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Fórum do Búfalo Mulheres/Feminazismo/Relacionamentos Geralzão da Real [ESTUDO] Os Doze Trabalhos de Hércules e a Real
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[ESTUDO] Os Doze Trabalhos de Hércules e a Real
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#1
06-11-2012, 01:51 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 06-11-2012, 02:30 PM por DiomedesRJ.)
Confrades,

seguindo o espírito do meu estudo, no sentido de demonstrar que as pistas para a manutenção da alma masculina em sua forma original estão dispersas por toda a História, eu trago até vocês um estudo que ainda está em conclusão, mas que trago a vocês para esclarecimento de todos, talvez um dos mitos greco-romanos mais famosos de todos: Os Doze Trabalhos de Hércules (e como encontramos a filosofia da Real nele).

Deverei manter um fluxo de postagens, no máximo, semanal aqui; em caso de atraso ou contratempo, todos serão avisados, mas creio que com este intervalo, não haverão problemas.

Este é um estudo que está em progresso, mas mesmo que não estivesse, todos são livres para observar, acrescentar, criticar, negativar ou positivar, conforme seus próprios conhecimentos.

Que estes olhares para o nosso Passado um dia possam colaborar para um mais brilhante Futuro para todos.

Força e Honra!

NOTA: Peço aos colegas que não postem neste espaço; todos os debates e comentários devem ser colocados neste outro espaço aqui: http://legadorealista.com/fdb/showthread.php?tid=2083 , desta forma facilitando a leitura para todos.

Bom estudo!
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#2
06-11-2012, 02:26 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 06-11-2012, 03:18 PM por DiomedesRJ.)
Confrades,

seguindo o espírito do meu estudo, no sentido de demonstrar que as pistas para a manutenção da alma masculina em sua forma original estão dispersas por toda a História, eu trago até vocês um estudo que ainda está em conclusão, mas que trago a vocês para esclarecimento de todos, talvez um dos mitos greco-romanos mais famosos de todos: Os Doze Trabalhos de Hércules (e como encontramos a filosofia da Real nele).

Falarei hoje da vida do nosso personagem, e do que o levou a executar estes trabalhos lendários.

::::::::::::::::::::::::::::::::::

Hércules era filho do Rei dos Deuses, Júpiter, com a princesa Alcmene, fruto de um dos incontáveis adultérios dele.

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Tendo demonstrado especial paixão pela mãe do semideus, e de amor maior ainda pelo seu filho, tendo o proclamado seu preferido diante de todos os seus filhos, Juno, Rainha dos Deuses, se tornou especialmente dedicada a tornar a vida desta criança o mais miserável possível, antes de levá-la a morte.

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(Nota do Diomedes: Juno, sendo a divindade que presidia a Ordem e os Bons Costumes, e os reinos mundanos, pode ser facilmente sincretizada com o desejo do Lado Obscuro de dominar o masculino, e Júpiter, a liberdade do desejo masculino somada aos seus maiores conhecimentos... motivo pelo qual apesar de casados, viviam em constante conflito. Tendo Júpiter gerado um ser que, por força de sua linhagem, podia se tornar um homem que Juno não poderia controlar, e tendo nascido da vontade e da afinidade, ao invés das coisas que ela controlava, tudo o que nossa Rainha feminazi Mitológica poderia querer era o fim de seu enteado. Vocês sabem o quanto a liberdade que temos, quando é compreendida, pode ser contagiosa...).

Em meio a muitas tentativas de assassinato que Hércules sofreu por parte de Juno, desde o berço, retornava Hércules de uma de suas aventuras, já casado legalmente com a Princesa de Tebas, Megara, e tendo seis filhos com ela, em uma bifurcação da estrada, o semideus encontra ao mesmo tempo com duas Deusas: Minerva (Atena), Deusa da Sabedoria, e Vênus...

As Deusas se colocaram diante dele para lhe fazer escolher (terminando com uma disputa particular delas) que tipo de vida ele teria: se ele escolhesse Vênus como patrona, ele teria uma vida longa de prazeres e tranquilidade, mas com um nome obscuro e logo esquecido; se ele escolhesse Minerva, viveria pouco e com dificuldades, mas teria nome e feitos grandiosos que soariam pela eternidade.

Hércules refletiu brevemente, e explicando que ele sabia de sua responsabilidade sobre o mundo, escolheu Minerva, antes de seguir viagem de volta para casa.

(Nota do Diomedes: Mesmo recusada, Vênus disse a Hércules que em meio de suas dificuldades e sacrifícios, daria a ele recompensas... não podia deixar de molhar a calcinha para o Filho de Júpiter, não é, safadinha? trollface )

Juno, do alto do Olimpo, viu neste momento uma oportunidade de tirar a dignidade de Hércules, e abrir caminho para o fim dele. No caminho de retorno, Hércules havia discutido raivosamente com seu primo, o Rei Euristeu, protegido de Juno e aliado de Tebas, o reino de sua mulher. Euristeu teria zombado da vida simples de seu primo, pois ele era filho de deuses, e tinha que se conformar em viver no estrangeiro, enquanto ele, venerava com fervor a uma deusa, e tinha dela tudo do melhor... (Nota do Diomedes: ser serviçal da ordem feminina mundial tem recompensas... mas quem se importa com o preço?)... Euristeu se despediu dizendo a Hércules que sempre teria tudo melhor que ele... a despedida deixou Hércules furioso.

E esta fúria era tudo o que Juno precisava...

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Chegando em Tebas, Hércules encontrou o país em ruínas. Em meio ao combate, descobriu que um rei invasor havia entrado em Tebas, assassinado seu sogro, o Rei Creon, e estava buscando sua família. O Filho de Júpiter, sem demora, cego de ira, procurou seu aposento no palácio, esmagando todos os soldados no seu caminho...

Foi quando Juno inseriu a loucura na raiva hercúlea que ele sentia... e o pior aconteceu.

Hércules entrou em sua residência, e viu Megara se debatendo nas mãos do Rei Licos, o invasor de Tebas, e os filhos do casal cercando os dois. Em sua insanidade, ele olhou para Licos, e viu seu primo Euristeu, zombando dele, dizendo que tudo o que estava ali lhe pertencia...

Sem demora, ele tomou seu arco, e com flechada certeira, atravessou o crânio de Licos.

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Ele viu seus filhos, gritando de desespero, e em sua loucura, entendeu que o desespero das crianças era porque ele não era seu pai, mas sim Euristeu, adúltero, ladrão, traidor... cego pelo seu sentimento, então... Hércules tomou de seu carcás, e um a um, matou seus próprios filhos.

Seu pai adotivo, Anfitião, entrou nos aposentos e vendo a tragédia, se colocou entre Hércules e Megara, tentando impedir um desastre maior. Hércules, vendo o pai de Euristeu no lugar do seu próprio, tomou suas últimas flechas para matar ele e sua mulher, terminando sua imaginária vingança...

...neste momento, Minerva, grata pela escolha de Hércules, e apiedada de sua situação, aparece imersa em luz, e golpeia o semideus na cabeça com o cabo de sua lança.

Quando a luz se foi, e a dor do golpe também... Hércules voltou a si, e com um urro de lamento, viu seu pai a lhe olhar imóvel, e Megara chorando desesperada diante dos corpos de seus filhos, mortos pela mão de seu próprio pai...

(Nota do Diomedes: A loucura e o desatino é o destino final de muitos matrixianos, e Hércules, tendo o potencial para ser um Zeta, mas inconsciente de sua capacidade, foi joguete fácil para a Matrix e seu próprio Ego causarem esta tragédia. Quantos crimes passionais já foram causados por circunstâncias parecidas? Quantos mais serão causados pelos que desconhecem o que sabemos? Quantos de nós ainda sim, cometerão loucuras pela vida, porque não se desenvolveram internamente, por mais que conhecessem a Real?)

Sem conseguir mais encarar a Megara, Hércules deixou sua ex-mulher aos cuidados de seu sobrinho Iolau (Nota do Diomedes: sim, Hércules tinha um irmão, gêmeo por sinal, Ificlo, mas que não era divino como ele), e deixando Tebas, foi procurar o julgamento de um Rei estrangeiro para pagar por seu crime diante dos homens. Após ser inocentado por um aliado do falecido Creon, Hércules queria também o perdão dos Deuses. Achando sua resposta diante do Oráculo de Delfos, um dos canais através do qual os homens questionavam aos deuses, ele ouviu: Hércules deveria se oferecer como servo do Rei mais próximo em linhagem dele mesmo, e o servir sem questionar durante doze anos; ao fim deste tempo, se ele cumprisse fielmente sua servidão, não só os Deuses os perdoariam, mas o premiariam com a vida eterna.

Hércules deixou o Oráculo com desgosto... porque isto significava que ele teria que servir a seu primo Euristeu... e servir a Euristeu, seria o mesmo que servir a Juno, aquela que lhe perseguiria até o fim de sua vida.

(Nota do Diomedes: Delfos era regido pelo deus Apolo, a Encarnação do Virtuoso Masculino; assim, Hércules, um matrixiano desplugado do sistema pela Dor e pela Tragédia, busca ter acesso a sua iluminação superior, e é guiado não a se isolar do mundo, mas a buscar sua elevação através das armadilhas do Lado Obscuro da Mulher, dos seres iludidos que defendem conscientemente a Matrix em troca de vantagens - os Agentes, representados por Euristeu - e sua própria inferioridade instintiva humana)

Mas obediente aos Deuses, o semideus seguiu para o Reino de Euristeu... e para o início dos Doze Trabalhos de Hércules.
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07-11-2012, 02:08 PM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 07-11-2012, 02:09 PM por DiomedesRJ.)
Chegando até Micenas, Reino de Euristeu, Hércules se apresenta a seu primo, se submetendo como seu servo, conforme a orientação vinda do Oráculo de Delfos, dizendo que estaria a disposição do que ele desejasse, pelos próximos doze anos. O Rei, já alertado da vinda de Hércules por sua patrona, a deusa Juno, saudou jocosamente a seu primo, aceitando sua servidão pelo prazo determinado pelo Oráculo, e dizendo que em breve, ele seria avisado de seu primeiro dever, sendo em seguida despachado para os aposentos dos servos para se alimentar e dormir por lá.

Durante a noite, orando para Juno, Euristeu pede à deusa inspiração para um trabalho que leve seu destestado primo para sua morte, livrando-o de seu rival, e agradando à sua Senhora pelo fim do bastardo que lhe envergonhava a existência. Ao acordar, ele teve a idéia que desejava...

[Imagem: 320px-Hera%27s_eyes,_Reunions.png]

Em audência pomposa, O Rei Euristeu convoca Hércules a sua corte, anunciando a todos que o Filho de Júpiter era agora seu servo, e que seria enviado nos próximos doze anos para cumprir dez trabalhos (Nota do Diomedes: sim, inicialmente ele só precisaria cumprir dez, e não doze), e que se fosse bem sucedido em todos, lhe devolveria sua liberdade antes do prazo determinado.

[Imagem: Crete360.jpg]

Então, ele anuncia a Hércules que ele soube, que na região de Neméia, um feroz leão havia se estabelecido por lá, um monstro filho do Titã Tífon (derrotado na guerra entre os Titãs e os Olímpicos) e da Ninfa Équidina, que estava devorando os aldeões e aterrorizando a população. Para que a paz fosse estabelecida nesta terra pacífica, e para provar seu valor como um semideus, Euristeu enviaria a ele como seu Campeão, com a missão de matar o monstro e dar fim a seu reino de terror.

Hércules então, tomou suas armas, espada, escudo, arco e flecha, e uma clava bruta de madeira que o acompanhava há tempos (sua arma preferida em combate, mesmo sendo exímio arqueiro), e partiu para Neméia, com o povo a o saudar, e Euristeu sorrindo confiante que Hércules seria incapaz de derrotar tal fera...

Ao chegar em Neméia, encontrou pequenas vilas totalmente desertas, seus habitantes mortos ou foragidos para outras terras, e apenas uma grande vila ainda ocupada, mas com todos trancados em suas casas. Hércules bradou em alta voz que o Filho de Júpiter estava lá para derrotar o Leão de Neméia, e que as pessoas não deveriam temer mais. Os aldeões, de dentro de suas portas e janelas, responderam a Hércules, com declarações confusas e contraditórias que o leão era terrível e invencível, que já tinha aparecido em todas as partes da Neméia mas que ninguém conhecia onde ficava seu covil, e que nenhuma ajuda prestariam a ele.

Hércules então, parte sozinho para rastrear a fera.

(Nota do Diomedes: em muitos momentos, Hércules fala de seu oponente aos outros, mas todos se acovardam ou dão conselhos inúteis sobre ele. Diante de uma tarefa difícil, mesmo um homem pode procurar alguém que considere mais sábio e superior a ele em algum conceito para buscar um conselho... mas diante desta tarefa, o Aspirante a Zeta tem que buscar sua conquista sozinho, por mesmo as palavras alheias de nada valerão. O inimigo se manifesta em todas as partes, mas não está em nenhuma, e isto é verdade, pois sua verdadeira morada é DENTRO de nós)

Após seguir as pegadas do monstro, patas de um leão bem maior que a média, e em muitos lugares, sujas de sangue, enfim o Filho de Júpiter encontra a fera. A não ser pelo tamanho, ele em nada diferia de um leão comum... mas quando ele viu a Hércules, soltou um rugido que estremeceu até as copas das árvores próximas ao herói.

[Imagem: 458066-male-lion-showing-its-teeth.jpg]

Porém, o semideus, armado desde o princípio de sua vida de inabalável coragem, e acostumado a enfrentar outras feras como ele, não saiu de onde estava. Ao contrário, tomou de uma de suas flechas, e atirou certeiramente contra o ombro do leão...

[Imagem: stock-illustration-9209855-stylized-archer.jpg]

...apenas para vê-la se despedaçar contra a sua pele. Hércules gasta todas as suas flechas contra ele, sem efeito, sem que sequer o leão se mova. Procurando então correr a sua máxima velocidade, abandona espada, escudo e clava, e corre contra o leão com seu melhor grito de guerra.

Ao ver Hércules se aproximar, o leão ruge novamente, o chão tremendo diante do som, e ao ver que Hércules não recuaria... o leão foge, patas voando como o vento, até o semideus não mais vê-lo no horizonte.

Determinado a encontrá-lo, o Filho de Júpiter segue suas pegadas...

[Imagem: paw-prints.jpg]

(Nota do Diomedes: O oponente deste trabalho, quando deseja nos submeter, fala de forma impositiva, emocional, e definitiva, não nos dando outra escolha senão seguir cegamente para a direção que ele nos conduz. Um Aspirante já está liberto das ilusões do mundo, e foi ensinado a não se acovardar diante de nada, logo, não se intimida diante do Adversário. Na verdade, o Inimigo sempre nos tange na direção contrária a que a Justiça e a Lógica nos impele, e quando corremos na direção que ele nos conduz, somos pelo Adversário devorados, assimilados, submetidos a ele. O Aspirante a Realista deve ouvir a ordem do Adversário e ignorar sua força e sua firmeza... no entanto, é inútil agredi-lo, pois ele é inacessível a qualquer agressão, nem confrontar o Inimigo, pois ele se retrai em si mesmo e desaparece)

O rastro leva Hércules para uma caverna profunda e escura, onde ele ouve novamente o rugido do leão, ainda mais temível pelo eco que ela provoca. Ignorando o som, o semideus entra na caverna escura, seguindo, seguindo, não mais ouvindo o som do leão, mas seguindo...

[Imagem: cave_07.jpg]

...até descobrir uma luz. Quando a encontra, descobre que a caverna tinha uma saída, e que o leão a usou para escapar.

(Nota do Diomedes: O Aspirante enfim encontra o lar do Oponente, no recesso de si mesmo; sabendo que confrontação é impossível, ele apela para a lógica, tentando argumentar com o Adversário... mas mesmo a lógica, contra ele, é inútil, pois o Inimigo SEMPRE encontrará uma saída, uma justificativa perfeitamente plausível para seus maus conselhos)

O semideus reflete sobre o que fazer, e toma uma decisão: tomando pedras e rochas, ele fecha a saída da caverna, e volta a perseguir o leão. Quando o leão desaparece novamente, ele vai até a caverna, entra, com mais pedras e madeira bloqueia a entrada, e agora sem outra opção, o leão aguarda pelo herói no fundo da caverna, em postura feroz, prestes a atacar. Hércules se detém aguardando, sabendo que só podia contar com suas mãos para enfrentá-lo.

[Imagem: s-607041427XT1.jpg]

Quando ele salta, o Filho de Júpiter contém seu avanço, afastando de si as garras afiadas do monstro. O leão ruge em fúria mais uma vez, e cansado de ouvir o som do leão, Hércules deita o animal, e estrangula-o, mantendo-o junto a seu corpo.

[Imagem: hercules.jpg]

O animal ruge de ódio com toda a força no início, passando a sons mais fracos e curtos, até que, perto do fim, o leão se resume a miados de súplica pela sua vida. Hércules não se intimida ou se apieda, continua a estrangulá-lo até que a criatura perde totalmente as forças e perece.

(Nota do Diomedes: O Aspirante a Homem Superior reflete sozinho, abre mão de qualquer possibilidade de confrontar seu Adversário, e toma a única decisão possível de vitória: se fecha em si mesmo, meditando profundamente sobre as ações de seu Oponente, o invocando, e quando de sua aparição, abandona qualquer distração. Não tendo alternativa, o Inimigo enfim passa a atacar o Aspirante, buscando destruir suas forças, minar sua confiança. O Aspirante só tem uma chance de vender seu Inimigo, O EGO... estrangulá-lo, cortar suas forças.

Estrangular o Ego significa abrir mão de quaisquer manifestações que possam invocar o orgulho que é seu alimento, e silenciar qualquer declaração que ele tenha. A verdadeira humildade, Confrades, não é subserviência, é saber exatamente sua dimensão diante do Mundo, nem menos nem mais do que se é. Um Homem que sabe servir a quem é de direito e a mandar a quem não pode governar a si mesmo não abusará de seu poder; um Homem que sabe que cargos, heranças e direitos são transitórios e perecíveis, não se deixa envaidecer por eles; um Homem que prefira agradar a própria consciência do que agradar a opinião dos outros, não deixará seu coração atrapalhar sua lógica. Não tendo pelo que lhe afetar, e não lhe dando ouvidos, o Ego primeiramente ordena, depois comanda, argumenta, dialoga, pede, suplica, e enfim, se cala
)

Querendo mostrar ao povo de Neméia que o leão estava morto, Hércules queria retirar a pele do leão, mas ele sabia que a pele era invulnerável. Percebendo que enquanto ele estrangulava o leão, o monstro se debateu e deixou arranhões na própria pele, ele tomou as garras do próprio leão, e conseguiu retirá-la. Com a pele do leão vestida em si mesmo, ele foi até as vilas de Neméia, que comemoraram de júbilo, e reconheceram que Hércules era muito mais que um simples homem, que ele tinha realmente essência divina.

[Imagem: 15701920-statue-of-hercules-wearing-the-...n-lion.jpg]

(Nota do Diomedes: Percebendo que o Ego só pode ser ferido por si mesmo, o Aspirante decide fazer mais do que apenas sufocar o Ego, mas sim, tomar sua força e poder para si mesmo. Feito isto, ele toma para si a Convicção Suprema de sua Personalidade, e ela passa a ser INVULNERÁVEL a lisonja, a calúnia, ao agrado mal intencionado. Ele deixa de ter medo, também, de se doar quando for necessário, porque o Ego traz em si o egoísmo que é malévolo, que prefere prejudicar a si mesmo do que beneficiar a outros seres com suas ações. Um Ego vencido deixa de ter este medo, e então sim, permitirá ao Aspirante ser um bom filho, um bom pai, um bom empregado, um bom chefe, e até um bom marido, se ele assim o desejar.)

Retornando ao Reino de Euristeu, o povo o saudou com grande alegria. Euristeu ficou tão espantado com a vitória de Hércules sobre um oponente que ele julgava invencível, que se escondeu em um grande jarro de bronze, com medo de ser morto pelo primo, e mandou um arauto ordenar a ele que ele estava proibido de retornar a Neméia com seu prêmio (para que os aldeões, com o tempo, esquecessem de seu feito), e aguardar até que seu próximo Trabalho fosse passado a ele. Também passou, a partir deste trabalho, a ditar os Trabalhos para Hércules apenas através deste arauto.

