou repetidamente as pedras abaixo de si. Havia invocado seu poder mais terrível, o Raio.

Faíscas saíram das pedras, e os raios se dirigiram para os comandantes do exército inimigo, fulminando a todos. Em poucos instantes, o exército inimigo estava aterrorizado, seus líderes mortos em segundos. Os soldados prontamente se renderam a Oyó.

Xangô e seus soldados desceram enfim do monte, e quando seus homens correram para matar os que se renderam, o Deus do Trovão rugiu um sonoro "NÃO!" aos seus soldados.

"Vocês não foram capazes de ver. Mas eu vi. Os líderes ameaçavam continuamente os soldados que se renderam aqui. Governavam seus homens pelo terror, e não por autoridade. Os comandantes eram cruéis e maus, mas estes soldados, apenas cumpriram ordens, para que eles mesmos não fossem mortos."

"Desarmem-nos e deixem-os ir em paz. Mas que estejam avisados que se retornarem a Oyó com propósito de guerra, não terão mais minha piedade."

Diante da decisão de Xangô, os homens não apenas se renderam, mas ofereceram sua lealdade ao Rei de Oyó. Os soldados do Grande Reino, aprenderam nesse dia, que não se pode fazer Justiça, sem estar disposto a oferecer Misericórdia, e considerar a culpa, conforme a participação.
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Offline DiomedesRJ
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#13
01-11-2015, 01:13 PM
Uma grande festa foi dada, um dia, para os Deuses, onde apenas os mais Antigos não puderam comparecer. Os homens ofereceram muita música, comidas e alegria, para as entidades que conservavam a ordem do mundo.

Deusas e Deuses foram dançando uns com os outros, formando belos pares em seu balé. Mas um, desde a chegada, não conseguia par.

Todos sabiam da história de Omolu. Ele adoecera muito jovem, de doença que o cobria de chagas purulentas, e ele andava com o corpo coberto por uma roupa longa de palha da costa, para esconder sua fealdade. Por isso, nenhuma Deusa queria o Senhor da Pestilência como seu par. Até os Deuses evitavam se aproximar dele.

Uma das últimas damas a chegar, porém, mudaria isso radicalmente.

Oyá, a Deusa dos Ventos, Rainha de Oyó ao lado de Xangô, mas com suas próprias idéias e decisões, entrou na festa com sua natural animação, dando ainda mais cor ao baile. E estranhou, depois de um tempo, ao ver Omolu sozinho.

Uma brisa soprou do Deus para ela, chamando a atenção do mesmo, e ela o convidou ao centro da pista. E todos se espantaram ao ver os dois dançarem juntos, dois compassos diferentes se somando perfeitamente.

Quando enfim se afastaram, Oyá foi questionada se ela não teve horror, de se aproximar de um ser doente e feio como Omolu. Com o rosto mais fechado, mas um sorriso de canto de boca, disse, com seu tom de voz costumeiramente alto:

"O Vento me disse tudo o que eu precisava saber sobre ele. Mas eu dançaria com ele, mesmo que fosse tudo aquilo que vocês pensam. O fardo dele é um dos mais pesados de todos nós, e ele precisa desse momento de descontração e alegria, e eu daria isso a ele, sem hesitar. Agora, eu lhes mostrarei o tamanho da tolice de vocês!"

Oyá agitou sua saia, invocando seu Elemento, e uma lufada de vento levantou a palha do corpo de Omolu. E todos viram o que a Rainha de Oyó sabia: Omolu era um homem belíssimo, e já curado de sua doença, usando apenas a palha, para honrar o cuidado que sua mãe lhe deu quando jovem.

"Tudo o que um ser é, tem seu próprio cheiro. E o dele, não tinha nada de desagradável... Agora, me deem licença, pois segundo Omolu, serei o único par dele, neste baile!"

Principalmente, as jovens Deusas presentes, aprenderam a lição de que decisões tomadas sobre o que se sente, sem lógica ou informação apoiando, sempre levavam ao erro. E a perder o melhor partido de uma festa, também.

:::

Este gesto de Oyá, lhe fez ganhar de Omolu, um presente único. Mas isso, é uma outra história.
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#14
01-11-2015, 01:15 PM
Oxê Bara era um homem muito pobre. E acreditava que o Destino havia lhe virado as costas. Mas havia ainda a quem ele poderia apelar.

