04-12-2017, 05:08 PM
"Quando a pílula surgiu, nos anos 60, as feministas celebraram o fato de que agora as mulheres poderiam desfrutar do sexo como os homens sempre fizeram, sem compromisso. A igreja e os conservadores alertaram que isso transformaria as mulheres em objetos de consumo masculino. Foram taxados de reacionários, mas hoje a meninada ouve obras de arte como "Agora virei puta", "Hoje eu não vou dar, eu vou distribuir" e "Mulher marmita", e acham que isso é empoderamento e emancipação.
Quando o divórcio foi oficializado no Brasil, ninguém em sã consciência diria que se tratava de um retrocesso (a separação, ou "desquite", já era permitida no Brasil em diversas formas desde 1890, mas sem por fim ao casamento). Mais uma vez a igreja e os conservadores alertaram que atacar a indissolubilidade do casamento acabaria com a própria instituição da família, que por sua vez era o "cimento" social. Mais uma vez foram rotulados de retrógrados, mas hoje as mulheres cuidam sozinhas da família em 40% dos lares.
A união estável entre homem e mulher, no Brasil, foi oficialmente reconhecida como entidade familiar por uma lei de 1996. Claro que a igreja e os conservadores foram contra, alegando que as pessoas não deveriam poder trocar de família como quem troca a roupa de baixo. Foram chamados de atrasados, mas hoje 17% das mulheres são abandonadas por seus parceiros ainda na gestação, e um estudo de 2009 apontou que 21% das mulheres com câncer são abandonadas pelos parceiros durante o tratamento.
Esqueçam o "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença".
O aborto de anencéfalos deixou de ser crime a partir de uma decisão do STF, em 2012. Setores da igreja (e os conservadores) alertaram que permitir uma hipótese de aborto por puro ato de vontade, fora das hipóteses legais (por risco de vida à mulher ou em caso de estupro) atacaria a percepção que se tem quanto ao valor da vida humana. Ano passado a 1ª Turma do STF disse que aborto não deveria ser crime até a 12ª semana, mesmo que não haja risco para a gestante ou para o feto, e mesmo que a gravidez não tenha decorrido de estupro.
Agora, a qualquer momento o STF vai julgar a possibilidade de aborto legal caso a gestante seja diagnosticada com o zika vírus. Vejam que não se exige que o feto tenha diagnosticada a microcefalia, apenas que a mãe tenha o zika vírus. A relação entre o vírus e a maior incidência de microcefalia ainda não está plenamente estabelecida, e, ainda que haja uma correlação, nem toda mulher grávida infectada pelo vírus terá um bebê com microcefalia.
Mas uma comissão da ONU afirmou que impedir que mulheres com zika vírus realizem legalmente o aborto é "tortura" (https://veja.abril.com.br/…/negar-aborto-em-caso-de-zika-p…/#). À frente da ação no Supremo está Débora Diniz, da ONG Anis - Instituto de Bioética, que foi também uma das entidades do terceiro setor admitida como amicus curiae na ação que ensejou a decisão no caso dos anencéfalos. A advogada da mesma ONG, Gabriela Rondon, agora impetrou um Habeas Corpus Preventivo em nome de Rebeca Mendes Silva Leite, para que ela possa realizar um aborto sem ser punida - o que é equivalente a pedir um HC pra cometer um estupro, ou um roubo, sem sofrer pena. "Não é 'liberar o aborto', mas entender que no caso de Rebeca o procedimento é uma proteção à saúde", diz a minha colega, como se o feto saudável e fruto de uma concepção livre fosse um câncer ou uma inflamação no útero. A contradição contida na frase deixa claro como o dia que se trata exatamente daquilo que ela nega, e um passo depois do outro vai-se banalizando a vida, passando por cima do Congresso e da opinião do povo a respeito.
Minha geração é filha da primeira geração que praticou o divórcio em larga escala, e é uma geração que cada vez menos se dispõe a constituir família. Minha geração é filha da geração que usou a pílula sem culpa e passou a defender o "direito" ao aborto como medida libertadora, mas não quer ter nem criar seus próprios filhos. Minha geração quer salvar o mundo, mas declarou guerra aberta contra as gerações que ainda nem nasceram. Minha geração é filha da geração que defendeu a legalização da maconha, mas depende de narcóticos, legais e ilegais, pra dormir, acordar e sorrir.