[Imagem: 320px-Erymanthian_Boar_Louvre_G17.jpg]

(Nota do Diomedes: A arma mais elementar da Matrix, e dos Agentes Feministas, Esquerdistas e Gayzistas contra o Aspirante é o Ego. Eles sabem que é o primeiro passo interior para se dar para conquistar a Masculinidade Superior, e por isto, o mais difícil de todos, pois nenhuma outra conquista é completa sem dar este passo. Portanto, muitos Agentes menos experientes ficarão desarmados diante de um Aspirante que tenha "matado" o seu Ego - ele provou que ele realmente é apto para se tornar uma ameaça ao Sistema.
Os Agentes, diante de um Aspirante que tenha matado seu próprio Ego, tentarão reduzi-lo ao máximo a normalidade, ou equipará-lo a outros homens, para que outros não percebam sua mudança; mas o Aspirante não se importa. Qualquer homem que conviva com ele notará a diferença, e ele não precisa mais do louvor de ninguém para saborear suas vitórias.
Adônis, por mais que seja um mito que demonstre que é possível submeter o íntimo feminino com a postura e o desenvolvimento correto, não demonstra o dito Homem Ideal proposto por Nessahan Alita porque ele nunca conquistou seu próprio Ego. Neste ponto, Hércules mostra a todos nós o caminho. Deixar o sedentarismo é o primeiro passo para o desenvolvimento físico; somente a vitória sobre o próprio Ego gera o desenvolvimento mental que nos eleva e nos coloca acima dos outros Iludidos de nosso tempo
)

::::::::::::::::::::::::::::::::

Confrades, a primeira conquista do Guerreiro que deseja seu desenvolvimento interior é matar seu Ego, tomar sua força para si, e dimensionar corretamente seu lugar no mundo. Um Zeta pode ser mais esclarecido que a maioria dos homens, mas ele não se considera acima da Humanidade de forma alguma, não se considera infalível (mesmo buscando se igualar a perfeição sempre), não teme repartir suas glórias (desde que isto não prejudique a sua) e, em momento algum, se considera incapaz contra suas próprias fraquezas.

Sejamos como Hércules em sua jornada, encurralemos o feroz Leão de nosso Ego, e o derrotemos, para que nosso progresso possa enfim começar.

FORÇA E HONRA!
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28-11-2012, 10:32 AM
NOTA DO DIOMEDES: Este mito é muito volumoso e simbólico, então decidi postar o mito primeiro e deixar os apontamentos para outra postagem.

Força e Honra!

::::::::::::::::::::

Após algum tempo repousando, o Arauto de Euristeu mandou convocar o Filho de Júpiter dos aposentos dos servos; a hora do Segundo Trabalho havia chegado. Assim foi a segunda ordem de Euristeu:

Em Argos, a região de Lerna já foi conhecida por um lago fértil, condedido por Netuno como graça durante uma seca; como os argólidas se recusaram a repartir a água com outros povos quando eles sofreram com estiagem, os Deuses os puniram enviando a Hidra para lá, outro monstro filho de Tífon e Équidina. Com sua maligna presença, o lago se transformou em pútrido e enevoado pântano.

[Imagem: the_dark_marsh_by_countessbloody-d30fxku.jpg]

O monstro era conhecido por suas cinco cabeças, que quando uma era morta, duas cresciam em seu lugar; seu veneno que matava de forma dolorosa e incurável; e o fato de que uma de suas cabeças era totalmente imortal. Por ordem de Euristeu, Hércules devia viajar até Lerna e matar o monstro, livrando Argos deste flagelo.

O semideus, ciente da enorme dificuldade da tarefa, mas totalmente indisposto a desistir, tomou suas armas, vestiu a pele do Leão de Neméia, sua couraça impenetrável e agora, inseparável, e seguiu viagem para Argos.

Assim que deixou Micenas, a luz divina encheu a estrada, e na próxima curva, Hércules viu Apolo, Deus da Inspiração, aquele que através do Oráculo de Delfos, o enviou para Micenas.

[Imagem: 1344030950837329.jpg]

O Deus ditou apenas um enigma ao semideus: "Os homens tem um poder que nenhum Deus tem: quando eles se rebaixam, eles se erguem; quando eles se rendem, eles conquistam; quando eles entregam, eles ganham."

No último acampamento antes de chegar ao pântano, uma carruagem se aproximando do acampamento mostrou trazer o sobrinho de Hércules, Iolau, que ouviu de seu tio a dura tarefa que lhe aguardava, e ofereceu sua ajuda. Lembrando-se do conselho de Apolo, ele aceitou a ajuda, e permitiu que Iolau guiasse sua biga durante a missão.

[Imagem: tumblr_maha6s0HcU1rs84oho1_500.jpg]

Na chegada ao pântano, uma densa e horrivelmente fétida névoa cobria todo o local, obrigando os dois a deixarem os cavalos na borda do pântano, e viajarem lentamente, se acostumando a respirar pela boca quase que constantemente. Mesmo a navegação por lá tinha que ser lenta, pois a rota tinha que ser alterada constantemente, devido ao lodo que insistia em tragar o semideus e seu sobrinho para o fundo.

[Imagem: Southport%2Bmudflats%2Bdisappear%2Binto%...2Bmist.jpg]

Seguindo seus instintos, Hércules rumou para o centro do pântano, e chegou até profunda caverna. Ouvindo distante chiado, indicando que somente o monstro que procuravam poderia estar lá, acamparam na entrada, esperando que fatalmente em busca de comida o monstro saísse, a batalha se tornasse mais fácil. Porém, dias e noites se passaram e a Hidra não deixava sua cova.

Já com seus suprimentos no fim, Hércules tentou outra estratégia: tomou um pouco do piche que era abundante no pântano, embebeu a ponta de uma de suas flechas, acendeu-a e a atirou dentro da caverna, esperando assim gradualmente a iluminar o bastante para poder entrar.

O resultado foi bem diferente do esperado: uma única luz dentro da caverna foi o suficiente para que o monstro saísse de dentro, suas nove cabeças chiando irritadas, suas cabeças quase tocando o topo da névoa que encobria o Pântano de Lerna.

[Imagem: hudra...-gorogosen-hidra-.jpg]

Hércules percebeu que o monstro temia o fogo e pediu a Iolau que acendesse tochas e as mantivesse junto da biga, para o manter protegido. Uma das cabeças tentou morder Hércules no ombro, e perdeu seus dentes contra a pele invulnerável do Leão de Neméia, e enquanto outra se voltou contra seu calcanhar, de um só pisão, o semideus esmigalhou a cabeça da Hidra. No entanto, quando o pescoço recuou, o monstro tremeu, chiou, sacudiu-se e duas novas cabeças surgiram no lugar da que foi destruída. Ambas atacaram a Hércules, que desviou de ambas, atacando uma terceira, com o mesmo resultado... mais duas surgiam.

[Imagem: svetlin+velinov+hydra-monster-166612124a.jpg]

O semideus se deteve por um momento, depois de algumas tentativas frustradas, enquanto a Hidra chiava confiante, e refletiu. O monstro se regenerava a cada golpe, estava cada vez mais forte, se aproximava cada vez mais de seu sobrinho. Como derrotá-lo?

Enfim, a Iluminação lhe tomou, que ele não havia apelado para uma luz ainda mais poderosa que a do fogo...

Pedindo a Iolau que tomasse as tochas e as agitasse contra o monstro para distraí-lo, Hércules correu para junto da barriga da Hidra, sujando seu corpo do lodo do pântano, manchando suas roupas, atolando suas sandálias... e se ajoelhou diante do monstro, tocando com as mãos, como se suplicasse por sua vida.

A criatura viu seu gesto e parou confusa. Sem interromper seu movimento, Hércules agarrou o corpo da Hidra, e com sua força divina, a ergueu acima de seus braços e ficou de pé, fazendo com que suas cabeças se elevassem acima da névoa maligna do pântano, e encarassem o dia claro e o ar puro.

[Imagem: EI%20Dyad%20Afternnoon%20web.jpg]

O monstro chiou de terror, seu corpo tremendo e se agitando como se ele respirasse veneno e não ar. Sem poder reagir diante da luz do Sol, as cabeças penderam sem força uma a uma até todas voltarem para o ar fétido do pântano, mas agora engasgadas, lentas e com seus olhos cegados pela luz do dia.

Hércules tomou sua espada, e degolou a cabeça mais próxima, gritando para seu sobrinho lhe jogar imediatamente uma tocha. Queimando imediatamente a ferida, o pescoço caía ao chão inerte e a cabeça, sem vida. Conclamando seu sobrinho para cauterizar cada pescoço cortado do monstro, os dois se lançaram a tarefa, Hércules atacando uma a uma as cabeças, e Iolau queimando a que acabava de ser derrotada.

[Imagem: hercules_vs_hydra.jpg?w=720]

Assim fizeram até que o corpo do monstro, enfim, caiu de lado, morto e vencido. Hércules e Iolau bradavam sua vitória, quando ouviram um chiado que se sobrepunha a seus gritos: uma das cabeças, mesmo cortada do corpo da Hidra, chiava, babava seu mortal veneno, e encarava os heróis, se agitando como quem queria se aproximar deles. Era a mítica cabeça imortal da Hidra.

Se lembrando que o veneno da Hidra era fatal e incurável, e não querendo que a cabeça ameaçasse a mais ninguém, Hércules amarrou a cabeça e guiado por Iolau, a arrastou para fora do pântano. Em local fora da névoa fétida, eles cavaram um buraco, e o semideus aprisionou a cabeça dentro dele, cobrindo-a com a pedra mais pesada que conseguia carregar. Então, eles seguiram para Micenas, Iolau se despedindo no caminho, mas ouvindo de seu tio que deveria jurar pelo Estige (o juramento mais sagrado da Grécia Mitológica) que jamais contaria a ninguém onde a cabeça estaria.

[Imagem: abigrock.jpg]

(No futuro, sempre que Hércules precisou de poder mortífero de ataque, ele retornava para aquele buraco, embebia as flechas com o veneno da cabeça da Hidra, e a aprisionava novamente)

Chegando a Micenas, Hércules convocou o Arauto de Euristeu e mostrando algumas escamas tiradas do monstro, anunciou que o monstro estava morto. Como o Arauto já tinha ficado ciente que um outro viajante tinha se despedido de Hércules perto de Micenas, questionou ao Filho de Júpiter quem era ele. O semideus respondeu que era seu sobrinho Iolau, que o havia secundado na tarefa.

O Arauto foi até Euristeu e relatou ao Rei a vitória de Hércules. O Devoto de Juno se contorceu de raiva ao ouvir da vitória, mas ao saber da presença de Iolau, deu um sorriso, e chamou o Arauto mais perto...

Enquanto Hércules se lavava e repousava da longa viagem, o Arauto o convocava. Ele anuncia solene ao semideus que, como ele tinha recebido ajuda, um ato que na visão do Rei jamais deveria ter sido aceito por alguém que era filho de deuses, que o Trabalho tinha sido considerado nulo e inválido... e que não contaria no total de tarefas necessárias para sua liberdade. Assim disse, e sem mais nada dizer, o Arauto partiu.

Hércules nada disse... terminou seu banho, e enquanto se secava, ouviu os servos agitados, comentando que o céu estava mais brilhante. Saindo para a varanda, viu eles agitados, apontando para uma constelação nova para o céu... uma enorme criatura, A Constelação de Hidra, estava no céu por ordem de Júpiter, honrando no céu o feito de seu filho que o mundo se negou a reconhecer.

[Imagem: HydraCC.jpg]

Hércules olhou para o céu, sorriu... e foi repousar, aguardando a hora de partir para o Terceiro Trabalho.
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#5
28-11-2012, 10:38 AM
Confrades,

como anunciei, o combate contra a Hidra de Lerna era muito significativo e merecia análise separada para facilitar sua perfeita compreensão. Aqui a colocarei a todos, sendo que desta vez, farei menos mistério do que no texto sobre o Leão de Neméia.

Vencer a Hidra de Lerna, para o Aspirante a Guerreiro, para aquele que busca possuir a Verdadeira Masculinidade, é superar a força que é mais discutida neste fórum... este mito fala da SUPERAÇÃO DO APEGO.

A força vital que alimenta a Hidra é emocional. Temos uma seca, temos uma súplica aos Deuses pela sua superação, temos uma doação, temos uma súplica de outras pessoas, uma negação, e daí a bênção se torna maldição. Podemos falar a respeito de muitas formas, mas no centro de qualquer exemplo está uma dádiva divina de conforto e provimento que é recebida, mas que ao invés de repartida, é guardada egoisticamente. Devemos saber quando, como e a quem fazer o ato de doação, seja por um ato de caridade, seja por um elogio a uma ação acertada, mas quando recusamos a doação justa de nosso recurso, poluímos a fonte e geramos o monstro do apego dentro de nós.

Para que o apego seja derrotado, o roteiro do mito, com todas as suas advertências, é claro:

1) A ajuda de Iolau: Para que o apego seja derrotado, é preciso que ele seja encarado por um ângulo de visão que seja exterior a nós mesmos, e esta visão tem que ser aceita. Desta forma, este é um trabalho que não pode ser realizado sozinho - a não ser por almas com uma excepcional auto-análise - precisamos dos outros para sermos vitoriosos.

"Metemos a Real" para dar esta visão de REALidade a nossos Confrades e o ato de "meter a Real em nós mesmos" é tentar exercer alguma medida desta auto-análise (mesmo que nem todos possam conseguir superar seu apego apenas com ela). Hércules não tinha mais um Ego a lhe dizer que ele não precisava de ninguém (ele já tinha sido vencido no Trabalho anterior), mas precisou reconhecer que seu sobrinho poderia ser de ajuda em seu Trabalho. Por isto, aqui somos rudes, para testar a renúncia ao próprio Ego e a humildade de cada um de vocês.

2) Névoas e areia movediça: A superação que se busca neste mito exige uma vivência consciente de suas experiências e sentimentos. O apego frequentemente nos leva a ambientes e convivências cada vez mais venenosas e insalubres, e ao vivenciar de forma consciente estes lugares, é importante não compartilhar do mesmo ambiente, mesmo estando dentro deles; da mesma forma; na medida em que passamos a entender mais sobre a origem de nossos apegos, somos frequentemente arrastados a perder nosso raciocínio e retornarmos a vivência inconsciente e selvagem... ao perceber que estamos nos "replugando" a nossos antigos apelos, parar, e buscar outra forma de abordá-los é necessário para que a empreitada não fracasse.

NOTA DO DIOMEDES: A vivência também pode ser feita de forma indireta por meio de análise crítica poderosa do próprio passado (se isto não fosse possível, nenhum homem de vida monástica e religiosa seria desapegado), mas acredito que este não seja um caminho viável para a maioria de nós.

3) Esconderijos e primeiras compreensões: Muito bem, Guerreiro, você chegou até o centro do pântano, e entendeu que é o apego o que está gerando seu sofrimento! Mas e agora? Estar consciente não é o bastante, é apenas um paliativo... cedo ou tarde, sua vontade fraquejará e você voltará a ser o apegadinho apaixonado de antes. Você já fortaleceu seu íntimo, agora é hora da luta de verdade. Uma luta íntima e interior, mas que pode e deve ser vencida por todos nós.

Na primeira vez que você tentar recusar algo que lhe deixava apegando usando sua lógica para recusar e não sua força de vontade, você terá usado a primeira luz pálida contra a Hidra... e o alerta é claro... suas "tentações" interiores para ceder a estes apegos aumentarão incrivelmente, a Hidra enfim saindo de sua toca furiosa. A Hidra é uma força emocional, e como tal, teme as forças racionais, que tem o poder de doutriná-la ou destruí-la.

4) A Natureza da Hidra: O Monstro do Apego possui um corpo feito da Paixão conectado a quatro tipos de possessões egoísticas que o Homem pode ter, mais a Cabeça Imortal - dela falarei mais tarde:

a) Posses materiais: apego a bens, propriedades, valores monetários, pessoas (filhos, cônjuges, pais, amantes);

b) Posses mentais: apego a teorias e idéias pré-conceituosas (formadas sem construção lógica sólida);

c) Posses sociais: apego a cargos, títulos, diplomas, funções, reputações globais e locais;

d) Posses emocionais: apego a eventos passados ligados a lugares e pessoas, como na saudade melancólica e alguns traumas.

A cabeça "c" é a que ataca Hércules em primeiro lugar, mas como sua força atinge o Orgulho e o semideus já havia vencido seu próprio Ego, ela é inútil contra ele. A cabeça "a" ataca em seguida, é esmagada, se duplica e renegera e mostra porque é tão difícil vencer o apego...

Se simplesmente compreendemos o apego e dos desligamos daquilo a que somos apegados sem desfazer a paixão que a fortalecia (por exemplo, nos afastando de uma amante que nos manipula através de nossa paixão, mas sem nada mais fazer), a energia que nos liga a este apego não irá diminuir, irá AUMENTAR. A mesma amante poderá nos convencer a voltar, nos deixando mais cegos que antes, ou então, uma outra mulher poderá nos submeter com ainda mais vigor, não por mérito dela, mas sim por nossa fraqueza ampliada.

O veneno que o monstro destila é tão destrutivo e incurável quanto permitir que toda a nossa vida seja guiada pelas paixões, com abdicação total da razão, deixar que o Fogo da Paixão corra em nossas veias no lugar de nosso sangue. Quantos homens apaixonados não conhecemos que sofreram incrivelmente antes de terminar suas vidas na miséria, na loucura, na morte violenta? Tal é a devastação do veneno da Hidra.

5) A Vitória sobre a Hidra: Vencer é possível, Confrades. Todos aqui digitamos milhões de caracteres passando adiante meios de vencer o apego. Aqui apenas dito a fórmula implícita neste mito.

Seguindo o ditame da inspiração ditada pela fonte da Virtude Masculina (Apolo), Hércules precisa expôr o monstro do Apego a uma força mais forte do que as pequenas flechas incendiárias das racionalizações pontuais... o monstro precisa ver a luz pura da Lógica e da Verdade para perder seu poder. Mas só há um caminho para poder fazer isto: Hércules precisa se ajoelhar diante do monstro, se submeter a ele, para que abaixo dele, possa erguê-lo das profundezas de si mesmo.

Um Aspirante faz isto quando faz o reconhecimento mais importante de todos, ao meu ver...

Quando ele reconhece que foi seu Egoísmo que poluiu sua Paixão, que a tornou Impura, que originalmente ela era uma força positiva, e que a culpa dele ser hoje um ser apegado não é de ninguém senão de si mesmo.

Vejam, Confrades, que podemos nos apaixonar não apenas por mulheres, como eu descrevi quando eu falei da natureza da Hidra. Podemos dizer que muitos dos nossos mais dedicados Confrades, de certa forma, são apaixonados pela Real, e é esta paixão que dá excelência ao seu trabalho. Esta energia emocional combinada a direção racional tornam qualquer iniciativa eficiente de forma sem igual. Mas quando nossas motivações egoístas mancham esta emoção, esta paixão se torna suja; seria algo como um Confrade ser apaixonado pela Real a ponto de crer que a Real seja sua (por mais absurdo que isto pareça).

Com este "mea culpa" na alma, um Aspirante tem força para desnudar seu Apego diante da Lógica e da Verdade. Com isto, o monstro perde parte de sua força, e se torna acessível a ser tratado e destruído. Desmascare, racionalize, corte os vínculos INTERIORES primeiro, corte os vínculos EXTERIORES que à luz da razão julgar necessária, e torne esta separação irrevogável e irreversível. Isto é enfraquecer a Hidra com a luz do dia, cortar a cabeça e cauterizar a ferida.

Quando todas as cabeças cairem, o Apego, enquanto um monstro, estará vencido. Mas ainda haverá uma coisa por fazer...

