Diários de Bicicleta

[Astuto]

Muito bom, esse tropico me motivou a fazer uma viagem de moto e daqui 15 dias estou na estrada.

[Marcílio]

Kraio, Barão é foda.

Vou comentar rápido aqui: Barao, é possível escrever um livro literário apenas com essas viagens? Vc acha que vivendo essas coisas lhe dá subsídio pra escrever boas histórias?

Além disso, como tu se envolve com a galera da cidade que tu visita? Ou tu nem visita?

Só resta acompanhar essa saga.

[Spectro]

Este tópico é um patrimônio do fórum do bufalo.

Obrigado por compartilhar conosco esta bela experiencia barão.

Força e honra para todos os avançadistas.

[barãozin]

Kraio, Barão é foda.

Vou comentar rápido aqui: Barao, é possível escrever um livro literário apenas com essas viagens? Vc acha que vivendo essas coisas lhe dá subsídio pra escrever boas histórias?

Além disso, como tu se envolve com a galera da cidade que tu visita? Ou tu nem visita?

Só resta acompanhar essa saga.

Dá sim, pq tem gente q viaja pelo mundo, ou por algum continente, e acaba escrevendo livro. A minha ventura é pequena demais pra isso rs

Então, eu sou de pouca conversa e não costumo puxar papo, mas sempre vinha algum local perguntar o q eu tava fazendo, daonde eu ia e praonde ia, esse tipo de coisa. E claro q não fechava a cara pra esse tipo de pergunta.

[barãozin]

Vamos prosseguir.

Depois do belo passeio em Balneário, acordei cedinho, arrumei as tralhas e parti, pois queria terminar o dia em Florianópolis (que estava a menos de 100 km agora).

Tava quase passando em Bombinhas, que ficava no caminho e pessoal fala que é bonito demais, só que isso me daria uns 50 km a mais de pedalada e provavelmente teria que dormir por lá, e eu já tava afim de chegar logo em Floripa pra poder aproveitar melhor a cidade. Então ficará pra uma próxima oportunidade.

Show ContentSaindo de Balneário:

A parte mais chatinha do dia foi justamente enfrentar o trânsito zuado de Balneário logo de manhã. Pra melhorar tinha umas reformas na pista de acesso à rodovia que deixavam as coisas ainda mais complicadas. Mas vencendo isso, foi pegar a BR e ir embora.

Até aí, sem muita novidade, tirando pedalar com o Oceano Atlântico do teu lado esquerdo boa parte do caminho. A bicicleta guerreira já tava mostrando sinais claros de cansaço: alguns raios estourados, roda traseira desalinhada, corrente escapando algumas marchas, freios quase ineficientes, e o cubo traseiro meio estranho. Mas lembrando que essa era minha bicicleta de "dia a dia" então praticamente nem fiz revisão nela antes de ir, então ela já tava meio cansada antes da viagem. Mas ela aguentaria chegar em Florianópolis.

Só se eu quisesse prosseguir a viagem (um dos meus planos era tocar até o Rio Grande do Sul ou Uruguai se eu tivesse mais 15 dias ou o corpo aguentasse) é que teria que mandar dar uma geral nela antes de prosseguir, mas tranquilo.

Show ContentNo Trecho:

Oceano Atlântico e sua brisa fresca sendo companheiros em boa parte do caminho.


O EB e suas velharias


Já dava pra ver Florianópolis no horizonte.

Pedalar em BR é basicamente a mesma coisa em todo canto: pista relativamente boa nos acostamentos, motoristas cornos que não dão seta para entrar no acesso e te deixam meio de saco cheio e caminhões passando ao teu lado e te estremecendo. Mesmo o lameiro lá no começo da viagem era menos irritante que isso. Mas pelo menos os SAU's no meio do caminho compensava e servia de um belo ponto de descanso.