Procurando um rio de bela natureza, ele endereçou suas súplicas a Oxum, Deusa da Beleza, Fertilidade e Prosperidade, pois as Águas Doces, eram a sua morada. Ela ouviu os lamentos do homem, e se apresentou a ele, em toda a sua graça e beleza.

Oxê Bara lhe falou de sua pobreza, e de como apelava a ela, para deixar sua miséria. Oxum, compadecida da situação dele, lhe entregou uma pedra, simples, vinda do fundo do rio, e disse a Oxê Bara, que enquanto a pedra fosse por ele cuidada, que sua vida seria próspera.

O homem colocou a pedra em lugar de destaque da casa, confiante que a Deusa cumpriria sua promessa. Ao longo dos dias, seus negócios começaram a mudar de direção, e em mais algum tempo, sua casa era boa e bem decorada. Conforme sua vida melhorava, Oxê Bara ia mudando a pedra de posição, mas sempre a mantendo em destaque, limpa e cuidada.

Um dia, o homem olhou sua casa, e ela estava rica e totalmente transformada. Viu a pedra que a Deusa lhe deu, e ela destoava da suntuosidade de tudo o que possuía. Não queria mais, algo que não combinasse com seu estilo de vida, e a jogou fora.

Em pouco tempo, o revés se estabeleceu em sua vida, os prejuízos se acumularam, e toda a sua riqueza se foi, devolvido estando a miséria em que vivia antes.

Oxê Bara retornou ao mesmo rio, e voltou a invocar Oxum. A Deusa se revelou a ele, em seu esplendor, mas com uma expressão de desagrado.

"Você reclama de seu destino, homem? Onde está a pedra simples que eu te dei? Onde está a lembrança de que um dia, não teve nada, e não deveria esquecer de onde veio? Onde está a demonstração perpétua da gratidão pela oportunidade que EU te dei?"

"Você a jogou fora, esquecendo que a gratidão e a humildade devem permear o coração de todo aquele que tem Fé. E como tu viraste as costas para mim, eu também lhe abandono. Por mim, morrerás pobre e sozinho. Que Olodumaré, o Todo-Poderoso, tenha piedade de ti."

Se o homem morreu de fato na penúria, ou se ele conseguiu se reerguer, não se sabe. Mas ele aprendeu da forma mais difícil, que o orgulho e a ingratidão sempre se voltam contra quem, impensadamente, lhes deu ouvidos.
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#15
02-11-2015, 01:09 PM
A Rainha das Águas achava que teria um dia comum. Mas não poderia estar mais enganada.

Iemanjá, Deusa do Mar, e mãe da maioria dos outros Deuses, seguia em sua casa, com sua natural serenidade. Estava entretida em matar um carneiro, para suas necessidades, quando Bara, o Mensageiro dos Deuses, apareceu em sua morada.

Com um tom mais grave, incomum em sua postura, ele veio avisá-la que Olodumaré, o Todo-Poderoso, estava convocando os Deuses, e que deveriam partir imediatamente.

Assim que Bara partiu, ela pensou que o Deus Supremo merecia uma oferta, mas o que ela teria para oferecer a Ele, sendo que nada tinha que fosse de especial, e não teria tempo para preparar nada?

:::

Os Deuses enfim estavam diante de Olodumaré, mas apenas uma, Iemanjá, chegou até diante Dele, e lhe depositou a cabeça do carneiro que tinha acabado de abater. O Todo-Poderoso, então, falou.

"Todos vocês vieram rapidamente ao meu encontro. Mas apenas uma dentre vocês, não só demonstrou sua obediência, mas seu Amor por mim, não importando se é de forma humilde ou rústica."

"Oxalufan pode ser o Pai-de-Todos, por ser o Criador da Humanidade, mas por seu gesto, Iemanjá, eu a torno a Mãe-de-Todos, a quem os Homens também deverão respeito, para que jamais se esqueçam que não só a Razão, mas também o Sentimento, devem estar juntos no caminho até mim."

E foi assim que a Grande Mãe recebeu, sem alarde e disputa, o lugar de destaque que possui no Panteão, por saber obedecer, e igualmente, saber amar.
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#16
02-11-2015, 01:10 PM
Oxaguian, Deus da Constante Criação, filho de Oxalufan, Pai-de-Todos, nunca perdia uma oportunidade de estimular o Progresso.

Em uma de suas constantes viagens, ele se deparou com uma grande, embora simples, construção, numa aldeia. Questionando aos trabalhadores, do que se tratava, foi respondido que era um castelo erguido em homenagem a Ogum, Deus da Guerra. E perguntando o que iriam fazer, agora que tinham terminado, o povo respondeu que descansaria e comemoraria.