6) A Cabeça Imortal da Hidra: Enquanto espécie, Confrades, somos seres de razão e emoção. Nós homens, somos (quando estamos equilibrados) guiados pela razão, dando a emoção apenas um impulso ou leve desvio de rota, mas nem nunca ditar o rumo. Mas não somos robôs. Precisamos das nossas emoções para viver. O que nos cabe apenas é manter rígido controle sobre elas, ser senhor de nossas emoções, e não seu escravo.

Quando lutamos contra nosso apego, nos descobrimos querendo erradicar totalmente nosso universo emocional. Quem insistir nisto, falhará.

Esta emoção essencial para a manutenção de nossas próprias existências é a cabeça da Hidra que não pode ser morta. Este é, por exemplo, o apego essencial que, quando um de nós está numa relação estável, não conseguirá deixar de sentir por sua companheira, por mais racionalmente que guie a relação. Sem esta emoção essencial, ele polarizará na punição, e a relação será insustentável. Sem este apego emocional, não se luta para manter uma relação, e se não se deseja tentar conservar uma relação que racionalmente ainda pode ser retificada, ela jamais existiu de fato.

Mas esta cabeça pode ser domada, aceita, e com isto, tomamos o veneno dela para si e a transformamos numa arma: a FORÇA DE PROPÓSITO, que é o que se tem quando se alia perfeitamente a razão e a emoção no cumprimento de um dever.

7) A Anulação de Euristeu: Quando derrotamos o Ego, isto adiciona nobreza visível ao nosso íntimo, e ela nos torna melhores diante dos outros... mas neste Trabalho, o efeito é diferente. Se tornar um ser desapegado é algo totalmente alienígena para o mundo e as estruturas sociais. Ninguém irá reconhecer abertamente esta sua conquista, senão quem já a atingiu também. Os outros irão rejeitar e desacreditar quem mostre esta íntima credencial, por mais que ela, na prática, lhe dêem gigantesca vantagem ao agir em todos os campos. Se o Aspirante já tiver realmente derrotado seu Leão Interior, isto não lhe magoará, porque ele não tem mais um Ego por ser ferido. Ele sabe que seu mundo interior é mais puro e brilhante que o de qualquer outro, e isto lhe bastará.

Confrades, a batalha é árdua, mas não temam confrontar este monstruoso adversário. Vencer o Apego é essencial para nos tornarmos o que nascemos para sermos. O Apego é o grilhão que enfraquece nosso gênero, abri-lo é obrigatório para que possamos ser donos de nossos passos de novo.

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#6
03-12-2012, 09:21 AM
Após as duas vitórias estrondosas de Hércules contra o Leão de Neméia e contra a Hidra de Lerna, Euristeu percebeu que não poderia simplesmente escolher Trabalhos que o confrontassem contra força e poder simplesmente... seu primo já tinha falhado no passado em colocar a razão acima de seus sentimentos e das ações imediatas, mas como colocá-lo em situação dele mesmo causar sua desgraça?

Indo até seu altar particular à noite, Euristeu orou a Juno de joelhos, lamentando sua incompetência, e se submetendo para a Deusa, para que ela escolhesse um Trabalho que tivesse uma armadilha sutil o bastante para que ele finalmente falhasse.

Em seu sono, após um pesadelo em que ele foi perseguido e quase morto por um enorme pavão, Juno repreendeu a seu servo e lhe deu a resposta que procurava...

[Imagem: 320px-Hera%27s_eyes,_Reunions.png]

...

Na manhã seguinte, o Arauto de Euristeu procurou a Hércules onde os servos viviam, com um novo Trabalho: entregar viva para Euristeu a Corça Cerinéia, com pés de bronze e chifres de ouro, conhecida por ser mais rápida do que as flechas do melhor arqueiro.

[Imagem: deer.jpg]

O Filho de Júpiter reuniu suas armas e partiu, seguindo para Arcádia o quanto antes.

Os passos do semideus o levaram ao topo do Monte Cerineu, onde avistou um pequeno bosque, claramente intocado pelo homem. Sabendo estar em local sagrado, Hércules retira suas sandálias, deita suas armas, pendura seu arco e flechas em um pequeno arbusto e entra no bosque. Em seu interior, a fonte e as colunas reunidas não deixavam dúvidas de que estava diante de um tempo de Diana, irmã gêmea de Apolo.

[Imagem: Segesta.jpg]

Hércules farejou trapaça... mas seguiu em frente.

Bem em frente ao Templo, lá estava a Corça, seus chifres brilhando em meio aos raios de sol que entravam na mata. Da mesma forma, a Corça viu o herói, e disparou em célere corrida, passando por Hércules sem dar chance a nenhuma reação. O semideus correu para a entrada da clareira a toda a velocidade, tendo tempo apenas de recuperar seu arco e flechas - mesmo sabendo que eles seriam inúteis contra a velocidade do animal.

No início da descida do Monte, Hércules já tinha perdido totalmente a Corça de vista. Já pensando em como tentar rastrear um animal tão arisco e ágil, viu um brilho dourado na mata abaixo... e de novo... e de novo... entendendo que os chifres da corça eram de um dourado tão vivo que continuavam a refletir a luz do Sol (e talvez até a da Lua) mesmo que ela estivesse em mata densa.

Correndo novamente, Hércules só viu uma possibilidade de ter êxito: ele teria que perseguir a Corça de forma a não lhe dar oportunidade de repousar em parte alguma; desta forma, a velocidade dela, uma hora ou outra, seria reduzida o suficiente para que o Filho de Júpiter tivesse uma chance.

Assim uma longa perseguição começou...

[Imagem: killinallan-long-road-gortantaoid.jpg]

Por um ano, um ano inteiro, Hércules seguiu atrás da Corça dos Pés de Bronze por toda a Grécia, dia e noite, jamais repousando o suficiente para ficar relaxado, jamais se desviando do curso, jamais parando antes que o brilho dos chifres da Corça parassem de se movimentar, contando apenas com a força de sua vontade para que não reduzisse o passo ou desistisse. Por toda a Grécia, e até fora dela, ele seguiu, por desertos, rios, florestas, pastagens, cidades, montanhas, campos.

Um ano depois, com a longa perseguição os levando de volta para Arcádia, enfim a Corça começava a perder velocidade, passando a parar cada vez mais cedo para repousar. Sabia Hércules que o animal estava retornando para Arcádia para receber novamente as bênçãos de Diana, que lhe renovariam as forças, e tiraria qualquer chance de sucesso de seu plano.

À noite, enquanto brevemente acampado, estas coisas ele pensou, e então decidiu: Será amanhã. É agora, ou nunca.

Pela primeira vez em sua longa viagem, ele se sentiu confortado, e em casa, e olhou melhor em torno de si. Estava em uma clareira também, muito pedregosa e com pequena caverna, mas que tinha um tom estranhamente familiar a ele... antes de cochilar, ele procurou guardar bem na memória onde ficava aquele local.

[Imagem: ss-india-02.jpg]

Antes dos primeiros raios do Sol, ele foi até o alto da pequena caverna, e avaliou o terreno. A Corça estava praticamente ao seu lado, embora a grande distância; o Rio Ladon estava à frente alguns quilômetros, agitado e largo em margens; pequena colina se seguia a sua frente até as margens do rio. Prestando mais atenção a esta última margem, a notou mais rasa que o restante do Ladon.

[Imagem: HPIM1504.JPG]

Seu plano - e sua única oportunidade - estavam prontas. Hércules iria parar de ir até onde a Corça estava... iria fazer a Corça ir para onde ELE queria.

Do alto da caverna, tomou seu arco, e disparou uma simples flecha, próxima mas atrás da posição da Corça. O brilho não deixava mentir, em frente ela começou a seguir. Imediatamente, Hércules passa a correr e subir a colina, acompanhando a Corça... quando ela estava mudando de rumo, outra flecha seguia, a fazendo continuar rumo ao Ladon.

Hércules chegou até o cume e a descida do monte... não teria mais ângulo para flechas. Olhou uma última vez para o Céu e correu com as últimas forças que ainda tinha rumo ao Ladon. Com efeito, o Rio era mais raso, e mesmo de forte correnteza, o trecho permitiu sua passagem. Vendo o brilho da Corça se aproximar da margem à sua direita, correu para lá, os pulmões já quase sem fôlego, viu uma luz dourada saltar pelo rio, concentrou suas pernas no maior salto que podia dar e...

...um semideus sem fôlego abriu os olhos para ver a Corça Cerinéia em seus braços, trêmula de medo, lhe observando com olhos arregalados como se fosse ser devorada pelo Filho de Júpiter.

Ele quis dançar, gritar, comemorar seu feito, mas... viu o quanto o animal era frágil e indefeso. Então, respeitosamente, se sentou, e tomou a Corça em seu colo, como se fosse uma criança... e lá a Corça ficou em seu braço, sem se debater. E lá eles descansaram até o fim do dia.

Ao anoitecer, uma luz divina encheu as margens do Ladon, mas ela era impositiva e fria... Diana, Deusa da Caça, Guardiã dos Bens Invioláveis, da Natureza e da Família, assim falou: "Hércules, Filho de Júpiter e Alcmene! Desde seu nascimento, eu nutri, guardei, adornei e cuidei da Corça que tens em teu colo; logo, ela me pertence, e tuas mãos a deixarão agora!"

[Imagem: Artemis-2.jpg]

Assim respondeu Hércules: "Diana, Gêmea de Apolo, Senhora da Caça e do Intocado! Fui pelo conselho de teu irmão e pela ordem de um Rei, ordenado a entregar esta Corça a Euristeu, servo de Juno, sob pena de permanecer seu escravo e com minha honra manchada pelo resto de meus dias. Não tenho intenção de com ela ficar, mas para Euristeu ela deve ir."

Diana assim respondeu: "Então um Rei pretende tomar as posses de uma Deusa? Então que ele e sua corte venham aqui PESSOALMENTE ver quem deve ser obedecido!" Diana desaparece por um momento, e depois de instantes ela retorna, junto com Mercúrio, Mensageiro dos Deuses, e toda a corte de Euristeu, com o Rei a liderando.

Euristeu vê a Corça e diz: "Então, meu Servo e Primo... bem vejo que conseguiu a Corça... vamos, irá entregá-la a mim, ou não?"

Hércules olhou para a Deusa, para o Rei, para a Corça em seu colo... e sabia exatamente o que fazer.

Disse aos dois: "Sigam-me e eu a entregarei a quem é de direito."

Hércules caminhou e seguido por Diana e a corte de Euristeu, os levou até a clareira onde pernoitou na noite passada, no mesmo campo pedregoso com a caverna ao centro. Sentindo em seu coração que o lugar era o certo, ele lentamente abaixou a Corça, a soltou, e continou a caminhar para dentro da caverna... e para espanto de todos, a Corça o seguiu.

[Imagem: ss-india-02.jpg]

No interior quase circular, um buraco no topo deixava a luz do astro dominante encher a câmara. Logo abaixo, bem ao centro, uma grande rocha achatada como uma mesa. Hércules e a Corça subiram os degraus naturais até a grande pedra com todos aos outros a lhe aguardar abaixo. Junto a ela, o Filho de Júpiter pegou novamente a Corça, a deitou sobre a pedra, tomou entre as mãos um pouco da água límpida de uma poça junto ao altar natural e aspergindo a água sobre ela, assim disse:

"Corça Cerinéia, eu te dedico, assim como este lugar, ao Deus Desconhecido, do qual toda a Criação faz parte e participa. Tu não pertences mais nem a Deus nem a Homem, mas ao Mundo, que é teu lugar, até o fim dos teus dias."

Hércules olhou para Diana e disse: "Deusa da Caça, retorne a Arcádia em paz. A Corça é tua." Logo depois voltou-se para Euristeu e disse: "Meu Rei e Senhor, a Corça vos foi entregue. Agora, onde quer que ela esteja, ela também é tua."

Ao ouvir estas palavras, a Corça Cirinéia ergueu-se do altar, e correu, sua força renovada, com toda a Grécia para explorar novamente.

...

- ... logo depois, Mercúrio trouxe de volta meu primo e sua corte de volta para Micenas. Diana partiu sem nada dizer, mas não parecia desagradada - dizia Hércules ao seu sobrinho Iolau nos aposentos dos hóspedes, enquanto terminava de contar a história da conclusão de seu Terceiro Trabalho.

- Euristeu aceitou este Trabalho, então? - disse Iolau.

- Eu entreguei a Corça, não entreguei? - disse sorrindo Hércules.

Depois de pensar por alguns momentos, o sobrinho de Hércules perguntou:

- Não tem saudades dela, tio?

- Dela, não, Iolau. Mas ela agora é livre. Eu sempre poderei caçá-la de novo - disse confiante o Filho de Júpiter.

[Imagem: photo_hercule3.gif]
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03-12-2012, 09:23 AM
Para compreender corretamente este trabalho, necessário se faz diferenciá-lo dos anteriores: diferente do Leão e da Hidra, a Corça não é um monstro, não é um vício humano que tem que ser superado; ela representa A CONQUISTA MATERIAL, uma consequência de nossos atos terrenos, que pode nos conduzir para a virtude ou para o vício conforme nossa conduta.

Devemos prestar atenção aos seguintes pontos:

1) O respeito às instituições: Hércules, mesmo sendo filho do mais poderoso dos Deuses Olímpicos, não deixa de tratar respeitosamente um ambiente natural que ele identifica como sagrado; da mesma forma, um Guerreiro deve sempre ter em mente que, por mais autoridade que ele acumule na vida, que ao entrar no domínio de outra pessoa, mesmo que a casa do mais humilde pedreiro, ele lhe deve respeito enquanto estiver sob o teto dele. Assim deve ser um Aspirante tanto em sua casa, quanto em qualquer outra, quanto nos ambientes profissionais em que visitar.

2) A busca pela Corça: Esta, Confrades, é a busca por tudo aquilo que almejamos na vida. Pode ser uma promoção a um cargo almejado, pode ser passar para uma faculdade concorrida, pode ser perder 7% de gordura corporal em dois meses. Não importa se pequena ou grande a meta é, importa que esteja em nossos anseios profundos conquistá-la.

Só sabemos, Confrades, que escolhemos uma meta que realmente vale o investimento de nossas forças, quando ela não está ao alcance de nossas mãos, mas sempre pode ser vista no horizonte, desde que nos mantenhamos trabalhando duro, sem descansos desnecessários, sem prazeres que levem a distrações, com planejamento consistente, uma vontade focada, e guardando o melhor de si para o momento de realmente tomar para si aquilo que desejamos. O que você quer exige isto tudo de você? Então você pode chamá-la de uma meta - e ela está esperando para ser perseguida por você.

3) Erguendo a Taça: Ok, você conseguiu o que trabalhou tanto para ter. Meus parabéns, Confrade. Saiba que tua conquista pode ser perdida em um milésimo do tempo que você levou para obtê-la. Mesmo que você não tenha falhado em nada. Mesmo que você faça tudo para conservá-la. Lembre-se, a Corça é mais rápida que você. Se a esmagar para que ela não fuja, terá que prestar contas ao Destino por isto. É sua conduta a respeito de sua conquista que a eterniza.

Olhos sempre estiveram e sempre estarão voltados para todo aquele que está no cume do monte e conquista a vitória. Este momento é seu. Fato incontestável. Mas todos esperam - e vocês verão novamente no final desta explicação porque eles estão certos - que sua conquista também beneficie a eles.

Ser um profissional promovido de correção e excelência, com elegância e humildade (a verdadeira, da qual falamos neste Fórum), melhorará todo o seu setor. Um bom aluno focado e estudioso, mas sociável e acessível inspirará toda uma turma. Um esportista vitorioso, mas tranquilo e didático dará motivação a todos os seus colegas.

Aproveite sim, os louros de tua vitória, mas não coloque sua taça num pedestal para pegar poeira, não a esfregue na cara dos teus colegas, não a esconda de todo mundo para não te roubarem: carregue-a no colo como se tua conquista fosse TUA CRIA, TUA FILHA OU TEU FILHO. E então ela te tornará maior diante de todos e fará os próximos a ti também maiores.

4) A quem a Corça pertence: Euristeu representa as instituições e demandas materiais, Diana as instituições e demandas sociais. Buscamos a Corça à pedido de Euristeu, mas ela está no domínio de Diana; você procura crescer em sua profissão para melhorar seu salário e sua capacitação profissional, mas tem que buscar este crescimento na sociedade, e ele é impulsionado para tornar seus pais (ou responsáveis) orgulhosos pela sua ascensão.

Entregar a Corça para Euristeu é um erro comum que nós cometemos. Fazemos um Mestrado, Doutorado, uma Pós-Graduação, uma Especialização, um Curso Técnico, um Seminário... se vendemos o resultado de nosso crescimento material para as demandas materiais, elas nos envolvem num ciclo sem fim que nos deixará vazios de propósitos, ainda que tenhamos atingido a mais absulta excelência no que tivermos escolhido ser.

Há também os que escolhem entregar a Corça para Diana, os que revertem sua conquista apenas para o benefício de suas famílias, para o engrandecimento e riqueza deles, nada fruindo daquilo que conquistaram. Estes ganharam a herança e ao invés de enterrar tudo num cofre e nada gastar, esbanjararão toda a dádiva recebida, e no fim, terão nada.

A quem pertence a Corça, afinal? Com o Ego e o Apego vencidos, o Aspirante a Guerreiro entende que a conquista material não lhe pertence, mas a quem pertence?

Se você é religioso, te respondo, não importa que nome você dê a Ele: a DEUS. Os louros devem servir a Ele a ao objetivo que Ele determinou que tua conquista tem no mundo.

Se você não é religioso, também te respondo: A Lógica. Teu viver tem que ser equilibrado. Viva para trabalhar, ignorando que você também é um animal social, e será insatisfeito o resto de tua vida, escravo de tua ganância. Desfrute do suor do teu trabalho sem investir em teu crescimento, sem buscar teu contínuo desenvolvimento pessoal, e no fim, tu não terás nada. Atenda a ambas as metas, conforme quem mais necessitar no momento, tua profissão, teu lazer, ou tua família, e aí estará no caminho de tua felicidade.

Entregar a Corça ao Deus Desconhecido é reconhecer que tua conquista serve a um propósito, pertence ao Mundo, por mais que tenha vindo do teu particular suor, ela serve e tem que ser fruída por TODOS. Ao entregar tua conquista a todos, ela se tornará tua de uma maneira que ninguém podera tirá-la mais de você.

O Aspirante que cumpre com sucesso este Trabalho dentro de si mesmo, soma para si mesmo o poder do DESENVOLVIMENTO PESSOAL. E com ele, será grandioso em tudo o que fizer em sua vida.

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28-12-2012, 09:00 AM
Pouco depois do Terceiro Trabalho, o Arauto de Euristeu procurou novamente Hércules para uma nova missão: ele deveria trazer vivo e na presença do Rei um enorme javali, feroz e selvagem além do costumeiro para sua espécie, que tinha se estabelecido na região do Erimanto, novamente o levando para Arcádia.

[Imagem: erin_2007_fixed_erymanthianboar.jpeg]

Ciente desta vez que o Monte Erimanto também era dedicado a Diana, sabia que mesmo que o animal não fosse consagrado a ela, que deveria agir com cautela - a Deusa da Caça tinha sido aplacada no Trabalho anterior, mas ainda sim, não esqueceria da presença de Hércules em seus domínios. Logo, apesar de saber que suas armas não poderiam ser indiscriminadamente usadas, levou todas - inclusive algumas flechas embebidas no mortal veneno da Hidra de Lerna, e seguiu seus passos retornando para Arcádia.

Euristeu desta vez foi avisado por sua Senhora e Deusa, Juno, que além dela ter tomado providências para que o Filho de Júpiter saísse enfraquecido deste Trabalho, que ele finalmente enfrentaria um adversário que não podia ser derrotado...

[Imagem: 320px-Hera%27s_eyes,_Reunions.png]

Decidido desta vez a aproveitar mais do caminho, dado que ele não teve muito tempo para conhecer Arcádia no Trabalho anterior, Hércules decidiu por uma viagem num ritmo menos apressado. Já em terras arcadianas, o cheiro de suor de cavalo somado a uma canção chula em voz conhecida não lhe deixavam dúvidas: o acampamento um pouco mais a frente era de um velho amigo dele entre os Centauros, Folo.