Mas mesmo com isso, ainda pretendo usar muita BR em alguns projetos futuros. Talvez futuramente vou até Floripa pedalando novamente, mas gostaria de ir "por dentro", pegando Curitiba e um pouco mais do estado do PR, talvez passe em Joinville novamente e de lá pra Blumenau, Brusque etc até chegar novamente em Floripa. Mas isso são planos engavetados aqui, vamo ver se eles pegam luz algum dia.

E finalmente, cá estou! Cheguei no objetivo final: FLORIANÓPOLIS

Trânsito meio complicado na entrada da cidade, mas como já tava acostumado a outros locais bem complicados, fui contornando esse problemas até meu destino final que era algum camping na Lago da Conceição. Queria ficar na Lagoa por ser quase que o meio da ilha, tendo acesso a muitos locais e sem falar que a região da lagoa já tinha bastante atrativos por si só. Subir a serrinha empurrando a bicicleta já não foi uma coisa lá muito divertida, descer quase sem freios então foi meio kamikaze.  

Show ContentEm FLP:

Porra de foto não pegou o momento culminante da viagem...


Sentado na boca da ponte que liga o continente à ilha, pensando num jeito de encarar esse BOzaço. Sorte que o pessoal q tava passando me falou q tinha uma passarela por baixo da ponte pra pedestres e ciclistas, então evitei uma morte prematura e fui por ela.


Entardecer na Hercílio Luz


No topo do morro que separa o centro da lagoa. Pensa num trem filho da puta pra subir.

Na lagoa, consegui encontrar um camping aberto (como era baixa temporada qse ninguém tava abrindo) de um argentino maconheirão. Tirando esses dois defeitos o cara era bem bacana e vivamos batendo um papo, já q ele tb tinha feito uma viagem longa saindo da Argentina, passando pelo Paraguai e chegando até o Mato Grosso do Sul. Montar a rede foi um desafio, já que o furacão constante que existe na lagoa transformava a lona numa mini vela pra kite surf, e quase que eu sai voando pendurado na lona.

Já estabelecido numa parte mais arborizada do camping que protegia um pouco a ventania, pude finalmente tomar um banho e apagar, pois tava morto de cansado. Ainda não acabou, dou umas voltas em Floripa, faço uma trilha e encerro a jornada mais daora da minha vida.

[Tim Laflour]

Muito bom Barão. Parabéns por concluir seu objetivo!

[consigliere]

Fantástico tópico, meus parabéns!!!

Queria eu ter essa coragem. Um dia quem sabe..

[barãozin]

Prosseguindo...

Como cheguei em Floripa, até deixei a bicicleta meio de lado pra aproveitar mais o passeio, já q tudo era meio longe e de bicicleta demoraria um pouco pra chegar onde queria, andei mais de ônibus pela cidade.

Turistagem padrão minha: pesquisava no mapa a noite os pontos turísticos de uma determinada área, ia de ônibus até lá na manhã seguinte e ficava batendo perna por lá até cansar e depois voltava pra casa. Rinse and repeat. Sempre dava preferência a pontos onde você ou paga pouco pra entrar ou eram de acesso livre. Então como gosto de museu e eles são baratos pra entrar eu visitei um bocado deles, em especial o Museu Homem do Sambaqui, localizado dentro do Colégio Catarinense e que foi montado por um padre jesuíta que dedicou boa parte da vida a estudar e catalogar sítios arqueológicos existentes em Florianópolis e região. Vale muito a visita, porque tem muito mais além disso por lá.

Show ContentCentrão:

Não podia deixar de passar na Bervelly Hills brasileira, a famosa Jurerê Internacional. Coisa de louco o lugar e não sei como os seguranças não me chutaram dali, pois tava parecendo um indigente.  


Árvore gigante que tinha numa praça do centrão.

Show ContentLagoa e Arredores:

Com o furacão constante na Lagoa, a prática de kite surf bombava.


Vista da lagoa.


As famosas dunas da Joaquina.


Como fica perto da lagoa, a bicicleta reclamou um pouco mas me levou até as dunas. Depois de dias pedalando ela carregada de coisa, é até estranho pedalar ela tão levinha.