"Seu Rei demorará a voltar. Ergam uma morada melhor, para seu Senhor, e meu Amigo."

Dizendo isso, tocou com sua Espada (pois ele também é um Guerreiro) um dos muros, e o Castelo desmoronou por inteiro.

O povo olhou espantado para o gesto do Deus. Mas arregaçou as mangas, e começou a construção novamente, enquanto Oxaguian partia.

Tempos depois, o Deus retornou para a aldeia dos Construtores, e viu o novo Castelo. Era maior, e um pouco mais elaborado.

Oxaguian questionou ao povo, e como recebeu as mesmas respostas, destruiu a obra, dizendo a eles que fizessem uma ainda melhor.

O Guerreiro de Branco retornou muitas vezes, até que enfim, chegou até a aldeia, e ela estava totalmente transformada. As reconstruções fizeram com que o povo melhorasse suas técnicas, que passaram a ser usadas também nas residências comuns, e, mais importante ainda, não parassem mais de aprimorá-las.

Oxaguian estava satisfeito. Tinha ensinado para aquela aldeia, que a ociosidade é incompatível com a excelência.
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#17
02-11-2015, 01:12 PM
O Pai-de-Todos tinha uma perturbação em meio aos Deuses, que não podia permitir que continuasse.

Chegou ao conhecimento de Oxalufan, Deus Criador da Humanidade, e o mais velho do Panteão, que Bara, o Mensageiro, estava alegando que era o Mais Antigo. E diante do Pai-de-Todos, foi chamado a se explicar.

Bara manteve jocosamente a sua declaração, mesmo com o Pai-de-Todos lembrando aos presentes, que isso era um absurdo, posto que ele já existia, quando Bara foi criado.

A persistência de Bara, foi tanta, que os outros presentes, sugeriram uma solução simples para a questão. O Mais Antigo, sem sombra de dúvida, teria mais poderes que o mais jovem. Que se enfrentassem, então, e o mais poderoso, seria aclamado como mais velho. Ambos concordaram.

Os dois procuraram Ifá, e o Oráculo os instruiu a fazer oferendas. O Pai-de-Todos seguiu a tradição, mas Bara desdenhou do Destino, e não seguiu o aconselhado.

O dia chegara, e Oxalufan e Bara, estavam um diante do outro. O Pai-de-Todos começou a demonstrar seu poder.

Mesmo com seu corpo idoso e curvado, Oxalufan deu uma palmada em Bara e BUM, o Mensageiro caiu sentado e ferido, como se golpeado com grande força. Bara porém, se levantou como se nada tivesse acontecido.

O Pai-de-Todos, então, bateu na cabeça do Mensageiro, e ele encolheu até se tornar um Anão. Bara porém, se sacudiu, e voltou ao seu tamanho normal.

Oxalufan, então, segurou a cabeça de Bara, e a sacudiu. A cabeça do Mensageiro aumentou, aumentou, até se tornar maior que o próprio corpo! O Mensageiro porém, esfregou a cabeça com as mãos, e ela voltou ao normal.

Os outros Deuses então, disseram que era a vez de Bara.

O Mensageiro bateu na própria cabeça, e dela, surgiu uma pequena cabaça. Ao abri-la e virá-la na direção do Pai-de-Todos, uma nuvem de fumaça se dirigiu a ele, e Oxalufan perdeu totalmente sua cor.

O Pai-de-Todos esfregou seu corpo com as mãos, mas sua cor não retornava. Mas ele ainda não estava vencido.

O Ancião tirou seu turbante, o desfazendo, extraindo dele seu axé (poder), e tocou sua boca no pano.

Ele então, falou a Bara, para se aproximar, e entregar sua cabaça mágica. O Mensageiro, imediatamente e sem questionar, entregou sua cabaça para Oxalufan, e ao colocá-la em sua própria bolsa, retomou sua cor.

Sem ter mais nenhum poder para demonstrar, Bara foi derrotado.

Lentamente, o Pai-de-Todos retornou ao seu assento, enquanto era aclamado e louvado pelos outros Deuses. Ele poderia, desse o início, ter invocado sua Autoridade, e ter encerrado a questão. Mas ele demonstrou a todos, em sua sabedoria, que aquele que possui méritos, não teme provar porque tem, aquilo que conquistou.
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