Após comerem, contarem histórias e falarem do presente, Hércules pediu vinho ao anfitrião. Ele só tinha um barril consigo, presente do Deus Baco, dado sob promessa de que só seria aberto na presença de todos os Centauros, pois foi dado para toda a espécie. Não querendo deixar seu amigo insatisfeito, Folo abriu o tonel, e começaram a se fartar da iguaria, forte, bem temperado, verdadeiro presente divino.

Próximo do fim do dia, já há muito embriagados, Hércules e Folo notaram sons de cascos que vinham de... todas as partes, como se incontáveis cavalos viessem para lá. Mesmo trôpego, o Filho de Júpiter tomou suas armas e aguardou.

Atraídos pelo odor mágico do vinho, todos os Centauros da Grécia vieram até o acampamento de Folo, inclusive Quiron, Ancião dos Centauros, professor de Hércules em sua adolescência e seu primo em Segundo Grau.

[Imagem: quiron.jpg]

O pequeno exército imediatamente admoestou Hércules pela audácia de beber daquilo que não lhe pertencia. Enquanto Folo assumia a responsabilidade diante de seus irmãos e Quiron ordenava calma aos jovens, um dos Centauros, impetuoso como toda sua espécie sempre foi, foi até o Filho de Júpiter e lhe tomou a taça das mãos, que ainda continha um pouco do vinho sagrado.

Foi o suficiente para ser abatido com três golpes certeiros da clava de Hércules. Os centauros avançaram contra o semideus. O combate agora era inevitável.

[Imagem: Hercules_fighting_the_Centaurs.jpg]

Mesmo estando em centenas, eles não tiveram chances contra Hércules. Com a Couraça de Neméia a lhe proteger, sua força divina ampliada por sua cólera, e sua mente entorpecida pelo vinho, cega e surda aos apelos de Folo e Quiron, o Filho de Júpiter aniquilou quase todos os presentes. Quando eles começaram a fugir, as setas envenenadas continuaram a ceifar dolorosamente as suas vidas. Apenas uns poucos que se esconderam ou conseguiram desaparecer das vistas de Hércules foram poupados do holocausto.

Quando sua mente deixou a Ira Vermelha que lhe tomou, viu apenas seu antigo Mestre Quiron, urrando de angústia diante do corpo de Folo e de quase todos os seus irmãos de raça...

...

Hércules não teve coragem de nada dizer a Quiron. Ele apenas ficou lá enquanto seu Mestre enterrava seus irmãos. Ainda sim, uma última tragédia ocorreu...

Enquanto limpava os corpos dos Centauros, Quiron feriu a mão em uma das flechas... infelizmente uma das embebidas no mortal veneno da Hidra de Lerna. Contudo, Quiron, por ser filho de uma divindade Primordial, era imortal; como o veneno não tinha cura e causava grande sofrimento antes da morte, Quiron estava então condenado a passar sua imortalidade sujeito a eterna e intensa dor...

Antes de partir, em passos lentos, o rosto visivelmente em sofrimento, Quiron disse a seu antigo discípulo: "Por duas vezes, você destruiu aquilo que amava. Aprenda, de uma vez por todas, o motivo, e não erre mais."

Hércules deixou aquele local de desgraça e seguiu em frente, pois o Quarto Trabalho tinha que ser cumprido.

Mas em algum lugar no Olimpo, Juno sorria satisfeita... pois agora ela tinha certeza que Hércules iria fracassar...

...


Chegando enfim ao sopé do Monte Erimanto, Hércules procurou as vilas próximas e só viu devastação, as plantações arrasadas e as manchas de sangue, sinais de quem tentou confrontar a vontade cega, a fome e a fúria do javali. Felizmente para Hércules, desta vez, sua presa era lenta e deixava rastro bem visível.

Nas profundezas da floresta, Hércules enfim alcançou sua presa. Quase tão alto quanto um cavalo, quase tão forte quanto arredondado, olhos injetados de sangue contra seu pelo marrom terroso. Hércules contou que ele se comportaria como um javali típico, fugindo quando confrontado, e correu na direção dele. Diferente do que o semideus esperava, o javali grunhiu furioso e correu na direção de Hércules, cabeça abaixada, presas apontadas para ele.


Mesmo surpreendido, Hércules reagiu de acordo e desviou para o lado no último instante, segurando-o com seus poderosos braços, os mesmos que haviam estrangulado o Leão de Neméia, esperando assim, submeter o animal até que ele desistisse de lutar.

[Imagem: 300px-Berlin-tiergarten_luetzowplatz_her...030068.jpg]

Para nova surpresa do Filho de Júpiter, ao abraçar o Javali do Erimanto, a fera grunhiu e se debateu com uma força descomunal... seus pelos oleosos deslizando sobre os braços do semideus... até que ele se libertou, e escapou grunhindo na mata.

Hércules gritou de frustração e se preparou para correr novamente atrás do animal... mas esperou... que som era este que ouvia? Patas de cavalo? Seria seu Mestre Quiron que havia o seguido? Não, era só sua imaginação... mas isto o fez pensar.

O javali não podia ser morto e não poderia ser capturado com força bruta, por mais estrategicamente que fosse usada... Duas vezes... força... cólera... natureza...

Sim. Hércules tinha um plano. Iria ser tedioso. Iria ser demorado. Mas era o único jeito.

Retornando até as plantações destruídas pelo javali, ele procurou por brotos de vegetais que não tivessem sido destruídos ainda. Os levou cuidadosamente até a mata e os replantou no solo. Armou uma sólida arapuca que caísse sobre a fera assim que ela se aproximasse deles. Reforçou seu acampamento. E esperou.

[Imagem: Cage+trap+002.JPG]

Sabia o semideus que, sem mais nenhuma plantação por perto, o animal, por sua fome, fatalmente seria forçado a se aproximar dos brotos bem cuidados e cairia na armadilha, desde que Hércules fosse paciente, e se mantivesse calmo e sem movimentos bruscos quando chegasse a hora. Só restava a ele ser paciente.

E assim, Hércules esperou. E esperou. E esperou. Dias se fizeram semanas e se fizeram meses.

No auge de um dia distante, sons de madeiras estalando e fuçadas pesadas no solo indicavam que enfim, o javali tinha achado a pista até ali. Imóvel Hércules se manteve.

Ao chegar na clareira, o Javali do Erimanto grunhiu ao ver o semideus. Ameaçou atacá-lo. Mas sua fome era maior, e lentamente ele caminhou até os vegetais agora crescidos, mais perto, mais perto... até que com um estalo alto, a gaiola de pedras e madeira caiu sobre a presa, finalmente capturada.

Mas Hércules sabia que seu Trabalho não estava terminado.

O animal não podia ser simplesmente amarrado - jamais se submeteria, assim como não se submeteu ao poderoso abraço do Filho de Júpiter. Não poderia também ficar muito tempo engaiolado: ou ele destruiria sua prisão, ou morreria tentando. Ele teria que ir até Euristeu de vontade própria. E isto só seria possível se ele fosse domado.

Enquanto o javali investia ferozmente contra as grades de sua prisão, Hércules colheu todos os vegetais do local que o animal procurava, e colocou diante de si apenas o suficiente para saciar a fome do animal... e puxou a corda que erguia a prisão. A fera ameaçou investir, cercou o semideus, passou para suas costas, se aproximando, inquieta entre comer e atacá-lo... até que em momentos que pareceram horas, estava diante de Hércules, ao alcance de sua mão, enfim comendo o que tanto procurava. Ainda sim, Hércules não se moveu. Ao terminar de se alimentar, fugiu velozmente.

O Filho de Júpiter não se perturbou com isto. Foi até os aldeões que ainda teimavam em viver em Erimanto e pediu a eles que pegassem pequena quantidade de vegetais e tubérculos de vilas próximas e entregassem diretamente a ele - naquele dia mesmo. Também disse Hércules que ficassem em suas vilas sem nada produzir até que ele mesmo viesse até eles. Assim todos obedeceram.

E mais semanas se passaram, o javali selvagem não tendo outra escolha a não ser se alimentar da forma que Hércules desejava, primeiro em frente a si mesmo, depois em sua mão, cada vez mais próximos em distância e em confiança. Algumas vezes eles lutaram, algumas vezes viveram em paz, e assim passou-se o tempo.

[Imagem: erymanthianboar.jpg]

...

Muito tempo havia se passado desde que Hércules havia desaparecido na floresta. A maior vila de Erimanto já sussurava que o Filho de Júpiter estava morto, a vítima mais ilustre do feroz javali. Enquanto os adultos conversavam, ouviram uma criança rir e apontar para um monte. Os adultos olharam, todos viram e riram de júbilo e alívio.

Hércules e o Javali do Erimanto estavam descendo o monte, não apenas juntos, mas Hércules, para demonstrar que o animal estava totalmente domado, descia a montanha segurando as patas traseiras da fera enquanto ela caminhava apenas com as dianteiras, como se fosse um "carrinho de mão"!

[Imagem: Disputa+Carrinho+de+M%C3%A3o+Humano+IV+-...ADlson.JPG]

...

O Rei Euristeu estava diante de sua corte especialmente radiante naquele dia. Há meses não tinha qualquer notícia de Hércules, e já comemorava o fracasso de seu odiado primo... mas ainda sim tinha seu grande jarro de bronze ao seu lado, só para garantir.

Enquanto uma serva lhe trazia uvas, seu Arauto entrava na corte apressado:

- Majestade! Majestade! Hércules retornou! Hércules está aqui! - gritava o servo, correndo até o trono.

- Aquiete-se, Arauto, o que está me dizendo??? - disse Euristeu levantando-se do trono.

O Arauto apenas apontou para a entrada da Sala do Trono, e o Rei viu por si mesmo.

Em meio a homens se afastando ou correndo, e mulheres olhando admiradas, o Filho de Júpiter caminhava com o Javali do Erimanto carregado sobre seu ombro, como se carregasse um tonel de vinho, a fera agora domada apenas fuçando pesadamente uma vez ou outra, curioso com o ambiente novo.

Euristeu se lançou dentro do jarro de bronze, pálido de medo, e mesmo dentro do artefato, podia-se ouvir sua voz:

- Hércules! Tire este animal daqui! Tire este monstro do meu palácio!

- Meu Rei e Senhor... estou aqui apenas cumprindo sua ordem! Você pediu que o Javali fosse trazido na sua presença, e aqui ele está! - disse Hércules, erguendo o javali e colocando a cabeça dele perto da boca do jarro, o animal agora fuçando e grunhindo com mais vigor.

[Imagem: b1c11dc9c8e930bf9b697c888990_grande.jpg]

- TIRE-O DAQUI! SEU TRABALHO ESTÁ CUMPRIDO! AGORA TIRE-O DAQUI JÁ!!! - gritou Euristeu cheio de pavor.

Hércules desceu o Javali do Erimanto ao chão, e caminhou para fora da Sala do Trono, o animal o seguindo, e dizendo a ele:

- Venha, meu amigo. A Grécia é grande. Encontrarei um bom lugar para você viver, com comida e abrigo, onde você viverá em paz. Lá você será bem cuidado, porque agora, você e eu somos Um.

O Filho de Júpiter ouviu mais uma vez patas de cavalo ao longe... mas desta vez ele sabia que elas caminhavam com aprovação.

[Imagem: 315px-Incredible_Hercules_Vol_1_133_Herc...616%29.png]
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#9
28-12-2012, 09:03 AM
Mais uma vez, Hércules não caça um monstro, nos indicando que não se está trabalhando um defeito inerente a espécie humana, mas sim um característica humana, em natureza nem boa, nem má.

Este Trabalho inicia com uma tragédia, e uma semelhante a que conduziu Hércules ao início dos Doze Trabalhos. Este trabalho assim está para servir de plena advertência ao Guerreiro em relação ao fundamento que está sendo trabalhado neste ponto de sua evolução. Por mais que Hércules tenha dominado o Ego, vencido o Apego e compreendido o valor do Desenvolvimento Pessoal, ainda tinha negligenciado um fator que era inerente ao fato de ser um homem, e algo que sua parte divina podia tornar ainda mais terrível: o Aspirante a Guerreiro ainda não sabia controlar seus instintos masculinos inatos - aquilo que o Javali do Erimanto realmente representa.

1) O Genocídio dos Centauros:

Conforme os Guerreiros avançam em seu progresso, as alianças com outros homens diminuem em quantidade, mas ampliam em qualidade. O Centauro Folo, que representa este círculo social, ao perceber a nobreza de um Aspirante, prontamente tenderão a lhe oferecer vantagens, algumas delas inclusive injustas e até imorais, como o vinho que estava na guarda de Folo. Hércules, neste caso, desconhecia a natureza do vinho (ou então, o teria recusado), mas foi descuidado - porque ele se entregou cegamente a satisfação de seus instintos ignorando sua razão - quando, ao perceber que o vinho era de qualidade quase divina, não questionar se era lícito a ele bebê-lo. Tivesse isto sido feito e toda a tragédia teria sido evitada.

A presença de Quiron não pode ser desprezada no evento. Ele é a Autoridade apoiada no Exemplo, a única autoridade não-legal e não-consanguínea que um homem deve respeitar. Ele foi chamado ao local, nota a transgressão e procura mediar a situação, pois sabe o quanto os Centauros, metade homem, metade cavalo, seres capazes de pensar, mas que não resistem a seus instintos animais - eles, Confrades, são aquilo que muitos de nós éramos na Matrix - eram capazes de fazer. Quiron tinha os mesmos arrastamentos, mas era capaz de resistir a ele pois, mesmo não sendo um Homem pleno, tinha a mesma Centelha que Hércules, burilada por eras e eras de vida.

Se um Aspirante, com um Ego vencido, um Apego vencido e desenvolvido fisica, mental e emocionalmente assume uma tarefa, ele é brutalmente eficiente nela, seja no que for. Neste estágio, se seus instintos não estiverem domados, se ele ceder a qualquer excesso irracional, como a cólera, a luxúria ou a melancolia, o resultado é a desgraça.

2) A Caçada ao Javali:

Todo o processo da caçada ao Javali do Erimanto representa o processo de condicionamento e submissão de nossos instintos a nossa vontade esclarecida. Por natureza, somos impressos com a necessidade de fugir ou destruir uma ameaça quando colocados sob confronto. A privação de necessidades (repouso, alimentação, reprodução) tende a colocar nossa mente num estado mais primitivo, onde a satisfação de tais necessidades passa a estar acima de outras necessidades de ordem menos física. De certa forma, a busca por atender a estes imperativos de forma a viabilizar nossa convivência em sociedade, e nos conceder liberdade para exercer as faculdades mais superiores da mente (estando as de ordem filosófica ou religiosa no seu auge) é o que torna a espécie humana única na Terra.

Sendo o instinto parte das faculdades físicas que compõem um Aspirante a Guerreiro, ele deve aprender a ser senhor dele, não seu escravo.

Hércules inicia seus esforços por onde a maioria de nós começa, tentando restringir ou suprimir seus instintos com mera resistência mental - um esforço que será inútil, pois todas as consequências disto serão desgraça: o instinto represado um dia tomará conta do consciente do Aspirante, levando-o a um excesso do qual fatalmente se arrependerá; a restrição exageradamente severa levará ao mau funcionamento de seu próprio corpo, tornando-o doente; a privação feita sem a devida serenidade interna conduzirá a um processo de depressão e enfraquecimento da vontade. Assim faz a pessoa que se irrita fácil, e passa apenas a se "segurar" mais; o homem de libido acima da média que se torna celibatário por culpas e não por convicções; o obeso que decide emagrecer sem compreender sua fome... os exemplos são muitos. Mas todos irão fracassar.

O processo descrito pelo Trabalho é inequívoco:

1) Compreenda os "gatilhos": Instinto é basicamente reação e resposta; cabe então que você entenda o que te conduz para aquela situação em particular. Se o investigado é a fome, saber os momentos e os alimentos que atraem mais sua gula; se é a libido, os tipos de mulher e as posturas que a evocam mais intensamente; se é a raiva; analise as situações que mais lhe indignam.

2) Escolha a satisfação mais saudável possível: Com o "gatilho" aprendido, tudo o que você precisa é, assim como Hércules, construir uma armadilha onde possa aprisionar seu instinto, ou seja, criar um ambiente ou uma situação onde possa atender a sua necessidade de forma a não lhe prejudicar mais. Um alimento mais nutritivo em substituição ao normalmente consumido, uma atividade física ou arte marcial que lhe ative o instinto combativo são alguns exemplos.

3) Condicione: Direcione suas forças de forma que seu instinto só seja ativado nas condições que você estabeleceu para o "gatilho", se permitindo comer com mais prazer aquilo que é realmente melhor para o seu corpo, ou só se permitindo ser agressivo na academia ou local de treino (exceção óbvia em caso de ameaça para sua integridade física). Condicione, treine, reforçe. Não é rápido, não é fácil, é sujeito a erros e falhas. Mas com o tempo, seu instinto estará sob seu controle e só será evocado se você "abrir a gaiola" e deixar ele sair.

3) A Reação das Pessoas:

Quando temos nossos instintos naturais domados, conseguimos fazer proezas que normalmente não somos capazes de fazer. Fisicamente falando, um atleta que treine seu corpo para ser o mais forte possível será mais eficiente que o cara mais forte geneticamente falando, mas destreinado. Tais proezas, para quem não as conhece, beiram o divino ou o absurdo, mas são a prova de que a conquista está feita e que a Inteligência superou a Brutalidade - por isto, Hércules brinca com o Javali para que o povo do Erimanto tenha a certeza que ele não irá mais machucar ninguém.

Realistas que se tornem mestres de seus instintos só podem ser vencidos pelo total esgotamento de suas forças. Suas emoções já eram blindadas contra o orgulho, sua mente já tinha provado suprema determinação, e agora, nem a fome, nem a provocação, nem a insinuação da fêmea podem desviar um Aspirante a Guerreiro de seu objetivo. Ele conquistou enfim a HUMANIDADE VERDADEIRA.

Homens de Verdade tem um magnetismo que é de fato assustador para homens comuns (que se acovardam diante da Fera que é visível nele) e animalmente atraente para mulheres. Agora, o Aspirante a Zeta era ainda mais perigoso para a Matrix do que antes. E o Agente Euristeu, fraco e acovardado diante de um homem assim, só restou se esconder na proteção "invencível" da Lei e da Ordem (o Jarro) diante do poder do Filho de Júpiter. Para reduzir sua vergonha, ele ordena ao Aspirante que oculte seu poder. Ele pode mantê-lo distante da vista do Sistema, mas agora é tarde. Sua Fera Interior e ele são UM SÓ. E esta força ninguém mais poderá tirar do Guerreiro.

A busca é ainda maior do que suspeitam, Confrades. Não sejam marionetes na Natureza. Fomos criados para a responsabilidade, e só somos totalmente responsáveis por nós mesmos quando temos a rédea daquilo que os instintos nos determinam. Tomem estas rédeas e então, poderão correr mais rápido que o vento.

FORÇA E HONRA!
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#10
17-12-2013, 08:51 AM
Hércules mal havia pisado novamente em Micenas após escolher um local de repouso para o Javali do Erimanto, e já encontrava o Arauto de Euristeu às portas do reino, com mais um Trabalho para ser cumprido.

No reino de Élida, o rei Augias, um semideus como Hércules mas Filho de Hélios (o Deus-Sol), tinha desde sua infância recebido de seu pai um divino presente, um rebanho cujo gado após chegar a maturidade, não mais envelhecia ou morria. O gado tinha crescido e sido criado dentro de um enorme estábulo, mas por desleixo do rei, não era limpo há mais de trinta anos. Como o gado não tinha parado de procriar, o estrume acumulado tinha se tornado um problema para todo o reino. Euristeu, então, o tinha enviado para que limpasse totalmente os Estábulos de Augias e livrasse o reino deste incômodo, pagando assim uma velha dívida com o reino de Élida.

Não agradou a Hércules a idéia de passar semanas imerso em estrume de animais, mas ciente que não tinha escolha, reuniu seus pertences e partiu rumo a Élida.

Euristeu assim seguia as novas ordens de Juno, que sabia que, além do trabalho ser ainda mais humilhante do que o Filho de Júpiter pensava, não teria qualquer condição de ser cumprido, não importa o quão forte ele fosse...