Todos nós aqui sabemos dizer de cor o que "ganhamos" nas últimas décadas em termos de liberdade e autodeterminação.
Mas será que fazemos ideia do que largamos pelo caminho?"
Texto de Rafael Roset.
Quando o divórcio foi oficializado no Brasil, ninguém em sã consciência diria que se tratava de um retrocesso (a separação, ou "desquite", já era permitida no Brasil em diversas formas desde 1890, mas sem por fim ao casamento). Mais uma vez a igreja e os conservadores alertaram que atacar a indissolubilidade do casamento acabaria com a própria instituição da família, que por sua vez era o "cimento" social. Mais uma vez foram rotulados de retrógrados, mas hoje as mulheres cuidam sozinhas da família em 40% dos lares.
A união estável entre homem e mulher, no Brasil, foi oficialmente reconhecida como entidade familiar por uma lei de 1996. Claro que a igreja e os conservadores foram contra, alegando que as pessoas não deveriam poder trocar de família como quem troca a roupa de baixo. Foram chamados de atrasados, mas hoje 17% das mulheres são abandonadas por seus parceiros ainda na gestação, e um estudo de 2009 apontou que 21% das mulheres com câncer são abandonadas pelos parceiros durante o tratamento.
Esqueçam o "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença".
O aborto de anencéfalos deixou de ser crime a partir de uma decisão do STF, em 2012. Setores da igreja (e os conservadores) alertaram que permitir uma hipótese de aborto por puro ato de vontade, fora das hipóteses legais (por risco de vida à mulher ou em caso de estupro) atacaria a percepção que se tem quanto ao valor da vida humana. Ano passado a 1ª Turma do STF disse que aborto não deveria ser crime até a 12ª semana, mesmo que não haja risco para a gestante ou para o feto, e mesmo que a gravidez não tenha decorrido de estupro.
Agora, a qualquer momento o STF vai julgar a possibilidade de aborto legal caso a gestante seja diagnosticada com o zika vírus. Vejam que não se exige que o feto tenha diagnosticada a microcefalia, apenas que a mãe tenha o zika vírus. A relação entre o vírus e a maior incidência de microcefalia ainda não está plenamente estabelecida, e, ainda que haja uma correlação, nem toda mulher grávida infectada pelo vírus terá um bebê com microcefalia.
Mas uma comissão da ONU afirmou que impedir que mulheres com zika vírus realizem legalmente o aborto é "tortura" (https://veja.abril.com.br/…/negar-aborto-em-caso-de-zika-p…/#). À frente da ação no Supremo está Débora Diniz, da ONG Anis - Instituto de Bioética, que foi também uma das entidades do terceiro setor admitida como amicus curiae na ação que ensejou a decisão no caso dos anencéfalos. A advogada da mesma ONG, Gabriela Rondon, agora impetrou um Habeas Corpus Preventivo em nome de Rebeca Mendes Silva Leite, para que ela possa realizar um aborto sem ser punida - o que é equivalente a pedir um HC pra cometer um estupro, ou um roubo, sem sofrer pena. "Não é 'liberar o aborto', mas entender que no caso de Rebeca o procedimento é uma proteção à saúde", diz a minha colega, como se o feto saudável e fruto de uma concepção livre fosse um câncer ou uma inflamação no útero. A contradição contida na frase deixa claro como o dia que se trata exatamente daquilo que ela nega, e um passo depois do outro vai-se banalizando a vida, passando por cima do Congresso e da opinião do povo a respeito.
Minha geração é filha da primeira geração que praticou o divórcio em larga escala, e é uma geração que cada vez menos se dispõe a constituir família. Minha geração é filha da geração que usou a pílula sem culpa e passou a defender o "direito" ao aborto como medida libertadora, mas não quer ter nem criar seus próprios filhos. Minha geração quer salvar o mundo, mas declarou guerra aberta contra as gerações que ainda nem nasceram. Minha geração é filha da geração que defendeu a legalização da maconha, mas depende de narcóticos, legais e ilegais, pra dormir, acordar e sorrir.
Todos nós aqui sabemos dizer de cor o que "ganhamos" nas últimas décadas em termos de liberdade e autodeterminação.
Mas será que fazemos ideia do que largamos pelo caminho?"
Texto de Rafael Roset.