29-01-2015, 03:01 PM
O pilar central afetivo e emocional do ser humano é formado por uma tríplice conjunção de elementos: poder; agressividade e sexualidade. O primeiro tem a função básica de fornecer um feedback sobre à auto-estima da pessoa, assim como sua importância no meio em que vive. A agressividade é uma resposta instintiva e cultural na luta pela sobrevivência do ser humano. A sexualidade é o conjunto histórico do desejo e paixões íntimas, quanto à mesma trocou e lutou por seu direito de ser amada. Esses três elementos primordiais quando são distorcidos, geram todas as mazelas e violência que acompanharam a história da humanidade. O poder quando é compensação de uma auto-estima fraca se torna autoritarismo e sectarismo. Sobre a agressividade não precisamos nem comentar o que se torna, quando a mesma perde seu foco de sobrevivência; é só olharmos as páginas policiais ou repararmos no caos social. Não irei analisar os casos de sexualidade distorcida do tipo estupro ou pedofilia, pois são de amplo conhecimento de todos. Nos primórdios da psicanálise de FREUD, se pensava que as perversões sexuais eram a linha final de todo o desenvolvimento distorcido da sexualidade. O perverso era o indivíduo que se fixou em determinada etapa sexual, impedindo a evolução natural do instinto ou desejo sexual. Como exemplo FREUD citava a perversão do voyeurismo, ou desejo constante de se excitar observando o ato sexual de outras pessoas. A análise psicanalítica dizia de que tal perversão era um seguro da pessoa contra a angústia de castração, que era o medo do menino de perder o pênis por ter desejado a mãe, na famosa luta do complexo de Édipo, tudo isso no plano inconsciente. Assim sendo, o voyeur necessitava constantemente se assegurar visualmente de que o desejo sexual não acabava em punição. Tal análise é um tanto parcial do ponto de vista global da sexualidade. O perverso não almeja apenas a proteção de uma imagem mental, mas reflete fielmente o modelo social de ambição e insatisfação ou tédio. Como ADLER observou, o mesmo possui o que denominou de “complexo de colecionador”, nunca se satisfazendo com determinado relacionamento, seja afetivo ou sexual. Não é isto que estamos assistindo em nossos dias? Todos ficarem apenas observando ou sempre sonhando com uma sexualidade ou relação totalmente fantasiosa? As traições ou conflitos conjugais que o digam. Lamentavelmente a gratidão e o companheirismo são massacrados pelo narcisismo e necessidade de aplauso ou destaque que o meio social cobra diariamente. Pensando numa equação ou fórmula do amor moderno, certamente o resultado seria a instabilidade, o caráter descartável da relação, e o quanto de real investimento se despeja seja na excitação, ou no crescimento de ambos os parceiros. O leitor ainda cobrará qual sentimento ou sensação é mais dolorosa. A síntese, além de uma solidão existencial e real, é que criamos várias outras problemáticas para nossa curta existência. Desnecessária e neuroticamente aceitamos tal modelo de vida. Talvez pudéssemos reunir tudo na palavra desilusão, não no sentido da perda de coisas que realmente não fizeram importância em nossa história pessoal, mas desilusão no sentido de termos de continuar a vida desgostosos ou insatisfeitos. Tudo o que foi relatado se torna a perda do sentido verdadeiro da vida. O próprio sofrimento é uma espécie de estrada vicinal perante o drama da existência. Cedo ou tarde teremos de aprender que qualquer revolução ou transformação externa irá reclamar o retorno para o íntimo do sujeito. Isto sim é genético no ser humano; fugir de si próprio abarcando uma causa social, seja nobre ou de extermínio coletivo, e não o desenvolvimento da neurose ou psicose como a medicina mercantilista quer imputar. A pergunta final é quanto esperaremos para uma tomada de consciência ampla sobre todo o processo? Será que não estamos dando nossas vidas para situações que não deveriam tomar uma dimensão tão profunda?