[Imagem: 320px-Hera%27s_eyes,_Reunions.png]

Muito antes de chegar a Élida, um forte odor de esterco trazido pelo vento já anunciava sua proximidade daquelas terras amaldiçoadas pela negligência daquele que devia delas cuidar. No próprio vale de Élida, Hércules percebeu ao longe o quanto o povo sofria: a terra escurecida pelo excesso de adubo, que mesmo por debaixo da terra já tomava toda a região, havia tornado a terra totalmente estéril, incapaz de sustentar qualquer vida ou alimento para seu povo.

Larga comitiva de carroças vinha em ambos os sentidos pela estrada: a que vinha, trazia alimentos diversos comprados com as riquezas de Élida, que alimentava principalmente a nobreza, e cujos restos eram servidos ao povo faminto; as que partiam, seguiam abarrotadas dos corpos dos aldeões do reino, mortos de fome e da peste disseminada pela sujeira espalhada por onde quer que se olhasse - os corpos eram atirados em largas fossas coletivas distantes, onde eram queimados para evitar a disseminação da doença.

[Imagem: xin_022120426141839006173.jpg]

Chegando enfim ao Palácio de Augias, Hércules compreendeu por que a miséria não havia atingido ao rei: a construção estava localizada em alto monte com um cume totalmente pedregoso, que somado a corrente de vento favorável, não permitia nem que a contaminação da água, do solo, ou do ar, atingisse a corte do Filho do Sol. Indignado com o descaso do soberano com seus súditos, mas procurando se concentrar no dever a cumprir, o Filho de Júpiter chegou até os guardas e pediu para ser anunciado ao Rei como mensageiro e servo de Euristeu, como sua situação o obrigava.

No salão ricamente decorado, o Rei Augias o esperava. Em seu trono dourado, com vários adornos recordando sua paternidade solar, o Filho de Hélios falou:

- Seja bem vindo, ó serviçal de Euristeu! O que o traz a meu glorioso domínio?

- Vim a mando de meu Senhor Euristeu para purificar teus Estábulos, Majestade - declarou o Filho de Júpiter em voz branda.

Augias se levantou sem seu sorriso confiante de antes. Encarou seriamente a Hércules e disse:

- ...e qual será o preço que me exigirá por tão árdua tarefa?

Sem deixar que Hércules respondesse, o Rei continuou a falar enquanto o circundava:

- Entenda, Hércules, você não é o primeiro que vem ao meu reino desejando limpar meus estábulos. Mas todos os que vieram antes ou eram aproveitadores que queriam receber mais do que o trabalho vale, e estes eu expulsei de minhas terras, ou eram charlatões que tentaram me enganar, e seus corpos já foram queimados com os pestosos há muito tempo. Sei que você será sábio ao pedir seu pagamento pela tarefa, e que não tentará me enganar. Diga, então, Hércules, que preço me pede para limpar meus estábulos?

- Nada, Majestade - respondeu Hércules.

- Nada? Como assim, nada? - disse espantado o Rei de Élida.

Hércules recordou-se de tudo que viu no caminho até o palácio e tomou uma decisão ousada. Aprumou o corpo e falou neste momento, não com a humildade do servidor de Euristeu, mas com o brio de um filho de Deuses:

- Majestade, sou um servo, aqui estou apenas para cumprir a vontade do meu Senhor. O único pagamento que posso esperar é saber que atenderei a vontade Dele, e pelo que vi em tuas terras, terei maior satisfação ainda em cumpri-la, pois livrarei teu povo de um flagelo que lhes causa grande sofrimento - falou o semideus, voltando então a sua postura humilde novamente.

[Imagem: hqdefault.jpg]

Augias se surpreendeu ao reconhecer nele uma essência divina muito superior a sua, mas se recusando a respeitar um serviçal, mesmo que ele seja filho do Rei dos Deuses, logo voltou a sua postura natural e falou:

- Ora, ora, ora... então, teu objetivo só pode ser pior ainda!

Augias saca de sua espada, aponta-a para o pescoço de Hércules e ameaça:

- É o meu trono que você quer, não é, Filho de Júpiter? Admita agora e eu lhe matarei rapidamente e sem dor!

Hércules encara a Augias com destemor e diz:

- De forma alguma, Majestade. Tudo é conforme eu disse ao Senhor.

Augias lentamente guarda sua espada, senta novamente em seu trono, e então declara:

- Faremos então desta forma, Hércules, Filho de Júpiter. Não há homem sobre a Terra que trabalhe sem exigir recompensa. Se você não a quer, eu imporei que receba uma. Assim será: limpe meus estábulos em apenas UM DIA, e lhe darei um décimo do meu gado, o gado mágico que meu pai me deu por herança. Fracasse, e será exilado. Recuse meus termos, e será exilado. Tente me enganar, e será executado, seja filho do deus que for! Você aceita?

Sem desviar os olhos de Augias, Hércules responde:

- Aceito.

- Então deixe meu palácio, servo de Euristeu, pois este lugar não foi feito para a ralé! Sua tarefa começa ao amanhecer de amanhã, sugiro que acorde cedo... agora vá! - sentenciou Augias, sinalizando com a mão que Hércules devia sair.

Quando Hércules já deixava o local, Augias ainda sentencia:

- Meu filho Fileu irá com você, semideus, para vigiá-lo e garantir que você não tentará escapar de seu dever.

Um jovem de aparência grave então deixa o lado direito do trono, e segue à frente de Hércules até a saída.

Com o palácio atrás de si, Hércules busca as proximidades dos infames estábulos, acampando no ponto mais alto que pode, para reduzir o mau odor e facilitar seu acesso ao Trabalho no amanhecer. Do alto do monte, com sua fogueira acesa, Hércules e Fileu observavam o local de seu ofício.

- Ao te enviar comigo, na verdade, meu Pai e Rei lhe facilitou a tarefa. Os bois mais agressivos protegem os estábulos e só recuam diante da Família Real - disse Fileu - mas como pretende cumprir tudo em apenas um dia, Hércules?

Hércules observa a paisagem em silêncio. No calor daquela noite, Fileu toma um balde de água e o entorna sobre a cabeça. O Filho de Júpiter olha para a água que se distancia, e então afirma:

- ...na verdade, jovem Príncipe... acabo de ter uma idéia.

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#11
19-12-2013, 01:39 PM
No raiar da manhã, Hércules e Fileu estavam em frente a construção que detinha o gado imortal. Felizmente, uma brisa ajudava a não terem contato direto com o forte odor, vindo de todas as partes, de uma camada de estrume grossa o bastante para cobrir seus pés. Os bois mais ariscos cercavam o Filho de Júpiter inquietos, mas a presença de Fileu impediria um ataque.

- E agora? - questionou Fileu.

- Mantenha os bois mais agressivos distantes dos muros dos Estábulos e de mim. E confie no que eu fizer a partir de agora - disse Hércules, se encaminhando para um dos muros.

O semideus bateu levemente no centro, como que procurando um som mais oco... e quando achou um espaço, com um potente soco abriu um rombo na parede. Com as mãos, ele removeu as pedras restantes da parede, até um arco rústico se formar ali. Na parte oposta da construção, ele fez o mesmo.

- Me aguarde aqui e se prepare para tocar os bois para longe dos muros - ordenou o Enteado de Juno, correndo para longe dos Estábulos.

Logo depois, Hércules estava diante do Rio Alfeu, que junto com o Peneu, corriam no interior da Élida.

[Imagem: alfeiosriverolympia.jpg]

Carregando uma enorme rocha chanfrada, ele a cravou na terra próxima ao rio, e a empurrando, formou uma vala profunda, em direção a onde estava Fileu e o gado. Repetindo o feito no segundo rio, colocou duas grandes pedras entre as valas e o curso dos rios.

Hércules retorna próximo ao filho de Augias, pouco depois do meio do dia, e grita:

- Toque o gado para longe dos Estábulos e se afaste!

Quando viu que o gado de Fileu estavam longe, as pedras dos diques foram removidas. Dois estrondos fortes foram ouvidos, e eles foram o bastante para afastar o gado que persistia próximo da construção.

[Imagem: STAVLOS1+-+%CE%91%CE%BD%CF%84%CE%AF%CE%B...%CE%BF.jpg]

Fileu sorriu a distância quando viu o resultado da construção de Hércules: uma forte torrente de água convergia para dentro dos Estábulos e em seu entorno, levando consigo todo o estrume acumulado pelas décadas.

Diluído pela água dos rios, ele foi carregado até o curso do Alfeu que alimentava parte do próprio fluxo. Quando a construção e o seu entorno ficaram livres de qualquer sinal do adubo, o Filho de Júpiter se dirigiu para próximo dos rios, e o fluxo desviado da água gradualmente desapareceu.

A noite já chegava quando Hércules reapareceu:

- Está feito. A população não usa o Alfeu para se abastecer de água, então, não serão envenenadas pelo esterco que a água levou, e isso só durará por pouco tempo. As pedras que coloquei nos diques são pesadas o bastante para serem seguras.

Para um Fileu admirado e satisfeito, o semideus diz:

- Vamos agora até o teu pai e Rei anunciar o fim da minha missão.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::

O povo já se reunia em alta comemoração pelo fim de sua calamidade, quando Hércules e Fileu retornaram até o trono do Filho do Sol.

[Imagem: 005.throneRoom-07.reconst.jpg]

O Filho de Júpiter fica diante de um Augias com os olhos injetados de vermelho, e anuncia:

- Rei Augias, um dia você me deu para meu Trabalho, e em um dia ele foi feito. E com minha missão concluída, me retiro.

Augias se levanta do trono, e anuncia irado:

- E se retirará mesmo, charlatão enganador! Sem que eu reconheça tua tarefa, sem levar uma só rês do meu gado, e para nunca mais voltar!

E prossegue, desembainhando a espada em direção a Hércules:

- Acha que eu não coloquei outros espiões para ver teu Trabalho? Não foi você quem limpou meus Estábulos, foi a água! Trapaceiro! Meu gado e meu trono são tão importantes para você para apelar para um truque tão vil?

Fileu se coloca entre eles, e diz a seu pai:

- Pai, o esforço e a inteligência que Hércules utilizou para poder realizar esse feito não podem ser ignorados. Ele tem direito ao menos ao seu reconhecimento, já que ele mesmo abriu mão do pagamento que você o obrigou a se sujeitar.

Augias empurra o próprio filho ao chão e anuncia:

- Hércules, Filho de Júpiter, eu o exilo de meu reino por tentar trapacear contra mim! Se retornar à Élida, serás morto sem consideração a quem quer que seja seu pai! E leve consigo esse moleque, que me traiu ao aceitar depôr a teu favor, provavelmente desejando uma parte do reino que desejava me tomar!

- Pai, não pode fazer isso!

Augias se retira da Sala do Trono guardando a espada, e diz sem olhar para trás:

- Alguém aqui me chamou de "pai"? Não há filho algum meu nesse salão...

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

O povo da Élida ainda se despedia à distância de Hércules e Fileu, alheios ainda ao decreto de Augias, enquanto rumavam para Micenas.

Um entristecido Fileu quebra o silêncio, e pergunta então para Hércules:

- E quanto a você?

- Este Trabalho será anulado por Euristeu. Mesmo que o seu pai tivesse reconhecido o meu Trabalho, aquela víbora tem a seu favor o fato de que mesmo coagido, aceitei pagamento de um outro Senhor que não ele para realizar a tarefa. Eu sabia desde o princípio que seria assim. Ainda tenho sete tarefas a realizar para o Rei de Micenas.

- E tudo o que você fez foi para nada? - questionou espantado o Filho Exilado de Augias.

- Não. Olhe para trás, Fileu. Vê o contentamento daquele povo, o seu povo? Sente o ar limpo entrando pelas suas narinas? Isto valeu por TUDO - sentenciou Hércules.

- Mas ainda há uma coisa por fazer, jovem Príncipe - disse Hércules apeando do cavalo.

Em frente a Fileu, ele declara:

- Você ficou ao meu lado e à frente da Verdade que teu pai se nega a enxergar, mesmo tendo olhos. Você tem firmeza, e tem uma justiça temperada pela bondade, Fileu. Hoje eu sou apenas um servo e um aprendiz, mas um dia, voltarei a ser um homem realmente livre. Nesse dia, eu cavalgarei a teu lado, retornaremos para a Élida, e entregarei o trono para aquele que merece ser realmente um soberano: VOCÊ. É uma promessa.

Montando novamente seu cavalo, Hércules ordena:

- Siga em direção aos reinos do Norte, que são neutros em relação ao teu pai. Garantirei que o receberão bem. Estude, afie sua espada e tua lança, prepare seu corpo. Quando me ver de novo, será com um exército junto a nós. Adeus, Fileu. Que os Deuses te acompanhem.

Com a gratidão do povo da Élida, e a esperança reacendida no coração de um príncipe, Hércules retornou para Micenas. O Arauto não demorou para anunciar a nulidade do Quinto Trabalho. Hércules nada disse. Apenas repousou e se preparou, enquanto aguardava pelo seu Sexto Trabalho.

[Imagem: 20060713153819.jpg]
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#12
20-12-2013, 10:13 AM
UMA MUDANÇA DE FASE

Nesse estágio dos Trabalhos, Hércules deixa de ser um Aspirante para passar a tratar de questões mais profundas. Ele já venceu seu ego, derrotou seu apego, compreende o sentido de seu desenvolvimento, e tem seus instintos sobre controle. Abandonou as ilusões mais primárias que o tornavam manipulável, e atingiu sua liberdade pessoal de decisões. E é no exercício dessa liberdade, que o Quinto Trabalho o desafia.

A TIRANIA DE AUGIAS

Augias é um Esclarecido como Hércules, e como ele, dotado da mesma capacidade de influenciar a vida dos Iludidos. No entanto, não seguiu o caminho do Esclarecimento pleno como ele, por nunca ter recebido a libertação que a Dor ofereceu a Hércules (que buscou o Caminho depois do ato hediondo de ter matado seus próprios filhos). Por sua cegueira, Augias usou sua influência para acumular poder e recursos apenas para si, a despeito do sofrimento que isso causaria a seus associados.

Podemos dizer por isso, que Augias pode ser um Esclarecido de direito, mas não de fato, posto que nunca se libertou da influência de seu próprio ego (Augias é Filho do Sol, e leões costumam estar simbolicamente associados a esse corpo celeste).

Quando Hércules descobre que outros Esclarecidos usam de forma torpe seu direito de nascença, sua indignação é clara. No entanto, o Filho de Júpiter sabe que ainda não tem permissão para fazer as coisas conforme gostaria, por simplesmente não estar preparado para isso, e por estar ligado ao seu dever de aprendizado e redenção. Mesmo que não possa se opôr diretamente a Augias, ele decide não se omitir quanto aos prejuízos que a postura dele causa.

UMA DÁDIVA TRANSFORMADA EM MALDIÇÃO

Augias recebeu de seu pai, Hélios, um presente perpétuo em sua conservação, seu gado imortal. Se os derivados desse rebanho fossem repartidos com o povo, seja o leite (tecnicamente em suprimento infinito), seja uma parte da carne, Élida poderia ser uma nação altamente próspera. No entanto, Augias conserva o gado unicamente para si sem qualquer preocupação com sua manutenção, apenas como um mero símbolo de ostentação, como uma extensão de si mesmo.

Como consequência, o estrume do gado, se acumula, contaminando a todo o reino, com exceção da morada do próprio Augias. Vemos assim a atitude do déspota que acumula para si e para seus eleitos tudo o que o Estado pode lhes proporcionar de bom, deixando para o resto da população arcar com todos os ônus de suas decisões - se puderem.

Esforços individuais e coletivos de pequeno porte de melhorias sociais costumam ser bem recebidos pelo estadista vil, desde que a mesma relação seja mantida: os bônus para si, os ônus para todo o resto. Cedo ou tarde, exigirá a vinculação de tais esforços, para impedir que a população possa olhar ao benfeitor com melhores olhos do que o governante... e ter como descartá-lo, se isso acontecer.

A DECISÃO DE HÉRCULES

O semideus sabe que ao aceitar se sujeitar ao pagamento de Augias, não receberá o reconhecimento social (o Rei Euristeu) que precisa para subir mais um degrau em seu conhecimento e remissão de seus erros. No entanto, se omitir seria negligenciar seu papel como Esclarecido diante de um sofrimento que está ao seu alcance evitar. Hércules então segue sua honra, e aceita a tarefa, mesmo que a consequência lhe seja desagradável.

A LIMPEZA DOS ESTÁBULOS

Hércules sabe que não pode contar com nenhum recurso humano além de si mesmo, ou nenhum auxílio do próprio Euristeu, posto que o déspota deseja que a situação não se altere, e não lhe destinaria nenhum recurso auxiliar palpável a um esforço que não está sujeito a ele.

Mas há uma força disponível que não está sobre o controle de Euristeu: a água.

As forças sociais possuem uma solidariedade normalmente dispersa, voltada apenas para interesses pequenos, e causas imediatas. E essa força emotiva dos Iludidos é aquilo que os tiranos capitalizam para si em seu desejo de conservação de poder. O esforço de Hércules em canalizar as águas é o trabalho de esclarecimento social, firme, planejado e sem afobação, que os Realistas estão capacitados para fazer, direcionando os homens em direção aos coração do problema, e uma vez que esta direção esteja estabelecida, guiar a emoção dos Iludidos a concluir seu trabalho. Sendo assim, não é preciso que o Realismo se espalhe por toda uma sociedade para gerar efeitos palpáveis: bastam que os homens certos estejam corretamente posicionados.

TRAGÉDIA ANUNCIADA

Ao ficar ciente de que Hércules conseguiu depurar o mal social contra o qual se comprometeu, ou ao menos, minimizar seu dano, e, adicionalmente, saber que um de seus filhos o enxergou como benfeitor, Augias se enfurece. Sabemos que existem aqueles servidores do Estado que apenas servem aos seus desmandos por não enxergarem alternativa de atuação correta. Um bom exemplo, visível e palpável, é tudo o que precisam para voltar a servir na direção do povo.

No entanto, o Estado corrupto não perdoa. Tanto o Guerreiro de Júpiter quanto o servidor fiel são declarados párias para o governo, mesmo que o povo os considere heróis. Incapaz de aniquilá-los por sua publicidade, condena-os ao esquecimento.

Fileu perdeu seu tutor e seu poder. Hércules perdeu objetivamente a oportunidade de dar mais um passo para sua liberdade. Mas a porta que se fechou, abriu outras: a da esperança para uma população que havia se acostumado ao sofrimento, e a da renovação das lideranças, por o povo agora veria Fileu como digno.

CONCLUSÃO

Ao consolidar seus primeiros progressos, Um Realista deve resistir a intenção de reformar o mundo Iludido em que vive. Mas, sob pena de se tornar um Mercador de Ilusões, tem o dever e a obrigação de atuar de alguma forma para tornar o mundo em que vive menos obscuro, de usar as primeiras luzes que conquistou para tornar a vida dos homens menos miserável - e em consequência, a vida de todos.

A liberdade que nosso conhecimento proporciona é grandiosa demais para servir apenas a nossos propósitos mesquinhos. Uma parte dela tem que ser repartida com o Mundo, ou irá apodrecer dentro de nós, e nos igualar a todos os que colaboram e colaboraram para a decadência do mundo em que vivemos. Não tem que ser feito sempre de forma gentil, ou sutil. Mas que ao menos as vidas daqueles que nos cercam sejam tocados por algo de bom que adquirimos, quer eles percebam ou não.

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#13
26-12-2013, 10:42 AM (Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 26-12-2013, 10:57 AM por John Romano.)
Após algum tempo, se preparando e mantendo corpo e armas prontas para o necessário, o Arauto de Euristeu procurou novamente a Hércules, determinando a ele seu Sexto Trabalho.

O Lago Estínfale era um poço de corrupção no meio da verdejante Arcádia. Ele foi ocupado por ferozes aves rapinantes, dedicadas a Marte, o Deus da Guerra. Eram grandes como garças, mas com bicos longos e afiados como espadas, e penas metálicas que tanto agiam em sua defesa, quanto podiam ser arremessadas contra os incautos. Elas se alimentavam de qualquer carne disponível em sua vizinhança, o que deixava ossadas de animais e homens espalhadas nas margens do lago. Seu estrume era altamente tóxico, e como atualmente, elas se agrupavam aos milhares, transformaram o lago num pântano ardiloso e fétido.