... e como eu tava querendo ir até em cima das dunas e não achei um lugar confiável pra amarrar a bike, lá vai o idiota arrastar bicicleta duna acima...

No penúltimo dia, como gosto de terra e mato, tive que fazer a trilha da Costa da Lagoa, que passa por vários casarões antigos do tempo da colonização portuguesa na ilha. Um excelente passeio, bem tranquilo de fazer (tirando algumas ladeironas zuadas) e na volta vc ainda pode pegar um barco pra retornar até a lagoa ou se vc tiver mais disposição pegar outra trilha que tem no finzinho dela e sair numa pista no alto do morro e de lá tentar um ônibus pra voltar.

Uma pena que não pude ficar pelo menos uma ou duas semanas, pois a ilha é cheia de trilhas e praias escondidas. Um dia ainda fico uns 10 dias lá e vou revirar essa ilha de cabeça pra baixo.

Show ContentTrilha:

E lá vamos nós!


"Cãofrade" que me serviu de guia turístico e ficou me seguindo por boa parte do caminho.


Engenho antigo que quase passei batido, na trilha


Casarão onde morou uma senhorinha até sua morte, hoje é um local tombado.


A senhorinha em questão,

Como fui na manha e entrei meio tarde na trilha, terminei ela já de noite. Quase que ainda perco o barco de volta pra Lagoa, pq acabei parando num botequinho e bebendo umas pra relaxar e até esqueci da hora. Voltar pelo mato no breu seria uma droga e dormir no mato sem equipamento e no frio tb era uma opção ruim, então graças a Deus consegui pegar o barco em tempo.

No dia seguinte só descansei mais um pouco, arrumei as coisas e peguei um ônibus de volta a São Paulo. Aqueles 15 dias passaram muito rápido e ficarão pra sempre gravados na memória.

... e ainda não acabou, pois tem um epílogo.

[barãozin]

Epílogo

A jornada chegou a seu fim, e tive que voltar pra casa, para os meus compromissos. Depois de quase 13 horas no ônibus da Catarinense, cá estou onde toda a aventura começou: de volta pra casa

Depois de uns 800km pedalados, dias congelantes "formadores de caráter", algumas peças da bike quebradas e um joelho e um tendão de Aquiles meio ferrados, depois de tudo isso, três coisas permanecem na cabeça (além das belas paisagens): "eu fiz isso mesmo?!" e "quando vou poder fazer algo assim de novo?" (planos mirabolantes não faltam...)

A terceira e provavelmente mais importante foi interação com as pessoas pelo caminho. Desde a "quentinha" fornecida por um trabalhador no meio do ermo da estrada do Despraiado que salvou o dia ou a feijoada caprichada que ganhei do dono de uma pousada em Iguape depois do dia mais complicado de pedal, os inúmeros anônimos pelo caminho que perguntavam o que eu estava fazendo ali com a bicicleta carregada e incentivavam de eu estar vindo de longe, ou acenavam com um sorriso no rosto enquanto eu passava... Tudo isso foi muito, muito legal.

Mesmo com esse Brasil perigoso que tanto falam no jornal, em nenhum momento senti perigo no caminho (tirando apenas 2 caras estranhos que vieram me perguntar algo na estrada do Despraiado, mas era só impressão minha msm) além dos caminhões passando do teu lado a mais de 100 por hora. E mesmo esse perigo é interessante, pois ele tb é, de certo modo, um "formador de caráter".

Então é meio clichê dizer isso, mas lá vai: FAÇAM ALGO PARECIDO, ORA PORRA!

Especialmente o juvenil. Pare de reclamar da vida. Pare de chorar pq levou um pé ou pq ninguém quer vc. Vá para a estrada. A estrada sempre vai te querer, igual a uma mulher no cio. Junte algum dinheiro e vá para a maldita estrada. Mas e se eu morrer no caminho? E se me acontecer algo? E se, e se... É pq era pra acontecer. Pedalei mais de 800km e o máximo q tive foi um ralado no joelho. E no caminho de casa q me acidentei feio certa vez. Então, pode acontecer tanto no quarteirão do lado da sua casa, quanto no meio do nada em alguma estrada perdida do interior de SP. Podia ter morrido espatifado por um caminhão ou numa das descidas malucas do Despraiado? Poderia. Mas acho que seria bem legal assim. Seria uma forma honrada de morrer.

