05-03-2013, 09:41 PM
Dois meninos não se atraem. Duas meninas também não. Segundo o modelo exposto em uma apostila do Colégio Farias Brito, de Fortaleza, apenas menino e menina podem estar próximos, do contrário o que existe é a repulsão.
Pais denunciam escola por proibir criança transgênero de usar banheiro das meninas
Segundo denúncia recebida pela ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), o material foi distribuído a alunos do terceiro ano do ensino médio durante uma aula de física e causou constrangimento em alunos homossexuais.
Na ilustração sobre o princípio da atração e repulsão, há a imagem de dois meninos e duas setas em sentidos opostos e a palavra repulsão ao lado. No segundo exemplo, duas meninas e, novamente, a palavra repulsão e no último exemplo um menino e uma menina e a palavra atração.
Para o presidente da ABGLT, Toni Reis, o material didático é homofóbico. "As pessoas precisam ter a clareza que homofobia não é apenas matar, discriminar, mas também fazer esse tipo de exemplo pejorativo. Esse exemplo de que o igual não pode se atrair. Essa apostila é um incentivo à piada, à brincadeira, ao preconceito", disse.
Ainda de acordo com Reis, o estudante do terceiro ano autor da denúncia ficou entristecido não somente com o material, mas também com a forma como foi trabalhado em sala de aula. "Esse garoto contou que o professor fez chacota em sala de aula do material. Ele se sentiu totalmente agredido", declarou.
A ABGLT encaminhou a denúncia ao Ministério Público do Ceará e ao Ministério da Educação pedindo a averiguação do caso.
Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense Marilia Etienne Arreguy , a apostila é "um absurdo". "Vem de encontro a todas as políticas sociais que tentam discutir a questão da diferença, o respeito à diferença. É inaceitável, um desserviço à sociedade", afirmou.
De acordo com Arreguy, o material é uma influência nociva a estudantes ainda em fase de construção de identidade. "Fico revoltada que no terceiro milênio ainda exista esse tipo de concepção."
Outro lado
Procurado pela reportagem, o diretor superintendente do Colégio Farias Brito, Tales de Sá Cavalcante, rechaçou qualquer viés homofóbico na apostila dedicada aos alunos da instituição. Segundo o diretor, "a imagem pura de duas crianças não tem nada a ver com homossexualismo".
"O material foi distribuído, mas não tem nada a ver com homofobia. É um reforço didático apenas. Uma maneira apenas do aluno fixar. São ilustrações de duas crianças, não tem nada a ver com homofobia", disse. "O normal é que o sexo masculino seja atraído pelo sexo feminino, não tem nada a ver com homofobia."
"Se a gente quisesse fazer referência ao homossexualismo colocaríamos dois gays no carnaval, o que nós colocamos foi a imagem pura de duas crianças sem nenhuma referência ao homossexualismo. Se a gente fosse homofóbico, a gente usaria essa referência nas apostilas de biologia", concluiu.
O diretor afirma que os estudantes homossexuais são tratados com respeito no colégio e suspeita que a denúncia possa ter partido de instituição de ensino concorrente. "Vamos apurar e chegar ao autor disso tudo", declarou.
O centro de ensino é composto pelo Colégio Farias de Brito e pela Faculdade Farias de Brito em um total de 13.600 alunos, 11.600 na capital cearense e mais 2.000 em Sobral, município na região noroeste do Ceará. O colégio, fundado há 78 anos, tem alunos das classes de alfabetização ao pré-vestibular. A instituição oferece ainda curso superior em direito, administração e marketing.
Fonte: UOL Educação