[Imagem: 500px-Stymphalian_birds_1_by_joshcorris-d40xnyo.jpg]

A missão de Hércules era o de retirar as aves do Lago Estínfale, assim, oferecendo o trabalho para a Deusa mais cultuada de Arcádia, Diana, com a qual o Rei Euristeu havia se desentendido quando do cumprimento do Terceiro Trabalho.

O Filho de Júpiter então tomou suas armas, e a maior quantidade de flechas que pode carregar, e partiu novamente para Arcádia.

O terreno próximo do Lago Estínfale já tinha se tornado mais árido e pedregoso, graças as águas malsãs do local. Mas ele estranhou de fato, foi um coral profano formado por gralhares agudos somados ao rilhar de mil espadas ao longe, mas que mesmo assim, era altamente incômodo e perturbador. Ao chegar ao topo do último monte que lhe separava do lago, ele entendeu o motivo.

Estínfale tinha de fato se transformado num enorme pântano, com um número gigantesco de aves agrupadas sobre um bosque de árvores mortas no seu centro. O som que ouvia era das próprias aves, seu som pessoal se somando ao entrechoque de suas penas de metal, formando um concerto agressivo tanto aos ouvidos, quanto à moral de qualquer homem - mesmo à distância.

[Imagem: Dead_trees,_the_marsh,_Porlock_Weir_-_ge...658785.jpg]

Sem se atemorizar, mesmo com o sentimento de que o som estava lhe cortando por dentro, Hércules terminou sua viagem até as margens do Estínfale.

Em suas margens, ele observou melhor os milhares de pássaros que ali viviam, em constante agressão uns contra os outros, suas próprias armaduras de penas lhes impedindo que se aniquilassem mutuamente. Muito embora, o Filho de Júpiter tenha percebido que as penas eram mais finas no ventre dos animais, o que lhes concedia um ponto fraco que poderia explorar.

Nesse momento, ele viu que sua chegada não tinha sido ignorada: três pássaros se separaram do bando, e voavam velozmente em sua direção. Hércules aprumou o corpo, tomou sua clava, e se preparou para a peleja.

O líder do grupo voou certeiro contra o peito do semideus, que aguardou a distância adequada, e golpeando-o de baixo para cima, o esmagou em pleno ar. Um segundo pássaro visou seu ombro, mas por estar resguardado pela Couraça de Neméia, seu bico se quebrou, e ao cair no chão, foi também esmagado pelo pé do semideus. O terceiro pássaro já estava em fuga. Pelas penas que estavam amassadas em suas costas, o animal arremessou algumas atrás de Hércules, um ataque covarde frustrado pela proteção invulnerável do herói.

Hércules tomou suas flechas, e tentou um disparo contra o terceiro pássaro, mas quando disparou, sua flecha colidiu contra a armadura de outro pássaro, sendo inútil. Ele atirou mais algumas, mas o resultado era o mesmo: quando estavam todas juntas, seu vôo confuso e próximo tornava qualquer ataque à distância impossível de ser bem sucedido.

[Imagem: smi278a.jpg]

Ao final do dia, Hércules cogitou a possibilidade de espalhar armadilhas, contando assim como o instinto das aves para destruí-las. Mas a água do lago combinada com o estrume dos milhares de animais que lá viviam, se transformou num lodo gelatinoso que não lhe permitia dar mais do que alguns passos sem estar afundado quase até a cintura.

Sem saber como solucionar a questão, o Filho de Júpiter subiu novamente ao monte mais próximo para acampar e refazer suas forças.

A noite escura e sem lua foi de pouco sono para Hércules. A luz de sua fogueira era pouco para lhe trazer um sono sereno, ou uma forma de vencer seu obstáculo. No meio da noite, porém, uma outra luz, branca, inicialmente pálida, mas gradualmente potente, se formava à sua frente. Ele conhecia bem que isso significava uma presença divina - e que a única Deusa cuja luz era confortante e não ofuscava os olhos era de Atena, Deusa da Sabedoria.

Diante de Hércules como em seu costume, com seus olhos serenos constrastando com sua armadura de combate completa, a Deusa fala a ele:

- Tu estudaste seu oponente, mas venho a ti para revelar o que não percebeste, Filho Amado de Meu Pai: as Aves do Estínfale nunca ouviram um som mais alto do que o delas próprias. Durma agora, e não tema. Nossa orientação e teu suor, amanhã, te trarão o êxito.

Dito isso, sua luz a envolveu até se apagar e a levar consigo.

Hércules então, conciliou seu sono, desejando poupar forças para o dia que viria.

:::::::::::::::::::::::

Ao despertar e se alimentar, sem ainda saber o que fazer, Hércules repara num fato curioso. Uma coruja estava em galho próximo ao dele, exposta, desperta, como que o vigiando. Sabendo que corujas são seres noturnos, mas sorrindo ao lembrar que elas são mensageiras de Atena, se aproximou dela. A ave então, alça lento vôo, que o semideus prontamente segue.

A coruja parou numa planície mais próxima do lago, com cena perturbadora lá o aguardando. Pelo tipo das ossadas, um grupo de pastores incautos passou próximo do Estínfale com grande rebanho, e foram mortos e devorados pelas criaturas. Seus ossos limpos ali ficaram como memória da matança.

Hércules passou em meio aos ossos de homens e animais, até que um som lhe chamou a atenção. Algo como o bronze, algo como um sino. Ele olhou para baixo, e viu que ele tinha esbarrado em uma das ossadas do gado e com isso, fez tocar um sino que ele tinha em seu pescoço. O semideus então viu que todos os bois tinham esse sino, e que a carroça dos pastores tinha mais um bom número deles consigo, junto com algumas ferramentas e um pequeno altar móvel dedicado à Vulcano, Ferreiro do Olimpo e Deus dos Artesãos.

O semideus olhou agradecido para o Alto, e para as inspirações dadas pelos dois Deuses. Agora, ele sabia o que fazer.

:::::::::::::::::::::::

Ao fim do dia, Hércules carregava em seus ombros um carrilhão enorme, feito de centenas de pequenos sinos de bronze, alguns reunidos e moldados para serem bem maiores. O mero ato de caminhar com eles lhe incomodava os ouvidos, logo, ele também tinha protegido os ouvidos antes de deixar a caravana condenada.

[Imagem: bianzhong.jpg]

Ele subiu ao monte onde estava acampado, o mais próximo do Lago. Tomou o carrilhão em seus braços... e o tocou, com toda a sua divina força.

O som era poderoso e quase ensurdecedor - mais forte do que qualquer coisa que já tinha ouvido antes, mas harmônico, diferente da cacofonia agressiva das Aves do Estínfale.

Enquanto tocava, ele viu uma ave alçar voo veloz para longe do lago... duas... cinco... dez... cem... e em pouco tempo, todos os Pássaros Guerreiros batiam em retirada desesperada, aterrorizados com o som do bronze tocado por Hércules, inclusive com alguns se matando na sua fuga.

[Imagem: qz0nmyyiwfgz.jpg]

Ao parar de tocar, com a noite já começada, e quando o zumbido de seus ouvidos passou, ele não podia ouvir mais nada. O silêncio e a paz haviam retornado ao Lago Estínfale, e em breve, ele retornaria para sua pureza e fecundidade natural.

:::::::::::::::::::::::

- Tome essas aves mortas e entregue ao nosso Rei. O Estínfale está livre das Aves, e elas jamais retornarão. Meu Trabalho está cumprido. Aguardarei pelo próximo, junto aos outros servos - disse Hércules ao Arauto de Euristeu, ao retornar para Micenas.

Enquando Hércules se banhava, retirando o suor de sua jornada de volta, ele se lembrou que ofertou o carrilhão para Atena e para Vulcano, em agradecimento por sua orientação. Se havia algo que ele sabia que era mais forte que o som que ele tinha gerado, era o poder da sua gratidão pelo que tinha recebido em seu trabalho.

Ao se secar, ele viu uma coruja voando, saindo da casa dos servos de Euristeu, em direção ao horizonte. Hércules sorriu, e preparou seu íntimo para o que lhe aguardaria para o Sétimo Trabalho.

[Imagem: Mighty_Hercules_v2_by_RubusTheBarbarian.jpg]
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#14
26-12-2013, 10:43 AM
Com a conclusão do Sexto Trabalho, Hércules passa a ter seus feitos conhecidos de forma pública e notória, não apenas por si mesmo, mas também pelo feito em favor do outro. Da mesma forma, quando o Realista passa a usar de sua força e sabedoria não apenas para a melhoria de si mesmo, mas para a elevação da vida de sua sociedade, ele passa a ser confrontado com forças que não é capaz de enfrentar frontalmente.

O agressor moral possui força covarde, caminha em bandos, está armado com o bico perfurante da calúnia, protegido pela racionalização de sua própria infâmia, a que gera as penas arremessadas da difamação.

Sua armadura é imperfeita, o que permite serem enfrentados individualmente, posto que seus ataques são inúteis diante da fortaleza da personalidade do Realista, conquistada através da vitória sobre seu ego, mas seus iguais se protegem mutuamente, apesar de estarem em eterno conflito. A inveja venenosa que defecam torna seus ninhos local pestilento, cuja aproximação para conflito direto torna impossível.

Assim sendo, uma vitória definitiva contra a agressão moral é aparentemente inconquistável.

Contudo, um Realista iluminado é capaz de perceber que o agressor moral é ao mesmo tempo encantado e surdo ao som de sua própria voz e reflexões - o que é sua definitiva fraqueza.

Sendo ele capaz de reunir pequenas porções de conhecimento, com a diligência pontual de sua lógica, ele é capaz de formular aquilo que lhe dará sua vitória: a declaração definitiva da Verdade, que se sobrepõe dominante sobre a racionalização insana e enlouquecedora das criaturas que o ameaçam, se demonstrada com toda a energia do íntimo do Realista.

Diante dessa declaração, o agressor moral, assustado por ter tal poder soado dentro de si de forma inegável - uma força tão poderosa que o próprio declarante deve ter atenção para não ser igualmente ferido por ela - não tem outra escolha senão cessar seus ataques, e partir para não mais retornar.

O confronto contra a inveja, a calúnia, e a difamação são conflitos inevitáveis no caminho de um Realista que almeja completar o início de sua Jornada. A força dessas atitudes não é tão poderosa quanto parece, mas requer iniciativa correta para ser vencido. Basta que o Guerreiro da Real esteja atento ao fato que a vitória definitiva contra uma oposição coletiva, só pode ser atingida não permitindo que seus oponentes escolham suas armas, e neutralizando a força iníqua do adversário na sua raiz.

Com essa vitória, o Realista conquista o direito a uma VIDA PÚBLICA capaz de tornar seu EXEMPLO DE VIDA visível e inspirador para todos os que o cercam. Não é uma conquista pequena. E ela lhe dará a sabedoria que irá precisar para outros conflitos que a vida lhe apresentará no futuro.

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#15
16-03-2014, 07:12 PM
O mar da Grécia enchia o nariz de Hércules com o seu odor, enquanto seu pequeno barco o guiava à caminho do Sétimo Trabalho.

[Imagem: Sailboats_wallpapers_145.jpg]

Desta vez, o Arauto de Euristeu o remeteu para a Ilha de Creta, onde dizia-se que um enorme touro branco pertencente ao Rei Minos, tinha se tornado furioso e passado a ameaçar vilas e aldeões. Sua missão era trazer o touro vivo até Micenas, para que Euristeu desse a ele o fim que desejasse.

Em seu quarto, pouco depois da partida de Hércules, Euristeu ainda lá estava, apavorado. Juno havia aparecido novamente a ele em sonho, como aquele enorme pavão de olhos de fogo, desprezando-o pelo Filho de Júpiter ainda estar vivo, e anunciando, logo após dizer a seu servo qual seria o próximo Trabalho de Hércules, que agora, ela iria pessoalmente garantir que ele falharia, daqui por diante.

De volta para o semideus, à medida que se aproximava de Creta, o tempo se tornava mais escuro e fechado. Nuvens pesadas e baixas cercavam gradualmente a ilha, como um grande manto cinza-chumbo que caía sobre ela. Quando enfim aportou no Reino de Minos, o dia tinha se tornado noite.

[Imagem: storm_on_the_sea_hd_widescreen_wallpapers_1440x900.jpeg]

Umas poucas tochas que insistiam em se manter acesas apesar do vento frio, eram as únicas indicações de como chegar até o Palácio de Creta. As ruas desertas, e uma trilha feita de patas enlameadas, madeira estilhaçada, e sangue, cruzando a avenida de cima, até embaixo, mostravam que o Touro havia estado ali há pouco.

Em meio ao caminho, porém, uma voz firme o adverte:

- Você não precisa ir até o palácio, Filho de Júpiter. Minos já declarou que qualquer um que submeta o Touro poderá ficar com ele, embora matar o animal seja punido com a pena de morte. O sangue dos últimos que tentaram ainda está no chão das ruas próximas.

Hércules vê um jovem de corpo bem cultivado, mas de pernas quebradas e mal curadas, lançado a um canto, com uma cuia e uma esteira, denunciando sua condição como um mendigo.

- E quem é que me concede esse conselho tão oportuno?

- Sou Tauro. Fui um criado do Rei Minos, aquele encarregado de cuidar do animal. Se puder me dar algumas moedas, ou ao menos, repartir seu pão comigo, lhe contarei o que sei sobre o Touro Branco.

Após se sentar, repartindo a esteira, seu pão, e uns goles de vinho com o mendigo abandonado, ele lhe contou.

- O animal é fonte de desgraça desde que chegou, Hércules. O Touro foi um presente de Netuno, Deus dos Mares, para o Rei. Eu estava presente quando o animal emergiu do mar em meio a uma cerimônia. No mesmo dia, eu, que sempre cuidei do rebanho real, fui destacado para cuidar exclusivamente dele, até o dia de seu sacrifício.

Ele sempre foi um animal imponente, mas perfeitamente dócil. Cuidei dele, e de todas as jóias e pedrarias com o qual ele foi enfeitado, com o melhor das minhas habilidades. Mas no dia marcado para seu sacrifício, o Rei em pessoa me procurou dizendo que meu ofício agora seria permanente.

- Então, Minos renegou um sacrifício aos Deuses... - disse Hércules, meneando a cabeça.

- Sim. Até então, tudo corria bem. O animal recebia muitas visitas, e era exibido publicamente algumas vezes. Mas ele começou a receber uma visita cada vez mais frequente... a da Rainha, Pasifaé.

Eu a vi à distância, e via o jeito que ela olhava... falava... acariciava o Touro. No início, achei que estava divagando de forma maldosa. Até que fui dispensado do meu ofício por um dia inteiro. Desconfiei, e observei de longe. E eu vi.

Vi uma vaca de bronze, um engenho mecânico como nunca vi antes, ser trazido até a baia onde o Touro vivia. Não sei como ou de que forma exatamente, o Touro Branco a cobriu como se fêmea fosse. No fim do dia, os criados levaram o mecanismo para longe, ele se abriu e...

- E...

- A Rainha saiu de dentro dele. Suada, sorrindo, e com as pernas trôpegas. A própria Rainha fornicou com o presente divino...

No dia seguinte, o Touro Branco havia mudado. Estava raivoso e arisco. Soube que meus auxiliares tiveram medo de lidar com ele, e entrei na baia.

Tauro aponta para as próprias pernas e diz tristemente:

- Ele arrancou contra a porta e contra mim. Saí no último instante, mas ele me pisoteou mesmo assim. Se não tivesse saltado, meu corpo teria sido destruído por ele. O Touro Branco demoliu todas as cercas, e passou a desfechar a desgraça que caiu sobre o povo.

- E quanto a Família Real? - perguntou Hércules.

- O Rei me perguntou o que houve. Contei tudo a ele. No dia seguinte, outros criados me pediram sinceras desculpas, e me trouxeram de maca até aqui, onde estou até hoje, dizendo que o Rei me punirá de morte se eu contasse a qualquer aldeão o ocorrido. A bondade do povo tratou minhas feridas, mas agora, não passo de um aleijado inútil, vivendo da bondade e dos restos do Palácio. Quanto a Minos, nada sei, além do decreto, e que ninguém mais viu a Rainha depois da fuga do Touro.

- Não teme pela sua vida, nobre Tauro?

- Não. Você não é um aldeão, afinal de contas - disse Tauro num arremedo de sorriso - Me ouça, o Touro sempre vai ao mesmo lugar à noite, muito embora agora, com essas nuvens todas, o dia e a noite sejam uma coisa só. É uma construção ainda incompleta, no Sul da ilha. Os que a viram falam de vários corredores e paredes feitas à esmo. Alguns já foram até lá, mas temo que se perderam, pois jamais voltaram.

- Eu lhe agradeço então, pela história, Tauro. E se me permitir, pernoitarei com você hoje.

Hércules contou sobre alguns de seus Trabalhos anteriores para o mendigo, até que o vinho e o sono os fizeram adormecer. Quando Tauro acordou, Hércules já estava pronto para partir, de pé, e dizendo:

- Mantenha seus olhos no porto, Tauro. Pois me verá deixar Creta com o Touro, exatamente por ali.

Antes de descer de volta para a estrada, Hércules enunciou:

- Que os Deuses te acompanhem.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

O Filho de Júpiter seguiu até o Sul da ilha, como Tauro lhe instruiu, até chegar ao estranho local de construção que ele citou.

Umas poucas áreas cobertas, entremeadas de colunas sustentando o nada, e paredes desconexas cobriam vasta porção da terra. O material disperso indicava mesmo que se tratava de construção incompleta, e agora, abandonada. Da mesma forma, as pegadas frescas do Touro, mostravam que ele havia entrado ali, embora a partir de certo ponto, o chão já coberto não denunciasse seu caminho.

[Imagem: Bayon-Temple-architecture-passageways-An...010-01.JPG]

Hércules olhou para aquele Labirinto incompleto, e sabia que entrar a esmo só o faria se perder, e talvez, ser pego de surpresa pelo Touro. Sem uma referência, seria suicídio.

Após um pouco de reflexão, Hércules enfim entendeu o que era necessário.

Jogou sua tocha ao chão, deixando que a lama a apagasse. E na mais absoluta escuridão, passou a procurar.

Após algum tempo, o negrume da tempestade que não caía, lhe mostrou. Um ponto de luz, firme como o de uma estrela, estava afastado mas alcançável. Usando a luz como referência, Hércules trafegou por entre as paredes, elevando-se onde era possível, para saber para que lado continuar seguindo.

Após algum tempo, ele podia ouvir um bufar muito próximo, como se estivesse ao seu lado. Era hora de combater.

O Filho de Júpiter virou-se já em corrida, e na primeira curva, viu o Touro e o diamante encrustado em sua testa, perto demais e surpreendido demais para investir. Tomando-o pelos chifres, e depois pelo pescoço, lançou a cabeça do Touro Branco ao chão, forçando-o a ajoelhar. Apenas mantendo-o no chão com sua poderosa força, o semideus disse: "Não vim te ferir ou de ti abusar, Divina Oferta. Também ofertei minha vida em sacrifício. Não tenho medo, e você não deve temer, também."

[Imagem: 2281306_640px.jpg?1340652602]

O Touro, se acalmando aos poucos, forçou seu pescoço cada vez menos contra Hércules, até se aquietar de vez. Mantendo-o seguro por um dos chifres, Hércules o acariciou por uns momentos, até montá-lo, e dizer: "Está na hora de deixarmos esse lugar de miséria e confusão. Juntos."

Hércules tocou o Touro em linha reta, fazendo com que as forças deles somadas, derrubassem muros e colunas, até ambos estarem fora do Labirinto.