E o dinheiro? Não gastei muito, mesmo geralmente dormindo em pousadas. Se quiser ser sovina sempre há a possibilidade de pedir em postos de gasolina pela estrada. Não é difícil arrumar um lugar pra montar a barraca num cantinho do estabelecimento. Comida vc mesmo faz, é parte da diversão aturar suas gogorobas malemá comestíveis.

O último ano foi bastante complicado para mim e esse ano tb não está sendo nada fácil. Mas nem por isso tapo os ouvidos pro chamado da estrada. Ela me chama de novo. E acho que agora em julho atenderei ao pedido. Se eu for (e voltar vivo rs) vocês saberão em um novo "diário". E dessa vez não vou de bicicleta, mas a pé...



... sem falar de outros projetos meio suicidas meus, como este aqui. Vamo ver o que o futuro me aguarda.

[xandysmaster]

Espetacular, simplesmente. Merece meu respeito e de todos que aqui se depararem.

[Spectro]

Barão já se tornou mais que um realista.
Tornou se um mito, uma lenda, um mestre.


Eu sou tão Leite com pêra que quase me cago dirigindo em sampa hauahaua.

[TheClimber]

Que massa! morro de vontade de fazer isso um dia de bike, ou aquelas viagens pelo Chile de carro. deve ser massa de mais, você conhece outros lugares, mas no final acaba conhecendo mais a si mesmo do que qualquer outra coisa. Espera até eu ter meu dinheiro, quem sabe também não faço um relato desses por aqui.

[barãozin]

Holy crap!!!

Minha peregrinação está CANCELADA.

Ontem sofri um acidente feio e zuei legal a perna (sorte que só vai precisar engessar). Então nada de doideira por um tempo...

[Fernando_R1]

Parabéns pela aventura, Barão.

Tópico fantástico! Dos melhores de 2018, sem dúvidas.

[Diamante]

- Pô Barão, enfim postou este relato.

- Só no aguardo do Senna para indicar o mesmo para os melhores do ano.

[barãozin]

- Pô Barão, enfim postou este relato.

- Só no aguardo do Senna para indicar o mesmo para os melhores do ano.

Demorei um pouco, mas postei.

Ainda tou devendo outro aqui, um rolê doido q fiz com o Rooster.

[Czar]

Que relato incrível @Barãozin!!!!!!!!!

Era exatamente isso que eu tava precisando ler. Tava eu aqui pensando em comprar uma bikezinha e sair desbravando mundo afora e o seu relato me deu o ânimo cara. Vou começar a pesquisar e ler sobre o assunto. Em dezembro quero começar as minhas aventuras. Vou começar andando pela cidade aqui mesmo. Depois que eu for adquirindo experiência eu vou expandir os limites e quem sabe eu chegue nesse nível um dia.

Aos confrades do fórum, alguém tem dicas de bicicletas para comprar? Quero uma simples, sem frescuras que dê pra eu desbravar a minha cidade, nada de loucuras por enquanto

Já vi que tem como comprar as peças e ir montando, mas compensa mesmo? Ou é melhor comprar uma pronta de marca melhorzinha e sair pras aventuras? deixem as dicas aí em baixo, e quem sabe relatem as suas aventuras pelo Brasilzão véio de guerra.

[barãozin]

Vai fundo, não ignore essa ideia não.

Se aí tiver decatlhon, recomendo ver os modelos de entrada deles, tem umas muito interessantes e são bicicletas bem feitas e com preço justo. Ou compre uma usada de marca gringa no OLX, costuma achar coisa mt boa lá por 500-800 reais.

Montar a bicicleta só é legal se vc já tiver uma noção do q quer e da qualidade do material q quer usar.