::::::::::::::::::::::::

Tauro sorriu quando, do alto da escadaria, viu um homem fortíssimo montado sobre um Touro Branco, entrar no mar e nadarem rumo ao continente. Sorriu novamente quando viu o Sol começar a aparecer entre as nuvens. Ajeitando seus parcos pertences, achou o alforje de Hércules com uma porção generosa de suas moedas, e uma mensagem: "Conheci um médico com poderes quase divinos, quando retornava da luta contra a Hidra. Seu nome é Esculápio. Use o dinheiro para alugar um barco e depois uma carroça. Viaje até Epidauro e o procure. Se alguém pode devolver sua saúde, é ele. Cure-se e viva em paz."

O terceiro sorriso de Tauro foi o mais largo de todos.

::::::::::::::::::::::::

Diante do seu altar particular à Hera, Euristeu nunca foi tão vacilante.

- Se-Se-Senhora do Mundo, Hércules logrou êxito no Sétimo Trabalho. O Touro Branco já está em Micenas. O darei em sacrifício a você, amanhã pela manhã, em sua honra e glória.

Os olhos do pavão de pedra brilharam como rubis, até que ele ouviu:

- IMBECIL!!!

Euristeu caiu de joelhos imediatamente enquanto ouvia a Deusa falar:

- Sacrificar um animal que meu odiado enteado recuperou, significaria dar honra e glória A ELE! E isso é a última coisa que eu desejo! É com essa idiotice que você recompensa quem lhe deu seu Reino? Seu trono? Seus bens? Quem lhe deu TUDO???

O Rei de Micenas apenas abaixou sua cabeça em temor.

- Liberte o animal. Agora ele é manso, embora ainda selvagem. Que outros deem a ele o destino que lhe aprouver. E agora levante-se, Servo. Tenho outro Trabalho que você deve transmitir ao odiado filho de meu amado marido...


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Após o Realista aprender a não conservar apegos mundanos, e a buscar a máxima evolução de suas posses terrenas, ele descobrirá que, a despeito de quantos bens ele consiga acumular para seu conforto, que sempre haverão aqueles que possuirão mais do que ele mesmo. Mas como eles não possuem o seu esclarecimento do que é necessário, e do que é excesso vão, o Sétimo Trabalho lhe revela como lidar com os bens terrenos em um patamar superior.

Todo homem busca para si o máximo dos bens mundanos que puder reunir em torno de si, e em um dado momento, aquele que os busca de forma desordenada, atingirá um patamar que será mais que suficiente para seu sustento. Nesse momento, um Iludido se sente verdadeiramente presenteado pelos Deuses.

No entanto, o próprio crescimento contínuo de sua fortuna e prosperidade exigirá devolver ao mundo uma parte daquilo que ele conquistou (uma fase de perda de gordura, após uma de ganho de massa magra; um investimento de vulto para obter um retorno de maior vulto ainda; a quitação de um imposto, para a manutenção da legalidade de seus bens, entre outros). E nesta etapa, dois erros capitais costumam acontecer, seguidos um ao outro.

O primeiro é a recusa deste sacrifício em prol do desenvolvimento; a segunda está no gasto dos bens excedentes na mera saciedade de seus prazeres.

Nesse momento, o Touro Branco, o Tesouro Sem Preço, se torna uma força destrutiva para a existência dos que cercam o possuidor do bem, ao invés de proporcionar crescimento para si e também para a sociedade que o cerca. E ao se confrontar com a consequência da vida dos Iludidos desregrados, tão invejados pelos Aspirantes desavisados, Hércules se confronta também com sua própria ganância e hedonismo.

A primeira forma de evitar esse desvio de trajeto é simplesmente olhar ao redor.

Aqueles que foram descuidados com o uso de seus próprios bens, e deixaram o mesmo ocorrer por descuido, nos cercam aos montes, aqueles que já estiveram no topo do mundo, acharam que não existia perigo ou cuidados a tomar, e decaíram para as sarjetas do mundo. Suas histórias, para um homem que já despertou para as ilusões do mundo, são o primeiro remédio a tomar para não cometer o mesmo erro que eles.

Com essa consciência, o Realista já pode procurar em si mesmo o que é essencial e o que é dispensável, em termos de gastos. Mas mesmo sem um ego a lhe perturbar a visão, esta não é uma seleção fácil. O mundo nos cerca de armadilhas e informações deformadas múltiplas, que nos fazem acreditar que uma posse é imprescindível para nossas vidas, quando o nunca foi.

No meio desse labirinto imperfeito, mas ainda sim, capaz de conduzir a perdição, só há uma coisa que pode orientar o Realista: a Noção Verdadeira de Valor.

Aquilo que é realmente necessário para se viver, sempre o foi, desde a Aurora dos Tempos, até hoje. Tudo o que é preciso é somar a essas necessidades essenciais, aquelas minimamente pertinentes ao nível de vida que o homem possui no momento. O ego já não é mais atendido: basta que o foco esteja no que REALmente se precisa.

Assim, a Jóia do Touro é vista, e pode-se chegar com segurança até o cerne da questão, e tomando-a ganância interior, distorcida pelo gasto nos prazeres, com a devida firmeza, ela pode ser guiada de forma a se atingir a forma certa de se guiar os bens mundanos.

Com a Noção de Valor conquistada, um Realista está apto a sempre ter o necessário para cobrir suas necessidades, seja ele um homem abastado, ou não - e desta forma, a riqueza jamais o deslumbrará.
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#16
20-03-2014, 08:38 PM
Em seu Oitavo Trabalho, mais uma vez a um barco, Hércules foi lançado.

Cruzando o Mar Negro, mais distante para onde o Filho de Júpiter jamais foi, estavam as terras da Trácia, onde Diomedes, filho de Ares, Deus da Guerra, e de Cirene, governava com um punho de ferro banhado em sangue.

(Nota: Cabe diferenciar Diomedes da Trácia, filho de Ares, sobre o qual esse Trabalho é contado, de Diomedes de Argos, filho de Tideu, de quem esse Autor tem seu nome.)

Pouco se sabia do que realmente ocorria lá, a não ser o fato mais infame, que o Filho de Ares criava éguas que se alimentavam unicamente de carne humana, e que os estrangeiros desavisados se transformavam no pasto delas. Euristeu encarregou seu servo e primo de capturar esses animais torpes e livrar a Trácia desse mal.

[Imagem: 4093_11661298628842.jpg]

Após atravessar o corpo de água, mas antes de entrar nas terras de Diomedes, uma cena lhe chamou a atenção. Um jovem atlético mostrava grande agilidade e equilíbrio combinando golpes de espada e malabarismo, tanto a pé, quanto montado; sua exibição atraía atenção tanto de rapazes admirados, quanto de moças suspirantes.

Ao atracar seu barco, Hércules percebeu a aproximação do jovem, que não perdeu tempo em lhe falar:

- Ei! Você é Hércules, não é? Sei que é, ouvi falar dos seus Trabalhos.

- Sou Hércules, servo de Euristeu, se é o que quer saber. E quem é você, só sei que suas mãos e pés são bem rápidos, rapaz.

Se aprumando, o jovem respondeu:

- Sou Abdero, Filho de Hermes. Sou um semideus, como você! Está cumprindo algum Trabalho agora, não é? Posso lhe ajudar? Eu posso ajudar!

Hércules pensou "bem vejo que a língua dele é tão rápida quanto o resto do corpo", e respondeu:

- Você fala a verdade, percebo a Centelha em você. Mas Meu Rei e Senhor me proíbe de aceitar ajuda de qualquer um em minhas tarefas. Agradeço pela sua oferta.

Se colocando novamente na frente de Hércules para que ele não continuasse a partir, Abdero insiste:

- Por favor, Senhor Hércules, deixe-me ajudar! Talvez eu não possa interferir com sua missão, mas tem alguma coisa em que eu posso lhe ser útil? Tem que haver alguma! Sou habilidoso, estou certo que não vou lhe atrapalhar!

O Filho de Júpiter suspira e diz:

- SE você ainda estiver aqui quando eu retornar, talvez eu terei algo para você. Mas não irei garantir, Abdero.

- Eu vou esperar, Senhor Hércules! Mas... para onde está indo, mesmo?

Já se distanciando do porto, ele responde:

- Trácia.

- T-T-T-Trácia?!? Mas nenhum estrangeiro entra na Trácia, e sai com vida!

Hércules se volta para Abdero, sorri, e afirma:

- Vim aqui exatamente para mudar isso. Fique aqui se quer ter sua chance... mas eu partiria se fosse você. Não acredito que você goste de esperar...

Sem se voltar, ele escuta Abdero responder:

- Só pelo que vale a pena! Vai ver, Senhor Hércules, estarei aqui quando voltar!

::::::::::::::::::::::::::::::::::

Com os montes que separavam a Trácia do Mar Negro, atrás de si há alguns dias, Hércules ponderava sobre seu Trabalho e sua dificuldades. Éguas antropófagas... um Senhor firme e violento... obediência...

Seus pensamentos foram cortados apenas por um tropel que se aproximava rapidamente. Ergueu os olhos e viu quatro equinos se aproximando, diretamente em sua direção, olhos brilhantes como carvões em brasa. O semideus tomou as cordas que tinha consigo nas mãos, deixou-as atrás de si, e continuou caminhando, olhos fixos nos animais.

As Éguas Trácias se detiveram a sua frente, ameaçando ora investir, ora cercá-lo. Longamente, Hércules as encarou. Elas relinchavam inquietas, o circulando, sem que ele as deixasse sair do alcance dos olhos. E como ele imaginava, não foi atacado.

[Imagem: 4horses.jpg]

Após alguns instantes, o semideus se virou lentamente, e andou até as cordas. As éguas o seguiam, tão perto que ele podia sentir seu hálito quente, e pútrido, de sua alimentação incomum, e até sua saliva respingar em sua pele.

Ao chegar até suas cordas, ele pensou por um momento. Fez laços firmes, mas amplos, e sem hesitação, os colocou no pescoço de cada uma delas, dizendo "agora vocês irão onde EU disser que tem que ir. Não sou seu dono, mas sou agora o Guia dos seus passos".

Juntando as pontas das cordas e as trazendo, viu que elas, mesmo inquietas o seguiam, mesmo ocasionalmente forçando o pescoço contra as cordas, sem contudo tirá-las.

Ele fez acampamento para o pernoite pouco depois, mas não dormiu, apenas descansando até o sol se levantar de novo. As éguas incansáveis ainda o encaravam e relinchavam. Mas não fugiram.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::

Ao retornar para o porto, Hércules viu apenas o cavalo de Abdero, inicialmente, até notar que o jovem estava nadando, e voltava rapidamente para as docas.

- Senhor Hércules! Senhor Hércules! Você... você foi até a Trácia roubar cavalos???

- Não são cavalos comuns, Abdero.

- Acho que não... os homens que estão ao longe vindo estão muito armados e muito apressados para serem os donos de cavalos comuns!

Hércules olhou para trás, e viu apenas um parco movimento ao longe. Confiando na visão aguçada de seu companheiro, perguntou:

- Alguém segue à frente do grupo?

- Sim, um homem nu, com uma flâmula vermelha na lança.

"Diomedes", pensou Hércules enquanto dizia para Abdero:

- Não conseguiremos nos afastar à tempo. Você queria uma chance, e agora a tem. Fique aqui com as éguas. Não largue as cordas. Não as perca de vista. Não tenha medo. Aguarde até eu voltar com seu cavalo.

Enquanto montava no cavalo e partia, gritou completando:

- Não esqueça minhas palavras, Abdero! Sua vida depende disso!

:::::::::::::::::::::::::::::::::::

Os cavalos dos dois lados se aproximaram devagar. Hércules desmontou primeiro e disse:

- Se tem alguma contenda contra mim, Rei da Trácia, solucionemos a questão em particular. Só você e eu.

E enquanto tirava sua Couraça indestrutível e suas armas, alertou:

- Mas pense bem. Em teu Reino, estou sujeito a teu domínio, e como um Servo, não posso feri-lo. Mas aqui em solo neutro, tu és homem como eu, e lutarei sem hesitação ou piedade!

Diomedes sinalizou aos seus guardas, que retornaram para seu reino. Ele desmontou largando sua lança, e respondeu:

- Nada me daria mais prazer do que sacrificar o filho de um Deus para meu Pai, e alimentar minhas éguas com carne tão nobre, tudo ao mesmo tempo!

Sem dizer mais nada, o Filho de Ares urrou seu grito de guerra e correu contra Hércules.

A luta iniciou equilibrada. Hércules era mais forte, mas Diomedes era mais habilidoso, tanto no pugilato, quanto na luta corpo-a-corpo. Após alguns minutos, mesmo com ambos contundidos, esfolados e cansados, nenhum dos dois tinha intenção de desistir.

Foi quando patas de cavalo foram ouvidas. As Éguas se aproximavam, ainda com a corda no pescoço, mas sem nenhum condutor. Elas pararam em certa distância, ameaçando avançar contra os lutadores, mas sem interferir na luta.

O olhar de Hércules se revestiu de energia nova, diante de um pensamento que teve, mas que não podia deixar que o invadisse agora. Diomedes investiu, buscando derrubar novamente Hércules, mas o Enteado de Hera abaixou-se no último instante, reuniu suas forças, e o lançou ao alto e para trás dele, dizendo:

- Você criou os monstros, agora, alimente-os!

[Imagem: HeraclesDiomedesAntoineJean.jpg]

Hércules não se virou quando ouviu o Filho de Ares cair e gritar de terror, até ser silenciado pelo som febril das patas e dos dentes das éguas.

[Imagem: D97.jpg?351]

Não levou mais do que o tempo dele tomar fôlego, para os sons pararem. Hércules se virou, e Diomedes da Trácia foi reduzido a uma carcaça sanguinolenta.

O Campeão de Micenas reuniu seus pertences, e tomou as éguas pelas cordas, cavalgando para o porto. Agora, elas seguiam com ele, calmas e silenciosas.

Ao fim da tarde ele chegou... e encontrou apenas os ossos limpos de Abdero, testemunhando que o jovem pagou um preço amargo pela sua impetuosidade e fraqueza.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::

- FRACASSO, FRACASSO, FRACASSO!!! Será que tudo o que eu lhe envolvo se transforma em FRACASSO, servo inútil???

Euristeu não ousava se erguer diante da ira de Hera, tão intensa que ele tinha ouvido a estátua de seu altar rachar, há pouco.

[Imagem: peacock.jpg]

- Hércules não só conseguiu lhe trazer as éguas, agora tão mansas quanto se criadas num estábulo real, mas também está mais famoso que nunca! Saiba por mim, Euristeu, ó Todo-Poderoso Rei de Micenas, que Hércules demorou por retornar, porque reuniu atletas para Jogos em honra à Abdero, e foi tão eloquente em seus discursos que eles decidiram fundar UMA CIDADE INTEIRA em homenagem ao falecido! Hermes, pai dele e Mensageiro do meu Esposo e Rei, nem sequer guardou agravo contra Hércules!

O pavão de pedra de olhos de rubi silenciou por uns momentos, até continuar:

- Dê a ele uns poucos dias de luto pelo jovem que partiu para o Reino de Hades. Eu retornarei depois para lhe ditar o novo Trabalho. Mas esteja certo de uma coisa, escravo... desta vez, eu, PESSOALMENTE, me encarregarei que ele não terá sucesso!



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Esse é um dos Trabalhos mais diretamente ligados com o Realismo conforme os mais jovens o encaram, então merece uma análise cuidadosa.

As mulheres estão naturalmente inclinadas a seguir e serem guiadas por homens dotados de dominância genuína, ignorando e se rebelando contra os fracos e pusilânimes. Ao conhecerem aqueles que conhecem o Realismo, mas o utilizam apenas para seus fins egoístas, os herdeiros do Rei da Trácia mostram a elas uma dominância tão forte, embora distorcida e malévola, que o convívio delas com eles igualmente lhes deforma o íntimo.

Ao invés de simplesmente se afastarem da fraqueza masculina, elas passam a se alimentar dela, voltando contra os homens fracos de corpo e alma, a indignação que no fundo, nutrem contra os próprios abusadores que amam.

Ao conhecer os herdeiros de Hércules, mulheres assim se tornam confusas. Reconhecem neles a mesma força que viram em seus doces exploradores, buscam intimidá-los, dado que não o reconhecem como iguais aos homens que lhes marcaram a alma, e ao não conseguir, reforçam seu estado de rebeldia e entrega simultânea. Ainda sim, os seguem, encantadas pela sua energia firme, e ainda sim, protetora.

Hércules, contudo, não as sacrifica nem as abandona. Primeiro, pelo Destino as ter deixado sob sua confiança; segundo, por saber que dado que ainda aceitam segui-lo, que sua natureza essencial ainda não foi perdida.

Fatalmente, tais mulheres, ao conviver com os Realistas, serão confrontadas com homens que lhes proporcionam as mesmas emoções ardentes e tóxicas. Nesse momento, as imagens de ambos os tipos de masculinidade confrontarão em seu íntimo. O Realista, sabendo que se confrontar diretamente com esses homens poderá lhes levar, no máximo, a uma Vitória de Pirro, faz a única coisa que lhe cabe: lhes demonstra com seus atos, que a força que eles alegam possuir é uma farsa, proporcionada unicamente pela sua falsa sensação de segurança, pois quando os herdeiros do Rei da Trácia estão no chão, sua pose desaparece junto com sua força e coragem.

Assim sendo, as mulheres que os Heráclidas julgaram com acerto não estarem de todo corrompidas, voltam sua indignação contra o alvo certo, e curam a si mesmas de seus vícios de comportamento, saindo de sua histeria e retornando para sua natureza essencial.

...

Há uma outra lição contida nesse Trabalho, uma que se ignorada, conduz com certeza para a tragédia.

Nós sabemos do quanto nossos Aspirantes, felizes, quase embriagados pelas capacidades que seu esclarecimento só começou a dar a eles, se acham capazes de realizar qualquer feito. Conhecemos também o quanto de confiança eles transpiram.

Mas saber não é conhecer, nem mesmo exercitar. Estar ciente do Realismo, não é o que concede a Masculinidade Verdadeira ao praticante; é sua prática, e em muitos casos, a sabedoria adquirida nos fracassos diante dos pequenos testes da vida cotidiana.

Aqueles que orientam aos mais jovens, devem se precaver de dar aos Aspirantes, responsabilidades para os quais eles não estão preparados; mais desastroso ainda é quando aquele que ensina, dá ao aluno, responsabilidades que são pessoais.

Da mesma forma, os Aspirantes devem estar cientes de evitarem a afobação em seu progresso, e por mais que admirem os mais antigos, precisam tomar consciência que, por mais que a experiência do Realismo seja única, que sua vivência é pessoal. Desejar calçar as sandálias daqueles que os auxiliam, só os levará para dores desnecessárias para suas vidas.

...

Saibamos tanto assumir nossos fardos, mensurar corretamente as capacidades dos que nos cercam, e também, praticar corretamente e no tempo certo, a lida com as mulheres de nosso tempo - mesmo algumas que os inexperientes consideram intratáveis.

Força e Honra.
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#17
24-03-2014, 10:06 PM
Ao mar, Hércules novamente seguia rumo ao dever.

Seu barco desta vez seguia para águas pouco amistosas. À noroeste da Trácia, havia um reino onde os Homens não viviam, e sua aproximação quase sempre lhes causava a morte. Apenas mulheres o lideravam, o defendiam, o gerenciavam.

Temíscira. O Reino das Amazonas.

[Imagem: Themyscira_001.jpg]

Hércules fora para lá enviado por Euristeu para chegar até sua Rainha, Hipólita, uma semideusa filha de Ares, assim como Diomedes da Trácia, e tomar dela o cinturão que seu Pai lhe deu, símbolo de sua autoridade sobre as Mulheres. Conhecendo a ferocidade delas em relação a homens estrangeiros, o Filho de Zeus trouxe todo o seu arsenal consigo, ainda que tivesse estratégias alternativas a um confronto direto em mente.

Enquanto repassava seus planos mentalmente, uma conversação curiosa se dava no interior do palácio de Temíscira. Três jovens de idades próximas, num pátio cercado de fontes e flores, cercavam uma mulher pouco mais velha, e uma delas, mais alta e de ombros mais largos que as demais, exclamou:

- Isso é um absurdo, irmã! Mesmo que a notícia que recebemos seja verdade, você não pode fazer isso!

A mais velha se levantou, e respondeu:

- Posso e farei, Pentesiléia. E lembre-se que antes de ser a irmã de todas vocês, sou sua Rainha.

[Imagem: queenhippolyta.png]

Hipólita olhou para as outras. Antíope, com seus longos cabelos, a mais bela da família, se mostrava indiferente, quase distraída; Melanipe, mais baixa e atlética de todas, a única com traje de guerra dentre elas, lhe reprovava com os olhos, ainda que se mantivesse silenciosa. Ela suspirou antes de continuar:

- Direi a vocês mais uma vez, e por respeito ao sangue de Ares, que nos une. Nosso Pai nos deu... ME deu... o Cinturão, dizendo que ele pertenceria sempre a quem tem autoridade sobre as Mulheres. E sabemos que a autoridade nada significa sem responsabilidades. Temos agora esse homem que possui a Centelha, como nós, vindo para nossas Terras, buscar nossa herança. Ele realizou feitos que nenhuma Amazona jamais ousou tentar, e que beneficiaram mulheres por toda a Grécia. Mas isto não é o mais importante.

Hipólita contorna uma coluna e se põe de costas para suas irmãs enquanto continua:

- Mulheres foram vilipendiadas, abusadas, estupradas, exploradas e oprimidas no governo de nosso meio-irmão Diomedes, na Trácia. Direta e indiretamente. Nós fazíamos idéia, irmãs, apenas fingíamos não saber. Admirávamos sua força, e achávamos que o silêncio das mulheres de suas terras eram meramente aprovação. Ignoramos os sinais... porque ele era nosso irmão, e o amávamos. Agora esse homem, Hércules, matou nosso irmão ensandecido, e agora todos sabem o que foi passado lá. E hoje eu tenho total consciência de que apesar de já termos vingado e feito justiça sobre muitas mulheres do nosso tempo, que não fomos, até hoje, mais do que cortesãs egoístas que só cuidam do que lhes interessa.

A Rainha das Amazonas se volta novamente para as irmãs, e sentencia:

- Se algum dia eu mereci esse cinturão, não mereço mais. Nenhuma de nós. Ele deve ir para quem realmente zela pelo nosso mundo, e pelo bem estar do nosso sexo. Entregarei o Cinturão para Hércules sem resistência ou derramamento de sangue. Está é minha palavra final como sua irmã mais velha... e como sua soberana.

Antes de partir, ela ordena:

- Pentesiléia, você virá comigo para anunciar minha decisão ao resto da Corte, e aguardar a chegada de Hércules. Melanipe, junte-se a nossas irmãs junto à vigília na costa, elas não podem ficar sem sua presença. Antíope, arme-se e vá para a Torre de Guarda, vigiar as Fogueiras de Tróia... falhamos para com a Trácia, não podemos falhar para com as troianas, se elas nos convocarem.

:::::::::::::::::::::::::::::::

Hércules se aproximava do porto de Temíscira, e já via uma barcaça com três mulheres armaduradas se dirigir em sua direção. "As Amazonas não perdem tempo", pensou enquanto calmamente tomou de sua clava, e pousou-a no ombro, aguardando pela aproximação delas, sem contudo jogar sua âncora.

[Imagem: Amazons.jpg]

- Alto, forasteiro! Você está nas terras sagradas de Temíscira, e aqui, sua presença masculina imunda não é tolerada! Dê meia-volta em seu barco, se não quiser ser enterrado no fundo da baía! - disse a Amazona à frente das outras, baixa o bastante para que ele visse que as outras duas lhe apontavam lança e flecha.

- Sou Hércules, servo do Rei Euristeu de Micenas. Vim para parlamentar com sua Rainha. E apenas com ela. Levem-me até ela, ou tragam-na até aqui, se preferirem. Mas não partirei sem cumprir meu dever.

As Amazonas saltaram no barco do semideus, ainda apontando suas armas, com sua líder gritando:

- Como ousa falar nesse tom com uma Amazona de Sangue Real? Faremos assim, então... se partir agora, nós o deixaremos viver, homenzinho sujo... se deixar sua língua como tributo a nós...

- Sangue Real, você disse? - falou Hércules sorrindo.

O Filho de Zeus passou num piscar de olhos pela líder, se dirigindo para as outras guardas. Uma flecha e a lança voaram na direção dele, mas com um giro, se quebraram contra a Couraça de Neméia nas costas de Hércules. Com um empurrão dele, as duas foram lançadas de volta para o barco delas.

A líder sacou sua espada e investiu. Hércules ofereceu sua cabeça resguardada, e viu os olhos dela se arregalarem quando a arma se quebrou contra a Couraça invulnerável. Na sequência, ele ergueu-a e a colocou deitada sobre um dos ombros, seu braço forte a mantendo presa ao seu corpo.

- ME LARGUE, SEU ANIMAL FEDIDO!!! - gritou Melanipe, batendo suas mãos contra as costas do Enteado de Hera.

Hércules se voltou para as guardas atônitas, e disse a elas:

- Voltem para o Palácio e avisem a Rainha que esta menina birrenta ficará comigo, até que ela aceite falar comigo. Quando ela chegar, minha cativa será libertada. Vão.

Alcançou o barco das Amazonas, e com um movimento do seu outro braço, o colocou em rápido movimento de volta para a costa.

- Enquanto isso, mocinha, deixemos a correnteza nos deixar no porto. Atracarei lá e esperarei no barco. Não se preocupe, não sujarei sua terra pura com... minha presença imunda - ironizou Hércules.

- JÁ DISSE PARA ME LARGAR, SEU PORCO! VOCÊ ME SUJA COM O CONTATO COM ESSE CORPO IMPURO! - gritava histérica Melanipe.

- Aquiete-se. Você não será ferida ou molestada. Mas está molestando os meus ouvidos. Cale-se, ou alegremente irei amordaçá-la, menina. - disse calmamente o Campeão de Micenas, sentando-se sem largar a Princesa de Temíscira.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

À tarde, tudo fora acertado. Hércules estava a uma ponta do cais, segurando Melanipe, enquanto uma comitiva numerosa de Amazonas chegava. Uma mulher madura, a única sem trajes de guerra, seguia serena à frente de uma comitiva de mulheres de atitude pouco convidativa, e armas menos convidativas ainda.

[Imagem: Mama-2.png]

A uma certa distância, com um gesto da líder, as Amazonas pararam, e ela seguiu sozinha.

Na metade da distância dela até ele, Hércules soltou Melanipe. Ela cuspiu contra o rosto do semideus e foi em direção de sua irmã, ainda gritando:

- VOCÊ VIU O QUE ELE FEZ COMIGO, IRMÃ??? ELE ME ENVERGONHOU EM FRENTE DE TODO O NOSSO POVO! QUERO ESSE MACHO SUJO MORTO AGORA MESMO!

- SILÊNCIO, Melanipe. Você me envergonhou também com sua conduta, mais do que eu posso tolerar. Desapareça da minha frente! - ordenou Hipólita, vendo sua irmã beligerante abrir caminho entre as Amazonas.

Hipólita tomou fôlego antes de começar a falar:

- Perdoe o comportamento de Melanipe. Ela é uma Amazona muito zelosa, e nossas práticas só permitem o contato com outros homens no Festival de Afrodite. Sou Hipólita, Rainha das Amazonas.

- Sou Hércules, Servo de Euristeu. Vim a mando de meu Senhor e Rei clamar seu Cinturão, Majestade. Não vim em busca de guerra, mas não partirei sem ele.

- Soubemos dos seus feitos na Trácia, e deduzi seu objetivo assim que os rumores disseram que estava vindo para cá. Soubemos de seus outros feitos também, e o congratulo pelo seu heroísmo e coragem, Hércules.

- Apenas cumpri meu dever, como o farei até minha liberdade ser devolvida.

- Conhecemos o significado disso. Vê aquela Torre, a mais alta com exceção do palácio? - disse Hipólita, apontando para uma construção - De lá vigiamos o Reino de Tróia. Se uma fogueira é acesa ao Oeste, no topo de um monte, é sinal que, conforme acordos ancestrais nossos, devemos ir até as terras troianas em socorro deles.

- Mas antes de lhe entregar o que busca, há algo que desejo lhe dar, Filho de Zeus - disse A Rainha de Temíscira, colocando sua mão por dentro de seu manto.

Antes porém que ela tirasse a mão, um burburinho aumentava entre as outras Amazonas. Ele cresceu até que uma delas gritou a plenos pulmões:

- ELE VAI SEQUESTRAR NOSSA RAINHA! HOMEM IMUNDO! VIOLADOR MALDITO! MATEM-NO! MATEM-NO!!!

Com gritos de guerra ensurdecedores, as Amazonas correram contra Hércules, sedentas de sangue.

[Imagem: Amazons2.png]

Hipólita grita para as Amazonas pararem, mas seu clamor lhe abafa totalmente a voz. Ela se volta contra Hércules, a mão ainda no manto, e diz:

- HÉRCULES! NÃO AS MACHUQUE! O CINTURÃO É SEU! LEIA! O CINTUR -

Sem conseguir ouvi-la, Hércules toma o conteúdo da mão de Hipólita, arranca o cinturão de sua cintura, e junto com um golpe certeiro de sua clava contra a Rainha, grita "TRAIDORA!".

Hipólita é arremessada ao mar, caindo imóvel por entre as ondas.

As Amazonas param sua corrida, paralisadas pelo ato. Alguns instantes depois, algumas saltam ao mar para buscar sua Rainha, outras caem ao chão em prantos, e as restantes investem selvagemente contra Hércules.

Enquanto as trombetas de Temíscira soam convocando o exército, Hércules golpeia incessantemente com sua clava, esmagando as Amazonas aos pares e aos trios, sempre se posicionando de forma que as armas de longa distância colidam contra sua couraça. Quando o número das atacantes reduziu o bastante, e antes que mais reforços chegassem, saltou em seu barco, e deixou lentamente o porto.

As Amazonas atacavam o barco com lanças e flechas, mas não conseguiam boa mira, por conta do grande número delas que pranteava sua Rainha, já trazida para o cais, mas morta instantaneamente pelo golpe de Hércules.

O semideus olhou então seu prêmio, o Cinturão... e o que ela tinha nas mãos, um pergaminho ricamente decorado, ambos sujos com o sangue da Rainha. Ele leu o texto... e sentou-se desolado ao ver que se tratava de uma confissão da inação das Amazonas quanto ao problema da Trácia, e a admissão de que Hércules era merecedor do Cinturão.

Ele olhou novamente para o porto. Estava próximo o suficiente, para que ele visse um pavão pousado sobre uma coluna próxima do corpo de Hipólita. E ele sabia que não existiam pavões nessa terra.

[Imagem: side-peacock.jpg]

Um tapa seu contra a embarcação a agitou fortemente, enquanto ele dizia na direção de Temíscira:

- Eu sinto muito por tudo ter terminado assim, Hipólita. Mas fomos, eu e você, traídos. Maldita seja, Hera.

::::::::::::::

Alguns dias afastado de Temíscira, Hércules estava apreensivo. O Cinturão se mantinha sujo de sangue, por mais que o lavasse.

Ele olhou para Oeste. Havia algo diferente. No alto de um monte, uma luz estava acesa. A luz de uma enorme fogueira.

Tróia pedia pelas Amazonas. E elas, transtornadas pelo pranto por sua Rainha, não atenderiam.

Hércules olhou para o Cinturão, e disse:

- Você me deu seu último dever, antes e mesmo que eu tivesse tirado a sua vida, Hipólita. E eu o cumprirei para você.

O barco de Hércules mudou de rumo, sem demora, para as terras do Rei Laomedonte de Tróia.

:::::::::::::::::::::::::::::

O Filho de Zeus percebia que algo havia de muito errado nas proximidades de Tróia. Os pássaros marinhos estavam ausentes, e quase não se viam cardumes nos mares.

Após um tempo, naquele mesmo dia, um som começou a se destacar sobre o mar. Um som conhecido. Gritos de mulher. Vinham de uma pedra apenas ligeiramente destacada sobre a maré, onde ele agora podia ver uma mulher sobre ele.

Os gritos se tornaram palavras palpáveis agora:

- Por favor, SOCORRO, me tire daqui, pescador! Não quero morrer aqui!

Hércules respondeu:

- Acalme-se, mulher, estou a caminho! Quem é você?

- Sou Hesíone, Princesa de Tróia! Meus pais afrontaram aos Deuses, e eles me entregaram para ser devorada por um monstro marinho para salvar a cidade!

- Suas mulheres pediram por ajuda distante, e a Rainha Hipólita me enviou em nome dela, jovem Hesíone. Irei libertá-la assim que eu...

As palavras de Hércules são interrompidas por forte borbulhar na água. Hesíone grita:

- É tarde demais! Vá embora! Salve sua vida!

As palavras de Hesíone se transformam em gritos de puro horror quando do meio das bolhas, emerge uma espécie de serpente marinha, porém com braços.

[Imagem: sea-monster.jpg]

Hércules, ao ver o monstro se colocar entre eles, se lança ao mar, e nada com todo o vigor de seu corpo de semideus em direção dela.

Antes porém que ele possa chegar até a pedra, os braços do monstro rompem as correntes, e a seguram sobre sua cabeça... e a largam, fazendo Hesíone entrar inteira pela boca do monstro.

Hércules, emergindo onde Hesíone estava, é tomado por viva indignação. Toma impulso, e salta sobre o corpo do monstro, lutando contra ele. Quando enfim é erguido, espera até estar na altura suficiente... e se liberta, entrando também pela boca do monstro, ainda com seu alforje nos ombros.

O monstro urra profundamente... e volta a nadar, indo para mais perto da costa de Tróia. Ele se detém sobre alguns rochedos, perto da praia, e com mais um rugido, se deita sobre as pedras, para digerir sua real refeição.

A tarde passa, e alguns aldeões veem o monstro à distância, e chamam outros. Um grupo se forma, observando o monstro adormecido, e lamentando a sorte de sua princesa. Ao cair da noite, todos se foram... com exceção de um rapaz, trajando porém as roupas finas da realeza troiana.

Ele observa o monstro, o rosto em lágrimas, mas como que a esperar.

Ele vê o monstro erguer a cabeça, procurar em torno de si, gemer de forma curta, até urrar de dor. Ele grita continuamente... até sua cabeça pender mole, com a língua para fora.

Ele olha assustado, até ouvir um som como de uma cortina se rasgando, primeiro de forma abafada, depois de forma aberta... até que um rasgo se forma no meio do corpo do monstro, seguido de um rugir ainda maior do que o do monstro.

O susto dele se transforma em alegria... quando ele vê Hércules emergir de dentro do corpo do monstro com Hesíone nos ombros. Ele está nu, com várias queimaduras, e totalmente sem pelos, assim como ela... mas ambos estão vivos.

O jovem toma uma das tochas deixadas na praia, e a agita para o salvador de Hesíone, que reúne suas últimas forças para nadar para a praia com ela.

Deixando o corpo da jovem ao seu lado, Hércules se deita, exausto de sua provação.

O rapaz sacoleja o corpo de Hesíone, acordada também, mas exausta, e diz:

- IRMÃ! Você está viva! Eu sabia que você não iria morrer! Eu vi esse homem e o que ele fez, eu sabia que ele não iria te deixar morrer!

- Meu... pequeno... Príamo... sempre... tão... confiante... - disse quase desfalecendo a princesa troiana.

- Hesíone, já disse para não me chamar assim! Sou teu irmão mais velho, e me chamo Podarces! Po-dar-ces! - disse cruzando os braços, o primogênito de Laomedonte.

- Mas é o melhor negociante* que eu conheço... e o mais baixo dos meus irmãos... não poderiam ter te dado melhor apelido que eu... - sorriu de volta Hesíone.

(* Nota do Diomedes: Príamo em grego arcaico significa "aquele que compra")

- Vocês dois, esperem aqui! Vou pedir aos guardas para levá-los ao palácio! Papai ficará feliz em saber! - disse antes de correr em disparada, o futuro Rei de Tróia.

:::::::::::::::::::::::::::

Após alguns dias, Hércules voltava a caminhar, mas seu semblante estava carregado.

Assim que recuperou suas forças, ele foi ter com o Rei Laomedonte pelo seu ato hediondo. Ele reconheceu seu erro em particular para o semideus, posto que o sacrifício de Hesíone não foi pedido pelos Deuses, mas um ato de desespero e covardia - um ato que fez a Rainha Temiste pedir ajuda para as Amazonas.

Hércules disse que pela vida de Hesíone, o Rei de Tróia nada lhe devia, pois ele atendeu ao chamado em nome das Amazonas, e que todos os agradecimentos eram devidos a elas.

Ainda sim, ele prometeu publicamente para Hércules entregar uma parte de uma manada de cavalos que recebera de Zeus, como que a devolvendo para seu beneficiário em penitência; mas no dia seguinte, foi expulso do palácio como um mendigo, pelos fundos, por toda a família real, com exceção de Hesíone. Hércules então deixou o palácio, prometendo retornar um dia e cobrar de Laomedonte e de sua família, sua dívida para com ele, e para com seu pai Zeus.

Enquanto caminhava pela estrada vazia, ele se lembrou do Cinturão, e o procurou em seu alforje.

Ele o encontrou. Limpo e imaculado, como tivesse sido entregue agora mesmo por Hipólita.

[Imagem: Hippolyte__s_belt_by_Liuanta.jpg]

Hércules olha para o alto, e diz sozinho:

- Tenha seu descanso nos Campos Elísios em paz, Rainha. Tua dívida com os troianos foi paga. E agora, também sei que me perdoou.

O Filho de Zeus recomeçou a andar. Sem dinheiro e sem um barco, seria uma longa viagem até Micenas... e para o Décimo Trabalho.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


O Nono Trabalho contém duas lições poderosas para qualquer Realista amadurecido.

A primeira diz respeito às mulheres que militam pela supremacia feminina.

Existem dentre elas, as que percebem o vazio e o mal do seu caminho, e que emergem de sua loucura reconhecendo a verdade: que o Homem sempre foi o Guia e o Protetor da Mulher. São estas as que buscam devolver a nós, o dever que elas usurparam apenas para espalhar seu veneno e conformar seus egos.

No entanto, a conciliação entre elas e o gênero masculino está obstruída pela própria idéia distorcida do exercício do feminino, incorporado por Hera. A posse do Cinturão nos é dada, mas não sem a eterna oposição delas, que não se importam mesmo de silenciar as que falem em contrário, se tiverem a oportunidade.

Este Trabalho como um todo, mostra ao Realista, que para que ele compreenda o verdadeiro significado e exercício do machismo, ele deve estar disposto a confrontar a loucura supremacista em seus maiores desmandos, e tomar para si a responsabilidade da proteção da mulher. Mesmo contra os inimigos que ela não pode ver. Mesmo quando ela não lhe reconhecer o Trabalho. E mesmo que isso pareça se opôr contra o que ela é (quando na verdade, é contra o mal que a assola).

Mas esse Trabalho ensina ao Realista uma lição ainda mais poderosa.

Por mais que ele tenha trabalhado seu ego, instintos, conceitos, e tenha confrontado com sucesso outros Esclarecidos que usam seu conhecimento do mundo para saciar seu próprio egoísmo... um dia, o Realista irá falhar, e sua ação causará prejuízos contra os que o cercam, e algumas vezes, até mesmo contra os que jurou proteger.

Nesse caso, se torna seu imediato dever remediar e compensar o mal causado.

O prejuízo deve ser pago; o dever obstruído, tomado para si; o ensinamento, voltado para que outros não errem como o Realista errou; a responsabilidade, assumida sem restrição, embora sem humilhação estéril.

Algumas vezes, o mal não poderá ser reparado diretamente aos seres prejudicados. Neste caso, as ações devem ser voltadas para causar o benefício mais compensatório possível, mesmo que para outras pessoas.

Mais do que ensinar sobre o signficado do machismo, esse Trabalho lembra o Realista sobre a responsabilidade que possui sobre seus atos, os bem e mal sucedidos, e do quanto no esforço por sua redenção, um Realista pode alcançar uma estatura maior ainda do que tinha antes de sua queda.

Basta enfrentar a adversidade sem destemor, e do fracasso, a vitória surgirá.

Força e Honra.
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